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Em uma ação sem precedentes, uma ONG apresentou nesta quarta-feira (18) na ONU uma denúncia contra a Itália por seu papel no envio de migrantes resgatados no mar para a Líbia, onde tiveram que enfrentar condições terríveis.

A Global Legal Action Network (GLAN), uma organização não governamental, apresentou a denúncia no Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas em nome de um migrante do Sudão do Sul.

O homem, que atualmente reside em Malta, tinha 19 anos quando em 2018 foi resgatado no Mediterrâneo, juntamente com outras dezenas de migrantes, e foi enviado para a Líbia, onde foi baleado, espancado, detido arbitrariamente e obrigado a cumprir trabalhos forçados.

Segundo a ONG, esta é a primeira denúncia que trata da questão dos chamados "privatised push-backs" ("expulsões privatizadas"), um mecanismo segundo o qual os Estados da União Europeia contratam embarcações comerciais para devolver refugiados e outros que precisam de proteção a locais inseguros.

O texto sustenta que esses Estados transformaram navios mercantes privados em instrumentos do chamado "refoulement", - a devolução de refugiados para lugares onde sofrem perseguição e tortura - algo que é ilegal pelo direito internacional.

- 'Fórmula de abuso' -

"O que estamos observando é uma tendência preocupante em que o resgate de pessoas desesperadas no mar está sendo terceirizado para embarcações mercantes não treinadas e mal equipadas", declarou o chefe do GLAN, Gearoid O Cuinn, em comunicado, alertando que "é uma fórmula de abuso".

"Nossa denúncia legal é sobre a tentativa da Itália de abdicar de suas responsabilidades, privatizando o retorno de migrantes a um ambiente hostil na Líbia", disse ele.

O incidente específico mencionado na denúncia começou em 7 de novembro de 2018, quando o Centro Italiano de Coordenação de Resgate Marítimo (IMRCC) instruiu o navio mercante "Nivin", com bandeira do Panamá, a resgatar uma embarcação de migrantes em apuros e cooperar com a temida Guarda Costeira Líbia (LYCG).

A LYCG instruiu o "Nivin" a devolver os migrantes para a Líbia, onde os cerca de 80 passageiros foram brutalmente retirados da embarcação pelas forças de segurança líbias, que usaram gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real.

O queixoso foi baleado na perna, foi arbitrariamente detido, interrogado, espancado, submetido a trabalho forçado e teve tratamento médico negado por meses.

A queixa é apoiada por evidências de um relatório de oceanografia forense da Universidade de Londres, publicado nesta quarta-feira.

De acordo com este relatório, os "privatised push-backs" aumentaram consideravelmente desde junho de 2018 e os marinheiros são cada vez mais "usados pelos Estados que procuram fugir de suas obrigações em relação aos refugiados".

A denúncia argumenta que a Itália, ao abandonar sua responsabilidade de oferecer porto seguro aos migrantes em perigo, viola suas obrigações internacionais em termos de direitos humanos.

Em uma decisão amplamente criticada, a Itália renovou em outubro um controverso acordo assinado em 2017 com a Guarda Costeira da Líbia para bloquear os migrantes que tentam chegar à Europa.

O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas é composto por 18 especialistas independentes que emitem opiniões e recomendações com grande peso internacional, mas que não têm o poder de forçar os Estados a cumprir suas decisões.

Pelo menos 57 migrantes morreram quando o barco que as transportava virou ao largo da costa da Mauritânia, anunciou nesta quinta-feira (5) a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Laura Lungarotti, que lidera a OIM na Mauritânia, disse que entre as vítimas há mulheres e crianças. "Até ao momento estão confirmados 57 mortos e as operações de resgate prosseguem", frisou.

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Segundo a mesma fonte, a OIM trabalha com as autoridades da Mauritânia para prestar assistência às pessoas resgatadas. "Oitenta e três migrantes de Gâmbia sobreviveram ao naufrágio e estamos trabalhando para prestar ajuda e os necessários cuidados médicos", disse.

Safa Msehli, porta-voz da agência de migrações das Nações Unidas, explicou que os sobreviventes informaram que a embarcação partiu da Gâmbia com 150 migrantes a bordo.

Apontado pela PF como líder da maior rede de contrabando de imigrantes no mundo, Saifullah Al Manun, preso nesta quinta (31), tem "poder atual e efetivo de corromper agentes públicos brasileiros, tentando trazê-los para dentro de sua associação criminosa", afirma a Polícia Federal, no pedido de prisão oferecido à Justiça Federal. Entre os elementos encontrados, estão a possível cooptação de um policial civil e o uso de sua viatura para "tráfico de seres humanos". Ele também teria cooptado agentes de embaixadas de diversos países no Brasil.

Nascido em Bangladesh e refugiado no Brasil, ele teria se utilizado do País como rota para levá-los aos Estados Unidos. De acordo com as investigações, "os migrantes entram no Brasil por via aérea e pelo Aeroporto de Guarulhos/SP, oriundos do Afeganistão, Bangladesh, Índia e Paquistão, dentre outros países do Sul da Ásia, com passaportes e vistos falsos (inclusive brasileiros), sendo levados posteriormente pelos contrabandistas para os Estados Unidos, por via terrestre e após atravessarem a fronteira do Brasil com o Peru, no Acre, seguindo pelos seguintes países: Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Honduras, Nicarágua, El Salvador, Guatemala e México".

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"Partiu-se das informações norte-americanas e da denúncia anônima apresentada à Polícia Federal (fls. 05/35), segundo a qual SAIFULLAH AL MANUM oferecia a pessoas de Bangladesh a promoção da migração ilegal para os EUA, por cerca de R$47.000,00, e para o Brasil, por cerca de R$25.000,00, inclusive com o fornecimento de documentos falsos de identificação de estrangeiro ("RNE")", relata a PF.

Em um trecho do relatório a Polícia Federal ressalta que Saifullah "desenvolve a atividade do contrabando de migrantes de maneira extremamente articulada na sociedade brasileira, inclusive com o poder atual e efetivo de corromper agentes públicos brasileiros, tentando trazê-los para dentro de sua associação criminosa".

No dia 18 de agosto de 2018, Saifullah recebeu uma ligação de um celular que, segundo a PF, é "provavelmente utilizado pelo Policial Civil Waldir Martins Olivares, "conforme demonstrado no Relatório de Inteligência Policial nº 001/2018, nos autos de interceptação telefônica".

