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Com a frase "Não consigo respirar" como lema, pronunciada por George Floyd enquanto era morto nas mãos de um policial nos Estados Unidos, milhares de pessoas em todo mundo começaram a desafiar a pandemia de coronavírus, neste sábado (6), para se manifestar contra as desigualdades sociais e a brutalidade policial.

De Sydney a Londres, passando por Paris e Montreal, estão previstas inúmeras manifestações neste fim de semana para homenagear esse afroamericano asfixiado até a morte por um policial branco, em 25 de maio, em Minneapolis.

Sua morte provocou um movimento histórico de protesto que atravessou as fronteiras dos Estados Unidos e reacendeu o desejo de mudança.

Na Austrália, o primeiro país a protestar fora dos EUA, milhares de pessoas marcharam no sábado, levando faixas com a frase "Não consigo respirar". A frase é uma referência às últimas palavras de Floyd, enquanto era sufocado por quase nove minutos pelo joelho de um policial durante sua detenção.

Para os organizadores da manifestação na Austrália, o caso encontra eco em seu país. Segundo eles, o objetivo é denunciar o alto índice de detenção entre os aborígines, bem como os membros dessa comunidade mortos quando estavam sob custódia policial. Foram mais de 400 nos últimos 30 anos.

Em Sydney, a manifestação foi autorizada alguns minutos antes de começar, graças a uma decisão judicial que anulou uma proibição anterior.

"O fato de tentarem evitar a manifestação leva as pessoas a quererem fazer ainda mais", disse Jumikah Donovan, um dos manifestantes.

Muitos usavam máscaras de proteção e tentavam respeitar o melhor possível a distância de segurança, duas medidas preventivas no contexto da pandemia do novo coronavírus.

"Não participem"

No Reino Unido, está marcada uma manifestação para este sábado, na frente do Parlamento, em Londres, e no domingo, diante da embaixada dos EUA. O governo pediu aos britânicos para não irem às ruas.

"Entendo por que as pessoas estão profundamente afetadas, mas ainda estamos enfrentando uma crise de saúde, e o coronavírus continua sendo uma ameaça real", alegou o ministro da Saúde, Matt Hancock, na sexta-feira.

"Portanto, para a segurança de seus parentes, não participem de grandes multidões, como os protestos de mais de seis pessoas", acrescentou.

Na capital britânica, vários atos foram organizados ao longo da semana, às vezes marcadas por incidentes com a polícia. Esses protestos trouxeram de volta a raiva dos negros contra o "racismo camuflado" e o "abuso" da polícia em seu país - nas palavras de alguns manifestantes.

Na França, voltaram para o primeiro plano as denúncias de violência policial nos últimos anos, ecoando a indignação global com a morte de Floyd.

Manifestações contra a violência policial foram convocadas para este sábado, em Paris, para "ampliar o movimento de solidariedade internacional contra a impunidade na aplicação da lei".

Foram desautorizadas pelas autoridades locais, em função da pandemia.

De acordo com nota divulgada pela prefeitura de Paris, essas convocações "foram lançadas nas redes sociais (...) sem qualquer declaração prévia à chefia de polícia". O comunicado lembra que o atual estado de emergência na França proíbe reuniões de mais de dez pessoas nos espaços públicos.

Na última terça, porém, um protesto proibido na capital francesa reuniu pelo menos 20.000 pessoas.

A multidão foi convocada pelo comitê para apoiar a família de Adama Traoré, um jovem negro morto em 2016, na periferia de Paris, após ser detido pela polícia.

A Rede Sustentabilidade, partido criado por Marina Silva, pediu ao seus apoiadores, neste sábado (6), que não participem dos protestos contra o governo de Jair Bolsonaro programados para este domingo (7).

A motivação para o pedido é a crise sanitária do causada pela Covid-19 e a necessidade do isolamento social: "A Rede Sustentabilidade mantendo sua coerência de defender a vida e a democracia, orienta seus filiados, simpatizantes e a população em geral a não participarem, no momento, das manifestações de rua", afirmou Marina Silva em nota. 

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“Nosso cuidado continua sendo a preservação da vida e o combate a pandemia que continua a rondar e ameaçar a vida de nossa população. Estamos na luta contra esse governo da morte, pelo Impeachment do Presidente e pela derrocada do neofascismo que ele representa”, completa. Apesar da desmobilização, a REDE garante que seguirá agindo no parlamento e no judiciário "em defesa da democracia e da vida".

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Os Estados Unidos esperam mobilizações em massa contra a desigualdade racial e a brutalidade policial, neste sábado (6), um dia que também estará marcado por uma nova cerimônia em memória de George Floyd, cuja morte deflagrou esta histórica onda de protestos.

Grandes protestos foram anunciados em muitas cidades americanas, entre elas Nova York, Miami e Washington, onde milhares de pessoas devem ir às ruas, segundo estimativas da imprensa local.

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Após uma primeira cerimônia emocionante em Minneapolis, na última quinta-feira, será prestado uma segunda homenagem a esse cidadão negro de 46 anos imobilizado e asfixiado até a morte por um policial branco durante uma detenção, em 25 de maio, nesta cidade do norte do país.

A nova cerimônia será realizada em Raeford, em seu estado natal, Carolina do Norte.

A polêmica aumentou diante da repressão aos protestos por parte das forças de segurança. Nos últimos dias, vários vídeos foram divulgados on-line, mostrando violentas intervenções policiais contra manifestantes pacíficos.

O último deles, divulgado na noite de quinta-feira, mostra um manifestante que é empurrado por dois policiais e lançado com força no chão, enquanto está sozinho diante de vários agentes. Isso aconteceu em Buffalo, no estado de Nova York.

Uma primeira declaração oficial relatou que este homem, de 75 anos, que sangrava em profusão e parecia ter desmaiado, "tropeçou e caiu".

