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O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, afirmou na tarde deste domingo (15) que fugiu de seu país para evitar "um banho de sangue", após o grupo fundamentalista islâmico Talibã assumir o controle de Cabul e de boa parte do território afegão.

Ghani, que não confirmou para onde foi, disse que "incontáveis patriotas seriam martirizados e a cidade de Cabul seria destruída" se ele permanecesse no país. De acordo com a imprensa local ele teria ido para o Tajiquistão.

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"O talibã venceu... e agora são responsáveis pela honra, propriedade e autopreservação de seus compatriotas", disse o mandatário em um comunicado publicado no Facebook.

O presidente afegão deixou o país, entregando efetivamente o poder aos rebeldes, que entraram em Cabul nesta manhã após conquistar a maior parte das capitais de províncias do Afeganistão.

Segundo Ghani, os talibãs "não ganharam a legitimidade dos corações" e "agora terão que enfrentar um novo teste histórico".

"Nunca na história o poder seco deu legitimidade a ninguém e não dará a eles. Eles estão agora a enfrentar um novo teste histórico; ou vão proteger o nome e a honra do Afeganistão ou vão priorizar outros locais e redes", escreveu o líder afegão.

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que o grupo extremista já hasteou sua bandeira no palácio presidencial em Cabul. Com letras pretas indicando o testemunho de fé mulçumana, a bandeira havia sido usada pelo Talibã quando assumiu o poder na década de 1990 para anunciar o nascimento do Emirado Islâmico do Afeganistão pela primeira vez.

Mais cedo, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que nenhum país deverá reconhecer o Talibã como governo do Afeganistão.

"Não queremos que ninguém reconheça bilateralmente o Talibã", disse Johnson em um pronunciamento em vídeo, ressaltando que está claro que o país asiático terá os insurgentes no poder.

O britânico explicou que é preciso uma "posição unidade" da comunidade internacional para dialogar com o Talibã. "Queremos uma posição unida entre os que pensam da mesma forma, o tanto quanto pudermos", disse.

Conforme publicação da Sky News, o Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta segunda-feira (16) para discutir a situação no país.

Da Ansa

Combatentes do grupo fundamentalista islâmico Taleban assumiram o controle da capital afegã Cabul, enquanto o presidente Ashraf Ghani deixava o país. Embora o Taleban tenha dito inicialmente que não entraria na cidade antes que um governo de transição fosse formado, o grupo mudou de ideia ao anoitecer, justificando que era preciso manter a ordem pública após a polícia afegã ter abandonado seus postos.

"Para evitar o caos e os saques, o Emirado Islâmico ordenou aos mujahedeen que assumam o controle das áreas abandonadas", disse o Taleban em comunicado, acrescentando que combatentes do Taleban não atacarão nenhum oficial civil ou militar do antigo regime.

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As forças de segurança afegãs não ofereceram resistência enquanto os insurgentes, que tomaram a maior parte do país em apenas uma semana, apareceram na manhã deste domingo (horário local) nos arredores de Cabul.

No fim da manhã, os postos de controle tinham sido abandonados por tropas afegãs, enquanto moradores em pânico congestionavam as ruas. Também pela manhã, Ghani fugiu do palácio presidencial e ficou na Embaixada dos Estados Unidos. Ele deixou a capital afegã à tarde.

No início da tarde, o Taleban assumiu o controle da principal prisão de Pul-e-Charkhi em Cabul, libertando milhares de presos, conforme vídeos publicados em redes sociais. À noite, a estrada principal para o aeroporto de Cabul - repleta de afegãos tentando escapar e com milhares de soldados norte-americanos tentando garantir a retirada da cidade - tinha combatentes do Taleban misturados a tropas afegãs uniformizadas.

(Com Dow Jones Newswires)

O Talibã, que está perto de retornar ao poder no Afeganistão, iniciou em maio uma ampla ofensiva sem encontrar grande resistência, graças à retirada das forças americanas e da Otan.

- Início da retirada das tropas -

Em 1º de maio de 2021, os Estados Unidos e a Otan iniciam a retirada de seus 9.500 soldados, incluindo 2.500 americanos, ainda presentes no Afeganistão.

Combates intensos estouram entre os talibãs e as forças do governo na região de Helmand, no sul. No norte, os insurgentes tomam o distrito de Burka, na província de Baghlan.

Em 8 de maio, um ataque a uma escola para meninas mata mais de 50 pessoas em Cabul. As autoridades atribuem o atentado, o mais mortal em um ano, ao Talibã, que nega.

Em meados de maio, os americanos se retiram da base aérea de Kandahar, uma das mais importantes do Afeganistão.

- Avanço -

Os talibãs tomam dois distritos da província de Wardak, perto de Cabul, antes de conquistarem dois distritos da importante província de Ghazni.

Em 19 de junho, diante do rápido avanço dos insurgentes, o presidente afegão Ashraf Ghani nomeia novos ministros do Interior e da Defesa.

No dia 22, o Talibã toma o posto fronteiriço de Shir Khan Bandar (norte), o principal acesso ao Tadjiquistão. Centenas de soldados afegãos derrotados fogem para o território tadjique.

Os insurgentes assumem o controle das outras passagens para o Tadjiquistão, bem como os distritos que conduzem a Kunduz, capital da província de mesmo nome.

- Americanos deixam Bagram -

Em 2 de julho, as tropas americanas e da Otan devolvem ao Exército afegão a base aérea de Bagram, o centro nevrálgico das operações da coalizão, 50 km ao norte de Cabul.

No dia 4, o Talibã conquista o distrito-chave de Panjwai, a cerca de quinze quilômetros de Kandahar (sul).

- Primeira capital provincial atacada -

No dia 7, o Talibã entra em Qala-i-Naw, a primeira capital de uma província - a de Badghis (noroeste) - atacada pelos insurgentes.

No dia seguinte, o presidente dos EUA, Joe Biden, declara que a retirada de suas forças será "concluída até 31 de agosto".

No dia 9, os talibãs afirmam controlar dois grandes postos de fronteira, com o Irã e o Turcomenistão, na província de Herat (oeste).

De acordo com Moscou, os insurgentes controlam a maior parte da fronteira do Afeganistão com o Tadjiquistão.

- Aeroporto protegido -

Em 11 de julho, as autoridades anunciam que o aeroporto de Cabul está protegido de foguetes e mísseis por um "sistema de defesa aérea".