"Na primeira conversa entre os dois, às 17h28min, SAIFULLAH solicita ao interlocutor que realize um serviço a ele utilizando-se do seu "carro de polícia". Posteriormente, às 19h13min, o interlocutor informa que está indo se encontrar com ele, mas questiona qual seria o serviço a ser prestado, sendo que SAIFULLAH lhe responde que se trataria de "tráfico de seres humanos", pedindo que se falem por WhatsApp, visando assim evitar o rastreamento da conversa", diz a PF.

Os investigadores dizem que "embora até o momento, com o desenrolar das interceptações telefônicas, não tenha sido possível obter certeza sobre ter sido o referido policial civil o interlocutor tampouco se a viatura utilizada por ele foi efetivamente empregada no contrabando de migrantes, tais fatos serão objeto de aprofundamento com a deflagração da operação policial".

Consulado e embaixada

Os federais narram que, "em outra conversa, no dia 21/08/2018, Saifullah ligou para a Embaixada de Honduras, solicitando as informações necessárias para a emissão do visto de trânsito naquele país, com estadia de três dias".

Em outra ligação, feita em 30/01/2019, o interlocutor se identificou de Saifullah se denominava "Erik". De acordo com a ligação, "Saifullah comentou o fato do interlocutor trabalhar em um consulado". ""Erik" disse, ainda, que precisava esperar outro funcionário sair para adulterar os vistos e/ou passaportes, confidenciando o receio de ser demitido caso fosse surpreendido por seus superiores".

Os investigadores afirmam que se trata de Erik Bryan Martins da Costa, que "trabalhava no Consulado Geral do Equador em São Paulo/SP, provavelmente no cargo de Assistente Administrativo".

"Além disso, verificou-se em conversas entre os dois, no dia 28/01/2019, o fato de terem combinado de se encontrar em frente ao trabalho de ERIK, tendo sido dito por Saifullah que estaria então em frente ao Banco Santander. Em pesquisas na internet, constatou-se que o Consulado Geral do Equador em São Paulo e a Agência Alameda Santos do Banco Santander estão localizados no mesmo edifício, sito à Alameda Santos, 2313 - Jardim Paulista, o que confirmou a conclusão acerca do vínculo de ERIK com o Consulado do Equador", diz a PF.

Segundo a PF, "há provas de que SAIFULLAH AL MAMUN utiliza indevidamente a conta de e-mail do migrante ilegal FIROZ ALAM, preso nos Estados Unidos em 04/06/2018". "No dia 10/01/2019, portanto, no mesmo mês do contato telefônico entre SAIFULLAH e ERIK, constatou-se ainda que o e-mail de FIROZ ALAM (controlado por SAIFULLAH) recebeu três mensagens referentes a um visto do Consulado do Equador em São Paulo/SP, relativo a um migrante chamado MAJBA UDDIN (fls. 1113/1114), provavelmente oriundo do Sul da Ásia, em razão do seu nome".

"Dessa maneira, há fundados indícios da efetiva associação de ERIK BRYAN MARTINS DA COSTA a SAIFULLAH AL MAMUN na atividade ilícita de contrabando de migrantes", afirmam os investigadores.

A Polícia Federal (PF) cumpre nesta quinta-feira (31) oito mandados de prisão temporária e 18 mandados de busca e apreensão na Operação Estação Brás e Bengal Tiger contra o contrabando de migrantes e lavagem de dinheiro nas cidades em São Paulo, Embú das Artes (SP), Taboão da Serra (SP) e Garibaldi (RS). A PF considera esta uma das maiores operações internacionais já realizadas.

Desde maio de 2018, policiais investigam estrangeiros domiciliados em São Paulo que estariam liderando organização criminosa voltada à promoção de migração ilegal de pessoas para os Estados Unidos. Os inquéritos policiais tiveram cooperação policial internacional com a agência norte-americana de imigração U.S. Immigration and Customs Enforcement.

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A polícia descobriu que o grupo criminoso agia solicitando refúgio e fornecendo documentos de viagem falsos (como passaportes, vistos e cartas de tripulantes marítimos) a migrantes ilegais oriundos de países como Afeganistão, Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão.

Os migrantes desembarcavam no Aeroporto Internacional de Guarulhos, seguiam para Rio Branco (AC), atravessavam a fronteira com o Peru e prosseguiam por via terrestre (ônibus, barco, carona e a pé) até a fronteira do México com os Estados Unidos.

Durante o processo, esses migrantes sofriam maus-tratos, como cárcere privado, agressões físicas e psicológicas. Oito migrantes bengaleses, inclusive, foram sequestrados por cartéis de drogas mexicanos, na cidade de Nuevo Laredo, na fronteira do México com os Estados Unidos em junho deste ano.

Segundo estimativa da PF, a organização criminosa movimentou ao menos 10 milhões de dólares entre 2014 e 2019. Os investigados responderão, na medida de suas participações, pelos crimes de contrabando de migrantes (qualificado pela submissão a condições desumanas e degradantes), lavagem de dinheiro e organização criminosa, com penas de três a dez anos de prisão, sem prejuízo de responderem por outros crimes que possam ser descobertos ao longo da investigação.

A Bélgica é uma importante rota de trânsito para migrantes e redes de traficantes que buscam aproveitar a proximidade do Reino Unido, como demonstra a recente descoberta de 39 pessoas mortas em um caminhão, em área industrial a leste de Londres.

A promotoria belga logo iniciou uma investigação, paralelamente às investigações britânicas.

Embora o contêiner acoplado ao caminhão tenha viajado em uma balsa que partiu do porto belga de Zeebrugge, na tarde de terça-feira (22), ninguém prova "por enquanto", segundo a promotoria, que as vítimas estavam à bordo na Bélgica. A polícia britânica anunciou que eram de nacionalidade chinesa.

"A investigação determinará desde quando estão mortos. É possível que o contêiner tenha atravessado o Canal da Mancha com os migrantes já mortos a bordo", afirmou à AFP François Gemenne, especialista em migração.

A rota usada mostra que a Bélgica, devido à sua localização geográfica a cem quilômetros da costa inglesa, é um eixo privilegiado para chegar ao Reino Unido.