Em resposta à indignação provocada pelas imagens, os dois policiais envolvidos neste episódio foram suspensos.

O governador do estado, Andrew Cuomo, também solicitou sua demissão, e o promotor local abriu uma investigação.

"Os policiais devem ser protetores, não guerreiros", disse Mark Poloncarz, chefe executivo do condado de Erie, ao qual Buffalo pertence.

Agentes suspensos

Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio, vaiado na quinta-feira durante uma cerimônia em homenagem a Floyd no Brooklyn por não condenar a brutalidade policial contra manifestantes não violentos, prometeu investigar todos os incidentes denunciados. Disse ainda que medidas disciplinares serão tomadas.

Outros dois policiais foram suspensos, anunciou o chefe de polícia da cidade, Dermot Shea, na sexta-feira, citando "incidentes perturbadores".

Um deles aparece, em um vídeo, empurrando uma mulher para o chão. O outro agente tira a máscara de proteção de um manifestante e lança spray de pimenta contra ele.

Do outro lado do país, no estado de Washington, a prefeita de Tacoma solicitou a demissão dos policiais envolvidos na morte de um homem negro em 3 de março, depois que um novo vídeo foi divulgado na Internet.

Na gravação, os agentes parecem agredir o homem, imobilizando-o antes de morrer sob custódia policial.

Em Indianápolis, no Meio-Oeste dos EUA, a polícia iniciou uma investigação, após a circulação de outro vídeo que mostrava pelo menos quatro policiais agredindo uma mulher com cassetetes e lançando gás lacrimogêneo, no domingo à noite.

Antecipando novos protestos, o chefe da polícia de Seattle anunciou uma proibição de 30 dias do uso desses gases.

Na sexta-feira, a polícia de Minneapolis anunciou a proibição de se recorrer a "estrangulamento", uma técnica perigosa usada em 2014, em Nova York, contra Eric Garner. Ele foi mais um afroamericano morto por policiais, cujo grito "Não consigo respirar" também foi proferido por George Floyd antes de morrer.

"Um grande dia" 

Novos exemplos de abuso policial alimentam a raiva por trás dos protestos que abalam os Estados Unidos há dez dias.

Algumas de suas exigências foram ouvidas. O policial que pressionou Floyd com o joelho por quase nove minutos foi acusado na quarta-feira de homicídio doloso, e não mais não involuntário, conforme estabelecido pela primeira acusação. Os outros três policiais presentes também foram acusados por ajudarem e instigarem o ato.

As mobilizações vão, na verdade, para além desse caso, denunciando o racismo sistêmico e exigindo uma mudança real no país.

Os protestos, que degeneraram em tumultos e, em alguns casos, saques, conseguiram permanecer pacíficos nos últimos dias.

Várias cidades, incluindo Washington, Seattle e Los Angeles, suspenderam o toque de recolher que havia sido imposto pelas autoridades para controlar os tumultos. Já em Nova York, ele permanece em vigor até o domingo à noite.

Na sexta-feira, milhares de pessoas se reuniram no Brooklyn e em Manhattan.

Também houve mobilizações em outros países, como o Canadá, onde o primeiro-ministro Justin Trudeau marchou em Ottawa junto com milhares de pessoas.

Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, que continua pedindo a "restauração da lei e da ordem", insistiu em que os estados solicitem o reforço da Guarda Nacional, especialmente aqueles que até agora dispensaram esse efetivo, como Nova York.

O rapper Kanye West doou US$ 2 milhões para as famílias de George Floyd e Breonna Taylor, cujas mortes pelas mãos de policiais inspiraram uma onda protestos nos Estados Unidos, e de Ahmaud Arbery, morto a tiros em fevereiro.

Esse dinheiro irá, parcialmente, para honorários legais para as famílias de Arbery, homem e Taylor, segundo a CNN. A outra parte da doação cobrirá totalmente as mensalidades da faculdade para Gianna Floyd, a filha de 6 anos de George Floyd.

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Esposa de West, a empresária Kim Kardashian se posicionou sobre os assassinatos de George Floyd, Ahmaud Arbery e Breonna Taylor pelo Instagram: "Sempre tentei encontrar as palavras certas para expressar minhas condolências e indignação, mas o privilégio que me é concedido pela cor de minha pele, muitas vezes, me deixa com a sensação de que essa não é uma luta que eu realmente possa enfrentar sozinha".

 

Enfermeiros e médicos de Nova York, considerados heróis na luta contra o novo coronavírus e aplaudidos diariamente há três meses, saem em massa dos hospitais para denunciar a segregação racial no sistema de saúde pública e aplaudir os manifestantes nos maiores protestos pelos direitos civis desde os anos 1960 nos Estados Unidos.

Com máscaras, jalecos brancos e roupas cirúrgicas, alguns com trajes de proteção e viseiras para se protegerem do vírus, centenas de trabalhadores de saúde do hospital público Bellevue, em Manhattan, e de outros hospitais deixaram brevemente seus postos de trabalho nesta quinta-feira (4) para denunciar o racismo endêmico nos Estados Unidos, que se reflete no sistema de saúde pública.

Com cartazes que diziam "Saúde para todos" e "O racismo mata meus pacientes", mais de 100 trabalhadores de saúde do Bellevue gritaram palavras de ordem e se ajoelharam em silêncio por 8 minutos e 45 segundos, o tempo em que George Floyd, um homem negro de 46 anos, foi asfixiado até a morte por um policial branco, que pressionou o joelho contra seu pescoço - um crime ocorrido há dez dias em Minneapolis.

"Juramos servir a todas as comunidades, juramos proteger a saúde pública e agora o uso excessivo da força e a violência policial são uma emergência de saúde pública", disse à AFP uma das organizadoras dos protestos desta quinta em seis hospitais nova-iorquinos, a médica Kamini Doobay, de origem indiana, que trabalha na emergência do Bellevue.

