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A Prevent Senior assinou nesta sexta-feira, 22, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pelo Ministério Público de São Paulo em que se compromete a vetar o uso off-label do 'kit-covid' e a realização de pesquisas internas com remédios ineficazes contra o novo coronavírus.

A operadora de saúde é acusada de administrar medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e invermectina sem o consentimento dos pacientes e de esconder ocorrências de mortes.

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O advogado Aristides Zacarelli Neto, que representa os irmãos Fernando e Eduardo Parrillo, donos da empresa, se reuniu nesta tarde com o promotor de Justiça Arthur Pinto Filho, responsável pela investigação na esfera cível, para selar o acordo. Eles sentaram à mesa exatamente uma semana após o MP oferecer o TAC.

Zacarelli disse que o TAC 'não produz prova e muito menos admite culpa'. De acordo com o advogado, o objetivo da assinatura foi 'aproximar e dar mais voz aos colaboradores e beneficiários'. "A empresa é sólida e sairá ainda mais forte deste momento", afirmou.

O termo livra a operadora de uma eventual ação civil pública pela conduta na pandemia. A multa em caso de cumprimento varia de acordo com a cláusula entre R$ 10 mil e R$ 100 mil por ocorrência.

"É inacreditável que ainda hoje no Brasil se discuta a eficácia do kit-covid. O TAC é um avanço muito grande para mostrar que esses medicamentos não são mais aceitos na medicina moderna", defendeu o promotor Arthur Pinto Filho após a assinatura do acordo.

ENTENDA OS PRINCIPAIS PONTOS DO ACORDO:

- Proibição ao uso do kit-covid;

- Proibição a tratamentos experimentais sem autorização prévia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);

- Instituição da figura de um 'ombudsman' contratado e pago pela Prevent Senior, desde que tenha o nome aprovado pelo MP, para fiscalizar internamente os procedimentos da operadora, inclusive recolhendo sugestões e críticas dos segurados;

- Veiculação de avisos em jornais de grande circulação para esclarecer que não fez nenhuma pesquisa que tenha atestado a eficácia do kit-covid;

- Veto a alterações no código de diagnóstico dos pacientes em documentos internos e preenchimento de declarações de óbito com 'informações verdadeiras, o mais detalhadamente possível, sem omissões e sem alterações a posteriori';

- Disponibilização dos prontuários aos pacientes e familiares de vítimas.

A criação de um conselho gestor, nos moldes dos conselhos municipais de saúde, para orientar os dirigentes dos hospitais da rede foi o único ponto proposto inicialmente pelo MP que ficou fora da versão final. O colegiado também ficaria responsável por fiscalizar as cláusulas do acordo e por fazer a ponte entre segurados, médicos e a Prevent Senior.

"Nós achamos melhor pensar com mais calma esse modelo", disse Pinto Filho após ouvir os argumentos da Prevent Senior. A operadora apresentou ressalvas sobre a possibilidade de 'instrumentalização' do conselho em um momento em que já está exposta diante da opinião pública. "Eu acho a questão do conselho gestor fundamental, mas não houve um consenso", acrescentou. Ainda poderá haver um aditivo ao termo assinado hoje para a instituição do conselho.

Em outra frente, o Ministério Público de São Paulo estuda a cobrança de uma multa por danos morais coletivos pela administração do kit-covid e da pesquisa que teria sido feita pela operadora. Uma reunião com representantes do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho está prevista nos próximos 15 dias para discutir critérios para um pedido conjunto indenização.

"Eu acho muito importante que se estabeleça um dano moral coletivo que repare o dano causado à sociedade", disse o promotor. Se a Prevent Senior não aceitar o valor cobrado, uma ação civil será enviada à Justiça. A empresa já sinalizou que está disposta a negociar o pagamento, o que não impede que familiares de vítimas ajuízem ações particulares. O TAC inclui uma cláusula que proíbe a operadora de 'obstaculizar ou negar acesso ao prontuário médico pelo paciente, seu representante legal ou familiares', também para facilitar a avaliação sobre a possibilidade de judicialização por aqueles que perderam familiares.

A Prevent Senior também é investigada por uma força-tarefa de oito promotores paulistas na esfera criminal. Eles apuram se houve dolo da operadora e se há, de fato, uma relação entre a administração do 'kit-covid' e as nove mortes no estudo interno denunciado por médicos à CPI da Covid.

Planilhas de compras da rede Prevent Senior, em posse da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, apontam que a operadora de saúde gastou R$ 4,8 milhões durante a pandemia com medicamentos do chamado "kit covid". Ao todo, foram adquiridos 1,98 milhão de comprimidos de hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina - que têm ineficácia comprovada contra a covid-19. A empresa afirma que as compras foram feitas por "prevenção", mas médicos da operadora denunciam a prescrição indiscriminada do "kit" para associados.

Um dossiê entregue à CPI, assinado por médicos da Prevent, aponta que os profissionais de saúde eram obrigados a receitar os medicamentos - caso contrário, seriam demitidos - e que pacientes da rede foram tratados com esses remédios sem saber. Segundo relatos colhidos pela comissão, sacolas fechadas com o coquetel de drogas eram enviadas até para quem sequer havia feito o teste para a doença. A operadora também é acusada de subnotificar casos de covid e fraudar atestados de óbitos para referendar a suposta eficácia do "tratamento precoce".

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Do total gasto com hidroxicloroquina e azitromicina durante a pandemia, 75% do valor foi desembolsado entre março e maio do ano passado. Os meses coincidem com o período em que a Prevent Senior fez um estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina associada à azitromicina no tratamento da covid-19. Na época, a rede divulgou que a pesquisa tinha sido feita entre 26 de março e 4 de abril do ano passado, para avaliar possíveis reduções no número de internações em pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus.

Em depoimento à CPI no mês passado, o diretor executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou ter havido testagem em massa e afirmou que o estudo era "observacional". O dirigente disse ainda que os médicos da rede tinham autonomia para receitar os remédios, e que os pacientes que receberam hidroxicloroquina e azitromicina foram acompanhados pela operadora.

