Apesar da redução imposta por lei federal sobre as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos (ICMS), o impacto das bases entre 17% e 18% na arrecadação ainda é ínfimo nos postos de gasolina de Pernambuco. Em ronda por postos do Grande Recife nesta quinta-feira (7), a equipe do LeiaJá conversou com motoristas de diferentes perfis e repercutiu a aparição dos descontos nas tabelas, três dias após o Governo de Pernambuco anunciar que cumpriria a medida sancionada por Jair Bolsonaro (PL).
Com exceção de um estabelecimento — onde o preço caiu R$ 0,40 —, em todos os postos de gasolina visitados, a redução foi de R$ 0,10. Os preços variaram entre R$ 6,74 e R$ 6,84 para a gasolina comum e aditivada, e na maioria dos casos, o pequeno desconto entrou em vigor entre a terça-feira (5) e a quarta-feira (6). Nos casos em que o LeiaJá pôde verificar, a incidência do imposto estadual sobre o consumo de combustíveis era de 25,32%.
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A base ainda muito além da proposta pela lei federal acontece pois, no último fim de semana, o governador Paulo Câmara (PSB) informou, através das redes sociais, que a redução inicial imediata, atendendo à nova lei complementar, seria de R$ 0,41. Na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) tramita a proposta de uma outra redução, cumulativa, de R$ 0,52, que ainda não foi aprovada. Assim, a redução total por litro da gasolina seria de R$ 0,93.
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Há quem não acredite que o imposto estadual cumprirá a proposta informada pelo governador. No geral, através dos clientes ouvidos pela reportagem, a sensação segue sendo de insatisfação.
“O valor ideal, hoje em dia, seria de R$ 4,50 a R$ 5, no máximo, considerando o restante do custo de vida, ainda mais para quem depende do carro. Quando a gasolina baixa, as outras coisas aumentam. Eu nem percebi a diferença desses R$ 0,10, vou descobrir nas notas do dia 30 se realmente melhorou algo. Não acho que o governador vai liberar esse desconto no imposto aí, não”, disse o empresário Wellington Andrade, de 40 anos, ao LeiaJá.
O autônomo abastecia uma motocicleta própria, utilizada para sua locomoção e a dos seus funcionários. No posto de gasolina onde Andrade estava, o litro da gasolina era R$ 7,19 até terça-feira (5). O estabelecimento pertence à rede Postos Olinda e fica situado à Avenida Olinda Dom Hélder Câmara, no bairro de Santa Tereza, próximo ao Centro Histórico. Desde a quarta-feira (6), o preço em vigor, por litro do combustível, é R$ 6,79. No cartão de crédito, o valor sobre para R$ 6,99. Já o etanol, à vista, custa R$ 5,69 e R$ 5,89 no crédito.
“Eu tenho uma empresa própria, boto o pessoal na rua para fazer serviço. São cinco carros e uma moto. Teve um tempo que eu tive que reduzir a quantidade de carros na rua, colocar mais gente para trabalhar num carro só e deixar só dois carros rodando, para conseguir diminuir os custos. E só uso gasolina, por uma questão de qualidade e rentabilidade, mas, recentemente, paguei R$ 7,69 no litro de gasolina em um posto aqui no Bairro Novo. Quase R$ 500 semanalmente só com a moto, com os carros, uns R$ 6 mil”, acrescentou Wellington.
O autônomo Ulisses Gomes de Carvalho, cliente regular de posto no Recife. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens
Em um outro posto de gasolina, na região central do Recife, o preço caiu R$ 0,10 nessa quarta-feira (6). O responsável pela loja, em conversa com o LeiaJá, explicou como tem sido as condições de repasse na compra e na venda.
“O movimento está muito fraco esse mês, aí vamos baixando o preço. Se esse ICMS chegar em agosto, a gente vai estar aqui com uma margem [de lucro] de 3%, 4%, como acontece às vezes. Então se baixar R$ 0,90, a gente não reduz os R$ 0,90, porque precisamos recuperar a margem saudável que tínhamos”, explica Fernando Miranda, gerente comercial de um posto Petrobras (BR) na avenida Agamenon Magalhães, próximo ao Shopping Tacaruna.