No dia 13, depois da Alemanha, a França convoca seus cidadãos a deixar o Afeganistão.

O Talibã apreende no dia seguinte um importante posto de fronteira com o Paquistão, no sul.

- Grandes cidades ameaçadas -

Em 27 de julho, a Otan pede uma solução negociada para o conflito, enquanto a ONU alerta para um número "sem precedentes" de vítimas civis.

Em 2 de agosto, Ashraf Ghani atribui a deterioração da situação militar à "repentina" retirada americana, em um momento em que várias grandes cidades estão sob ameaça direta dos insurgentes.

As embaixadas americana e britânica em Cabul acusam o Talibã de ter "massacrado dezenas de civis" no distrito de Spin Boldak, no sul.

No dia seguinte, um ataque contra o ministro da Defesa, o general Bismillah Mohammadi, mata oito civis em Cabul. É reivindicado pelo Talibã, que ameaça outras ações direcionadas em resposta aos bombardeios aéreos do Exército.

- Conquistas estratégicas -

No dia 6, o Talibã conquista sua primeira capital provincial, Zaranj (sudoeste).

Nos dias seguintes, várias grandes cidades do norte caem: Sheberghan, Kunduz, Sar-e-Pul, Taloqan, Aibak e Pul-e Khumri (província de Baghlan), Faizabad, assim como Farah (oeste).

No dia 10, Joe Biden diz não lamentar sua decisão de deixar o Afeganistão, estimando que os afegãos "devem lutar por si próprios".

No dia 11, centenas de membros das forças de segurança se rendem ao Talibã perto de Kunduz.

O presidente Ashraf Ghani chega à cidade sitiada de Mazar-i-Sharif para tentar coordenar a resposta.

- Herat, Kandahar e Mazar-i-Sharif -

No dia 12, o Talibã apreende Ghazni, 150 km a sudoeste de Cabul, depois Herat, a terceira maior cidade do Afeganistão.

Os Estados Unidos e o Reino Unido anunciam o envio de milhares de soldados a Cabul para evacuar diplomatas e cidadãos. Outros membros da Otan também anunciam a evacuação de funcionários de suas embaixadas.

No dia seguinte, o Talibã toma Pul-e-Alam, capital da província de Logar, apenas 50 quilômetros ao sul de Cabul, após tomar Lashkar Gah, capital de Helmand, e Kandahar, a segunda cidade do país.

No dia 14, Ashraf Ghani promete remobilizar o Exército contra o Talibã.

Mas nas horas que se seguiram, os insurgentes conquistam sucessivamente Mazar-i-Sharif (norte) e Jalalabad (leste), a última grande cidade ainda controlada pelo governo.

Neste dia 15, às portas de Cabul, estão prestes a retomar o poder. Seus combatentes receberam ordens de não entrar, enquanto o governo prometeu uma transição pacífica de poder.

O governo do Afeganistão instalou neste domingo (11) um sistema de defesa capaz de interceptar foguetes e mísseis no aeroporto de Cabul, a rota de saída do país. A comunidade internacional demonstrou preocupação com mais um sinal do avanço do Taleban, e a Índia determinou a retirada de seus funcionários do consulado em Kandahar.

O Taleban assumiu o controle de 85% do território afegão nos últimos dois meses, em uma ofensiva que coincidiu com a retirada final dos soldados estrangeiras no Afeganistão e a saída dos EUA do país. As forças de segurança negam, e dizem que a maioria das áreas 'ainda estão em disputa'. Privadas do apoio aéreo americano, as forças afegãs oferecem pouca resistência ao grupo radical islâmico.

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As forças afegãs só controlam as estradas principais e as capitais provinciais, a maioria ainda cercada pelos insurgentes, aumentando o temor de que ataquem em breve Cabul ou seu aeroporto. Ddistritos nas províncias vizinhas de Cabul, localizadas em um raio de 100 km da capital, caíram nas mãos do Taleban.

O sistema de defesa "nos foi dado por nossos amigos estrangeiros. É uma tecnologia complicada, e nossos amigos estrangeiros estão fazendo com que funcione enquanto adquirimos o conhecimento para usá-lo", declarou Omar Shinwari, porta-voz das forças de segurança afegãs, sem especificar qual o país doou o material. "Esse sistema se mostrou útil em todo o mundo para repelir ataques de mísseis e foguetes."

Durante seus 20 anos de presença no Afeganistão, o Exército americano implementou em suas bases diversos sistemas C-RAM (contra-foguetes, artilharia e morteiros), capazes de detectar e destruir projéteis. Este tipo de sistema foi implementado em particular na enorme base de Bagram, 50 km ao norte de Cabul, devolvida no início de julho às forças afegãs.

O Taleban lançou, em diversas ocasiões, ataques com foguetes e morteiros contra o governo ou as forças estrangeiras, enquanto o grupo rival Estado Islâmico (EI) realizou um ataque do tipo em Cabul em 2020.

A Turquia se comprometeu a garantir a segurança do aeroporto de Cabul quando todas as tropas americanas e da OTAN deixarem o país, prazo previsto para 31 de agosto. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan indicou na sexta-feira que Ancara e Washington concordaram com as "modalidades" do esquema.

Preocupada com os combates perto de Kandahar, a Índia anunciou que retirou os funcionários indianos de seu consulado na grande cidade no sul do Afeganistão. A província de Kandahar, local de nascimento e fortaleza histórica do Taleban, tem sido palco de intensos combates recentemente. Os insurgentes tomaram o distrito-chave de Panjwai, a cerca de 15 km da cidade de Kandahar no início de julho.

Segundo relatos obtidos pelas agências internacionais, cerca de cinquenta indianos da equipe do consulado, incluindo seis diplomatas, foram retirados de Kandahar, sem informações sobre seu destino, Cabul ou Nova Delhi. Nos últimos dias, devido aos combates no norte do Afeganistão, a Rússia fechou seu consulado em Mazar-i-Sharif, capital da província de Balkh e um dos principais centros urbanos afegãos, próximo à fronteira com o Afeganistão.

Pequim aconselhou recentemente seus cidadãos a deixarem o país e retirou 210 deles no início de julho. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os talibãs lançaram, nesta quarta-feira (7), sua primeira ofensiva contra uma capital provincial do Afeganistão, Qala-i-Naw, desde o início, em maio, de sua campanha contra as forças afegãs deflagrada com a retirada das tropas americanas do país.