O estudo foi suspenso pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) em 20 de abril. O órgão descobriu que os testes com pacientes foram iniciados antes de a empresa receber o aval para a realização da pesquisa, o que é proibido no País. O grupo de médicos que denunciou irregularidades na operadora à CPI afirma que a rede ocultou mortes e revisou dados na pesquisa.

Os números do estudo foram citados pelo presidente Jair Bolsonaro, principal estimulador do "tratamento precoce", em 18 de abril do ano passado, como prova da sua falsa tese de que as pessoas não precisavam fazer quarentena ou usar máscara porque a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina curaria a doença. A versão é contestada pelos médicos que acusam a Prevent. Eles afirmam que não havia autonomia médica, e receitar os medicamentos era obrigatório.

"Uma compra desse volume deixa claro que a prescrição (dos medicamentos) fazia parte da estratégia da empresa", disse o epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal. A hidroxicloroquina é um medicamento indicado para doenças autoimunes, como artrite reumatóide e lúpus. A azitromicina é um antibiótico usado para tratar desde infecções sexualmente transmissíveis a pneumonia.

Em nota, a Prevent Senior afirmou que "investiu R$ 250 milhões em equipamentos hospitalares e de proteção, medicamentos e pessoal na pandemia". A rede informou que "procurou comprar em escala, o quanto possível, para se prevenir de novas ondas da pandemia". "Só em respiradores, R$ 20 milhões foram investidos na compra de 200 máquinas a mais. Os investimentos desmontam a tese de que houve preocupação com redução de custos no atendimento aos pacientes de covid e outras doenças. O esforço também incluiu máscaras e EPIs", diz a nota.

Além do Senado, a rede também é investigada pelo Ministério Público, e CPIs para apurar as denúncias foram propostas na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Convocado à oitiva da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid desta quarta-feira (29), o empresário Luciano Hang indicou que prestará esclarecimentos sem a presença de advogados. O dono da rede de lojas Havan é suspeito de financiar publicações de notícias falsas por veículos bolsonaristas e participar do esquema de tratamento precoce proposto pela Prevent Sênior.

No depoimento dessa terça-feira (28), a advogada dos 12 médicos da Prevent Sênior afirmou que a certidão de óbito da mãe do empresário, Regina Hang, foi alterada para esconder a causa da morte. Ela apontou que Regina foi submetida ao 'kit covid', o que Hang negou.

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Na época, ele disse que mãe poderia ter sido salva caso tivesse recebido as substâncias do falso tratamento precoce. A certidão de Regina não cita relação com a Covid-19 e informa que a morte foi consequência de pneumonia bacteriana.

Nas redes sociais, Hang publicou um vídeo em que aparece algemado e diz que comprou as algemas para se antecipar a um eventual pedido de prisão dos senadores da CPI. “Se por acaso eles não aceitarem aquilo que vou falar, já comprei para não gastar dinheiro com algema, já comprei uma algema, vou entregar uma chave para cada senador. E que me prendam”, declarou.

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Um grupo de 15 médicos que dizem ter trabalhado na Prevent Senior encaminhou para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado um dossiê no qual informa que integrantes do chamado "gabinete paralelo" do governo de Jair Bolsonaro usaram a operadora de saúde como uma espécie de laboratório para comprovar a tese de que o chamado "kit covid" (hidroxicloroquina e azitromicina) era eficiente contra a doença. Eles revelaram também que pacientes não foram informados do tratamento experimental, o que é ilegal.

O documento assinado pelos profissionais foi revelado na quinta-feira pela GloboNews. O jornal O Estado de S. Paulo também teve acesso. Em entrevista à emissora de TV, médicos acrescentaram que a operadora de saúde omitiu mortes pela doença em estudo no qual pretendia comprovar a eficácia do kit covid.

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Segundo eles, nove pacientes vieram a óbito, mas o estudo relata que foram apenas dois casos. Essa pesquisa foi citada por Bolsonaro como prova da sua falsa tese de que as pessoas não precisavam fazer quarentena ou usar máscara porque a combinação de cloroquina e azitromicina curaria a doença, o que contraria a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O documento sob análise da CPI não é apócrifo. Dele constam os nomes dos 15 médicos e uma série de mensagens de WhatsApp apresentadas como prova. Uma delas é do diretor da Prevent, Fernando Oikawa. "Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa", orientou o executivo no grupo de médicos, segundo revelou a GloboNews.

O dossiê apresentado aos senadores alerta que o estudo foi feito com mais de 700 pacientes - e não os 200 declarados no projeto inicial. Informa ainda que a média de idade das pessoas que foram submetidas à pesquisa é superior a 60 anos, o que sugere a inclusão de grande número de idosos "e, portanto, grupo considerado de maior risco da covid-19".

A denúncia levada pelos médicos à CPI afirma ainda que, no ano passado, após críticas do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta a subnotificações de mortes de pacientes e ao atendimento da Prevent Senior a idosos, a diretoria da operadora "fez um pacto com o gabinete paralelo para livrar a empresa das críticas".

Segundo o dossiê, a médica oncologista Nise Yamaguchi "frequentava a Prevent Senior para alinhar os tratamentos precoces". Os médicos afirmam que ela "assessorava pacientes internados na Prevent Senior que eram considerados 'especiais' pelo governo".

Nise, que chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde após a demissão de Mandetta, é apontada como integrante do "gabinete paralelo", grupo extraoficial que aconselhou Bolsonaro sobre ações a serem tomadas no combate à covid-19.

A existência de uma equipe fora da estrutura do Ministério da Saúde que era ouvida para definir políticas públicas foi revelada por Mandetta, demitido pelo presidente após se negar a assinar protocolos que recomendavam o uso de medicamentos com ineficácia comprovada, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, contra a doença.

A Prevent Senior anunciou, em março do ano passado, que faria o estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina associada ao antibiótico azitromicina contra a covid-19. A pesquisa foi suspensa logo em seguida, em 20 de abril, pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O órgão descobriu que os testes com pacientes haviam começado antes de a operadora receber o aval para a pesquisa, o que é proibido no País.