Atualmente, em solo belga, há entre 800 e 1.000 migrantes aguardando uma solução para atravessar o Canal da Mancha através de Zeebrugge ou nos portos franceses próximos à fronteira belga.

Esse número se mantém estável há três anos, quando a Bélgica sentiu as consequências do desmantelamento de um gigantesco campo improvisado que recebeu mais de 8.000 pessoas em Calais (norte da França).

Os migrantes e, seguindo seu rastro, os traficantes que administram suas viagens, retiraram-se em parte para a Bélgica.

"Existe um triângulo Paris-Bruxelas-Calais no qual os migrantes se deslocam", afirma Mehdi Kassou, que atua junto a uma rede de cidadãos que abrigam migrantes em situação irregular, geralmente do Sudão, Eritreia e Etiópia.

Segundo Kassou, "se há uma evacuação de um acampamento na França, como aconteceu recentemente em Grande-Synthe, entre 70 e 80 pessoas tentam nos dias seguintes chegar a Bruxelas ou Paris para encontrar ajuda".

- "Ninguém reivindica a mercadoria" -

Gemenne, cientista político da Universidade de Liège, explica que as operações policiais determinam atualmente "as rotas migratórias".

Na Bélgica, a vigilância policial foi reforçada em estacionamentos de auto-estradas, onde estacionam caminhões a caminho do Reino Unido, nos quais migrantes tentam se esconder durante a noite.

Isso levou os traficantes a adaptarem seus métodos. Uma rede desmontada no final de setembro organizou, por exemplo, travessias clandestinas da Albânia a partir de sua base, localizada em um hotel em Gante (noroeste) e com a cumplicidade de vários motoristas de caminhão.

Precisa-se de mais meios para combater o tráfico de seres humanos? Para os especialistas consultados pela AFP, a velocidade com que os políticos acusam essas redes quando ocorre um drama oculta sua incapacidade de alcançar "soluções duradouras" para esse problema conjuntural.

O regulamento de Dublin confia aos países por onde os migrantes entram na Europa, especialmente através da Grécia, Itália e Espanha, o gerenciamento de suas solicitações de asilo, mas o bloco tenta há anos, sem sucesso, reformar essa política de asilo.

"Estamos presos em uma situação que inevitavelmente leva pessoas à morte ou aos braços de traficantes que as levarão à morte", estima Kassou.

Para Gemenne, "enquanto a Inglaterra continuar sendo um destino atraente, como ocorre há muito tempo e continuará ocorrendo sem dúvida, mesmo após o Brexit, haverá migrantes que absolutamente desejarão atravessar essa fronteira".

Gemenne sugere negociar com Londres para estabelecer "talvez uma cota anual [de migrantes] ou, em qualquer caso, rotas legais e seguras" de trânsito.

"Os traficantes não dão a mínima para o destino dos migrantes", acrescenta o cientista político, para quem "a característica sórdida desse tráfico é que, se a mercadoria é perdida, ninguém a reivindica".

Dois migrantes iraquianos, um deles de 17 anos, foram encontrados mortos nesta segunda-feira em uma praia de Le Touquet (Pas-de-Calais, norte da França), região onde as tentativas de atravessar para a Inglaterra são frequentes.

Um pequeno barco sem ocupantes foi achado perto do primeiro corpo, segundo a prefeitura de Pas-de-Calais.

Uma segunda embarcação do mesmo tipo também foi encontrada a cerca de 450 metros.

Horas mais tarde, um segundo corpo foi encontrado.

A investigação foi confiada à Polícia de Touquet e à Polícia de Fronteiras de Coquelles (PAF), informou o Ministério Público de Boulogne-sur-Mer.

Oito migrantes foram ajudados na mesma área, mas não foi possível por enquanto estabelecer algum vínculo com os dois mortos.

Treze corpos foram recuperados e mais de dez pessoas continuam desaparecidas após o naufrágio nesta segunda-feira (7) de uma embarcação de migrantes perto da ilha de Lampedusa, informou a Guarda Costeira italiana.

Pouco depois da meia-noite, a Guarda Costeira recebeu uma ligação de uma embarcação com quase 50 migrantes a bordo que estava afundando perto de Lampedusa, Vinte e duas pessoas foram resgatadas.

De acordo com um comunicado, no momento em que as equipes de resgate se aproximavam o barco virou em "consequência das difíceis condições meteorológicas e de um movimento de pânico dos migrantes".

As buscas por sobreviventes continuam, informaram as autoridades italianas. Sobreviventes do naufrágio afirmaram que pelo menos oito crianças estão entre os desaparecidos.

O Mediterrâneo se tornou a via marítima mais perigosa do mundo. Desde o início do ano, pelo menos 1.041 pessoas morreram na travessia da costa do norte África até a Europa.

O acampamento de migrantes de Moria, na ilha grega de Lesbos, acordou nesta segunda-feira após o violento incêndio e uma longa noite de tumultos ema intalação asfixiado pela chegada constante de novos refugiados.

As autoridades gregas confirmaram a morte de uma refugiada no incêndio que, segundo os migrantes, começou num pequeno comércio ambulante.

Mas, de acordo com a imprensa grega, um cobertor queimado encontrado ao lado da mulher morta conteria resíduos de pele que poderiam pertencer ao bebê da falecida, um recém-nascido.

Dezessete migrantes feridos - nove homens, seis mulheres e duas crianças, incluindo um bebê - foram transportados para o Hospital de Mytilene, de acordo com o ministério da Saúde.

"Tal tragédia podia acontecer a qualquer momento no acampamento de Moria", lamentou Kostas Moutsouris, prefeito do norte do Mar Egeu (que inclui Lesbos).

"Trata-se de uma estrutura que acolhe mais de 12.000 pessoas de diferentes culturas", acrescentou no site Newsbomb.

"A situação é muito trágica", acrescentou à AFP Boris Cheshirkov, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) na Grécia, considerando "extremamente urgente acelerar as transferências para o continente".

Desde a multiplicação de chegadas nas últimas semanas nas ilhas do Mar Egeu a partir da Turquia, Moria abriga 13.000 migrantes, para uma capacidade de 3.000.

Refugiados revoltados

Neste acampamento à beira de asfixia pela superlotação, os exilados se revoltaram contra as autoridades e provocaram tumultos durante a madrugada, subindo nos contêineres e nas paredes do centro de abrigo.