- O vírus do racismo -

"Sou uma profissional da saúde que luta atualmente contra a Covid-19, mas também continuo lutando contra o vírus do racismo", refletiu a enfermeira negra Billy Jean.

"A cada dia vemos os efeitos do racismo quando atendemos pacientes. Vemos pacientes de cor que morrem de forma desproporcional de doenças crônicas porque não têm um acompanhamento apropriado e obviamente vemos a violência cotidiana que afeta essas comunidades, homens negros que chegam com ferimentos de bala e os efeitos da violência policial em nossos pacientes", disse à AFP a doutora Damilola Idowu, de 28 anos.

No caso do novo coronavírus, 22,9% dos mortos são negros, embora estes sejam 13,4% da população, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

Médicos e enfermeiros denunciaram a existência de uma saúde pública segregada no país, onde não há cobertura universal de saúde.

Também asseguram que delegar à polícia a missão de enfrentar problemas como o consumo de drogas e álcool, a falta de moradia, a crise de saúde mental e a violência doméstica exacerbou os problemas de saúde pública na comunidade negra.

Doobay denunciou os hospitais que aceitam recursos federais e públicos e depois negam atendimento a pacientes sem seguro de saúde ou com seguros muito limitados (como o seguro público Medicaid), em um acalorado discurso, aplaudido pelos colegas.

"Esses são saques!", disse. "Esse é um crime que perpetua estas desigualdades. Precisamos denunciar a saúde pública segregada na cidade de Nova York para poder reparar isso".

- Os novos heróis -

Ao ouvir os milhares de manifestantes que se aproximavam pela Quinta Avenida, dezenas de médicos e enfermeiras do Hospital Mt. Sinai West saíram às ruas na terça-feira para aplaudi-los, assim como os nova-iorquinos aplaudem diariamente às 19h o pessoal médico no front da luta contra o coronavírus.

"Obrigada! Nós os amamos!", gritavam os manifestantes, que pararam para tirar fotos e fazer vídeos ao lado de médicos e enfermeiros.

"Os manifestantes que estão denunciando estes problemas, que põem sua vida em risco, que arriscam ser detidos e sofrer violência policial, eles são os heróis agora", disse à AFP a doutora Idowu.

Protestos espontâneos similares foram celebrados em outros hospitais de Manhattan, Bronx e Brooklyn, e também no resto do país, como no Texas Medical Center em Houston ou no Howard University Hospital em Washington DC.

Uma estudante de medicina, que saiu na terça de um hospital de Manhattan com roupa cirúrgica verde e máscara para aderir a uma manifestação, disse à AFP que sente a necessidade de protestar "porque o racismo institucionalizado nesta nação durou tempo demais".

"É nossa responsabilidade nos unirmos aos manifestantes e dizer 'Estamos aqui com vocês para gerar uma mudança'", afirmou Sigal, de 26 anos, que não quis revelar seu sobrenome.

Drew Brees, quarterback do New Orleans Saints, se desculpou nesta quinta-feira pela declaração em que criticou a manifestação iniciada por Colin Kaepernick e replicada por diversos outros jogadores da NFL, de se ajoelhar durante a execução do Hino Nacional norte-americano. O veterano, de 41 anos, havia declarado que a atitude era falta de respeito com a memória dos combatentes Estados Unidos e citara seus avós como exemplo.

"Gostaria de me desculpar com meus amigos, colegas de equipe, a cidade de Nova Orleans, a comunidade negra, a comunidade da NFL e qualquer pessoa que eu tenha ferido com meus comentários ontem. Ao falar com alguns de vocês, parte meu coração saber a dor que causei", escreveu em texto publicado no seu perfil no Instagram.

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Um dia antes, em entrevista ao Yahoo Finance, Drew Brees havia dito que o ato era um desrespeito com a bandeira do país. "Eu nunca vou concordar com alguém que desrespeite a bandeira dos Estados Unidos da América. Deixe-me apenas dizer o que vejo ou o que sinto quando o Hino Nacional é tocado e quando olho a bandeira dos Estados Unidos. Eu imagino meus dois avós, que lutaram por este país durante a Segunda Guerra Mundial, um no Exército e um na Marine Corp. Ambos arriscando suas vidas para proteger nosso país e tentar tonar ele e este mundo um lugar melhor. Então, toda vez que fico com a mão sobre o coração, olhando para a bandeira e cantando o hino nacional, é sobre isso que penso. E, em muitos casos, isso me leva às lágrimas, pensando em tudo o que foi sacrificado", afirmou o jogador.

O assunto voltou ao debate público em decorrência dos protestos ocasionados pelo assassinato de George Floyd durante uma abordagem policial. Manifestantes ajoelham-se nos atos, em reprodução ao gesto de Kaepernick, feito, pela primeira vez, em 2016.

Naquele ano, durante uma partida pela pré-temporada da NFL contra o Green Bay Packers, o jogador do San Francisco 49ers não se levantou durante a execução do Hino Nacional norte-americano. Ele preferiu ficar sentado no banco de reservas em protesto.

Drew Brees havia declarado que o gesto era uma falta de respeito não somente com os militares, mas também com os movimentos dos direitos civis dos anos 1960. "Não apenas os militares, mas também os movimentos dos direitos civis dos anos 60, e tudo o que foi suportado por tantas pessoas até esse momento. E está tudo bem com o nosso país agora? Não, não está. Ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas acho que o que você faz ali, mostrando respeito pela bandeira com a mão sobre o coração, é que mostra unidade. Isso mostra que estamos juntos nisso, todos podemos fazer melhor e que todos fazemos parte da solução", disse.

O ato também havia sido questionado por Nate Boyer, veterano do exército e jogador do Seattle Seahawks. A princípio, Kaepernick não se levantava do banco de reservas durante a execução do hino e Boyer achou isso desrespeitoso. Ambos conversaram e Kaepernick alterou o gesto, passando a ajoelhar-se, já que durante um funeral militar a bandeira norte-americana é entregue à família do falecido por um oficial, que entrega o item ajoelhado.

