A polícia começou a prender nesta quinta-feira os manifestantes que ainda permaneciam no principal acampamento do movimento pró-democracia de Hong Kong, em um possível epílogo dos protestos que começaram em setembro para exigir o sufrágio universal.
Centenas de policiais entraram no local, desmontaram as barracas e retiraram as barricadas instaladas há 11 semanas no bairro de negócios de Admiralty, perto da sede do governo.
Depois de acabar com o acampamento, os policiais seguiram em direção às dezenas de pessoas que permaneciam sentadas no local e as levaram, uma a uma, para as viaturas policiais.
"Somos pacíficos!", "Não resistimos!", "Queremos uma verdadeira democracia!", gritaram os manifestantes.
Durante a manhã, a polícia da ex-colônia britânica deu um prazo de 30 minutos para a dispersão dos ativistas que permaneciam no local.
"Após o período, a polícia isolará a área ocupada e estabelecerá um cordão de isolamento. Se alguém rejeitar, a polícia atuará para dispersá-lo ou detê-lo", afirmou o oficial Kwok Pak-chung
Algumas horas antes, dezenas de funcionários do governo já haviam iniciado o processo para desmantelar as barricadas em um ponto do acampamento de Admiralty, no coração da cidade.
Funcionários da justiça leram para os manifestantes que permaneciam no local a ordem de evacuação, com base em uma sentença da Alta Corte de Hong Kong.
O acampamento dos ativistas pró-democracia fica no meio de uma avenida de nove faixas, um dos grandes eixos de trânsito de Hong Kong.
O local, criado há dois meses, afetou de maneira considerável os deslocamentos dos moradores e uma empresa de transportes apresentou uma ação para o fim do acampamento, que foi aceita pela Alta Corte.
"Não é o fim"
Milhares de pessoas passaram a noite de quarta-feira em Admiralty, para um último protesto. Nesta quinta-feira, várias desmontaram as barracas e deixaram o local.
"Este não é o fim do movimento. O despertar político entre os jovens é irreversível e continuaremos lutando", afirmou Claudia Mo, deputada e uma das líderes dos manifestantes.
Os protestos começaram em setembro, quando as autoridades comunistas chinesas insistiram que os candidatos das eleições locais de 2017 devem ser aprovados por um comitê oficial.
Estudantes saíram às ruas para denunciar o que consideram uma farsa eleitoral. Na sequência, outras demandas foram apresentadas, como a crescente desigualdade econômica na sociedade de Hong Kong.
As manifestações, que em alguns momentos provocaram confrontos com a polícia, contaram com a participação de até 20 deputados da Assembleia local de Hong Kong.
Outro acampamento, no distrito de Mongkok, na parte continental de Hong Kong, foi desmantelado no fim de novembro.
Um dos principais empresários da área de comunicação de Hong Kong, Jimmy Lai, crítico de Pequim, afirmou que pretendia permanecer no acampamento "até a detenção".
No ápice, o movimento reuniu dezenas de milhares de pessoas nas ruas da cidade, mas o apoio popular diminuiu consideravelmente ante as dificuldades de deslocamento na cidade.
Hong Kong, um território chinês que conta com ampla autonomia, experimentou com as manifestações a mais grave crise política desde 1997, quando aconteceu a devolução da colônia britânica a Pequim.
A China aceita o princípio do sufrágio universal para a eleição do próximo chefe do Executivo de Hong Kong em 2017, mas exige que os candidatos recebam o aval de um comitê, o que, segundo os manifestantes pró-democracia, deve resultar na escolha de um candidato controlado por Pequim.