A polícia disparou gás lacrimogêneo contra a multidão, irritada com a demora dos bombeiros em extinguir o incêndio, disseram eles a um correspondente da AFP.

Esta manhã, a situação parecia mais calma, mas com uma presença policial reforçada, segundo Astrid Castelein, porta-voz do ACNUR em Lesbos.

"Muitos policiais chegaram hoje. Checam os documentos das pessoas, olham dentro dos contêineres... tudo isso nos estressa ainda mais", confirmou Farid, um jovem afegão por telefone à AFP.

"Muitos refugiados estão tristes e estressados. Têm medo de um novo acidente", disse ele.

Para o ACNUR, "o incêndio ocorreu em um contexto de aumento de chegadas" de migrantes da vizinha Turquia.

Em três meses, quase 10 mil pessoas chegaram à ilha de Lesbos, segundo Lefteris Oikonomou, vice-ministro da Defesa Civil.

Pior período desde 2016

"Estamos em um contexto diferente da crise migratória de 2015, onde as fronteiras estavam abertas. Mas desde o acordo UE-Turquia (de março de 2016), atravessamos o pior período", disse durante uma coletiva de imprensa em Mitilene.

As autoridades prometeram uma nova transferência de 250 pessoas nesta segunda-feira. "Estamos tentando transferir gradualmente os refugiados para esvaziar o acampamento de Moria".

Segundo o ACNUR, de 2 a 15 de setembro, 2.510 refugiados foram transferidos das ilhas do mar Egeu para o continente grego.

O prefeito de Lesbos Stratos Kytelis também pediu "o descongestionamento imediato de nossas ilhas e o fortalecimento do controle de fronteiras".

No auge da crise migratória, a UE e a Turquia assinaram um acordo em 2016 que levou a uma redução significativa no fluxo de migrantes e refugiados pelas ilhas gregas, perto da Turquia.

Mas, no início de setembro, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, cujo país abriga mais de quatro milhões de refugiados, ameaçou "abrir as portas" aos migrantes, se não conseguir mais ajuda internacional.

Na semana passada em Nova York, os líderes grego e turco "concordaram em fazer todos os esforços para reduzir o fluxo de migrantes", de acordo com uma autoridade grega.

A Itália autorizou o desembarque em seu território de 182 migrantes socorridos no mar, na segunda decisão semelhante em uma semana após 15 meses de fechamento de seus portos a navios humanitários, anunciou neste domingo a organização não governamental SOS Mediterrâneo.

Esses migrantes haviam sido resgatados no mar há uma semana, na costa da Líbia, pelo Ocean Viking, um navio da SOS Mediterranean e pelo grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras.

Em uma mensagem no Twitter, a SOS Mediterráneo informou que esses migrantes agora poderão desembarcar em Messina, na Sicília. A informação foi confirmada por fontes do Ministério do Interior italiano citadas pelo jornal La Stampa em sua edição eletrônica.

Enquanto esperam a Europa abrir as portas para os 356 migrantes que resgataram no Mediterrâneo, os socorristas do "Ocean Viking", único navio humanitário que ainda navega na zona, tiveram que renunciar a salvar mais pessoas que zarpam da costa da Líbia.

Os dez socorristas a bordo do navio fretado pelas ONGs SOS Méditerranée e Médicos sem Fronteiras (MSF) têm experiência como marinheiros, ou salva-vidas.

"Sem nenhuma das duas seria difícil estar aqui", reconhecem.

Com ar um tanto rebelde, o francês Tanguy, de 38 anos, é o homem de proa da equipe, treinado para andar e subir pela ponte, tudo segundo um protocolo meticuloso.

Assim que chegou à zona de busca e resgate em frente à costa da Líbia, em 9 de agosto, o navio "Ocean Viking", sucessor do "Aquarius", resgatou quatro botes infláveis lotados, com entre 80 e 100 pessoas a bordo cada, em quatro dias.

No último salvamento, em 12 de agosto, o bote de borracha azul estourou quando os socorristas chegaram para distribuir os coletes salva-vidas, levando uma dúzia dos 105 passageiros a se jogar na água.

Os migrantes que chegaram ao "Ocean Viking" informaram que uma balsa similar havia saído da Líbia ao mesmo tempo que eles, mas não foi encontrada.

Doze horas depois, o vento do norte levantou ondas de dois metros e meio.

- Sem fôlego -

Desde então, o "Ocean Viking" navega entre Malta e Itália. A zona dos naufrágios foi abandonada e, no melhor dos casos, é a Guarda Costeira líbia - o terror dos migrantes - que está encarregada de resgatá-los.

Uma ideia que os aterroriza, já que costumam enviar os sobreviventes, sistematicamente, para os centros de detenção da Líbia, que eles chamam de "prisões".

"O pior é que dois dos quatro barcos puderam ser resgatados, porque haviam sido descobertos com binóculos", contou Nicholas Romaniuk, coordenador anglo-canadense das operações de resgate.

Ao chegar à zona de resgate, ordenou-se uma tarefa implacável de observação com binóculos 24 horas por dia.

Na ausência de um centro de coordenação efetiva dos resgates marítimos por parte de Trípoli, a observação permanente é indispensável e mais confiável do que qualquer sonar para detectar embarcações.

As outras duas embarcações foram localizadas, graças ao voo de aviões europeus.

- Mais afogados, menos migrantes -

Durante os últimos dez dias, os socorristas deixaram de estar na passarela para vigiar os náufragos. Agora, passam mais tempo na ponte, ajudando os voluntários da MSF a distribuir as porções de chá e comida, organizando a hora de dormir entre homens e mulheres e garantindo a paz entre cerca de 300 jovens exaustos e com pouca paciência.

"Estamos acostumados a acompanhar as pessoas até o desembarque, mas antes durava uns dois, ou três dias", afirma Tanguy, que acrescenta com voz baixa: "É que, quanto mais afogados, há menos migrantes...".

"Não acredito que os governos decidam isso, mas é o resultado de sua política", diz.

"Para mim, é como ter um paciente na ambulância, e o hospital se nega a recebê-lo. De modo que você tem que ir cada vez mais longe, a Milão, Berlim, Moscou... E assim, você não está fazendo seu trabalho", resume Alessandro, um paramédico da Cruz Vermelha, que sente "mais tristeza do que frustração".