Horas depois de o Exército americano anunciar que "mais de 90%" de sua retirada do Afeganistão estava completa, os talibãs entraram esta manhã em Qala-i-Naw, capital da província de Badghis (noroeste).

Desde maio, os talibãs já tomaram grandes áreas rurais do país e se aproximaram de várias cidades importantes.

"É preciso admitir que a guerra está sendo travada, e estamos em uma situação militar muito delicada", disse o ministro afegão da Defesa, Bismillah Mohammadi, em um comunicado divulgado pouco depois.

"Mas esta não é a primeira vez que o Afeganistão passa por momentos difíceis" e "quero tranquilizar todos, nossas forças nacionais (...) usarão todo seu poder e recursos para defender nossa pátria e nosso povo", acrescentou.

Com fuzil no ombro e o peito coberto com carregadores, o governador de Badghis, Hessamuddin Shams, garantiu, em um vídeo postado no Facebook, que "todas as forças de segurança (...) estão defendendo a cidade" e que "o inimigo sofreu baixas e foi derrotado", enquanto um tiroteio ecoava.

Na parte da tarde, em uma mensagem de áudio à AFP, ele afirmou que os talibãs estavam "se retirando" de Qala-i-Naw.

O chefe do conselho provincial de Badghis, Abdul Aziz Bek, disse à AFP que, "na noite passada, autoridades do serviço de segurança da província se renderam aos talibãs, que entraram na cidade na manhã de quarta-feira".

Membro do conselho provincial, Zia Gul Habibi, afirmou à AFP esta tarde que "a situação se estabilizou, já que a cidade não caiu" nas mãos dos talibãs.

"Mas os talibãs ainda estão dentro da cidade, e aviões e helicópteros estão atingindo as posições" dos insurgentes na cidade, acrescentou.

- "Efeito psicológico" -

"Todos ficaram apavorados pela manhã, quando souberam que os talibãs tinham entrado na cidade (...) Rapidamente ouvimos tiros e explosões", contou à AFP Aziz Tawakoli, morador de Qala-i-Naw.

"As explosões são audíveis à distância, helicópteros e aviões sobrevoam a cidade e, às vezes, atingem partes da cidade", acrescentou.

Enquanto isso, nesta quarta-feira, delegações do governo afegão e dos talibãs se reuniram em Teerã, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Irã, após meses de negociações paralisadas no Catar.

"Hoje, o povo e os dirigentes do Afeganistão devem tomar difíceis decisões para o futuro do país", comentou o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, na abertura das discussões, ao saudar a saída americana do território de seu vizinho.

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, confirmou que uma "delegação de alto nível" visitou o Irã "a convite oficial" de Teerã para se reunir com "personalidades afegãs" e discutir "a situação atual e encontrar soluções por meio de conversas".

Iniciada em maio, a retirada das tropas americanas tem-se dado de forma acelerada, apesar do avanço inexorável dos talibãs e do recuo das forças afegãs, agora privadas do apoio aéreo americano crucial.

Na semana passada, as forças dos Estados Unidos e da Otan deixaram a base aérea de Bagram, ao norte de Cabul, a maior instalação militar da coalizão no Afeganistão. Este foi o centro nevrálgico de suas operações desde a entrada das tropas americanas no país, após os ataques de 11 de setembro de 2001.

A retirada total dos militares americanos será concluída até o final de agosto, de acordo com a Casa Branca. Isso encerrará 20 anos de intervenção americana no país, a guerra mais longa já travada pelos Estados Unidos em sua história.

Em junho, os talibãs lançaram um rápido ataque a Kunduz, capital da província de mesmo nome no norte do país. Agora, a entrada dos insurgentes em Qala-i-Naw certamente vai desferir mais um golpe no moral - já consideravelmente enfraquecido - das forças afegãs, de acordo com analistas.

A captura de Qala-i-Naw seria "um sucesso estratégico, porque teria um efeito psicológico nas forças afegãs que estão perdendo terreno rapidamente", explicou Nishank Motwani, pesquisador especializado em Afeganistão.

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Pelo menos 11 civis, incluindo três crianças, morreram em um atentado a um ônibus no oeste do Afeganistão, informaram, neste domingo (6), autoridades locais.

O ataque ocorreu no sábado à noite na província de Baghdis, na fronteira com o Turcomenistão, de acordo com o governador local, Hessamuddin Shams, que reportou a morte de três crianças e oito adultos (quatro mulheres e quatro homens) no ataque.

O balanço de vítimas foi confirmado por outra autoridade provincial, Khodadad Tayeb, que destacou que, com a explosão, o ônibus caiu em um barranco nesta província montanhosa.

O governador de Bagdis acusou o Talibã de esconder uma bomba na beira da estrada que explodiu na passagem do ônibus, em um contexto de grande incerteza e violência, gerada pela retirada acelerada das forças americanas do país.

Este novo ataque ocorre uma semana após outros quatro atentados a microônibus de passageiros nos bairros xiitas de Cabul, que fizeram uma dúzia de mortos.

Dois desses ataques foram reivindicados pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI), cujos combatentes - presentes, segundo a ONU, no leste e norte do país - visam especificamente a minoria xiita hazara.

Ao mesmo tempo, o Talibã está intensificando suas ofensivas contra posições do Exército afegão em muitas províncias, incluindo em torno de Cabul.

No sábado, os insurgentes anunciaram que haviam "conquistado o distrito de Deh Yak", na província de Ghazni, cerca de 150 quilômetros ao sul da capital afegã.

As autoridades, porém, afirmaram que simplesmente "realocaram" suas forças para outra área.

Ghazni faz parte de um eixo que conecta Cabul a Kandahar, a grande província e capital do sul do país, reduto do Talibã.

Os insurgentes ocuparam brevemente a cidade de Ghazni em 2018, mas foram expulsos pelas forças de ordem afegãs.

Após o acordo de retirada assinado em fevereiro de 2020 entre o Talibã e os Estados Unidos, o presidente Joe Biden ordenou a retirada completa de suas forças antes da data simbólica de 11 de setembro, que este ano marcará o 20º aniversário dos ataques em solo americano.

Os combates recomeçaram, neste domingo (16), entre as forças do governo afegão e o Talibã no sul do Afeganistão, ao final de três dias de trégua decretada pelo feriado muçulmano do Eid al-Fitr e em um contexto de retirada das últimas tropas americanas.

Os confrontos eclodiram na periferia de Lashkar Gah, capital da província de Helmand, disse um porta-voz do Exército e uma autoridade local.