As falas de Brees não haviam repercutido bem na comunidade de esportistas norte-americanos. "Não tem absolutamente nada a ver com desrespeito à bandeira dos Estados Unidos e aos nossos soltados, homens e mulheres, que mantêm a nossa terra livre. Meu padrasto foi um desses homens que lutaram pelo bem desse país. Eu perguntei a ele sobre isso e agradeci por todo o seu comprometimento. Ele nunca achou o protesto pacífico de Kap ofensivo porque ele e eu sabemos que o que é certo é certo e o que é errado é errado", dissera LeBron James, astro do Los Angeles Lakers.

Desde o último domingo (31), quando grupos antifascistas ligados a torcidas organizadas de times de futebol organizaram atos pela democracia e contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em várias cidades, têm surgido postagens nas redes sociais com imagens de uma bandeira associada ao movimento antifascista, com usuários se identificando com esse posicionamento político. O LeiaJá ouviu professores e uma ativista para explicar o conceito de antifascismo e o que significa a bandeira antifa, como o movimento também é chamado. 

O que é o fascismo?

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Karl Schuster é historiador e professor há 17 anos, fez pós-doutorado em História Contemporânea pela Universidade Livre de Berlim e atualmente é livre docente da Universidade de Pernambuco (UPE). Ele explica que: “entende-se por fascismo o conjunto de movimentos políticos que pavimentaram a chegada da extrema-direita ao poder na Europa durante a década de 1920”, mas também as manifestações contemporâneas que se dão dentro de sistemas democráticos e tentam destruir o estado democrático de direito aos poucos. 

“O modo de atuar no novo fascismo promove uma erosão do ambiente democrático. A erosão é gradual, cria inimigos internos, produz isolamento, enfim, ameaça o sistema como um todo. Daí a importância do uso do plural, fascismos. O nazismo foi, em verdade, um tipo de fascismo. Esses movimentos são aquilo que o historiador alemão Ernst Nolte chamou de Anti, são antiliberais, anticomunistas, antimarxistas. O alimento da política e do discurso fascista é a eterna sensação de que o país vai de mal a pior e que apenas eles, os fascistas, seriam capazes de restituir o que a sociedade perdeu, seja por defender um ultra fanatismo em costumes, retomando pautas já superadas, ou com o discurso de que são a própria renovação de uma política carcomida pela corrupção”, explicou o professor. 

No Brasil, de acordo com o professor de história José Carlos Mardock, o fascismo teve uma relação forte com o governo de Getúlio Vargas no período ditatorial do Estado Novo, perseguindo seus opositores. “O escritor alagoano Graciliano Ramos, que era membro do Partido Comunista Brasileiro, foi um dos presos políticos do Estado Novo a transitar pelos calabouços da repressão. Toda a sua experiência está relatada no livro Memórias do Cárcere”, contou Mardock.

Jones Manoel tem 30 anos, é historiador, mestre em serviço social, educador e comunicador popular, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do movimento negro. Ele explica uma das manifestações do fascismo no Brasil se deu por meio do Integralismo, liderado por Plínio Salgado, num grande partido que chegou a ter mais de 80 mil militantes. 

“Basicamente defendia resgatar uma ideia de brasilidade dentro de um programa nacionalista conservador, violentamente anti comunista, anti sindicatos, anti militância que misturava positivismo com fascismo e supostas tradições reais do Brasil. O Brasil desde os anos 1930 para cá nunca teve movimentos de massa fascistas, mas sempre teve pequenos grupos que reivindicam o nazismo, o nazifascismo, via de regra agindo numa perspectiva de gangue, fazendo ataques contra mendigos, homossexuais, pessoas em situação de rua e por aí vai”, disse Jones.  

Movimento e bandeira antifascista

Os movimentos de resistência aos diferentes tipos de fascismo surgem porque, como explica o professor Karl, “O fascismo não morreu com Hitler ou com o fim da segunda guerra mundial. Da mesma forma que os fascistas e as condições sociais para sua existência continuaram existindo, a resistência também. Sempre existirão [ameaças fascistas] enquanto continuarmos com as condições sociais do fascismo. Para mim, fascismo é a negação do outro. É um forte problema de alteridade e de entendimento de existência do outro como inimigo a ser aniquilado”, explicou o professor. 

Ele também conta que o enfrentamento ao fascismo nem sempre nasce de grupos necessariamente denominados antifascistas ou em momentos em que a ameaça é iminente e muito forte, mas também de pautas de movimentos da sociedade civil em busca de mais democracia. 

“[Há movimentos que] não são necessariamente antifascismo, eles abraçam essa pauta por serem movimentos que vigiam, garantem o mínimo de manutenção do estado democrático. Eles são fundamentais para a democracia e existem mesmo sem o fascismo como perigo eminente. Eles nascem da sociedade civil organizada. Nascem da natureza desigual do estado e se fundam numa luta constante por reconhecimento e autonomia das minorias ou de pautas de inclusão, de direitos humanos ou mesmo de reforma agrária, no caso do passado recente do Brasil”, disse o professor Karl Schuster. 

Os movimentos conhecidos como “antifas” surgiram, segundo o professor Mardock, da união entre os partidos Comunista Alemão (KPD) e o socialista alemão (SPD) da luta contra o fortalecimento nazista na década de 1930. “Os partidos KPD E SPD, juntos, venceram Hitler nas eleições de 1933, daí a justificativa para as bandeiras”, explicou ele.

Já o professor Karl conta que a imagem das duas bandeiras, que também aparecem em vermelho e preto, representam uma ideia da criação de uma frente única contra o fascismo e também representam o anarquismo. “Essa bandeira representa a ideia de frente única, a ideia de que todos que são antifascistas estariam unidos, ao menos naquele momento, contra a avalanche fascistizante. As cores representam o anarquismo, o socialismo libertário. Liberdade de quaisquer tipos de hierarquia e coerção são fundamentais nessas duas correntes, que têm rejeitam o socialismo clássico por não aceitarem a hierarquia. Para ambos, o controle centralizado deve ser destruído e abolir o controle autoritário sobre os meios de produção é a ideia central”, contou ele.