"Sugam sua energia", desabafou.

Portugal anunciou nesta quinta que está "disposto" a acolher 35 migrantes do barco.

Sam Turner, chefe da missão da MSF na Líbia, denunciou a prolongada ausência de navios humanitários nessa zona do Mediterrâneo.

"Além destas pessoas continuarem sofrendo por uma estada prolongada no mar, outras continuam morrendo, porque somos impedidos de ajudá-las", lamentou.

Segundo estimativas da Guarda Costeira líbia, "aproximadamente metade dos barcos que partem se perde no mar, e centenas de pessoas desaparecem sem deixar rastro".

Após o desembarque do "Open Arms" na ilha italiana de Lampedusa, agora chegou a vez do barco humanitário "Ocean Viking", com 356 migrantes a bordo, que nesta quarta-feira (21) aguarda permissão das autoridades italianas para atracar.

O governo da Itália não respondeu a nenhum dos vários pedidos de desembarque do "Ocean Viking", a última embarcação humanitária no Mediterrâneo, afirmou à AFP Frédéric Penard, diretor de operações da SOS Méditerrannée, que opera com o navio em parceria com a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Pelo décimo dia consecutivo, o "Ocean Viking" se encontra praticamente retido no canal da Sicília, entre Malta e Lampedusa. Depois que as autoridades de Malta proibiram no último momento o abastecimento com água e combustível, a tripulação precisa economizar os recursos.

Diante de jovens africanos que passaram por muitas dificuldades antes do resgate no Mediterrâneo, os comandantes do "Ocean Viking" explicaram a situação crítica no "Open Arms", o que levou alguns tripulantes a pular na água para tentar chegar a nado à costa de Lampedusa.

"Como está previsto no Direito Marítimo, solicitamos primeiros socorros em 9 de agosto aos centros de coordenação de resgates no mar da Itália e Malta para que designassem um porto, no qual as pessoas resgatadas poderiam desembarcar. Até o momento não recebemos nenhuma resposta da Itália e outra negativa da parte de Malta", explicou Penard.

O diretor da ONG declarou que "vários Estados europeus querem acabar com as resoluções caso a caso e estabelecer um sistema" continental de recepção de migrantes.

"Isto é o que pedimos, mas estas pessoas devem desembarcar de modo imediato. As negociações europeias não podem acontecer ao mesmo tempo que 300 pessoas estão bloqueadas no mar em condições difíceis", completou.

Nenhum migrante a bordo acompanhou a crise política em Roma, com a renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte, mas receberam a notícia do desembarque do "Open Arms", após 19 dias no Mediterrâneo.

"Que Deus nos ouça", afirmou Hanil, um sudanês de 22 anos, que está no "Ocean Viking" com o irmão pequeno Adam, ao lado do qual abandonou seu país há cinco anos.

Os 85 migrantes que a embarcação da SOS Méditerrannée resgatou em um primeiro momento em 9 de agosto já estão há 13 dias a bordo. "Sabem para onde vamos? Quando chegaremos?", perguntam os migrantes.

As perguntas provocam irritação, o que resulta em momentos de brigas a bordo, uma consequência da inatividade, da falta de higiene e, sobretudo, da incerteza.

O diretor da missão da MSF na Líbia, Sam Turner, disse à AFP que "o sofrimento destas pessoas está sendo prolongado no Mediterrâneo e outras morrerão, pois nos impedem de fazer nossas operações de resgate".

Turner recordou que, de acordo com a Guarda Costeira da Líbia, quase metade dos barcos de migrantes que zarpam da Líbia naufragam, o que significa que "centenas de pessoas desaparecem sem deixar vestígios".

O navio humanitário Ocean Viking, da ONG SOS Méditerrannée, resgatou neste domingo 81 pessoas em sua terceira operação de socorro, e já navega com 251 migrantes, após três dias patrulhando águas líbias, comprovou a AFP, presente a bordo.

Um bote de borracha azul transportava dezenas de homens, a maioria sudaneses, que zarparam da líbia na noite de ontem e aplaudiram o navio humanitário quando o viram chegar.

O Ocean Viking segue patrulhando águas internacionais a menos de 100km de Trípoli.

"Estamos sozinhos na área, os guarda-costas líbios não respondem", informou à AFP o coordenador das operações de busca e resgate da SOS Méditerrannée, Nicholas Romaniuk.

Quase dois terços das pessoas resgatadas pela embarcação nos últimos três dias são de nacionalidade sudanesa. Um total de 81% delas têm entre 18 e 34 anos, e 17% são menores de idade.

O Ocean Viking é sucessor do Aquarius e navega com bandeira norueguesa.

A polícia migratória dos Estados Unidos deteve nesta quarta-feira 680 trabalhadores da indústria agroalimentícia no estado do Missisipi, em uma ampla operação que gerou hoje questionamentos e críticas.

A megaoperação, nas fábricas do setor avícola, se apresentou como a maior feita em um só dia no estado nos últimos dez anos, segundo as autoridades.

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Na falta de uma explicação sobre as razões que levaram a intervir nesses locais nessa data, escolhida por Donald Trump para prestar homenagem às vítimas de dois tiroteios recentes que enlutaram a população latina, gerou questionamentos.

"No mesmo dia que se supõe que o presidente consolará uma população angustiada e prestará homenagem à diversidade americana em El Paso, sua administração está alimentando o medo com operações migratórias maciças no Mississipi", denunciou o democrata Joe Biden, que lidera a corrida democrata para disputar com Trump as eleições presidenciais de 2020.

Outras vozes estão preocupadas pelas consequências dessas detenções que separaram famílias.

"Minha principal preocupação é: o que acontece com as crianças?", perguntou na CNN William Truly, prefeito de Canton, uma das cidades onde ocorreram as operações.

As autoridades garantem que foram cuidadosas com a situação particular das famílias, para que nenhuma criança fique abandonada.

Alguns adultos, algemados durante a detenção, foram presos para a deportação; outros foram postos em liberdade; outros, convocados a uma audiência judicial posterior e liberados com tornozeleiras eletrônicas. Essa distribuição não se tornou pública.