Essa área tem sido palco de intensos combates desde 1º de maio, quando os Estados Unidos deveriam ter retirado seus 2.500 soldados do país.

"O Talibã e as forças do governo entraram em confronto quando o cessar-fogo terminou", declarou à AFP Ataullah Afghan, presidente do conselho provincial de Helmand.

Ele acrescentou que os "combates começaram de manhã cedo e ainda continuam". Os insurgentes atacaram vários postos de controle ao redor da capital provincial e em outros distritos.

Um porta-voz do Exército afegão também confirmou a retomada dos combates. Já o porta-voz dos insurgentes, Zabihullah Mujahis, ressaltou que as forças afegãs "iniciaram as operações". "Não nos responsabilize".

O Talibã, e depois o governo afegão, anunciaram na segunda-feira passada um cessar-fogo de três dias por ocasião do Eid al-Fitr, o feriado muçulmano que marca o fim do Ramadã.

Essa trégua foi respeitada globalmente por ambas as partes. Mas a frágil calma foi interrompida na sexta-feira pela explosão de uma bomba em uma mesquita nos arredores de Cabul, na qual 12 fiéis, incluindo o imã, morreram.

O Talibã negou responsabilidade pelo ataque, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), de acordo com a agência americana SITE, especializada no monitoramento da atividade online de grupos extremistas islâmicos.

O EI afirmou que o explosivo foi colocado na mesquita e detonado quando os fiéis entraram no prédio. A trégua, que terminou na noite de sábado, foi a quarta entre os talibãs e as forças do governo em duas décadas de conflito.

Na sexta, negociadores do governo afegão e membros da liderança do movimento talibã se reuniram no Catar para discutir como acelerar as negociações de paz, após meses de bloqueio.

"Ambas as partes concordaram em continuar as negociações após" o Eid al-Fitr, disseram os insurgentes no Twitter.

Antes da trégua, e desde 1º de maio, quando Washington deveria ter concluído a retirada de seus 2.500 soldados ainda presentes em virtude de um acordo assinado sob a presidência de Donald Trump, o Afeganistão é palco de um ressurgimento da violência.

As tropas americanas retiraram-se na quarta-feira da base aérea de Kandahar, uma das mais importantes do território afegão, no sul.

Os Estados Unidos e os outros países da Otan se comprometeram a retirar todos os seus contingentes do Afeganistão antes de 11 de setembro, aniversário de 20 anos dos ataques de 2001.

Os combatentes talibãs estão se aproximando dos grandes centros urbanos, como se esperassem a retirada das tropas americanas para lançar grandes ofensivas contra as cidades.

Em 8 de maio, mais de 50 pessoas foram mortas e cerca de 100 ficaram feridas em um bairro xiita do oeste da capital, em uma série de explosões em frente a uma escola de meninas.

Foi o ataque mais mortal em um ano. As autoridades atribuíram ao Talibã, que negou.

"Será muito difícil para nós realizar as operações", declarou na semana passada à AFP um oficial afegão, após a retirada das forças americanas da base aérea de Kandahar. "Nossos aviões não podem voar à noite, então as operações noturnas serão difíceis", acrescentou.

Uma explosão em frente a uma escola na capital afegã matou, neste sábado (8), pelo menos 25 pessoas e feriu 52, incluindo estudantes, informou o ministério do Interior.

"Infelizmente, 25 mártires e 52 feridos foram levados para hospitais", explicou o porta-voz do ministério, Tareq Arian, explicando que o número de vítimas "ainda pode aumentar".

A explosão ocorreu no distrito de Dasht-e-Barchi, na zona oeste de Cabul, no momento em que os moradores faziam compras antes do feriado do Eid al-Fitr na próxima semana, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã.

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O bairro é habitado principalmente por xiitas hazaras e já foi alvo de ataques por extremistas islâmicos sunitas.

Uma investigação por "ataque terrorista" foi aberta, disse o porta-voz adjunto do ministério do Interior, Hamid Roshan, à AFP.

Já o porta-voz do ministério da Saúde, Dastagir Nazari, informou que várias ambulâncias foram enviadas ao local e os feridos estavam sendo evacuados.

"Algumas pessoas enfurecidas atacaram vários socorristas", disse ele.

Na sexta-feira, os Estados Unidos e os europeus pediram uma retomada "imediata" e "sem pré-condições" das negociações de paz no Afeganistão, acusando o Talibã de infligir violência durante a retirada das forças estrangeiras e de bloquear o processo de paz.

As forças americanas e aliadas estão em processo de retirar seus últimos militares mobilizados no país, enquanto os insurgentes talibãs e o governo afegão tentam negociar para encerrar uma guerra de décadas.

As autoridades geralmente culpam o Talibã pelos ataques em Cabul, mas os insurgentes negam responsabilidade nos atentados desde fevereiro do ano passado, quando assinaram um acordo com os Estados Unidos que abriu caminho para as negociações de paz e a saída das últimas tropas americanas.

O grupo, porém, trava confrontos diários nas áreas vizinhas a Cabul com as forças afegãs.

Neste sábado, a missão europeia no Afeganistão condenou o que considerou um ataque a uma escola para meninas.

"O horrendo ataque é um ato desprezível de terrorismo", observou a missão no Twitter.

"Visar estudantes do ensino fundamental em uma escola para meninas torna este ataque uma agressão contra o futuro do Afeganistão. Contra jovens determinados a melhorar o país".

A Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) expressou sua "profunda rejeição" à explosão.

Dasht-e-Barchi tem sido alvo frequente de ataques de militantes islâmicos sunitas.

Em maio do ano passado, um grupo de homens armados atacou um hospital da região em uma ação em plena luz do dia, matando 25 pessoas, incluindo 16 mães de recém-nascidos.

O hospital era apoiado pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras, que teve de se retirar do projeto.

Embora o ataque não tenha sido reivindicado, o presidente afegão Ashraf Ghani acusou o Talibã e o Estado Islâmico.

Em 24 de outubro, um kamikaze explodiu em um centro de formação no mesmo distrito, matando 18 pessoas, incluindo estudantes em um ataque que também não foi reivindicado.

Em Doha, onde negociam um acordo de paz com o governo afegão, os talibãs dizem estar dispostos a garantir os direitos das mulheres, mas no Afeganistão as ONGs vivenciam um endurecimento de sua posição nos últimos meses.

