Dono de uma postura crítica, o deputado Edilson Silva cumpre o primeiro mandato parlamentar do PSOL em Pernambuco. Conhecido pelos corredores da Assembleia Legislativa (Alepe) como um dos mais assíduos na Casa, ele recebeu recentemente a equipe do Portal LeiaJá no seu gabinete para uma conversa. Durante o encontro, o parlamentar avaliou os primeiros meses de atuação legislativa, disparou contra a gestão do governador Paulo Câmara (PSB), pontuou erros da administração do ex-governador Eduardo Campos e deu sugestões para que Câmara reorganize a situação política e econômica do governo.
Ao LeiaJá, o deputado se colocou contra a PPP da Arena Pernambuco e citou que tanto Paulo Câmara quanto o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), são responsáveis pelos “indícios de crimes” nos contratos do empreendimento.
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Além disso, durante a entrevista exclusiva, o presidente do PSOL em Pernambuco relatou a postura técnica adotada pelo seu mandato e os imbróglios gerados no partido. Fazendo projeções para 2016, Silva também revelou que vai se candidatar a prefeito do Recife e deu detalhes sobre a possível filiação da vereadora Marília Arraes (PSB) ao PSOL.
Veja a entrevista completa:
LeiaJá (LJ) – Qual a avaliação que o senhor faz dos seus primeiros oito meses de mandato parlamentar?
Edilson Silva (ES) – É positiva. Levo tudo muito a sério. Esses meses foram de muito aprendizado, nunca tinha feito isso. Tivemos alguns erros, claro, são normais. Por isso, estou buscando aprender. Sou assíduo, participo de tudo e trabalho praticamente sete dias pela semana. Muitas vezes, a maioria delas, sou o primeiro a chegar e o último a sair daqui.
LJ – Seu mandato é o primeiro do PSOL e visivelmente algumas lideranças da legenda não estão se mostrando satisfeitos com suas decisões, entre eles o ex-candidato da legenda a governador Zé Gomes. Como está sendo seu relacionamento com o partido?
ES - Existem expectativas saudáveis e não saudáveis [diante do meu mandato]. Acho que nós atendemos as saudáveis, as não saudáveis o nosso desejo era frustrá-las e frustramos. A crítica feita dentro do partido é porque o nosso mandato é excessivamente técnico. Nós aceitamos e assimilamos no sentido de que é isso mesmo. Sou membro da Comissão de Meio Ambiente e eu preciso de gente que seja especialista neste assunto para me assessorar. Não quero um grupo de militantes especialistas em balançar bandeira para o meu mandato. Não foi para isso que a gente foi eleito, nem foi para isso que se criou o parlamento.
LJ – A frustração e as críticas estariam ligadas ao desejo de assumir cargos no seu gabinete?
ES - Em alguns casos sim. Em outros não. Aqui é o PSOL, não tem como a gente separar. O partido cresceu e talvez algumas pessoas não tenham crescido junto. Temos uma noção do que nós queremos e não podemos de forma nenhuma permitir o aparelhamento do mandato pela militância. Temos aqui uma função institucional que queremos cumprir bem. Estou aqui como um militante do partido e como alguém que recebeu uma missão da sociedade. Esse perfil que a gente quis dar para o mandato não agradou algumas pessoas. Não vamos ficar gritando palavras de ordem no plenário.
LJ – Por falar em não gritar palavras de ordem, seu mandato tem sido crítico ao Governo Estadual. Qual a sua avaliação da gestão?
ES - Não entenda como retórica de oposição, mas eu acho frustrante. Estamos vivendo nesses primeiros sete meses do governo de Paulo Câmara um choque de realidade, a ressaca de uma embriaguez de oito anos, onde fomos convidados a sonhar uma perspectiva de futuro que não foi construída de forma bem estruturada. Os anos que a gente viveu do governo de Eduardo Campos foram de desconstrução da República em Pernambuco. Nós vivemos uma falsa realidade de que a Refinaria ia mudar a vida de todo mundo, o Estaleiro era a melhor coisa do mundo, o Polo Farmacoquímico iria mudar a história de Pernambuco. O discurso era de que vivíamos o “melhor momento da história” do estado. Pernambuco era a locomotiva do Brasil. Nós sempre dizíamos que não. Fui candidato a governador as duas vezes contra Eduardo Campos e disse a ele: esse seu modelo não presta. Era a lógica do crescimento econômico, mas qual era a contrapartida objetiva que se tinha para aquela região? Não se projetou nada. Era simplesmente gerar emprego e o trabalhador que se vire. Resultado, aquela região é uma das mais mazeladas de Pernambuco.
LJ - E como o senhor encara o desempenho do governador Paulo Câmara?
ES - Ele foi vendido para os pernambucanos como um excelente gestor e nós estamos vendo agora a qualidade do excelente gestor que ele é. Passou um corte linear no estado. Como é que você olha saúde, educação e segurança pública da mesma forma? Nos primeiros 30 dias de governo ele pagou R$ 40 milhões para a Odebrecht [da Arena Pernambuco], ao mesmo tempo em que mandou cortar boa parte das vans que fazer o transporte do Programa PE Conduz. Poderia ficar fazendo tabelinhas sobre o que ele gastou de supérfluo ou deixou de pagar. Muitas coisas são simbólicas, mas quando se quer fazer uma gestão política da crise você tem que saber o valor das ações simbólicas. É uma decepção. Aqui não estou nem falando das promessas de campanha, mas da expectativa que se projetou.