De acordo com o historiador, educador e mestre em serviço social, Jones Manoel, havia uma disputa entre anarquistas e comunistas pela “cabeça” do movimento operário, mas diante da ameaça de um grande inimigo maior, foi necessário unir forças. “Como o fascismo tem a característica de montar suas tropas de choque, suas milícias armadas, o antifascismo se dava a partir de ações de massa, debates, ações culturais, mas também ações de rua para tentar intimidar os fascistas e não deixar que eles tomassem conta da arena pública. Aqui no Brasil teve um famoso evento antifascista, a batalha da Praça da Sé, quando antifascistas de variadas matizes se uniram para expulsar os integralistas numa batalha que envolveu muita porrada, agressões físicas e alguns tiros, num episódio em que os comunistas colocaram os fascistas para correr no episódio que ficou conhecido como a ‘revoada das galinhas verdes’. Basicamente os grupos antifas surgem da percepção do movimento operário do perigo que o fascismo representa”, explicou ele.

Reunião de grupo da Juventude Integralista, grupo fascista brasileiro/Domínio Público

Militância on-line e nas ruas

A advogada Ana Cristina Rossi, de 28 anos, é natural de Florianópolis mas mora em São Paulo desde 2013, ano em que começou a participar de manifestações de rua. Em 2016, junto com outros dois amigos, ela fundou o Coletivo Pela Democracia, com o objetivo de promover atos e impedir o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Recentemente, em decisão conjunta com os demais administradores do coletivo, o grupo mudou de nome e passou a se chamar “Coletivo Democrático Antifascista M14”. 

“Com o avanço dos retrocessos e os absurdos que o Presidente vinha propagando dia a dia, a ineficiência desse governo no combate ao Covid-19, foi gerando uma revolta muito grande, então sugeri um novo nome. Sempre tivemos esse posicionamento antifascismo, contra a extrema-direita, racismo, xenofobia. Nossa ideologia é completamente voltada ao socialismo, comunismo, de forma que a gente era a oposição da oposição para esse governo. O discurso desse governo é fascista, nossa principal pauta é a democracia”, contou ela. 

Questionada sobre a razão para, em sua opinião, ter crescido o volume de pessoas nas redes sociais se identificando como antifascistas, Cristina aponta uma conexão entre os atos contra a violência policial que têm ocorrido nos Estados Unidos e a realidade violenta que também é fortemente enfrentada nas periferias do Brasil. 

“Eu acredito que tenha relação em primeiro lugar com o movimento #blacklivesmatter. Esse movimento se alinhou muito com o que está acontecendo aqui no Brasil, o número de mortos nas periferias do Brasil, a forma como a polícia atira indiscriminadamente no povo preto. Dois coletivos se reuniram para combater esse fascismo crescente na América: Democracia Corinthians e Palmeiras antifascista, se eu não me engano, estavam na [Avenida] Paulista com uma pauta muito bacana, Anti Bolsonarista, e houve confronto com a polícia. Isso tudo foi uma das razões para deixar bem claro o que eu já sei desde sempre sofremos com a ação da PM do governo de SP, mas agora eles se sentem legitimados”, afirmou a advogada. 

Jones Manoel, de 30 anos, nasceu na favela da Borborema, zona sul do Recife. Negro, filho de empregada doméstica e órfão de pai aos 11 anos, precisou trabalhar ainda na adolescência e conta que aos 19 anos um amigo lhe apresentou a universidade. A partir desse momento, ele começou a se empenhar para o vestibular e conseguiu a aprovação, montando depois um cursinho popular ao descobrir que junto a outros dois amigos de sua comunidade, eles eram os primeiros daquela região a entrar na universidade. O projeto durou dois anos e ajudou 30 jovens a serem aprovados. 

Durante sua vida de militância, além do PCB e do movimento negro, Jones participou de outros espaços de luta política, como o movimento estudantil, movimento passe livre e jornadas de junho, entre outras atividades. Questionado sobre as razões pelas quais acredita que as imagens da bandeira antifascista passaram a ter um compartilhamento massivo nas redes sociais desde o último final de semana, Jones aponta tanto para o perfil autoritário do projeto bolsonarista de governo quanto para os atos pró-democracia e antifascistas realizados no domingo (31). 

“Os atos de domingo abertamente se colocando em defesa da democracia numa perspectiva popular e antifascista, deram um gás, renovaram esperança e chamaram atenção. Eu acho que é por isso que se colocou essa ideia do antifascismo, porque não existe mais dúvidas que o projeto bolsonarista é fascista. O governo não é fascista, o Estado não é fascista, o fascismo enquanto regime político não está implantado no Brasil e nem eu acho que vai, espero estar certo, mas Weintraub, Ricardo Salles, Bolsonaro, são ideologicamente fascistas, têm uma simbologia fascista e vários grupos fascistas os apoiam”, diz.

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O Palácio do Planalto teme que manifestações de rua em defesa da democracia e contra o governo federal cresçam e se tornem atos pró-impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Após a escalada de tensão dos últimos dias, Bolsonaro deu nesta quarta-feira uma espécie de ordem unida e chamou manifestantes contrários a seu governo de "marginais" e "terroristas". O gesto refletiu a preocupação expressada por aliados do governo nas redes sociais.

Bolsonaro usou termos duros para se referir a integrantes de grupos - autointitulados antifascistas - que passaram a promover atos contra o governo. Na mesma linha, o vice-presidente Hamilton Mourão também classificou os participantes desses protestos como "baderneiros", em artigo publicado nesta quarta-feira no Estadão.