Os insurgentes dificultam o acesso aos territórios que controlam, ordenaram o encerramento de programas que promovem a autonomia das mulheres e proibiram as ONGs desses lugares de empregarem equipes femininas, segundo várias organizações.

A AFP falou com representantes de cerca de dez organizações, que pediram o anonimato por medo de represálias.

Todas descrevem um agravamento da situação desde a assinatura em Doha, em fevereiro de 2020, do acordo entre Washington e os talibãs sobre a retirada total das forças americanas até maio, e ainda mais nos últimos meses.

Os talibãs esperam voltar ao poder e estabelecer um governo baseado na lei islâmica, com uma estrutura para os direitos das mulheres.

Mas a comunidade internacional lembra que quando estiveram no poder, entre 1996 e 2001, não permitiam que as mulheres trabalhassem ou estudassem, e as acusadas de adultério eram apedrejadas.

Por conta disso, o respeito aos direitos das mulheres é um elemento-chave nas negociações entre o governo e os insurgentes, que começaram em setembro no Catar, mas que estão estagnadas.

Uma carta de novembro da comissão do Talibã dedicada às organizações humanitárias, da qual a AFP obteve uma cópia, tende a mostrar que os talibãs usam uma linguagem ambígua.

"As ONGs que tiram as mulheres de suas casas em nome da independência econômica, da educação ou do esporte (...) não são de forma alguma aceitáveis", diz.

- Não é nada novo -

Este tom desestabilizou as ONGs, que pouco a pouco encontraram um 'modus vivendi' com o Talibã que lhes permitia ajudar as mulheres em alguns lugares, às vezes inclusive com projetos educativos.

Embora a pressão contra este tipo de atividade não seja "nada novo", observa um alto funcionário humanitário, está se tornando "muito mais oficial e generalizada".

Na carta, o comitê afirma que está disposto a "tomar as medidas necessárias" contra as ONGs que violarem suas instruções.

A mensagem chegou e vários cooperadores, que disseram que se viram obrigados a abandonar os programas em algumas regiões.

Enquanto isso, os talibãs bloquearam o acesso a algumas áreas para as equipes femininas de ONGs.

Segundo duas organizações, os insurgentes disseram ter recebido essas ordens de seu escritório político no Catar.

Sem equipes femininas, as ONGs não podem trabalhar com as mulheres, já que os talibãs não permitem que elas vejam homens que não são membros de sua própria família.

O Afeganistão recebeu neste domingo as primeiras 500.000 doses da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca, produzidas e doada pela Índia.

A vacina da Universidade de Oxford e da AstraZeneca está sendo fabricada pelo Serum Institute of India, e este primeiro lote chegou a Cabul como parte de um programa patrocinado por Nova Délhi para distribuir a vacina aos países vizinhos.

O Afeganistão, com 32 milhões de pessoas, tem capacidade de teste muito limitada, mas nos últimos meses registrou uma queda da infecções. Oficialmente a epidemia deixou 2.400 mortos no país.

Nove pessoas morreram e vinte ficaram feridas na explosão de um carro bomba, em um atentado contra um legislador afegão, neste domingo (20) em Cabul, mais uma vez palco de ataques mortais, informaram as autoridades afegãs.

Há vários meses, a capital afegã sofre um aumento da violência, apesar das negociações de paz entre talibãs e governo que acontecem desde setembro em Doha.

O ataque tinha como alvo o parlamentar Khan Mohammad Wardak, que ficou ferido, disseram as autoridades.

"Nove pessoas morreram e outras 20 ficaram feridas no carro bomba", disse o ministro do Interior Masoud Andrabi à imprensa, acrescentando que todas as vítimas foram civis.

O ministério disse em uma declaração separada que mulheres e crianças estavam entre os feridos pelo "ataque terrorista".

Uma fonte de segurança disse que o veículo explodiu no oeste da capital.

"Foi uma poderosa explosão que causou grandes danos a casas localizadas perto", declarou um funcionário do ministério da Saúde.

Imagens de televisão mostram ao menos dois veículos em chamas, com colunas de fumaça preta e espessa.

"Os inimigos do Afeganistão realizaram um ataque terrorista contra Khan Mohammad Wardak", disse o presidente Ashraf Ghani, em uma declaração condenando o atentado.

Até o momento, o atentado não foi reivindicado.

Nessas últimas semanas, o grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou vários atentados sangrentos na capital, entre eles um contra a universidade e outro em uma escola, que causaram no total mais de 50 mortes. Também reivindicou uma série recente de ataques com foguetes.

No sábado, cinco projéteis foram disparados contra a base aérea americana de Bagram, no nordeste do país, sem deixar feridos ou danos materiais no recinto. Foram reivindicados pelo EI.

O atentado de domingo ocorre dois dias depois que ao menos 15 crianças morreram e 20 ficaram feridas após uma moto carregada de explosivos detonar perto do local onde se celebrava uma cerimônia religiosa, na província de Ghazni (leste).

As autoridades acusaram os talibãs.

Os talibãs negaram estar envolvidos e afirmaram que a explosão ocorreu quando "munições não detonadas" explodiram perto das crianças.

Os talibãs e o governo realizam negociações de paz desde setembro em Doha, mas foram interrompidas até 5 de janeiro. Ambas as partes ainda precisam acordar a agenda das discussões.

Várias províncias do Afeganistão vivem uma nova onda de violência. Entre janeiro e setembro deste ano, mais de 2.100 civis morreram e mais de 3.800 ficaram feridos no país, de acordo com a missão da ONU no Afeganistão.

Pelo menos 15 crianças morreram e outras 20 pessoas ficaram feridas nesta sexta-feira (18), em uma explosão perto do local onde participavam de uma cerimônia religiosa, na província de Ghazni (leste) - informaram fontes locais.

"Quinze crianças morreram", afirmou Waheedulah Jumazada, porta-voz do governador da província.

Mais cedo, ele havia informado que uma moto com explosivos foi detonada perto do grupo no distrito de Gilan, nesta província.

Segundo Jumazada, a área onde ocorreu a explosão está sob controle dos talibãs.

Os talibãs e o exército afegão se enfrentam com frequência na província de Ghazni. No final de novembro, ao menos 30 soldados morreram em um atentado suicida com carro-bomba contra uma de suas bases.

O Afeganistão vive uma nova onda de violência e os talibãs realizam ataques quase diariamente contra as forças do governo, principalmente nas áreas rurais, apesar das negociações de paz que estão se desenvolvendo em Doha, capital do Catar, desde setembro.