Denunciando uma "invasão", o presidente Trump se comprometeu recentemente a acelerar o processo de expulsão de "milhões" de imigrantes que chegaram aos Estados Unidos de maneira ilegal.

Ele os acusa de afetar o mercado de trabalho, apesar de a taxa de desemprego está muito baixa e que esses migrantes em situação irregular frequentemente ocupan os postos de trabalhos mais árduos, especialmente no setor agrícola.

A Frontex, a agência responsável pelo controle das fronteiras externas da União Europeia, respondeu nesta terça-feira (6) às acusações contra ela por tolerar maus-tratos contra imigrantes, afirmando que não tem poder sobre a atuação da polícia local.

Seu papel no terreno foi questionado após a publicação de uma investigação de vários veículos de mídia. As ONGs que trabalham no tema de imigração seriam favoráveis à reforma da agência.

Em uma investigação conjunta, o portal de investigação alemão Correctiv, o jornal britânico Guardian e o canal alemão ARD acusam a agência de endossar atos cometidos por guardas fronteiriços búlgaros, húngaros e gregos.

Eles teriam, por exemplo, perseguido com cães solicitantes de refúgio e teriam rejeitado e os teriam rechaçado sem motivos diante do olhar passivo dos agentes da Frontex.

A agência europeia com sede em Varsóvia negou categoricamente "todo o envolvimento" de seus agentes em uma "violação dos direitos fundamentais".

A Frontex informou à AFP que realiza uma "missão de apoio com os agentes dos países envolvidos" e que "não tem direito de controlar ou investigar" a ação das autoridades locais.

Até agora, ninguém apresentou uma denúncia contra um de seus membros, afirmou.

A Frontex tem 600 agentes na Grécia, 93 na Bulgária e 13 na Hungria, que cooperam com as forças locais no controle das fronteiras, na luta contra os documentos falsos e na identificação de veículos roubados.

No terreno, esses agentes trabalham "em equipe" com os guardas fronteiriços locais e podem interrogar os migrantes, mas "detê-los e trasladá-los a centros", de acordo com um responsável.

Esses agentes têm a obrigação de informar toda violação dos direitos de migrantes. É com base nesses informes "compilados e apresentados aos países envolvidos" sobre atos cometidos por seus funcionários que a mídia acusa a Frontex de conivência em ações de maltrato.

- "Protex" -

Segundo um documento interno da Frontex, que teve um papel mais importante com a crise migratória iniciada em 2015, alguns agentes também estão diretamente implicados na expulsão de menores de idade não acompanhados ou solicitantes de refúgio, aos quais, segundo a a imprensa, foram dados sedativos durante sua expulsão.

"Não é uma surpresa", segundo Pierre Henry, diretor da associação France Terre d'asile. "Enquanto se confia à Frontex a missão de vigiar as fronteiras, não se confia a ela a missão de proteção".

Em seu recente "manifesto pelo futuro do direito de refúgio na Europa", a associação francesa pede uma reforma em profundidade.

A da Frontex já começou, e o Europarlamento aprovou em abril reforçar a agência com um corpo de 10.000 guardas fronteiriços para 2027.

No futuro, deveria inclusive apoiar "os procedimentos de reenvio nos Estados-membros, por exemplo identificando os cidadãos de países terceiros em situação irregular".

Pierre Henry insiste, contudo, que, se é normal que exista um corpo de vigilância, "também deve haver uma força para proteger os demandantes de refúgio".

"Será importante assegurar que a Frontex garanta o respeito dos direitos fundamentais. Por isso, sugiro que junto à Frontex se constitua um corpo especializado na proteção de pessoas: Protex", propõe.

Por enquanto, as atribuições da agência são vagas, avalia Corinne Torre, responsável nacional da Médicos Sem Fronteiras (MSF).

"Há anos que pedimos que se detalhe o papel da Frontex no terreno. Onde começa sua missão? "Onde termina? Nunca conseguimos", lamenta.

O papa Francisco pediu à comunidade internacional, neste domingo (28), que aja "rapidamente e com decisão" para evitar novas tragédias no mar, após o naufrágio que deixou mais de 110 migrantes mortos e desaparecidos, na última quinta-feira, frente à costa líbia.

"Soube, com dor, da notícia do dramático naufrágio, ocorrido nos últimos dias nas águas do Mediterrâneo, no qual dezenas de migrantes - entre eles, mulheres e criança - perderam a vida", declarou o papa em tom grave, após a oração do Ângelus, na praça de São Pedro.

"Renovo meu apelo sincero para que a comunidade internacional aja rapidamente e com decisão, para evitar que se repitam tragédias similares e garantir a segurança e a dignidade de todos", insistiu.

O papa convidou os milhares de fiéis reunidos na praça, apesar da chuva e do vento, a refletirem por alguns momentos em silêncio e rezarem pelas vítimas e por seus familiares.

Na sexta-feira, os serviços de resgate líbios anunciaram que foram recuperados 62 corpos de migrantes, depois que sua embarcação afundou, na véspera, frente à costa de Khoms.

Cerca de 145 pessoas foram resgatadas, mas pelo menos 110 morreram, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

A ONG SOS Mediterranée, em colaboração com Médicos Sem Fronteiras (MSF), retornou ao mar sete meses após a imobilização de seu navio "Aquarius" para socorrer os migrantes no Mediterrâneo, apesar da recusa dos portos europeus de aceitar navios humanitários.

O navio "Ocean Viking", com bandeira norueguesa, dirige-se desde 18 de julho "para o Mediterrâneo para liderar uma nova campanha de salvamento no Mediterrâneo central" - a rota marítima migratória mais mortífera -, anunciou a ONG em um comunicado.

"O navio irá patrulhar o Mediterrâneo central, de onde vem o maior número de pedidos de ajuda, mas sem nunca entrar nas águas territoriais líbias", informou Frédéric Penard, diretor de operações da SOS Mediterranée.

"Nossa presença no mar é para salvar vidas. Esperamos que os Estados nos entendam e se juntem a nós, porque não há outra solução", insistiu. "Dizer que são as embarcações de salvamento que incitam as travessias é falso. Mesmo sem os navios, as saídas continuam".

Pelo menos 426 pessoas morreram tentando atravessar o Mar Mediterrâneo desde o início do ano, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O último naufrágio ao largo da costa da Tunísia causou 60 mortes.