Apoio

Em 5 de abril do ano passado, Bolsonaro divulgou em seu Twitter uma "live" sobre hidroxicloroquina em que participaram Pedro Batista Junior, diretor executivo da Prevent Senior, e o médico virologista Paolo Zanotto, suspeito de fazer parte do gabinete paralelo. "Esclarecedores dados e pró-atividade (sic) contra o covid-19", escreveu o presidente.

Na transmissão ao vivo, Zanotto e Batista Jr. são questionados sobre o motivo de o governo Bolsonaro não ter adotado, até então, um protocolo para medicar hospitalizados com hidroxicloroquina.

Zanotto diz que, naquele momento, Nise e o médico Luciano Dias Azevedo - também apontado como integrante do gabinete paralelo - estavam com o "high brass" (alto escalão) do governo, em Brasília, discutindo a questão "muito mais perto do que vocês imaginam".

O grupo de médicos que apresentou a denúncia contra a operadora relatou à CPI que, no ano passado, a Prevent Senior comprou mais de 3 milhões de comprimidos de medicamentos do tratamento precoce, como cloroquina e ivermectina. "Quantidade suficiente para medicar cerca de 500 mil clientes da operadora", dizem no documento.

Em 18 de abril, Bolsonaro publicou em uma rede social que a Prevent Senior havia lhe informado sobre alguns resultados do estudo. Segundo o presidente, 412 pacientes haviam optado por tomar hidroxicloroquina, 8 foram internados e nenhum intubado. "O número de óbitos foi zero. O estudo completo será compartilhado em breve", registrou Bolsonaro.

O grupo que denuncia a Prevent afirma que o médico Rodrigo Ésper, da operadora, sugeriu, em um áudio no WhatsApp, revisar os números do estudo citado por Bolsonaro. Na mensagem, ele afirma que os dados precisam ser "assertivos e perfeitos porque o mundo está olhando para a gente". "Até o presidente da República citou a gente. Esse áudio tem que ficar aqui, não pode sair."

Operadora diz que vai processar ex-funcionários

A Prevent Senior divulgou nota na quinta-feira em que "nega e repudia denúncias sistemáticas, mentirosas e reiteradas que têm sido feitas por supostos médicos que, anonimamente, têm procurado desgastar a imagem da empresa". "Em decorrência disso, está tomando as medidas judiciais cabíveis para investigar todos os responsáveis por denunciação caluniosa (e outros crimes) sejam investigados e punidos. Os médicos da empresa sempre tiveram a autonomia respeitada e atuam com afinco para salvar milhares de vidas", afirma a operadora.

A empresa informou, na nota, que vai pedir investigações ao Ministério Público para apurar "as denúncias infundadas e anônimas levadas à CPI por um suposto grupo de médicos". "Estranhamente, antes de as acusações serem levadas à comissão do Senado, uma advogada que representa esse grupo de médicos insinuou que as denúncias não seriam encaminhadas se um acordo não fosse celebrado. Devido à estranheza da abordagem, a Prevent Senior tomará todas as medidas judiciais cabíveis", afirmou a operadora.

O diretor executivo da operadora, Pedro Benedito Batista Júnior, tinha depoimento marcado na quinta-feira na CPI, mas ele não compareceu. A empresa alegou "falta de tempo hábil".

O médico Paulo Zanotto afirmou à reportagem que "ninguém disseminou o tratamento" precoce, como afirma o dossiê entregue aos senadores. "Foi perguntando para nós o que estava acontecendo em termos de tratamento precoce. Foi perguntado pelo Arthur Weintraub (ex-assessor da Presidência da República)", disse. "O tratamento precoce não foi implementado como política de Estado, não houve essa realização. O que aconteceu no Brasil foi a disponibilização de fármacos em alguns lugares do País", afirmou.

Procurada, Nise Yamaguchi disse ao jornal O Estado de S. Paulo desconhecer que a Prevent Senior fosse validar protocolos do governo.

A médica afirmou ainda que não tem nenhum vínculo científico com a operadora e nem interferência nos protocolos de pesquisa que eles realizam.

O Palácio do Planalto não se manifestou até a conclusão da edição de sexta-feira do jornal O Estado de S. Paulo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da CPI da Covid, cobrou, nesse domingo (1º), a responsabilização do presidente Jair Bolsonaro pelo apoio do tratamento precoce ao longo da pandemia. A cloroquina e outros remédios defendidos pelo presidente não têm respaldo científico contra o novo coronavírus. O parlamentar se manifestou após o Estadão mostrar, no sábado (31), com base em estudo da consultoria LLYC, que Bolsonaro foi o principal influenciador no apoio ao kit Covid nas redes sociais no primeiro ano da crise sanitária.

A LLYC rastreou cerca de 20 milhões de menções a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina na rede social Twitter. No total, 1,85 milhão de contas foram analisadas. Com um algoritmo, foi possível organizar os perfis de acordo com a posição sobre o tratamento precoce: neutro, favorável e contrário.

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No estudo, Bolsonaro é o principal influenciador sobre o assunto na plataforma no primeiro mês após o início da quarentena, de março a abril, e depois entre agosto e o fim de 2020. Alguns dos picos de menções ao assunto também estão ligados ao presidente - como em julho, quando ele divulgou ter se infectado e adotado o tratamento com hidroxicloroquina.

Para Alencar, as evidências poderão servir de base para a responsabilização de Bolsonaro por infração de medida sanitária preventiva, crime previsto no artigo 268 do Código Penal. "Ele não é médico, não tem formação na área de saúde e não tinha como estar receitando hirdoxicolorquina ou qualquer outro medicamento", afirmou o senador ao Estadão ontem. A CPI retoma os trabalhos nesta semana.

"O Bolsonaro foi convencido por aquele gabinete paralelo e outros conselheiros não médicos de que a hidroxicloroquina funcionava, o que é absurdo. Ele defendeu isso e não quis recuar disso. Até hoje seus seguidores radicais acreditam nisso. Todos estudos foram feitos e a hirdoxicloroquina não tem eficácia", disse. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também já se posicionou contrária ao uso desse medicamento.

