O Ministério dos Povos Indígenas, marco histórico na luta pelos povos originários no Brasil e primeira pasta federal sobre o tema, teve sua composição oficialmente divulgada em evento nessa quarta-feira (11). Na solenidade, além da posse da ministra Sonia Guajajara (PSOL), foi anunciado que o cacique Marcos Xukuru será assessor especial da pasta. Ele é um líder indígena do povo xukuru da Serra do Ororubá, que fica em Pesqueira, município pernambucano para o qual ele também foi eleito prefeito, em 2020.
A história do cacique Marcos na política é emblemática. Natural de terras que constantemente são alvo de conflitos fundiários, o indígena teve o pai, o cacique Xicão, assassinado em 1998 e assumiu a liderança no lugar do genitor. Em 2003, Marcos, acompanhado de dois familiares, foi alvo de um novo conflito armado, do qual saiu ferido com um tiro de raspão. Os parentes do cacique morreram na ocasião.
##RECOMENDA##Após as mortes, outros indígenas xukuru organizaram uma represália, pela qual Marcos foi considerado responsável e assim, acabou tornando-se “ficha suja” por um suposto crime patrimonial. Nas eleições de 2020, foi eleito prefeito de Pesqueira no primeiro turno, mas considerado inelegível pelo critério da Lei da Ficha Limpa.
Dois anos depois, em agosto de 2022, a eleição foi anulada completamente. Desde então, tem assumido interinamente, após um acordo com aliados. A decisão ficou nas mãos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), que não revogaram a questão.
Em suas redes sociais, o cacique celebrou a nova vitória na política e comentou o peso que ela exerce sobre a luta do seu povo. “Hoje, eu enquanto indigena, enquanto Cacique do Povo Xukuru do Ororubá, recebi uma nova missão que exige muita responsabilidade e enche o meu coração de alegria e orgulho. [...] Quero dizer que, em nome da minha trajetória, da história do Cacique Xikão e do meu comprometimento com as causas sociais, não irei decepcionar ninguém. Sigamos juntos, guerreiras e guerreiros”, escreveu.
A cerimônia
O evento de apresentação do ministério foi realizado no Salão Nobre do Palácio do Planalto, junto com a posse de Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) compareceu ao evento. Segundo a ministra Guajajara, a criação da pasta sinaliza para o mundo o compromisso do Brasil com a “emergência e justiça climática”, além de um início da reparação histórica e da negação de direitos aos povos indígenas.
Além de Lula, também estavam presentes no palco da cerimônia: a primeira-dama e socióloga, Janja Lula da Silva; o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB); a ex-presidente Dilma Rousseff (PT); o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa; o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta; o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida; a deputada federal Célia Xacriabá (PSOL-MG) e a futura presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana (Rede-RR).
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