Depois de quase três anos no mar, o "Aquarius", que resgatou 30.000 migrantes, teve que cessar suas atividades em dezembro de 2018, depois de ter sido privado de sua bandeira de Gibraltar e depois do Panamá.

O "Ocean Viking", de 69 metros de comprimento, foi construído em 1986 para a assistência a plataformas de petróleo. Mais de trinta pessoas estão a bordo. A capacidade de recepção não foi especificada.

Cada dia no mar custa 14 mil euros, segundo a ONG, que pede doações.

A nova campanha começará quase um mês após a detenção do "Sea Watch 3", barco fretado pela ONG alemã Sea Watch, e de sua capitã Carola Rackete na Sicília, um aviso das autoridades italianas às embarcações humanitárias.

A Itália denuncia que não há "partilha dos encargos" na União Europeia (UE), que a deixa sozinha na linha de frente da recepção dos migrantes.

"Chega das decisões tomadas apenas em Paris e Berlim. A Itália não está mais disposta a aceitar todos os migrantes que chegam à Europa", declarou neste domingo o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini.

A Europa parece incapaz de chegar a um acordo. Uma nova reunião de ministros do Interior e das Relações Exteriores de quinze países europeus está programada para segunda-feira em Paris.

Milhares de migrantes em situação irregular aguardam neste domingo, com medo e incerteza, a operação anunciada pelo presidente Donald Trump que levará a uma onda de deportações.

Em dezenas de cidades, manifestações foram organizadas contra as detenções e expulsões planejadas, enquanto autoridades locais e estaduais pediram moderação.

O Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) deve atuar em pelo menos 10 grandes cidades americanas para prender cerca de 2.000 migrantes que entraram recentemente no país.

O alcance da operação parece mais modesto do que os "milhões" que Trump prometeu que seriam detidos e expulsos quando mencionou pela primeira vez no mês passado a ofensiva, adiada posteriormente.

Mas isso não aliviou a angústia daqueles que temem ser alvos.

Segundo a imprensa, os agentes do ICE estão preparados para prender não apenas aqueles com ordens de expulsão, mas também outros migrantes sem documentação que possam encontrar. Isso poderia incluir migrantes que estão no país há anos, com empregos e filhos que são cidadãos americanos.

"Essa incerteza, esse medo, está causando estragos", disse a prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, à CNN. "Está traumatizando as pessoas".

Trump insistiu na sexta-feira que "a maioria dos prefeitos" quer esta operação.

Mas vários prefeitos expressaram preocupação com a operação federal.

O prefeito de Miami, Francis Suarez, disse que em 2018, seu primeiro ano no cargo, sua cidade experimentou sua "menor taxa de homicídios em 51 anos". "Então eu não entendo o motivo de escolher Miami", acrescentou.

- "Ato político" -

Algumas autoridades municipais, bem como grupos pró-migrantes e de direitos civis, tentaram instruir aqueles que poderiam ser alvos sobre seus direitos.

"Estamos pedindo às pessoas, se tiverem medo de deportação, que fiquem em casa no domingo, que andem em grupos", disse Keisha Bottoms, prefeita de Atlanta, à CNN.

"Se alguém bater em sua porta, por favor, não a abra a menos que tenha um mandado".

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, disse à MSNBC que vê esta ofensiva como "um ato político para convencer muitas pessoas nos Estados Unidos de que os imigrantes são o problema".

Como outras autoridades, ele teme que as deportações possam intimidar os migrantes, fazendo com que cooperem menos com a polícia local no futuro, dificultando assim a segurança pública.

Há mais de um ano, os Estados Unidos enfrentam uma crise migratória na fronteira com o México, agravada, a cada mês, pelos milhares de centro-americanos que fogem da violência e da miséria em seus países.

O número de migrantes em situação ilegal detidos em junho - mais de de 100.000 - teve uma queda de 28% em relação a maio, mas a situação permanece "crítica", anunciou o Departamento de Segurança Interna esta semana.

Este último está sob fogo cruzado desde a divulgação de um relatório oficial, apontando uma "superlotação perigosa" em vários centros que acolhem esses migrantes no Texas.

Os Estados Unidos reportaram nesta terça-feira (9) que as prisões de migrantes na fronteira com o México caíram 28% em junho em relação ao mês anterior, depois que os dois países intensificaram os controles.

O Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) informou que a situação continua sendo "uma emergência", com um total de 104.344 detenções em junho em comparação com um nível de 43.180 de um ano atrás.

A discussão sobre a migração na fronteira agita a política interna americana pelas denúncias sobre as condições a que os migrantes são submetidos nos centros em que são confinados e é chave para o México, que se arrisca a que Trump lhe imponha tarifas alfandegárias a todas as suas exportações se não conseguir conter o fluxo de pessoas que viaja para o norte.

O DHS atribuiu a diminuição das detenções ao "enfoque cabal do governo" após terem alcançado 144.000 no mês de maio.

Os fluxos de migrantes costumam cair no verão devido às condições áridas da fronteira, mas o DHS atribuiu as cifras aos esforços de El Salvador, Guatemala e Honduras, países de origem da maioria dos migrantes e às operações conjuntas com o México, o território de trânsito.

"Desde que o governo alcançou o novo acordo com o México, vimos um aumento substancial no número de interdições na fronteira sul", destacou o DHS no comunicado.

O México evitou as tarifas após acordar reforçar a segurança em suas fronteiras, e ampliar sua política de receber os migrantes, enquanto os Estados Unidos processam suas solicitações de asilo.

"A redução das apreensões se vê em todas as demografias, inclusive menores não acompanhados, unidades familiares e adultos sozinhos", disseram as autoridades americanas.

Segundo as cifras, houve uma redução das detenções de migrantes dos três países do Triângulo do Norte da América Central, especialmente as pessoas provenientes da Guatemala.

O DHS e a Patrulha Fronteiriça têm sido duramente criticados pelas condições de detenção dos migrantes, especialmente os menores de idade, e os congressistas da oposição democrata denunciaram as terríveis condições a que são submetidos.

A congressista Judy Chu denunciou que as condições de detenções eram "espantosas e repugnantes" e o próprio DHS manifestou em um informe de controle sua preocupação com o confinamento e a detenção prolongada.