O "gabinete paralelo" é o nome dado a um grupo de assessores e especialistas formado no governo para orientar o presidente sobre o enfrentamento da crise sanitária e que seria responsável pela insistência no uso da cloroquina contra a doença. Apontado como um dos líderes desse comitê, o ex-assessor especial da Presidência Arthur Weintraub é outro citado no estudo da LLYC.

Ele - irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub - aparece em segundo entre os maiores influenciadores em mais de uma fase da pandemia, conforme o estudo da LLYC. Ele confirma ter indicado a cloroquina, mas nega o "gabinete paralelo". O Estadão procurou na semana passada a Secretaria Especial de Comunicação, do governo federal, e Weintraub para comentar o estudo, mas não obteve resposta.

Mortes

"Sem dúvida, uma cota das 550 mil mortes por Covid foi em função disso (defesa do tratamento precoce) e de aglomerações, do não uso da máscara, da falta de comprar vacinas no ano passado", afirmou Alencar.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente na CPI, também concorda que a desinformação é parte importante do momento que o País vive. "A desinformação é uma parte relevante da tragédia que vivemos. A CPI e a vacina têm contribuído para impedir essa desinformação", afirmou ontem.

Usuários que tentarem acessar o conteúdo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no YouTube poderão dar de cara com a seguinte mensagem: "este vídeo foi removido por violar as diretrizes da comunidade do YouTube". Isso acontece pois a plataforma removeu nessa quarta-feira (21) vídeos publicados no canal do presidente neste ano e no ano passado, nos quais ele defendeu o uso da ivermectina e da cloroquina no tratamento da Covid-19. Os dois medicamentos, além de outros compostos cotados para o “kit Covid”, são comprovadamente ineficazes contra a doença.

Segundo a rede, os vídeos ferem as normas da comunidade virtual e científica, por difusão de informações falsas sobre a saúde e a pandemia. Pela terceira vez, o chefe do Planalto sofre com intervenções em seu canal, por causa da agenda negacionista. O canal agora corre risco de ser excluído sem aviso prévio. A exclusão do conteúdo não remove a advertência.

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"Após análise cuidadosa, removemos vídeos do canal Jair Bolsonaro por violar nossas políticas de informações médicas incorretas sobre a Covid-19. Nossas regras não permitem conteúdo que afirma que hidroxicloroquina e/ou ivermectina são eficazes para tratar ou prevenir Covid-19; garante que há uma cura para a doença; ou assegura que as máscaras não funcionam para evitar a propagação do vírus", diz um comunicado do YouTube.

A plataforma de vídeos mudou suas políticas de uso em abril deste ano para incluir a proibição a conteúdos que incentivem o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina no tratamento ou prevenção da Covid-19. Conteúdos que estimulam o uso deliberado de outras substâncias ou que “garantem cura” para a Covid também estão proibidos.

O desrespeito às regras vai levar à exclusão do conteúdo e a uma advertência para o usuário. A reincidência pode fazer com que o canal seja excluído do YouTube.

Em maio, a rede social já havia deletado 12 publicações do canal do presidente Jair Bolsonaro pelo mesmo motivo. Antes disso, outros cinco vídeos também foram removidos.

Entenda a atualização na política do YouTube (íntegra)

O YouTube não permite conteúdo sobre a Covid-19 que apresente sérios riscos de danos significativos. Na plataforma, também não é permitido o envio de conteúdo que dissemine informações médicas incorretas que contrariem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou das autoridades locais de saúde sobre a Covid-19. Isso se aplica apenas a conteúdo que contradiz as orientações da OMS ou das autoridades locais de saúde sobre os seguintes temas:

- Tratamento;

- Prevenção;

- Diagnóstico;

- Transmissão;

- Diretrizes sobre distanciamento social e autoisolamento;

- A existência da Covid-19.

Exemplos

- Negação da existência da Covid-19;

- Afirmações de que as pessoas não morreram em decorrência da Covid-19;

- Afirmações de que qualquer vacina é um método de prevenção garantido contra a  Covid-19;

- Afirmações de que um tratamento ou remédio específico é uma cura garantida para a Covid-19;

- Afirmações de que a Hidroxicloroquina salva as pessoas da COVID-19;

- Promoção de soluções minerais milagrosas (MMS, na sigla em inglês) para tratamento da Covid-19;

- Afirmações de que determinadas pessoas têm imunidade à Covid-19 devido à raça ou nacionalidade;

- Incentivos para que as pessoas tomem remédios caseiros em vez de procurar tratamento médico quando estiverem doentes;

- Conteúdo que recomenda o uso de Ivermectina ou Hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.

Após um ano e quatro meses de campanha para os medicamentos ineficazes contra a Covid-19, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, o Ministério da Saúde admitiu que os medicamentos do chamado “kit covid’ são ineficazes no tratamento contra o coronavírus. Essa foi a primeira vez que a esfera federal se posicionou como ciente da não-recomendação dos medicamentos, através de documentos oficiais.

O posicionamento foi considerado tardio por muitas figuras políticas e da administração pública, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que deixou o Ministério após conflitos de interesse com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e que estavam relacionados a uma discordância quanto à agenda negacionista do PR, adepto ao tratamento precoce, apesar da ineficácia comprovada ainda em 2020.

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“Após um ano, sete meses e 536 mil mortes, o Ministério da Saúde fala baixinho que ‘tratamento precoce’ não é recomendado. Demorou hein? Alô Conselho Federal de Medicina, agora só falta você! Ciência!!!”, escreveu Mandetta.

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"Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população", diz o documento enviado à CPI da Covid, após solicitação do senador Humberto Costa (PT-PE).

Durante a entrega de 102 km de pavimentação da BR-230, no Pará, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atacou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga as ações do governo na pandemia, e afirmou que a comissão "se ilude achando que vai derrubar o governo federal". Além disso, Bolsonaro disse que era uma "CPI da mentira, que não busca a verdade".