- Negociações de paz interrompidas -

As negociações foram suspensas até 5 de janeiro. Ambas as partes ainda precisam chegar a um acordo sobre a pauta das discussões.

Os Estados Unidos, em virtude de um acordo separado concluído com os talibãs em fevereiro em Doha, aceitou retirar todas as suas tropas do Afeganistão antes de maio de 2021 em troca de garantias de segurança e do compromisso dos insurgentes de iniciar negociações com o governo de Cabul.

Os ataques dirigidos a personalidades - jornalistas, políticos, religiosos ou defensores dos direitos humanos - também aumentaram nos últimos meses.

Esses ataques não costumam ser reivindicados, mas o governo afegão acusa os talibãs, que também são acusados de tentar ganhar vantagem na mesa de negociações com essa violência.

A capital afegã também foi palco recentemente de ataques sangrentos, reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico, que deixaram várias dezenas de mortos.

Entre janeiro e setembro deste ano, mais de 2.100 civis morreram e mais de 3.800 ficaram feridos no país, de acordo com a missão da ONU no Afeganistão.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, pediu que a próxima rodada de negociações ocorra em Cabul, argumentando que era inadequado se reunir em "hotéis de luxo" em Doha.

Negociadores talibãs estavam no Paquistão nesta sexta-feira para se reunir com o primeiro-ministro, Imran Khan, que defendeu uma redução da violência e um cessar-fogo.

Uma apresentadora de televisão e seu motorista foram mortos a tiros nesta quinta-feira (10) em Jalalabad, leste do Afeganistão, no terceiro assassinato de um profissional da imprensa no país desde novembro.

"Homens armados não identificados abriram fogo e mataram a jornalista e ativista Malalai Maiwand e seu motorista em Jalalabad", disse Attaullah Khogyani, porta-voz do governador da província de Nangarhar, da qual Jalalabad é a capital.

Maiwand seguia para a redação do canal privado Enekaas no momento do ataque. A notícia foi confirmada por Engineer Zalmai, diretor da emissora Enekaas.

Os ataques contra jornalistas, políticos, religiosos e ativistas dos direitos humanos aumentaram nos últimos meses, apesar das negociações de paz em Doha entre o governo afegão e os talibãs. Este foi o terceiro assassinato de um jornalista afegão desde novembro.

Aliyas Dayee, 33 anos, que trabalhava para a Rádio Liberty, financiada pelos Estados Unidos, morreu em 12 de novembro na explosão de uma bomba colocada debaixo de seu carro em Lashkar Gah (sul).

Ele havia sido ameaçado pelos talibãs pela cobertura de suas operações, segundo a Human Rights Watch (HRW). Cinco dias antes, Yama Siawash, ex-apresentador de televisão, foi assassinado em Cabul em circunstâncias similares.

Jalalabad, a 100 quilômetros da fronteira com o Paquistão, é cenário frequente de atentados. A província de Nangarhar é um reduto de muito grupos jihadistas, incluindo os talibãs e o Estado Islâmico.

Ao menos 30 integrantes das forças de segurança do Afeganistão morreram neste domingo (29) em um ataque com carro-bomba em uma base militar, um dos atentados mais violentos dos últimos meses no país.

O ataque aconteceu nas proximidades da cidade de Ghazni, capital da província de mesmo nome, que é cenário frequente de combates entre os talibãs e as forças do governo.

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O atentado foi executado no momento em que o governo e os talibãs estão em negociações de paz para tentar acabar com a guerra, que provocou dezenas de milhares de mortes no país em quase duas décadas.

"Trinta corpos e 24 feridos foram transportados para o hospital. Todos são integrantes das forças de segurança", afirmou à AFP Baz Mohammad Hemat, diretor do hospital geral de Ghazni.

O porta-voz do ministério do Interior, Tariq Arian, afirmou que um terrorista detonou um veículo repleto de explosivos.

"O agressor entrou com um veículo Humvee na base e o detonou", disse à AFP o porta-voz do governador de Ghazni, Wahidullah Jumazada.

Até o momento nenhum grupo reivindicou o ataque.

O atentado de Ghazni aconteceu poucos dias depois das explosões de duas bombas que mataram 14 pessoas na histórica cidade de Bamiyan, o que acabou com anos de calma nesta cidade isolada, famosa por seu patrimônio budista.

- Onda de violência -

Em outro atentado com carro-bomba neste domingo, um civil morreu e 20 ficaram feridos na cidade de Qalat (sul), na província de Zabul, afirmou à AFP o chefe de polícia provincial, Hekmatullah Kochi.

O ataque tinha como alvo o veículo do chefe do conselho provincial de Zabul, Atta Jan Haqbayan, que ficou ferido.

A violência no Afeganistão aumentou desde o início das negociações de paz em 12 de setembro em Doha, capital do Catar.

Nas últimas semanas, vários atentados mataram mais de 50 pessoas em Cabul, incluindo duas ações contra centros de ensino e um ataque com foguetes.

Os três ataques de Cabul foram reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI), mas as autoridades afegãs culparam os talibãs, que negaram qualquer envolvimento.

Os talibãs atacam quase diariamente as forças afegãs, apesar da participação nas negociações de paz.

As conversações foram bloqueadas por disputas sobre a agenda, o âmbito das discussões e as interpretações religiosas, mas um acordo foi alcançado em todas as questões, segundo fontes que acompanham o processo.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu "negociações aceleradas" durante uma visita a Doha na semana passada, durante a qual se reuniu com negociadores do governo afegão e dos talibãs.

O Pentágono anunciou no início do mês que em breve deve retirar quase 2.000 soldados do Afeganistão, acelerando a agenda para uma retirada total até maio de 2021, segundo o que foi estabelecido com os talibãs em um acordo separado assinado em fevereiro.

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Ao menos 14 pessoas morreram na cidade afegã de Bamiyán (centro) nesta terça-feira (24) com a explosão de duas bombas, informaram fontes oficiais.

O ataque acaba com anos de calma nesta cidade remota, famosa por sua antiga herança budista, que permaneceu distante dos habituais ataques em larga escala em outras partes do país.

A dupla explosão é o último grande ataque no Afeganistão, onde a violência aumentou nos últimos meses, apesar do Talibã e do governo afegão negociarem a paz em Doha, capital de Dacar.