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LJ – Toda esta frustração seria culpa da crise econômica nacional?
ES - Não. É de um governo irresponsável nos últimos 8 anos. Primeiro, quando nós estávamos com capacidade de investimento e endividamento, não investiram onde deveriam e deixou uma conta para ser paga. Segundo, a falta de gestão da crise. Você não gerencia uma crise comprando R$ 200 mil em frios e uísques. Você gerencia com transparência, isso é questão de economia doméstica. O Governo do Estado não abre para a sociedade, quando falo sociedade é a Assembleia. Eu, que sou deputado, não tenho a senha do E-Fisco para saber os detalhes dos gastos do governo. Eles deveriam nos chamar para mostrar para gente quanto tem e o que precisa pagar.
LJ - Então o senhor sugeria uma ação mútua para reorganizar a gestão?
ES - Claro. Eu quero ajudar o governo. Se ele tivesse sido mais prudente os R$ 40 milhões não teriam sido pagos para a Odebrecht. Entre pagar o dinheiro da construtora e pagar R$ 38 milhões para pagar os restos da saúde, não teria a menor dúvida que iríamos pegar esse dinheiro e resolver o problema da saúde. Não existe crise para o governo. Tem crise para o povo, os professores, os policiais, mas para quem usa a copa do Palácio não. O momento de crise é onde se tem que convencer as pessoas que se deve apertar o cinto, mas como se você não aperta o seu? Tem que partir do governante esse desprendimento. O que a gente não vê, pois essa turma que está ai governando não tem capacidade política. Não são políticos, não são pessoas forjadas no meio do povo, não são pessoas que conhecem os anseios populares. Acham que pessoas são números. Não é assim. Um gesto simbólico do governo, no sentido de abrir as contas, chamar a oposição para dialogar também é uma saída. Pode não resolver os problemas mais graves no sentido econômico, mas reduzir os políticos.
LJ – O senhor pontua bastante os R$ 40 milhões pagos pelo Governo a Odebrecht. O valor é resultado de um contrato firmado em Parceria Público-Privada (PPP) da gestão estadual para construir a Arena Pernambuco. Como avalia os acordos do PPPs fechados entre o governo e empresas?
ES - Não dá para tratar as PPPs num pacote só. Temos várias no estado e cada uma delas merece uma análise especifica. Não sou ideologicamente contra, numa determinada situação é preciso estudar.
LJ - E no caso da Arena Pernambuco?
ES - Existem indícios muito fortes, já comprovados, de que a construção de uma Arena deste porte em São Lourenço da Mata é algo faraônico. Um governo que faz isso é porque está sobrando dinheiro. Está tudo muito bem. Tem um estudo de viabilidade que foi desrespeitado. Você tem oito cenários e somente em um era possível acontecer, sem falar que este cenário era irreal. Aqui não é um problema de PPP, mas do dolo que foi utilizado na assinatura do contrato e do aditivo, que motivou a denúncia que fiz no Ministério Público e no TCE; a ação judicial que entrei no dia 15 de junho e a notícia crime que entrei na Polícia Federal. No caso da Arena vejo fortes indícios de crime.
LJ - Geraldo Julio e Paulo Câmara têm participação nesses indícios de crime?
ES - Claro. As pessoas que faziam parte do Comitê Gestor, que era quem dava o aval para essas questões, precisam ser bem observadas. Agora a assinatura do contrato e dos aditivos é do governador Eduardo Campos e da Procuradoria Geral do Estado.
LJ – Avaliando um âmbito mais partidário, de que forma o PSOL deve disputar as eleições em 2016? Edilson Silva será candidato à Prefeitura do Recife contra Geraldo Julio?
ES - Planejo sair candidato à Prefeitura do Recife sim. Estamos debatendo no partido um projeto global para o Estado. Estou presidente estadual do partido e temos um planejamento que envolve o lançamento de candidaturas para as cidades com mais de 100 mil habitantes e também nas cidades polos para que a gente possa animar no estado um conjunto com hegemonia.
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LJ – A disputa no Recife será com chapa pura ou alianças?
ES - Nós vamos primeiro fazer a nossa parte. O PSOL de Pernambuco já mostrou que não tem medo de alianças, nem vetos, desde que elas sejam programáticas. Temos vetos nacionais aos partidos que são claramente de direita, como o DEM, PSDB e PMDB. Com esses a gente não faz alianças em hipótese nenhuma. Espero que consigamos no Recife ampliar a candidatura e termos mais de um partido nos apoiando.
LJ – A vereadora Marília Arraes deve compor a chapa majoritária?
ES - Não apostaria nisso não. Marília tem um papel importante na Câmara de Vereadores. Se eu pudesse dar um conselho a ela diria que renovasse o seu mandato.
LJ – E como estão as articulações do PSOL para a filiação dela?
ES - Está caminhando bem. Temos conversado bastante. Ainda não está ponta virada, mas é um quadro que tem se mostrado bastante próximo com o que defendemos. Para se ter uma ideia, a postura dela na questão da Operação Flair Play foi muito no espírito daquilo que a gente tava trabalhando, colocando a crítica a Geraldo Julio e Paulo Câmara. Foi uma postura muito do PSOL e olhe que nem chegamos a conversar. Particularmente tenho me agradado muito com os posicionamentos políticos dela nos últimos períodos.