Contrariando as recomendações de especialistas, o presidente voltou a recomendar que seus apoiadores se consultassem com os médicos para conseguir o tratamento precoce, que já foi comprovado por especialistas não ter nenhuma eficácia contra o novo coronavírus.

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"Quero dizer a vocês que eu tomei hidroxicloroquina, assim como muitos também tomaram ivermectina - isso não mata ninguém. Vocês aqui desta região sabem o que é malária e tomam esse medicamento e ninguém morreu por causa disso", exclamou Bolsonaro.

No dia 11 de junho deste ano, a cientista Natalia Pasternak, microbiologista da Universidade de São Paulo (USP) disse durante depoimento na CPI que os medicamentos do 'tratamento precoce' não funcionam contra a Covid-19. 

“A cloroquina, infelizmente, nunca teve plausibilidade biológica para funcionar. O caminho pelo qual ela bloqueia a entrada do vírus na célula só funciona in vitro, em tubo de ensaio, porque nas células do trato respiratório, o caminho é outro. Então ela já nunca poderia ter funcionado. Ela nunca funcionou para viroses. A cloroquina já foi testada e falhou pra várias doenças provocadas por vírus, como zika, dengue, chikungunya, o próprio Sars, Aids, ebola... Nunca funcionou”, asseverou a cientista. 

O "kit covid", tratamento sem eficácia comprovada que combina o uso de azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina, está sendo consumido por parte da população contra a covid-19, muitas vezes com prescrição médica, mas vem sendo questionado por profissionais de saúde e contestado pela comunidade científica internacional. Isso porque o uso equivocado pode provocar hepatite medicamentosa.

Hepatite medicamentosa é uma grave inflamação no fígado causada pelo mau uso e pelo excesso de medicamentos. Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aponta que, além do kit não ter resultados positivos para o tratamento da covid-19, ainda pode causar graves riscos à saúde.

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Segundo o médico hepatologista Rafael Ximenes, o kit é um fator preocupante principalmente pela falta de eficácia das medicações, que não ajudam a prevenir nem a tratar a doença.”Esses remédios possuem efeitos colaterais, inclusive lesões no fígado. A azitromicina, por exemplo, causa lesão no fígado em torno de 1 a 2% das pessoas que a usam. O risco da ivermectina é menor e a hidroxicloroquina parece ser nesse aspecto a mais segura, mas pela escala que essas medicações estão sendo usadas, milhares, talvez milhões de pessoas estejam usando, mesmo com o risco de 1% passam a ser muito alto e muitas pessoas, infelizmente, vão ter lesões no fígado por isso”, afirma.

A manifestação da doença é variável. Os sintomas podem aparecer em poucos dias ou até depois de alguns meses após o início da medicação. “Os primeiros sintomas podem ser leves e inespecíficos, como fraqueza, desânimo, falta de apetite, desconforto no abdome e enjoos. Nos casos mais graves, após alguns dias da semanas destes sintomas, podem aparecer a icterícia e depois a encefalopatia hepática”, explica o doutor.

 Ainda de acordo com o hepatologista, já foram registrados casos fatais de pessoas que optaram pelo tratamento. “Já têm casos de pessoas que precisaram de transplante por causa do kit covid e alguns pacientes até faleceram por isso. Então recomendamos que a população tome muito cuidado e não se automedique”, alerta Rafael Ximenes.

Sobre o tratamento para a doença, o doutor conta que a principal medida é a suspensão imediata dos medicmentos. “Na maioria dos casos, o tratamento é suspender a medicação que causou a lesão e esperar o fígado se recuperar. Vale lembrar que o fígado é um órgão com alta capacidade de regeneração. Em alguns casos, há tratamento específico para a lesão por aquele medicamento. Vale ressaltar que este tratamento deve ser feito por médico hepatologista com experiência neste tipo de lesão, e nunca por conta própria”, relata.

Por Rebeca Costa.

 

 

 

A médica infectologista Luana Araújo, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, reforçou a ineficácia de medicamentos usados no "kit covid". Luana afirmou que apesar de o Sistema Único de Saúde (SUS) não ter patrocinado a distribuição dos medicamentos, ela aconteceu "fartamente" no território nacional. Para a médica, se os fármacos fossem úteis, "a gente não teria os números que a gente tem hoje".

Luana afirmou que a questão pode ser solucionada de maneira simples usando a matemática, cruzando os dados da letalidade da doença onde os medicamentos foram utilizados. "Existem Estados que se a gente pegar a letalidade da doença e cruzar a letalidade da doença nas cidades com a distribuição dos kits, a gente vai ver que ele não teve qualquer impacto nesse sentido", afirmou.

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A médica disse também não acreditar que gestores adotem o "kit covid" por "ma-fé", mas que existe a necessidade de um preparo maior para lidar com a saúde no País. Para a infectologista, faltam profissionais de saúde pública integrados à gestão de todos os níveis. "Não dá pra ter um infectologista somente numa cidade de grande porte, ou médio grande porte", declarou, defendendo uma "granularidade" de profissionais de cidades para cidades.

A médica também fez questão de destacar que "ciência não é opinião". "Eu posso juntar a opinião de um milhão de pessoas, elas vão ser, ainda assim, opiniões. Ciência é método. Ciência é feita com desenvolvimento de atividades específicas que se encadeiam para que a gente tire de nós a responsabilidade de arcar com fatores de confusão", declarou.

Luana também respondeu ao senador Marcos do Val (Podemos-CE) de que todas as suas posições referentes à saúde em seu depoimento foram feitas de forma técnica e condizentes aos maiores especialistas do mundo. "Eu não estou aqui sozinha, eu represento uma classe enorme desse País de cientistas muito sérios", afirmou. Do Val, contudo, pediu que Luana "respeitasse" a opinião de especialistas contrários a ela.

"Eu respeito todos os meus colegas senador, e louvo o esforço que todos tem feito, mas existe uma diferença entre respeito e responsabilização, que é uma coisa que todos nós respondemos", declarou a infectologista, dizendo ter bastante confiança no seu conhecimento e na sua competência para discorrer sobre o tema.

