A presidente do banco dos Brics, Dilma Rousseff, se reuniu nesta quarta-feira, 26, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em São Petersburgo. Em nota, a ex-presidente brasileira disse que o banco não considera ter novos projetos na Rússia, atualmente sancionada por países ocidentais por sua guerra na Ucrânia.
O encontro ocorreu em meio à 2ª Cúpula Rússia-África, que antecede a reunião dos países do Brics - acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. "O NDB [Novo Banco de Desenvolvimento, na sigla em inglês] reiterou que não está considerando novos projetos na Rússia e opera em conformidade com as restrições aplicáveis nos mercados financeiros e de capitais internacionais. Quaisquer especulações sobre tal assunto são infundadas".
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Desde de sua invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia vem recebendo uma série de sanções dos países aliados de Kiev. Desde que a viagem de Dilma se tornou conhecida, houve especulação sobre a possibilidade de o banco dos Brics dar dinheiro à Rússia. "Quaisquer especulações sobre a discussão de novas operações do NDB na Rússia são infundadas", reforçou o comunicado que Dilma compartilhou em sua conta no X, antigo Twitter.
No encontro, ambos também conversaram sobre transações internacionais em moedas locais e criticaram a hegemonia do dólar. Putin se mostrou confiante de que a ex-presidente brasileira conseguirá desenvolver "este mecanismo muito importante" em condições de tensão geopolítica e tendo em conta que o dólar é utilizado "como um instrumento de luta política".
O mandatário russo lembrou que o uso de moedas nacionais é cada vez mais comum nas transações comerciais entre os países membros do Brics. "A este respeito, o banco poderia desempenhar o seu papel", disse o chefe do Kremlin.
Dilma respondeu que não existe nenhum obstáculo que impeça os países em desenvolvimento de efetuarem transações internacionais nas suas moedas nacionais. "O banco deve desempenhar um papel importante no advento de um mundo multipolar", afirmou. A reunião ocorreu no Palácio Constantino, em São Petersburgo.
Cúpula Rússia-África
A nota ainda ressalta que ela não se reuniria apenas com Putin, mas também com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Ambos, Rússia e África do sul, são países fundadores do banco. "O objetivo de ambas as reuniões bilaterais é verificar as opiniões de ambos os países membros sobre o papel do NDB na próxima Cúpula do Brics, que será sediada na África do Sul em agosto de 2023?, diz uma segunda nota publicada no site do NDB.
"À margem da Cúpula Rússia-África em São Petersburgo, Dilma se encontrará com líderes de outros países africanos. Neste encontro, ela vai tratar da sua participação na próxima reunião de Cúpula dos Brics na África do Sul, em 22 e 24 de agosto", finaliza a nota de Dilma em sua rede social.
Embora tenha sido indicada ao banco por Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma não é uma funcionária do governo petista e seu encontro com Putin não era conhecido nos círculos do Ministério das Relações Exteriores.
Em decorrência do isolamento de Putin e sua figura como pária internacional, Lula não se encontrou com o russo desde que assumiu a presidência pela terceira vez. Os dois conversaram por ligação, o que o petista também fez com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski.
Um membro do governo brasileiro que se reuniu com Putin foi o ex-chanceler e atual assessor especial, Celso Amorim, que, após críticas, viajou a Kiev para se encontrar com Zelenski. Da mesma forma que não se reuniu com o russo, Lula não se encontrou com Zelenski durante a cúpula do G-20.
O Brasil tem um posicionamento de neutralidade na guerra da Ucrânia, apesar de ter votado pela condenação da invasão na Assembleia Geral da ONU e com comentários de Lula atribuindo culpa a ambas as partes do conflito.
Havia a possibilidade de Lula e Putin se verem presencialmente na cúpula dos Brics, mas o russo cancelou sua participação presencial por causa do mandado de prisão expedido contra ele pelo TPI (Tribunal Penal Internacional) por crimes de guerra. Já que a África do Sul é signatária do estatuto que fundou o tribunal, pela regra, ela estaria obrigada a prender Putin no momento em que ele chegasse ao país. Após tentativas do país de evitar a situação embaraçosa, com possibilidade de transferir a cúpula para a China, o Kremlin anunciou que Putin participaria apenas virtualmente, enviando seu chanceler Serguei Lavrov.
A cúpula de países africanos na Rússia, serve então para Putin se encontrar presencialmente com os líderes e demonstrar que ainda possui aliados, apesar do isolamento. Muitos países africanos, bem como a China, tem mantido laços fortes com Moscou, o que contribuiu para o países conseguir driblar parte das sanções à sua economia.
Segundo Kremlin, a Ucrânia será o principal tema a ser tratado com as nações africanas, especialmente o abandono por parte da Rússia do acordo de grãos com Kiev, que permitia a exportação de gãos pelo Mar Negro para vários países, incluindo da África. Nos últimos dias, a Rússia tem buscado tranquilizar esses países prometendo a exportação gratuita de cereais.
(Com agências internacionais)