Uma operação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), em conjunto com a Corregedoria da Polícia Militar, prendeu nesta quarta-feira, 7, sete soldados e dois tenentes suspeitos de torturar, matar e esconder o corpo de um jovem de 22 anos, em Goiânia. Outros dois PMs também são investigados, mas tiveram executados contra eles apenas mandados de busca e apreensão. A defesa dos policiais nega o envolvimento deles com os supostos crimes, que, segundo a investigação, foram praticados após uma abordagem policial dentro da casa da vítima.
As prisões são temporárias, com prazo de 30 dias. De acordo com a operação, chamada de Pacto do Silêncio, Pedro Henrique Rodrigues desapareceu no dia 15 de agosto deste ano. Em depoimento, a mulher dele, Islla Tamires Tavares de Melo, contou que os policiais entraram na casa da família, enquanto os dois dormiam, dizendo que o jovem havia roubado um carro, dias antes. Na ocasião, segundo ela, os PMs procuraram uma suposta arma usada no crime, que não teria sido encontrada.
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Islla Tamires disse ainda, que os policiais agrediram e torturaram Pedro Henrique, por cerca de 30 minutos, até ele desmaiar. Segundo ela, os PMs encheram um balde de água e colocaram a cabeça dele dentro, enquanto davam choques nele. "Subiram em cima das duas pernas dele e pularam na cabeça dele", afirmou a mulher.
Em seguida, conforme acrescentou a testemunha, os PMs jogaram Pedro Henrique dentro do carro da corporação, alegando que o levariam para atendimento médico em um posto de saúde. Desde então, segundo o depoimento, ele não foi mais visto. A mulher também disse que o jovem foi preso em 2017, suspeito de tráfico de drogas, mas, segundo ela, ele respondia ao processo em liberdade.
Além dos nove mandados de prisão temporária, o Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gceap) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ambos do MP-GO, cumpriram 11 mandados de busca e apreensão, autorizados pela Justiça Militar, nas casas de todos os suspeitos. Os mandados foram realizados para apreensão de computadores e celulares.
A Polícia Militar informou que a própria corregedoria levou os PMs à sede do MP e, em seguida, ao 1.º Batalhão. A corporação também informou que os policiais estavam afastados das ruas, executando apenas funções administrativas. O sistema de rastreamento via satélite da PM apontou que quatro carros da corporação, em que estavam os nove presos, passaram perto da residência de Pedro Henrique no dia da abordagem. O sistema, no entanto, não localizou próximo à casa da vítima o quinto veículo da PM, em que trabalhavam os outros dois suspeitos.
O advogado dos policiais, Tadeu Bastos, nega o envolvimento deles com os supostos crimes e disse que, na época, os 11 policiais estavam em cinco carros da corporação para atender a uma ocorrência de roubo de carro. Segundo a defesa, na ocasião, duas pessoas foram presas e um veículo foi recuperado. Em seguida, conforme acrescentou o advogado, os suspeitos se dirigiram à região próxima à casa da vítima para "averiguação de disparo de arma de fogo por parte de terceiros".
A defesa também disse que recebeu com "estranhamento" a operação, já que, conforme acrescentou, os policiais têm contribuído com as investigações e havia oitivas deles agendadas para os próximos dias 13 e 15. O MP-GO não informou porque houve necessidade de deflagrar a operação. Vencido o prazo da prisão temporária, os investigadores poderão pedir à Justiça Militar que seja decretada a prisão preventiva, sem período determinado, se houver necessidade.