Convidada por Queiroga para ocupar o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Luana deixou a equipe do ministro dez dias depois de ser indicada para o cargo, antes mesmo de sua nomeação se confirmar. Ao comentar sobre o caso, o ministro da Saúde afirmou que além de "validação da técnica", era necessário "validação política" para nomeação.

Nesta terça-feira (20), a transcrição nos anais da Câmara do Recife, de um boletim da Associação Médica Brasileira (AMB) que salienta a ineficácia do chamado “kit covid”, foi alvo de debates. Durante a reunião ordinária remota da Casa, os parlamentares discutiram o requerimento da transcrição, de nº 2036/2021, de autoria da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB). 

Na tribuna virtual, a vereadora Michele Collins (PP) se manifestou contrariamente ao pedido, que acabou sendo aprovado pelo plenário. Em seu discurso, Collins disse não considerar “verdadeiras” e “legítimas” as informações da nota técnica. 

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“Esse boletim é completamente falacioso. Gostaria de dizer aos vereadores que vão fazer a votação agora que não cometam esse erro”, aponta Collins. A parlamentar afirmou que diversas associações médicas teriam pedido desligamento da AMB após a divulgação da nota. 

“Não estou aqui discutindo a eficácia do medicamento, mas a veracidade e a legalidade do documento que os vereadores da cidade do Recife vão votar”, pontua Michele. 

Em seu site, a AMB informa que houve um erro que listou como signatárias da nota as associações que são apenas afiliadas à entidade – o documento técnico havia sido elaborado por um Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid da própria Associação. 

Com isso, 21 afiliados, ou 26% do total, pediram retirada de seus nomes da subscrição. A AMB republicou o boletim com essa correção. 

Em um aparte, o vereador Renato Antunes (PSC) disse concordar com Michele Collins. “Quero parabenizar Vossa Excelência por esses dados. Por se tratar de transcrição, acho que é válido cada mandato pedir o que lhe concerne, mas à medida que a gente traz o debate, o tema é politizado”.

*Da Câmara do Recife

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'Kit Covid' aumenta risco de morte, dizem chefes de UTIs

Hidroxicloroquina aumenta mortalidade de pacientes

Uma análise internacional de estudos divulgados pela revista científica Nature aponta que o tratamento com hidroxicloroquina aumenta a mortalidade de pacientes com Covid-19. Além disso, o medicamento é associado como causador da hospitalização por mais tempo e maior risco de progressão para a ventilação mecânica invasiva.

O remédio faz parte do "kit covid", que é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como "tratamento precoce" da doença - algo que não tem comprovação científica. Os estudos apontam que o uso da Cloroquina, que também integra esse kit, não traz benefício no seu uso no tratamento do novo coronavírus. 

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Cerca de 10.319 pacientes, em 28 ensaios clínicos, foram analisados. Centenas de milhares de pacientes receberam hidroxicloroquina e cloroquina fora dos ensaios clínicos, sem evidências de seus efeitos benéficos. O interesse público é sem precedentes, com evidências fracas que apoiam os méritos da hidroxicloroquina sendo amplamente discutidas em mídias e redes sociais, apesar dos resultados desfavoráveis”, diz a pesquisa.

Mesmo após a publicação, ao longo dos últimos meses, de estudos que demonstram a ineficácia de medicamentos como a cloroquina contra a covid-19 e a manifestação de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselhando o uso do remédio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) defende que ainda não há consenso científico sobre o uso dessas drogas no tratamento precoce da doença.

Ao Estadão, o presidente do órgão, Mauro Ribeiro, diz que o conselho não pretende rever parecer que autoriza a prescrição do remédio aos médicos brasileiros. Ressalta, porém, que, como não há evidências da ação desses fármacos, os médicos que anunciarem o kit covid como cura da doença ou prescreverem coquetéis de remédios que possam provocar efeitos colaterais podem ser alvo de sindicância de conselhos regionais. Leia os principais trechos da entrevista de Ribeiro.

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O parecer que autoriza médicos a prescreverem cloroquina contra covid é de abril de 2020. Por que não houve revisão após essas novas evidências?

Temos uma doença altamente transmissível, que mata. Na fase inicial, não tem tratamento reconhecido de modo indubitável por parte da ciência. Agora, há estudos observacionais que mostram o benefício de algumas drogas. As drogas que são usadas têm poucos efeitos colaterais, embora agora existam relatos de duas universidades brasileiras de cinco pacientes que teriam evoluído para morte ou fila para transplante e que isso teria sido causado por uma dessas drogas. Mas não tem comprovação científica que foi uma dessas drogas que causou. Estamos em alerta. Essa ideia de que a ciência já concluiu que essas drogas não têm efeito não é 100% verdadeira. Na literatura, tem de tudo. Ambos os lados têm trabalhos com metodologias questionáveis. Já que não há consenso na literatura, é uma doença devastadora, e que, do aspecto observacional, há algumas drogas que podem ter efeito, delegamos ao médico, junto com o paciente, decidir o tratamento. Ele tem de sentar com o paciente e explicar que é um tratamento que não tem comprovação que faça diferença e que se o paciente quiser ser tratado e o médico se disponibilizar, que seja feito. A classe médica está dividida.

Um estudo observacional não tem o mesmo peso que um estudo randomizado duplo cego. Estudos com essa metodologia padrão ouro mostram a ineficácia da cloroquina e azitromicina. Em que estudos vocês se baseiam?

Não há uma instituição que seja guiada mais pela ciência do que o CFM. Temos profissionais contratados que fazem rastreamento de tudo na literatura, mas não temos verdades absolutas. Temos uma série de dúvidas. Também há estudos prospectivos e randomizados mostrando a ação do tratamento precoce. Todos são passíveis de crítica. Único ponto que o CFM coloca é que nem incentivamos nem proibimos. Nenhuma entidade é detentora do saber. Temos a responsabilidade legal de definir o que o médico pode ou não fazer.

Mas há muitos médicos propagandeando esse tratamento precoce como a cura da doença...

