Em meio aos cadernos e livros, muitas vezes, os alunos se recusam (ou dão muito trabalho) para fazer suas tarefas de casa. Discussões, cansaço e até castigos levam alguns pais e filhos a questionarem a sua real necessidade. Afinal, as crianças devem ter lição de casa?
O assunto divide opiniões. Assim, o LeiaJá conversou com professores e mães e buscou diferentes vertentes educacionais para levantar a discussão sobre a obrigatoriedade da lição de casa durante a vida escolar e entender a necessidade ou não desta prática.
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A tarefa escolar é entendida como ferramenta auxiliar no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos vivenciados na sala de aula e se torna uma rotina pedagógica e familiar. No entanto, o tempo dedicado à lição pode, muitas vezes, tornar-se um martírio para as crianças e pais.
Com lição de casa
Algumas escolas, que possuem uma pedagogia tradicional, mantêm as tarefas de casa para a fixação e prática das disciplinas, que vão além dos livros e cadernos. Com a utilização das novas mídias no âmbito escolar, as atividades ganham versão on-line, em formato de banco de questões com prazos de entrega e correção pelo docente.
Muitos pais corroboram o pensamento de que, quanto mais prática, mais se aprende. Eles encaram as tarefas como mecanismos de fixação dos assuntos. É o caso da dona de casa Edilange Campos, mãe de Arthur, 12 anos (ambos na foto), e Bianca, 9, que acredita na lição de casa como maneira de ver o desenvolvimento dos filhos e uma prova que eles estão aprendendo os assuntos. “Sempre acompanho meus filhos na resolução das tarefas e peço explicações a respeito dos conteúdos e aulas do dia”, afirma.
Edilange fala que é a favor das lições, mas aponta que às vezes a quantidade enviada para casa é excessiva. “Às vezes eles ficam sobrecarregados”, explica.
Para a decoradora Cristiane Assunção, quanto mais se pratica, mais se aprende. No entanto, não deve haver exageros para que a lição de casa não se torne cansativa e estressante. Durante o tempo destinado à resolução das lições, Cristiane sempre auxilia o filho Gabriel. “Muitas vezes o interesse não é demonstrado no momento da realização da tarefa, há até momentos de recusa”, aponta.
Mesmo diante da recusa do filho, a decoradora insiste na finalização. “A atividade é feita por completa, independente da boa vontade. A partir do momento que ele começa, só realiza outra atividade quando termina”, comenta.
Sem lição de casa
Em contraponto, o movimento antilição de casa, iniciado nos Estados Unidos, ganha força no Brasil e tem como premissa que a prática sobrecarrega as crianças com mais horas de lição de casa por dia, logo após elas passarem horas no ambiente escolar. O movimento apontam ainda que tanta lição de casa não ajuda a aprender mais e o excesso prejudicaria o desempenho, principalmente nas séries iniciais.
Em pedagogias alternativas, como a apresentada pela Escola Waldorf, que tem como uma das principais características a forma com que encara o ser humano, diferem das instituições mais tradicionais. Neste método, os alunos são vistos unitariamente e suas particularidade e fases de desenvolvimento específicas são levadas em consideração.
A escola não possui provas ou livro didático. A construção do conhecimento é gradativa, respeitando sempre o tempo da criança. As tarefas de casa não são aplicadas nas séries iniciais e fogem do ‘padrão’ perguntas e respostas escritas.
A professora Airuska Nóbrega, em entrevista ao LeiaJá, ressalta que não é necessário a obrigatoriedade da lição de casa, caso os conteúdos forem escolhidos e ministrados de acordo com a idade do aluno. Ela ainda aponta que a resolução das atividades escolares deve ser na instituição de ensino e que o horário da tarde, por exemplo, é destinado à família e às brincadeiras.
“Aqui as lições de casa só começam mais tarde. Somente perto dos 9 ou 10 anos é que começa de forma sistematizada. Mas sem excesso, uma vez por semana eles têm que trazer para a escola e isso pode ir aumentando aos poucos de acordo com cada turma, com cada perfil”, explica Airuska. Confira a entrevista:
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Na medida certa
A mestra em Educação e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ester Calland ressalta que a tarefa de casa, quando exigida, deve estimular a autonomia da criança e não negligenciar a idade do aluno.
“Muitas vezes as crianças não têm interesse porque não entendem o motivo de fazê-las, não as acham atrativas e sempre dependem de um adulto para auxiliar”, explica. Além disso, a professora universitária afirma que a escola deve ter um olhar sensível para a realidade e contexto familiar do discente.
Diante da diversidade de escolas e pedagogias, Ester aponta que as mães e pais precisam colocar os filhos na instituição que mais se aproxima de seu contexto e pensamento. “Os pais precisam entender a proposta pedagógica daquela escola e ponderar se realmente ela apresenta uma dinâmica que reafirme o pensamento e o desejo de educação da família para que não haja conflitos ideológicos e pedagógicos”, ressalta.
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