"Treze civis e um oficial de trânsito foram mortos e outras 45 pessoas ficaram feridas na explosão de duas bombas", disse o chefe da polícia local Zabardast Safi à AFP.

Os explosivos foram colocados em dois locais diferentes, disse o porta-voz da polícia de Bamiyan, Reza Yosufi, acrescentando que dois suspeitos foram detidos.

O porta-voz do Ministério do Interior, Tariq Arian, confirmou o balanço.

"Estamos investigando as mortíferas explosões em Bamiyán", disse. "Trata-se de um crime imperdoável", acrescentou.

O chefe da polícia local, Zabardast Safi, confirmou o saldo e disse que todas as vítimas eram civis.

Até agora nenhum grupo reivindicou as duas explosões, enquanto os talibãs negaram qualquer responsabilidade.

Muitos feridos

As explosões ocorreram em frente a um mercado e perto de um hospital em Bamiyan, disse Anwar Saadatyar, um residente, à AFP.

"Quando cheguei ao mercado ainda havia sangue e partes de corpos por toda parte. A explosão aconteceu quando as pessoas estavam fazendo compras", contou por telefone.

No segundo local, perto do hospital, a maioria das vítimas eram estudantes universitários, acrescentou Saadatyar.

O morador disse que foi para o hospital. “Eu vi pessoas chorando por seus familiares que morreram ou ficaram feridos nas explosões. Havia tantos feridos que os médicos não sabiam quem tratar primeiro. Jamais esquecerei aquele momento”, desabafou.

Budas de Bamiyan

Em 2001, os talibãs destruíram as gigantescas estátuas centenárias de Buda esculpidas nos penhascos de Bamiyan em sua campanha brutal contra a rica herança cultural pré-islâmica do Afeganistão.

Bamiyan é um destino turístico muito popular, pois possui uma rede de cavernas antigas que abrigam templos budistas, mosteiros e pinturas.

Esta província é parcialmente povoada pela pequena comunidade Hazara.

A minoria, especialmente os xiitas, tem sido frequentemente alvo de grupos extremistas sunitas, como o Estado Islâmico, e também dos talibãs na década de 1990.

Em cidades como Cabul, os hazaras sofreram repetidos ataques em seus bairros, incluindo um ataque brutal na capital em plena luz do dia em maio na maternidade de um hospital que matou várias mulheres.

Nos últimos seis meses, os talibãs realizaram 53 ataques suicidas e 1.250 atentados, causando 1.210 mortes e 2.500 feridos entre civis, segundo dados oficiais.

Os Estados Unidos vão reduzir a quantidade de militares no Afeganistão e no Iraque ao seu menor número em 20 anos depois de o presidente Donald Trump se comprometer a pôr um fim aos conflitos do país no exterior, anunciou o Pentágono na terça-feira (17), gerando preocupações de segurança.

Rejeitando o risco de que se destrua o que foi conseguido pelos Estados Unidos na região, o secretário interino da Defesa, Chris Miller, disse que 2 mil soldados vão deixar o Afeganistão em 15 de janeiro. Outros 500 retornarão do Iraque na mesma data, deixando 2,5 mil em cada país.

A retirada reflete o desejo de Trump "de pôr um fim de forma exitosa e responsável às guerras no Afeganistão e no Iraque e trazer nossos corajosos soldados para casa", disse Miller.

O secretário informou que já foi alcançada a meta estabelecida em 2001, após os ataques da Al Qaeda contra os Estados Unidos, de derrotar os extremistas islâmicos e ajudar "seus parceiros locais e aliados a liderar a luta".

O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, declarou à AFP que a retirada "é um bom passo e é ótimo para os povos de ambos os países", tanto Estados Unidos quanto Afeganistão.

Terminar com as guerras sem fim

A decisão aproxima os Estados Unidos de se desvincularem de conflitos que desde 2001 atravessaram três presidentes e não têm um fim à vista.

O anúncio foi feito faltando dois meses para que o republicano Trump transfira o poder ao democrata Joe Biden em 20 de janeiro.

Diante da observação de que Trump estaria agindo abruptamente após sua derrota eleitoral, o assessor de segurança da Casa Branca, Robert O'Brien, disse que a retirada das tropas estava planejada há tempos.

"Há quatro anos, o presidente Trump fez campanha prometendo terminar as guerras sem fim para os Estados Unidos. Hoje, o Pentágono só anunciou que o presidente Trump cumpriu com a promessa feita ao povo".

Trump "espera que por volta de maio todos tenham voltado sãos e salvos".

Foguetes em Bagdá

A decisão foi divulgada dez dias depois de Trump destituir o secretário da Defesa Mark Esper, que insistia em deixar 4,5 mil soldados no Afeganistão para apoiar o governo de Cabul.

Esper reduziu a quantidade de 13 mil soldados americanos desde o acordo de 29 de fevereiro entre os Estados Unidos e a insurgência talibã.

Os talibãs e o governo afegão iniciaram negociações de paz após um acordo assinado entre Washington e os insurgentes, que envolve a retirada das forças americanas até meados de 2021.

Mas até a destituição de Esper, o Pentágono alegava que os talibãs não tinham cumprido sua promessa de reduzir os ataques violentos contra as forças afegãs e advertiu que estes ataques seriam intensificados com menos tropas americanas.

Sediq Sediqqi, porta-voz do presidente Ashraf Ghani, confirmou por sua vez no Twitter que Ghani falou por telefone com Miller sobre "o contínuo e significativo apoio militar americano às Forças de Defesa e Seguraça afegãs".

No Iraque, a administração Trump anunciou a redução do número de soldados em meio a um ataque com foguetes lançados por grupos aliados ao Irã contra a embaixada americana e bases militares americanas.

Nesta terça, uma salva de foguetes foi disparada contra a Zona Verde de Bagdá, onde fica a embaixada dos Estados Unidos, rompendo uma trégua de um mês nos ataques contra a representação diplomática.

Sob a condição de não ser identificado, um alto funcionário da Defesa minimizou o risco de ressurgimento de grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.

"Os profissionais do serviço militar estão de acordo de que esta é a decisão correta", disse este funcionário.

"A Al Qaeda está no Afeganistão há décadas e a realidade é que seríamos uns tolos se disséssemos que vão embora amanhã", completou.

'Saída humilhante'

Funcionários americanos e estrangeiros advertiram que uma retirada precipitada das tropas poderia ajudar grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse na segunda-feira que a redução de tropas provocará um fracasso como "a humilhante saída americana do Vietnã", em 1975, e se tornará uma vitória propagandística dos extremistas.