Existe resolução do CFM sobre propaganda enganosa. Para todos os excessos, estão sendo abertas sindicâncias nos conselhos regionais. Tem médicos que fazem filmes falando maravilhas do tratamento precoce. Esses excessos são condenáveis, sim. O médico não pode, baseado no parecer do CFM, dizer que o tratamento é milagroso.

Nesse momento, o CFM não pretende rever aquele parecer?

Não, nesse momento não vemos necessidade de modificar o parecer e temos dificuldade de entender por que tamanha resistência de se respeitar a autonomia do médico e a do paciente para o tratamento de uma doença que não tem tratamento conhecido nessa fase. O nível do médico brasileiro é muito bom, ele estuda, não precisa de ninguém para tutorar.

O CFM se preocupa com o uso indiscriminado do kit covid?

Preocupa muito porque existe uma norma da boa medicina em que você deve prescrever o menor número de medicações possíveis. Cada vez que agrega uma nova droga, corre sempre o risco de interação medicamentosa, podendo levar a efeitos catastróficos. Somos contra uma prefeitura ou quem quer que seja entregar o kit ao médico dizendo que tem de prescrever aquilo.

Se o médico prescreve esses remédios e o paciente tem efeito colateral, ele pode ser responsabilizado?

Claro que pode, porque quando damos autonomia ao médico, não é um uma carta de alforria para fazer aquilo que quer. Se ele prescrever cinco ou seis drogas e, por alguma razão, o paciente apresentar efeito e aquilo se transformar numa denúncia do conflito regional, ele vai responder por isso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O 'Kit Covid', também chamado de tratamento precoce, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contribui para aumentar o número de mortes de pacientes graves, afirmam diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência ouvidos pela BBC News Brasil. Mesmo sem estudos científicos comprovando eficácia, medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina continuam sendo indicados pelo presidente no combate à Covid-19.

Segundo o médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo, os pacientes que precisarem de internação, cerca de 15% a 20% do total, podem ter o tratamento prejudicado no hospital caso recebam esses medicamentos.

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"É nesses pacientes que os efeitos adversos dessas drogas ocorrem com mais frequência e esses efeitos podem, sim, ter impacto na sobrevida', disse Rezende, que também é ex-presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, à BBC. 

Médicos intensivistas também afirmam que o "Kit Covid" mata de forma indireta quando retarda a procura de atendimento, absorve dinheiro público que poderia ser usado na compra de medicamentos para intubação e domina a mensagem de combate à pandemia. 

"Alguns prefeitos distribuíram saquinho com o 'kit covid'. As pessoas mais crédulas achavam que tomando aquilo não iam pegar covid nunca e demoravam para procurar assistência quando ficavam doentes", comentou o diretor da Divisão de Pneumologia do instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo, Carlos Carvalho.

"A falta de organização central e as informações desconexas sobre medicação sem eficácia contribuíram para a letalidade maior na nossa população. Não vou dizer que representa 1% ou 99% [das mortes], mas contribuiu", completou o diretor.

A preocupação dos médicos intensivistas é com o efeito colateral em pacientes que ficam em estado grave e que estão com o funcionamento dos órgãos comprometidos. 

"Esses remédios não ajudam, não impedem o quadro de intubação, e trazem efeitos colaterais, como hepatite, problema renal, mais infecções bacterianas, diarreia, gastrite. E a interação entre esses medicamentos pode ser perigosa", contou à BBC a pneumologista Carmen Valente Barbas, do Hospital das Clínicas e do Hospital Albert Einstein.

Segundo Ederlon Rezende, a hidroxicloroquina pode causar arritmia cardíaca, o que pode ser um efeito crítico, porque a Covid-19 promove inflamação do músculo cardíaco e trombose nos vasos e tecidos. Ele relatou também casos de pacientes que precisam ser sedados e acordam com confusão mental acentuada devido ao uso abusivo de ivermectina antes de chegar ao hospital. "A ivermectina é uma droga que também penetra no cérebro quando ele está inflamado, e ela deprime mais ainda o cérebro e piora a qualidade do despertar de um paciente intubado. Essa tem sido uma intercorrência frequente nos pacientes que usaram esse remédio antes chegar à UTI", contou. A ivermectina também pode causar lesão renal, dificultando a cura da Covid-19, pois a doença em alguns casos provoca complicações nos rins com necessidade de hemodiálise.

Com a adição de corticoides no Kit Covid, que ajudam a reduzir a mortalidade entre pacientes graves, surgiu outro problema. É que no restante da população o uso pode provocar sérios problemas, como baixar a imunidade e propiciar outras doenças. “Se você dá corticoide a paciente de covid sem necessidade, ele vai ter um desempenho pior. Ele morrerá mais do que se tivesse sido adequadamente tratado”, destacou o supervisor da UTI do Hospital Emilio Ribas, Jaques Sztajnbok.

Após diagnóstico clínico feito em consulta realizada pela internet, pacientes da Prevent Senior estão recebendo em casa, pelos Correios, uma espécie de "kit Covid", composto por hidroxicloroquina 400 mg, azitromicina 500 mg e pelas vitaminas Vitacon C + Zinco + Vitamina D e Detem D3. No receituário de controle, assinado por um médico que não faz a consulta, constam as dosagens diárias.

Os pacientes são aconselhados a tomar os medicamentos antes mesmo de fazerem o teste para detecção do novo coronavírus - cujo resultado é informado em cinco dias.

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Com um quadro típico de gripe, em que apresentava congestão nasal, estado febril de 37,2°C, indisposição e leve dor no corpo, a atriz Lilian Athie, de 58 anos, marcou pelo aplicativo da operadora, no dia 30 de julho, uma consulta virtual. "A médica fez um rápido levantamento do meu estado e disse que provavelmente eu estava com covid, mesmo eu dizendo que não estava com tosse ou falta de ar. Imagino que a conclusão foi baseada na minha informação que tinha perdido o olfato. O fato é que, normalmente, uma forte congestão nasal causa a perda de olfato. Assim que passamos a respirar melhor, o olfato volta a funcionar", disse Lilian.