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Novos atos estão sendo chamados para o fim de semana por grupos ligados a torcidas de futebol, agora engrossados pela Frente Povo sem Medo, organização que reúne movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de esquerda. Em São Paulo as manifestações estão agendadas para o início da tarde de domingo na Avenida Paulista. O governo estadual proibiu atos rivais (contra e a favor de Bolsonaro) simultâneos na capital. Há manifestações agendadas no Rio, Salvador, Belo Horizonte e outras cidades.

Na prática, a principal pauta dos bolsonaristas, hoje, é a criminalização dos protestos de rua. Além disso, há na cúpula do governo a avaliação de que os fatos recentes que desgastam o Planalto - principalmente os relacionados a inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal - podem reforçar a defesa do afastamento do presidente.

As manifestações antirracistas nos Estados Unidos após o assassinato de George Floyd, segurança negro asfixiado por um policial branco, também causam apreensão no Planalto. Foi ao se referir aos protestos, na noite de anteontem, que Bolsonaro defendeu uma "retaguarda jurídica" para a atuação da polícia nas manifestações no Brasil.

"Começou aqui com os antifas (movimento antifacista) em campo. O motivo, no meu entender, político, é diferente. São marginais, no meu entender, terroristas", afirmou Bolsonaro. "Têm ameaçado, (no próximo) domingo, fazer movimentos pelo Brasil (...). Lá (nos EUA) o racismo é um pouco diferente do Brasil. Está mais na pele. Então, houve um negro lá que perdeu a vida. Vendo a cena, a gente lamenta. (...) Agora, o povo americano tem que entender que, quando se erra, se paga. Agora, o que está se fazendo lá é uma coisa que não gostaria que acontecesse no Brasil."

Levantamento da empresa AP Exata mostra que há nas redes sociais uma tendência de crescimento das manifestações anti-Bolsonaro, com argumentos de defesa da democracia. De acordo com a pesquisa, recentes mensagens postadas por seguidores do presidente indicam que a mídia e a esquerda buscam estimular os protestos para derrubar o presidente. Os próximos atos de rua também devem incorporar a pauta antirracista.

Na segunda-feira, Bolsonaro pediu a apoiadores que evitem ir às ruas no domingo para não haver confronto com a oposição. "Não tenho influência, não tenho nenhum grupo e nunca convoquei ninguém para ir às ruas. (...) Nós precisamos de uma retaguarda jurídica para que nosso policial possa bem trabalhar, em se apresentando esse tipo de movimento, que não tem nada a ver com democracia."

O presidente citou depredações ocorridas em Curitiba e disse ainda que é preciso impedir o alastramento de movimentos assim. "Não podemos deixar que o Brasil se transforme no que foi há pouco tempo o Chile", insistiu Bolsonaro, numa referência aos protestos do país vizinho.

Um adolescente foi apreendido ontem em Curitiba, suspeito de atear fogo na bandeira nacional hasteada em frente ao Palácio Iguaçu, sede do Executivo estadual. Ele participou de um "ato antirracista" na segunda-feira, que reuniu cerca de mil pessoas na região central da capital paranaense. Ele foi o oitavo manifestante detido pela polícia. Outras sete pessoas foram encaminhadas à delegacia no dia do ato, que ocorreu de forma pacífica. Segundo as investigações, os atos de vandalismo e depredação foram registrados na dispersão. Os movimentos sociais que organizaram ou aderiram à manifestação atribuíram os atos de vandalismo e depredação a infiltrados.

Mais tarde, no Twitter, Bolsonaro bateu na mesma tecla, demonstrando preocupação com o confronto. "Quem promove o caos, queima bandeira nacional e usa da violência como uma forma de 'protestar' é terrorista sim! Manifestante, contra ou a favor do governo, é outra coisa."

Mourão adotou o mesmo tom. "Aonde querem chegar? A incendiar as ruas do País, como em 2013? A ensanguentá-las, como aconteceu em outros países? Isso pode servir para muita coisa, jamais para defender a democracia. E o País já aprendeu quanto custa esse erro."

Crítica

Líderes de movimentos classificaram as reações de Bolsonaro e Mourão de autoritárias. "As declarações são próprias de figuras políticas que não sabem viver com o contraditório", disse o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão. "Manifestações em defesa da democracia seguem um direito constitucional. Terrorista deveria ser considerado quem faz manifestação em defesa do AI-5 e da tortura. As declarações mostram mais um face de um governo autoritário", afirmou Josué Rocha, da coordenação nacional da Frente Povo Sem Medo.

Um dos líderes do movimento Somos Democracia, Danilo Pássaro criticou o artigo de Mourão. "Ao contrário do que diz o vice, são os apoiadores do governo que expõem seus revólveres e armas." 

Gandra Martins

O jurista Ives Gandra da Silva Martins afirmou ao Estadão que sua interpretação sobre o artigo 142 da Constituição está sendo distorcida pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e também pelos adversários do governo. Segundo ele, seu entendimento é o de que "não há, no artigo, qualquer brecha para fechamento de Poderes".

"Quem fala que permite golpe é ignorante em Direito. Tanto da situação quanto da oposição. As Forças Armadas não têm condição de dar golpe. Se têm, estão violando a Constituição e elas não farão nunca isso", afirmou o jurista, que atuou como consultor jurídico dos deputados que escreveram a Constituição de 1988.

A interpretação de Ives Gandra ao artigo da Constituição é, contudo, mais flexível do que a de outros juristas, para os quais a Carta Magna não permite que as Forças sejam acionadas sequer como poder moderador.

Ao detalhar sua interpretação, Gandra Martins afirmou que o artigo foi inserido pelos deputados constituintes "para nunca ser utilizado". Mesmo assim, citou exemplos hipotéticos nos quais as Forças Armadas poderiam ser invocadas para moderar conflitos.