No final de junho, Kevin McAleenan, secretário interino do DHS disse que as medidas para conter a quantidade de pessoas que cruzam a fronteira de forma irregular têm tido efeito e que a queda seria de 25%.

Localizado em Mineo, perto da Catânia (leste da Sicília), o ex-maior centro de acolhida de migrantes na Europa deve fechar as portas oficialmente nesta terça-feira (9), na presença de seu maior crítico, o ministro do Interior Matteo Salvini.

"Promessa mantida", comemorou o homem forte do governo italiano uma semana antes, quando as últimas pessoas instaladas foram transferidas do centro de Mineo para uma outra megaestrutura na Calábria.

Mineo teve um pico de frequência em julho de 2014, com mais de 4.100 instalados, diminuindo sua população pouco a pouco. Com a chegada de Matteo Salvini ao Ministério do Interior, em junho de 2018, eles eram 2.500.

Massimiliano Terrasi, um psicólogo que trabalhava no centro desde outubro de 2011, sente-se desolado. "As expectativas eram muito altas no começo do centro e nós crescemos profissionalmente. Foi uma experiência que poucas pessoas no mundo puderam ter", descreveu.

"Bem administrado, poderia ter sido uma riqueza para o território e a compreensão de populações", lamenta ele, deixando transparecer usa indignação diante de anos de trabalho brutalmente interrompidos, sem reconhecimento.

No começo, os imigrantes tinham assistência e viviam em condições sanitárias normais. Quando o número de presentes passou de 3.000, porém, as coisas começaram a desandar.

"Se falarmos do funcionamento final do centro, acho bom que seja fechado. Mas, se considerarmos como poderia ter sido, acho uma pena", completa o psicólogo.

- Grande demais, rapidamente degradado

"Quando o centro começou, eu logo pensei que não era uma coisa boa", critica mais duramente Sergio Mastrilli, enquanto bebe uma cerveja no bar de Mineo, localidade siciliana típica das proximidades.

"Não foi um sistema de acolhida baseado na integração, mas no número", observa.

Estudante de direito, de 25 anos, ele se envolveu no Movimento Cinco Estrelas de Luigi di Maio, que divide o poder no país há 13 meses com a Liga (extrema direita) de Matteo Salvini.

"Mais de 4.000 pessoas com 85 etnias diferentes, quando a cidade de Mineo conta com cerca de 5.000 moradores. É inadministrável!", insiste.

Sergio está convencido de que o problema deve ser resolvido em nível europeu e que "muitos imigrantes gostariam de permanecer em casa", se pudessem.

O centro de acolhida foi instalado em uma antiga base militar onde viviam familiares de militares americanos estacionados na base vizinha de Sigonella.

O lugar tem ares de subúrbio americano com suas 400 pequenas casas amarelas e rosadas alinhadas. No fim de 2010, os Estados Unidos anunciaram que iriam rescindir o contrato de locação.

Além da preocupação dos moradores da região, a instalação do centro em uma estrutura dessas também causou inveja à população local mais carente.

Os estrangeiros também foram criticados por quebrarem o mercado dos trabalhadores temporários no momento da colheita de laranja, já que se dispunham a trabalhar sem serem registrados por 10 a 20 euros por dia.

O novo prefeito de Mineo, Giuseppe Mistretta, ameaçou entregar o cargo, se o governo federal não ajudasse a cidade a fazer uma transição.

"O fechamento de Mineo é o epílogo inevitável de uma grande ilusão", descreveu Nello Musumeci, presidente da direita da região da Sicília.

Várias investigações criminais por corrupção estão em curso, envolvendo o ex-prefeito de Mineo e o ex-diretor do centro. Em janeiro, a polícia desmantelou uma célula da máfia nigeriana que operava dentro do centro, administrando tráfico de cocaína e de maconha, assim como uma rede de prostituição.

Um ataque aéreo contra o centro de migrantes e refugiados no leste de Trípoli deixou cerca de 40 mortos e mais de 70 feridos, disse à AFP um porta-voz dos serviços de emergência.

"É um saldo preliminar e pode ser mais grave", disse o porta-voz Osama Ali, acrescentando que no momento do ataque havia 120 migrantes confinados no hangar em Tajoura, no leste da capital líbia.

Um fotógrafo da AFP observou numerosos corpos no chão do hangar utilizado como centro de confinamento para migrantes, enquanto as equipes de socorro reviravam os escombros a procura de sobreviventes.

Na parte externa da unidade, as forças de segurança tratavam de coordenar o acesso de dezenas de ambulâncias.

O Governo de Unidade Nacional (GNA) denunciou o ataque como "um crime odioso" praticado pelo "criminoso de guerra Khalifa Haftar".

Segundo o GNA, trata-se de um ataque "premeditado" e "preciso" das forças de Haftar contra o centro de migrantes.

O marechal Haftar, que controla parte da Líbia, realiza no momento uma ofensiva para controlar Trípoli, sede do GNA, reconhecido pela comunidade internacional.

Nos últimos dias, veículos de imprensa favoráveis a Haftar informavam a iminência de "uma série de ataques aéreos" na zona de Trípoli e Tajoura.

Em Tajura estão localizadas várias instalações militares controladas pelo GNA, alvo de ataques regulares das forças de Haftar.

As forças de Haftar prometeram esta semana intensificar os ataques aéreos contra posições do GNA, após perderem o controle da cidade de Gharyan, a cerca de 100 km de Trípoli.

O Alto Comissário da ONU para os Refugiados manifestou sua "extrema preocupação" com as informações sobre o ataque, que representaria "a morte de refugiados e migrantes".

As agências da ONU e entidades humanitárias têm expressado reiteradamente sua oposição a que emigrantes resgatados no mar sejam devolvidos à Líbia, em razão do caos institucional no país.

Na Líbia, estes migrantes e refugiados são colocados em "detenção arbitrária" e regularmente ficam a mercê das milícias armadas.

Apesar da constante instabilidade e do caos institucional, a Líbia permanece como um país de trânsito de emigrantes que fogem de conflitos armados ou da instabilidade em outras regiões da África e do Oriente Médio.

A missão de apoio da ONU na Líbia (MANUL) tem manifestado sua preocupação com os cerca de 3.500 emigrantes e refugiados "em risco nos centros de detenção situados nas zonas de conflito".

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