Embora a domesticação do cavalo seja relativamente recente, o local onde ocorreu esse evento evolutivo era até agora um enigma.
Graças à genética, foi possível localizar, nas estepes do norte do Cáucaso, o ponto de partida do caminho compartilhado entre humanos e equinos.
O cavalo foi domesticado há 4.200 anos, milhares de anos depois do cachorro, da vaca, ou da ovelha.
Mas sua domesticação "transformou a história da humanidade em uma escala sem precedentes, pelo que esse animal oferecia: mobilidade, velocidade, instrumento de guerra ...", explica à AFP o paleogeneticista Ludovic Orlando, que liderou a pesquisa sobre o berço deste tipo de cavalo e o estudo publicado na revista Nature na última quarta-feira (20).
Quando o homem domesticou o cavalo, "houve uma espécie de globalização do mundo", acrescenta Orlando.
Permanecia, porém, um véu de mistério quanto à origem do cavalo doméstico e o momento em que ele superou as demais populações de cavalos selvagens.
"O registro fóssil (esqueletos e dentes) não nos mostrava um ponto de ruptura claro" no tempo, diz Orlando.
Então, eles usaram outra técnica: estudar o DNA fóssil, o material genético hereditário que permite voltar no tempo e localizar o "ponto zero" de uma linhagem animal.
- Peneira genética -
Cazaquistão, Sibéria, península de Anatólia, península Ibérica... Havia inúmeras hipóteses sobre a origem do cavalo doméstico, mas nenhuma dava resultados conclusivos.
Por isso, Ludovic Orlando e sua equipe internacional de 162 cientistas decidiram passar pela "peneira genética" todas as amostras de cavalos que conseguiram encontrar na zona da Eurásia: 273 genomas de cavalos que viveram entre 200 e 50 mil anos atrás. Estas amostras foram, então, comparadas com genomas de cavalos domésticos modernos.
Pela leitura e comparação das bilhões de letras do código genético, os cientistas conseguiram identificar uma região onde as diferenças entre cavalos modernos e antigos eram menos pronunciadas.
Trata-se de uma zona nas chamadas estepes pônticas do norte do Cáucaso (sudoeste da Rússia), nas bacias dos rios Don e Volga.
- Expansão meteórica -
Mediante a datação radiocarbônica, eles conseguiram situar a primeira domesticação há 4.200 anos.
Rapidamente, houve uma explosão populacional intensa. O perfil genético se espalhou como pólvora pela Eurásia. Em apenas 500 anos, esses cavalos se tornaram um "elemento continental", substituindo todas as populações de cavalos selvagens do Atlântico à Mongólia.
Esse sucesso é explicado por atributos genéticos que os tornavam mais dóceis, além do desenvolvimento de um dorso mais robusto, que fez destes animais um excelente veículo.
"A expansão foi muito rápida após a domesticação inicial. Por isso, infere-se que havia uma motivação importante para reproduzi-los: porque eram necessários", explica o paleogeneticista.
O estudo mostra como este cavalo se expandiu para a Ásia, ao mesmo tempo em que a roda de raios, usada para o transporte.
Em direção à Europa, porém, a migração de povos indo-europeus não levou o uso do cavalo consigo. Já se sabe que sua propagação por este continente é posterior à expansão destas populações.
Por isso, Ludovic Orlando considera que a imagem de "povos nômades a cavalo procedentes das estepes" está longe de ser real.