Um deles, por exemplo, seria na hipótese de o Supremo Tribunal Federal (STF) mandar prender o presidente do Senado caso este não quisesse cumprir uma lei criada pelos magistrados por considerá-la inconstitucional.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não considera correta essa interpretação. "A intervenção militar não é possível, sequer pontualmente", afirmou o presidente da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho. "Nos exemplos citados, as questões não seriam resolvidas com intervenção militar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama aplaudiu nesta quarta-feira (3) os "profundos" protestos de americanos exigindo justiça racial e disse que as manifestações após o assassinato, na semana passada, de um homem negro sob a custódia de um policial branco pode produzir reformas nacionais.

Em seus primeiros comentários em vídeo desde que a morte de George Floyd, em 25 de maio, em Minneapolis, deu origem a protestos em todo o pais, o antecessor do presidente Donald Trump também urgiu as autoridades estaduais e locais a revisarem suas políticas sobre o uso da força.

Obama dirigiu seus comentários aos jovens negros e negras que, segundo ele, sempre testemunharam ou experimentaram violência demais.

"Com muita frequência parte desta violência vem de gente que devia servir e proteger vocês", disse Obama em um 'webcast' com ativistas.

"Eu quero que vocês saibam que vocês importam. Eu quero que vocês saibam que suas vidas importam, que seus sonhos importam", acrescentou.

Obama também disse ao final de sua declaração que os americanos têm testemunhado "mudanças e eventos épicos em nosso país que são dos mais profundos que eu vi na vida".

Aos 58 anos, Obama, que se mantém popular entre os eleitores democratas, lembrou a ascensão mortal do movimento pelos direitos civis, nos anos 1960, e disse que "uma diversidade muito mais representativa da América" está protestando agora comparada à de meio século atrás.

"Está ocorrendo uma mudança de mentalidade, um reconhecimento maior de que nós podemos fazer melhor", disse Obama.

Os protestos têm atraído em particular jovens manifestantes, afirmou, e sua motivação pode servir de inspiração para uma mudança mais ampla.

"É muito importante que nós aproveitemos o impulso que foi criado como sociedade, como país, e dizer, 'Vamos usar isto' para finalmente termos um impacto", disse Obama.

Ele também se dirigiu aos líderes locais do país, afirmando: "eu encorajo todo prefeito deste país a revisar suas políticas de uso da força com membros da sua comunidade e se comprometer a reportar as reformas planejadas".

Obama não se dirigiu diretamente à gestão de Trump da crise, incluindo o pedido controverso do presidente de que as autoridades "dominassem" os manifestantes.

Mas o ex-presidente teria ficado indignado com o uso de produtos químicos para dispersar os manifestantes do lado de fora da Casa Branca na segunda-feira, antes de Trump caminhar até uma igreja vizinha, onde posou para fotos com uma Bíblia na mão.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar que os manifestantes que foram às ruas contra seu governo são, na verdade, "terroristas". Pelo Twitter, Bolsonaro disse os promotores do "caos" e os que se valem da violência como forma de protesto não são meros manifestantes.

"Quem promove o caos, queima a bandeira nacional e usa da violência como uma forma de 'protestar' é terrorista sim! Manifestante, contra ou a favor do governo, é outra coisa", publicou Bolsonaro.

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O tuíte foi acompanhado do link de uma matéria do Estadão intitulada "Bolsonaro chama manifestantes contra seu governo de terroristas", que reproduzia uma fala de ontem à noite do presidente da República. Na ocasião, Bolsonaro falou que os manifestantes antifascistas que foram à Avenida Paulista no último domingo são "terroristas" e "marginais".

Um dos nomes fortes à frente do "Basta!", manifesto de profissionais do Direito contra o que chamam de "ataques", "agressões" e "afrontas" do presidente Jair Bolsonaro às instituições e que já conta com quase 40 mil assinaturas, o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira afirmou ao Broadcast Político que o mais importante no momento para as entidades da sociedade que vêm somando vozes sob o mote pró-democracia é "sair da inércia". "Agora, não sabemos aonde vão desembocar e os seus efeitos futuros."

O jurista vê no quadro atual do País "risco de ruptura institucional e ruptura social" e defende que, diante desse diagnóstico, "não é possível mais continuarmos omissos, porque a omissão acaba sendo cumplicidade".

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"Precisamos mostrar que há incompatibilidade absoluta entre os interesses da nação e o governo", aponta Mariz. "O modo pelo qual o País está sendo governado não vem atendendo a essas necessidades, quer sob o aspecto da saúde quer sob o aspecto institucional."

Ele diz que não é favorável às manifestações de rua, como a vista na Avenida Paulista no último domingo (31) e em Curitiba (PR) na segunda-feira (1º). "Podem levar ao confronto. Os ânimos estão muito acirrados e há por parte daqueles que apoiam o presidente da República uma tendência muito agressiva. Já agrediram jornalistas, enfermeiros, enfermeiras", comentou.

Os protestos de Los Angeles pela morte de George Floyd trazem dolorosas lembranças de outros trágicos distúrbios na cidade contra a brutalidade policial em relação à população negra.

Como acontece nos protestos atuais, os episódios de Rodney King, em 1992, e no bairro pobre de Watts, em 1965, foram alimentados pela violência policial contra homens negros.

A agressão a King por quatro oficiais da Polícia de Los Angeles (LAPD) foi gravada por um transeunte, precursor de imagens virais de mídia social da morte de Floyd em Minneapolis, nas mãos de um policial branco.

"Em muitos sentidos, isso mudou apenas no ano em que aconteceu", disse o professor de direito Jody David Armour, da Universidade do Sul da Califórnia (USC).

"Esse padrão pervasivo e persistente de brutalidade policial contra negros americanos impulsiona protestos em massa", completa.

"Esse joelho no pescoço de George Floyd é, sob muitos aspectos, o joelho dos Estados Unidos no pescoço dos Estados Unidos negro. É um símbolo", reforça.

