No aeroporto desde as 9h da manhã da última quinta (29), Maria das Dores Cândido (à esquerda) saiu de Águas Belas, no Agreste pernambucano, para receber a filha que chegaria ao Recife somente sete horas depois. Entre caminhadas ansiosas no saguão de desembarque e olhares atentos ao monitor que anuncia o horário dos voos, a mãe contou como foi passar 40 dias longe da menina. “É um desgosto, sabe? Não consegui dormir direito e perdi quatro quilos nesse tempo. A gente se falava por internet e pelo telefone, mas toda vez que eu desligava, caía no choro”, lembra.
Difícil de traduzir e explicar, mas fácil de sentir. Seja de alguém quem está longe, de quem já se foi ou da terra natal, a saudade parece ser difícil para qualquer pessoa. Entretanto, a ciência explica que o sentimento é vivenciado de formas distintas por cada indivíduo e também pode diferir de acordo com o que a pessoa sente falta. “As saudades são diferentes e podem desencadear outros sentimentos no indivíduo, como a tristeza, a melancolia – uma tristeza crônica – e até mesmo raiva. Além disso, a saudade de uma pessoa não é a mesma saudade de um lugar”, explica Aline Lacerda, Doutora em Neurociência pela Universidade de São Paulo.
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Morando há exatos quatro anos em Fortaleza, no Ceará, Suzana Cunha deixou irmãos, cunhados e sobrinhos no Recife para acompanhar o marido. Apesar de se comunicar com a família por telefone, a pernambucana explica que, além da saudade das pessoas, a terra natal também faz falta. “Outro dia mostrei a alguns amigos aqui de Fortaleza o Hino do Elefante. É de deixar a pessoa arrepiada”, conta, referindo-se a uma das músicas mais representativas do Carnaval de Pernambuco. “Acho que quando você está longe, consegue sentir mais a cultura do lugar”, conta.
A especialista Aline Lacerda explica que, no cérebro, o sentimento tem origem a partir do sistema límbico, regulado pelo córtex pré-frontal. “Essa é a área relacionada às lembranças, às memórias. Ganho ou perda de peso são consequências consideradas normais, devido à influência dos sentimentos nos hábitos alimentares”, afirma. “O hipocampo, outra região do cérebro, também faz parte do desenvolvimento da saudade, porque é a área que transforma a memória curta em memória de longo prazo”, pontua. Por ser um sentimento complexo, a saudade pode desencadear outras sensações, como alegria, tristeza e até mesmo raiva.
No caso de Rosângela Monteiro (à direita), angústia e saudade surgiram quase que simultaneamente. “Minha filha passou dois meses em Xangai, na China. Ela ia justamente para uma praça onde houve um acidente no fim do ano passado. Fiquei preocupada e pedi pra ela adiar a viagem, cheguei até a ligar para a embaixada”, conta, segurando as lágrimas. Apesar de aparentar calma, o pai, Cícero Monteiro, explica que o sentimento é parecido. “A gente tenta parecer forte, mas por dentro, não dá pra segurar”, brinca.
Apesar de uma mesma pessoa conseguir desenvolver “saudades diferentes”, a neuropsiquiatra explica que, até agora, não há como medir o sentimento cientificamente. “Existem métodos capazes de verificar a ansiedade, que é uma consequência da saudade, mas não há nenhum inventário criado para medir esse sentimento propriamente dito”, diz Lacerda. A especialista comenta que há teorias divergentes na Psicologia quanto à idade em que a saudade começa a ser desenvolvida. Em alguns casos, fala-se em primeira infância e até mesmo pré-disposição genética, mas também há correntes que defendem o processo de aprendizado natural do ser humano como a chave para a sensação.
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São 16h da quinta-feira (29) e o monitor indica que o voo que saiu de Campinas está confirmado. Cinco minutos depois, o avião está aterrissando. Logo depois, o letreiro indica que a aeronave está no pátio. Maria das Dores sente pressa, cruza os dedos em sinal de oração, tenta encontrar a filha por trás das portas automáticas. Ao avistá-la, os acenos se destacam em meio ao aglomerado. Antes mesmo de a menina sair da fila de desembarque, é surpreendida com um longo abraço da mãe. “Agora o aperto passou”, sorri, entre lágrimas e abraços. A partir de agora, mãe e filha têm 314 quilômetros até Águas Belas para anularem todos os efeitos da distância.