Durante o diagnóstico, diz a atriz, a médica perguntou se ela morava com alguém, se trabalhava fora e se era cardíaca. "Respondi não a todas as perguntas." Após anotar os dados, informou que ela iria receber mensagem de texto pelo celular com um link para aceitar o recebimento da medicação em casa e também uma ligação informando os procedimentos.

"A médica reforçou que era para eu tomar os remédios assim que os recebesse. E também ligar para a central de atendimento e agendar o teste PCR para detecção de coronavírus. Pediu para repousar e não sair de casa por 13 dias."

Lilian recebeu o kit no mesmo dia da consulta. No dia seguinte, fez o teste pelo método RT-PCR . O resultado, que ficou pronto quatro dias depois, foi informado por uma atendente do convênio que ligou para saber como estava e se tinha tomado o medicamento. "Eu disse que somente tinha tomado a vitamina C. A mesma pessoa me informou que o resultado do teste tinha dado negativo. Perguntou se podiam recolher os medicamentos que eu não havia tomado. Pedi para ficar com as vitaminas", disse.

"Acho que o plano deveria explicar melhor os medicamentos enviados. Senti como se quisessem fazer um teste comigo. Como o convênio prescreve hidroxicloroquina após uma consulta virtual de cinco minutos?", indagou. Além do caso da atriz, o Estadão conversou com outras cinco pessoas clientes da Prevent Senior, que relataram o mesmo procedimento.

Atendimento precoce

Procurada, a Prevent Senior - especializada em idosos, grupo de risco da doença, afirma que "o atendimento precoce de Covid-19 tem sido adotado com resultados significativos de redução de internação e taxas de mortalidade" nos hospitais da rede.

Questionada sobre o envio do kit, que inclui hidroxicloroquina e azitromicina aos pacientes após diagnóstico online, a operadora justifica que "todos que recebem o kit assinam um termo concordando em receber os medicamentos em casa, sem nenhum custo adicional". A operadora diz ainda que os pacientes são atendidos e acompanhados por seus médicos e que "a utilização de qualquer remédio, mesmo após orientação médica, depende da vontade do paciente".

O cardiologista Carlos Alberto Pastore, da Sociedade de Cardiologia do Estado, afirma que não se pode considerar o uso do kit como uma forma de prevenção ou tratamento do novo coronavírus. "No início muitas pessoas tomaram hidroxicloroquina, mas nunca foi uma conduta definida", alerta. E a coordenadora do programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Carolina Navarrete, considera grave a decisão da operadora. "Não é o médico A ou B decidindo prescrever. É a instituição estabelecendo um protocolo de tratamento que não tem respaldo em evidência científica. Uma coisa é fazer isso de forma atrelada a um estudo clínico, outra muito diferente é quando não há estudo clínico."

Até a pandemia do novo coronavírus, a hidroxicloroquina era conhecida pelo uso em tratamento de artrite, lúpus eritematoso e malária. Começou a ser administrada em pacientes suspeitos e testados positivos, mas a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu os estudos. "A medicação pode interferir no processo elétrico do coração e provocar arritmia cardíaca, o que pode ser fatal", afirma o cardiologista. 

No atual cenário de pandemia de Covid-19, o poder público deve fornecer à população a orientação e o material necessário para a prevenção do contágio. Entretanto, não se pode admitir que alguns aproveitem a situação de calamidade pública para se promover. Com esse entendimento, o Ministério Público (MP) Eleitoral em Pernambuco requeriu que o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) mantenha a sentença da 128ª Zona Eleitoral que condenou José Welliton de Melo Siqueira (PCdoB), vereador e pré-candidato a prefeito de Ibimirim, no Sertão do Estado, pela realização de propaganda eleitoral antecipada. A ação teve origem em representação proposta pelo Partido Progressista (PP).

“Welliton da Saúde” – como é popularmente conhecido – participou da distribuição de “kits” de combate à Covid-19, contendo máscaras e álcool em gel, fornecidos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O material foi entregue à Associação de Desenvolvimento Comunitário e de Transporte de Ibimirim (ADESC). Ele recorreu ao TRE-PE, alegando que agiu de acordo com seu dever como vereador, buscando apoio da sociedade para auxiliar no combate à pandemia, e que tem o direito de divulgar suas atividades parlamentares e ações em prol da população.

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No parecer apresentado ao Tribunal, o MP Eleitoral destaca que a Lei das Eleições (Lei 9.504/97) foi alterada em 2015, flexibilizando-se as normas relativas à propaganda eleitoral antecipada. Isso incluiu, de fato, a possibilidade de divulgação de atos parlamentares. Entretanto, o procurador regional eleitoral de Pernambuco, Wellington Cabral Saraiva, ressalta que os pré-candidatos não podem se aproveitar da situação de calamidade pública, promover suas iniciativas de forma propagandística, nem utilizar recursos visuais que remetam à campanha eleitoral.

No caso, o vereador esteve presente na entrega do material e promoveu a divulgação da iniciativa nas redes sociais Facebook e Instagram, usando imagem com preponderância da cor de seu partido e trazendo seu nome em destaque, acompanhado do slogan “Fazendo mais por Ibimirim”. Na publicação, Welliton Siqueira afirma ter ele mesmo realizado a doação. Para o MP Eleitoral, não há como negar o caráter propagandístico dessa distribuição de álcool e máscaras, até porque o vereador poderia, se o quisesse, divulgar sua contribuição para a chegada dos materiais sem se utilizar de recursos tão obviamente eleitoreiros.

O procurador regional eleitoral argumenta que não pode ser aceito todo gênero de divulgação, sob o argumento de se tratar de mero ato de parlamentar. Caso contrário, a corrida eleitoral poderá tornar-se pura espetacularização da atividade dos parlamentares. “A exceção da norma não pode representar álibi para divulgar ações de parlamentares de modo tipicamente propagandístico, voltado para convencimento do eleitorado, ainda que subliminar. Em outras palavras, não se pode abusar do direito previsto na norma e deturpar seu objetivo”, declarou.

*Da assessoria de imprensa

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