No local, o preço do litro da gasolina comum não sofre acréscimo nas diferentes formas de pagamento. O valor atual é de R$ 6,79 (custava R$ 6,89 até 6 de julho). A gasolina aditivada também sofreu redução, caindo de R$ 6,99 para R$ 6,89.
“A diminuição, para mim, não foi relevante. Baixou centavos, mas quando sobe, é bastante, em reais. Não vejo muita flexibilização em postos. Antes da redução, eu estava pagando uns R$ 5,79 [no etanol]. Depois que decretaram a redução foi que começou a cair, mas agora. Quase não boto gasolina por causa do preço, não tem quem aguente. Misturo só pra dar partida”, compartilhou o autônomo Ulisses Gomes de Carvalho (foto), de 47 anos, cliente regular do estabelecimento.
Em outros postos BR nas imediações, entre Recife e Olinda (altura da avenida Presidente Getúlio Vargas), o preço chegou a R$ 6,84. Alguns ofereciam a opção de pagamento sem juros, no crédito, em até três parcelas, e com juros, acima disso. As taxas de parcelamento também foram motivo de queixa dos clientes.
“Se todo mundo parasse de andar de carro e fosse andar de ônibus, com a demanda caindo, eles diminuiriam. Eu fiz isso quando houve a greve dos caminhoneiros, deixei meu carro na reserva em casa e parei de usar. A população precisa dar a resposta, não se acomodar. Na época da greve, teve fila em posto que estava cobrando R$ 10 pelo litro de gasolina. E ainda tem isso da bomba que aceita cartão e cobra taxa. De R$ 6 e pouco, o valor sobe para a casa dos R$ 7. Não existe isso”, concluiu Ulisses.
Em um posto da rede Shell, na avenida Doutor José Augusto Moreira, no bairro de Casa Caiada, em Olinda, o litro da gasolina comum custava R$ 6,89, nesta quinta-feira (7). Até o fim do mês de junho, o preço do litro era R$ 7,48 (o mais alto do semestre). Da terça-feira (5) em diante, o preço caiu de R$ 6,99 para o valor atual.
O mesmo desconto (R$ 0,10) foi aplicado ao etanol comum e à gasolina aditivada, que estão custando R$ 5,89 e R$ 7,19, respectivamente. No cartão de frota, o preço sobe: R$ 6,19 para o etanol e R$ 7,19 para a gasolina comum.
“Consumo uns R$ 100 ou mais de gasolina por semana. É muito alto. Uso para locomoção mesmo, para trabalho, todo dia. Mesmo com a redução, está muito caro ainda. Isso tem impactado nas minhas contas, mas não precisei deixar de usar o carro. Mesmo com o preço, a gasolina é mais rentável, porque o álcool, por exemplo, também está caro. Se o imposto estadual também reduzir, ainda vai ser muito alto. Eu já paguei gasolina na casa dos R$ 2. O valor ideal precisaria ser, pelo menos, na casa dos R$ 4, mas toda redução que chegar ajuda, só não é ideal”, compartilhou a médica Natielly Saraiva, de 33 anos, cliente regular da rede.
Outras redes
Rede Costa do Dendê - avenida Cruz Cabugá (Recife)
Gasolina comum: R$ 6,74 (à vista) e R$ 7,29 (a prazo)
Gasolina aditivada: R$ 6,74 (à vista) e R$ 7,29 (a prazo)
Diesel: R$ 7,29 (à vista e a prazo)
Etanol: R$ 5,77 (à vista) e R$ 6,09 (a prazo)
Posto Alvorada - avenida Norte (Recife)
Gasolina comum: R$ 6,79 (à vista) e R$ 6,99 (a prazo)
Etanol: R$ 5,69 (à vista e a prazo)
Diesel: R$ 7,27 (à vista) e R$ 7,79 (a prazo)
Dislub - avenida Agamenon Magalhães (Recife)
Gasolina comum: R$ 6,79 (à vista e a prazo)
Etanol comum: R$ 5,79 (à vista e a prazo)
GNV: R$ 4,08 (à vista e a prazo)
Diesel: R$ 7,29 (à vista e a prazo)