O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, considerou que o Afeganistão pode "voltar a ser uma base para os terroristas internacionais".

O ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, afirmou que Berlim está preocupada pois o anúncio dos Estados Unidos "pode significar que as negociações de paz prossigam", alertando também contra uma "retirada precipitada".

Desde o lançamento das ofensivas militares em 2001 no Afeganistão e no Iraque, dois anos depois, mais de 6.900 militares americanos morreram e mais de 52.000 ficaram feridos nos dois países, segundo o Pentágono.

Um jornalista, ex-apresentador de televisão, e dois civis foram mortos, neste sábado (7), na explosão de uma bomba em Cabul, informou a polícia.

Yama Siawash morreu quando uma bomba plantada em seu carro perto de sua casa explodiu, explicou o porta-voz da polícia Ferdaws Faramarz a repórteres.

Siawash, que recentemente se tornou conselheiro do Banco Central Afegão, havia trabalhado anteriormente como apresentador na Tolo News, a maior rede privada de informação do país.

O atentado ainda não foi reivindicado, mas tais crimes, que visam jornalistas, políticos ou defensores dos direitos humanos, são frequentes no Afeganistão, especialmente neste momento em que a violência aumenta no país.

Muitas autoridades afegãs condenaram imediatamente o ataque a Siawash. "Ter como alvo os jornalistas é ter como alvo a liberdade de expressão, e a morte de Siawash é uma grande perda para o país", disse Abdullah Abdullah, representante do governo afegão nas negociações de paz com o Talibã, em um comunicado. "Este é um crime imperdoável", acrescentou.

A violência aumentou no país nos últimos meses, apesar do início das negociações de paz entre o Talibã e o governo para encerrar o conflito que já dura décadas. Na segunda-feira, 22 pessoas, incluindo muitos estudantes, foram mortas em um ataque à universidade de Cabul, reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico.

Pelo menos 12 civis morreram, e mais de 100 ficaram feridos em um ataque com carro-bomba a um quartel da polícia afegã na província de Ghor, no oeste do país - disseram as autoridades.

O atentado aconteceu em Feroz Koh, capital de Ghor, província que até agora não sofreu muita violência, em comparação com outras regiões do país.

De acordo com o Ministério do Interior, o carro-bomba explodiu em frente à sede da polícia de Ghor por volta das 11h locais.

"Os terroristas detonaram um carro cheio de explosivos (...) Como resultado, 12 civis foram mortos, e mais de 100 pessoas ficaram feridas", informou o Ministério do Interior.

Juma Gul Yakoobi, oficial de saúde de Ghor, disse à AFP que as vítimas também incluíam membros das forças de segurança.

Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque, mas os confrontos entre os talibãs e o governo aumentaram nas últimas semanas.

"A explosão foi muito potente", afirmou o porta-voz do governador de Ghor, Aref Abir.

"Há mortos e feridos, e eles estão sendo levados para os hospitais", acrescentou.

A deflagração também danificou prédios próximos, onde são tratadas questões relacionadas com mulheres e deficientes.

A Presidência afegã responsabilizou os talibãs pelo ataque. "A continuação da violência e os ataques pelos talibãs afetarão seriamente os esforços de paz do governo de Afeganistão e seus sócios internacionais", apontou.

As negociações de paz entre os talibãs e o governo afegão começaram no mês passado, no Catar, mas parecem estagnadas, e a violência continua no país.

"Todos os conteúdos do acordo dos Estados Unidos e do Emirado islâmico são claros, mas o outro lado os violou em muitas ocasiões e está realizando ações provocadoras e bombardeios em zonas que não são de combate", disseram os talibãs em um comunicado.

Os militares americanos rejeitaram a acusação talibã.

"Os bombardeios americanos em Helmand e Farah foram e continuarão sendo apenas em defesa das Forças de Segurança afegãs (ANDSF), pois são atacadas pelos talibãs", tuitou o porta-voz militar americano, coronel Sonny Leggett.

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Um atentado contra um governador afegão deixou pelo menos oito mortos nesta segunda-feira (5), anunciaram autoridades locais, no momento em que o presidente Ashraf Ghani viaja para o Catar para as negociações de paz em curso com os talibãs.

Um veículo carregado de explosivos colidiu com o comboio de Rahmatulá Yarmal, governador da província de Laghman (leste), causando 28 feridos.

"O governador estava a caminho de seu gabinete quando seu carro foi atingido. Quatro de seus seguranças e quatro civis foram mortos, e 28, feridos", disse à AFP o porta-voz do governador, Assadullah Daulatzai, acrescentando que o governador saiu ileso.

O porta-voz do Ministério do Interior, Tareq Arian, confirmou o ataque e disse que a maioria dos feridos era civil.

O atentado aconteceu no mesmo dia em que o presidente Ghani embarcou rumo a Doha para se reunir com as autoridades do Catar, três semanas após o início das negociações de paz entre o governo afegão e os talibãs.

As negociações, que começaram na capital do Catar em meados de setembro com o objetivo de encerrar o conflito de 19 anos no Afeganistão, foram paralisadas por divergências sobre como elaborar um código de conduta para enquadrar as negociações.

Adeptos da linha dura sunita, os talibãs insistem na adesão à escola hanafi de jurisprudência islâmica sunita. Os negociadores do governo temem, no entanto, que isso possa ser usado para discriminar os hazara, de maioria xiita, e outras minorias.

Ao menos 15 pessoas morreram e mais de 30 ficaram feridas neste sábado em um atentado com carro-bomba contra um edifício administrativo na província de Nangarhar, leste do Afeganistão.

A explosão aconteceu na entrada de um edifício administrativo que também abriga instalações militares no distrito de Ghani Khel, informou o porta-voz do governador da província de Nangarhar, Attaullah Khogyani.

"Vários homens armados tentaram entrar no prédio depois do ataque, mas as forças de segurança os mataram", disse. Entre as vítimas fatais estavam membros das forças de segurança e civis.

O ataque não foi reivindicado, mas o porta-voz da polícia provincial, Farid Khan, o atribuiu aos talibãs.

Tanto os talibãs como os insurgentes do grupo Estado Islâmico estão ativos na região. Os talibãs intensificaram os ataques no Afeganistão, enquanto seus líderes participam em negociações de paz com representantes do governo afegão em Doha.

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