Uma opinião compartilhada por muitos: da lenda da NBA Kareem Abdul-Jabbar - que disse à emissora de televisão CBS que "nada mudou desde o que se acreditava ser uma detenção de trânsito rotineira para Rodney King" - aos manifestantes que lotaram as ruas esta semana.

Jessica Hubbert, uma manifestante de 30 anos, que participou dos atos em Hollywood, disse que a polícia local "não melhorou nada em Los Angeles (...) Mesmo protestando, eles nos machucam".

- "Atores externos" -

Ativistas e acadêmicos destacam algumas diferenças, porém, principalmente no que se refere às identidades raciais dos envolvidos.

Embora a maioria das áreas de maioria afroamericana no sul de Los Angeles, como Watts, tenha sido o foco da violência em 1992 e em 1965, elas permaneceram caladas nos últimos dias.

No presente, saques e confrontos estão concentrados em pontos turísticos, como Hollywood, e em áreas prósperas, como Beverly Hills e Santa Monica.

John Jones III, líder comunitário em Watts, foi um dos que pediram calma nesta e em regiões vizinhas.

"As pessoas [aqui] estão definitivamente seguindo o que está acontecendo em toda cidade... Entendem o ódio e a raiva", mas "já passamos por isso tantas vezes... Elas sabem o que significa uma revolta, a destruição do próprio bairro", explicou Jones, que administra o clube infantil e distribui refeições.

Ele disse que os jovens da comunidade se mudaram para outras áreas, como o centro, para protestar, e esclareceu que não pode ter "100% de certeza" de que ninguém está envolvido em saques, ou outros crimes por lá.

De qualquer forma, o "jornalismo de smartphones" de hoje torna possível mostrar "mais de um rosto nos saques", disse Allissa Richardson, autora de "Bearing Witness While Black", professora associada de Jornalismo na USC.

"Com os distúrbios de Watts, ou os de Rodney King, você via pessoas de cor causando a maior parte dos danos em sua própria comunidade", lembrou. "Agora estamos vendo (...) ativistas brancos que chegam, destroem e desfiguram a propriedade", apontou.

- 1992 "não significa nada" -

Apesar das 2.700 prisões por atividade criminosa nos últimos dias, as autoridades de Los Angeles não relataram nenhuma morte nos protestos em curso. Pelo menos 63 pessoas morreram nos tumultos de Rodney King.

O fato de a morte de Floyd não ter ocorrido nas mãos da polícia de Los Angeles pode ter diminuído a revolta, observou Jones.

"Em 92, acho que chegou um pouco mais perto de casa (...) Foi nossa própria polícia", disse ele.

"A postura era fazer o que podíamos para que sentissem nossa dor. Isso ainda dói muito", frisou.

Tanto o nível de organização quanto a identidade dos manifestantes também são diferentes na era do movimento "Black Lives Matter", disse Armour.

"Muitos dos manifestantes vistos nesses protestos não são negros", acrescentou, destacando que muitos jovens brancos, asiáticos e latinos também participam.

"Acho que há um crescente reconhecimento (...) de que temos problemas profundos quando se trata de valorizar a vida dos negros", afirmou.

Para Hubbert, a manifestante em Hollywood, as comparações com Rodney King, ou Watts, não são significativas em comparação com os traumas que os negros sofrem há séculos.

"1992 não significa nada", afirmou. "Estamos lutando pelos últimos 500 anos do povo negro ... Estamos cansados! Continuam nos matando!", desabafou.

A onda de manifestos assinados por personalidades brasileiras de diferentes setores da sociedade em defesa da democracia e em oposição à retórica do presidente Jair Bolsonaro ganhou volume com a articulação de organizações da sociedade civil. Nessa terça-feira, 130 entidades subscreveram o documento "Juntos pela democracia e pela vida", que diz ser "preciso reconhecer de forma inequívoca que a ameaça fundamental à ordem democrática e ao bem-estar do País reside hoje na própria Presidência da República".

Entre os signatários estão grupos de renovação e formação política surgidos nos últimos anos; entidades formadas a partir do incremento do combate à corrupção no País; movimentos de transparência nas atividades partidárias e na administração pública; institutos de gestão da educação e outras áreas; organizações ambientalistas, contra o armamentismo, entre outras. O manifesto foi divulgado pelo Pacto pela Democracia, que abriga movimentos e grupos de diferentes espectros políticos e tradições - como RenovaBR, Raps, SOS Mata Atlântica, a ONG Sou da Paz, a Rede Nossa São Paulo, o Instituto Vladimir Herzog, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e o Instituto Ethos.

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O manifesto foi lançado na esteira de iniciativas recentes como o Basta!, que reúne advogados e juristas, e o Movimento Estamos Juntos, que agregou centenas de personalidades - do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) - e o Somos 70%.

Segundo o sociólogo Ricardo Borges Martins, coordenador do movimento, o Pacto pela Democracia não definiu se vai defender o impeachment de Bolsonaro, mas pretende atuar em três frentes. "Somar vozes na sociedade, responder institucionalmente às falas e atitudes do presidente e suas bravatas, como dizer que tem provas de que a eleição de 2018 foi fraudada, e levar à série a nova dinâmica de produção de informação nas mídias sociais", disse Martins ao Estadão. O sociólogo reconheceu ainda que o "campo democrático" precisa avançar muito na dinâmica das redes sociais, universo em que os bolsonaristas conseguem exercer um diálogo de forma mais direta.

O grupo nasceu em 2017 com o nome Nova Democracia e, inicialmente, reunia apenas grupos de renovação política como Acredito, Agora!, RenovaBR e Ocupa Política. No ano seguinte, após a eleição de Bolsonaro, o coletivo arregimentou líderes de esquerda e direita, além de organizações para um movimento mais amplo, que nasceu em evento em junho daquele no ano no Masp, em São Paulo.

'Reação'

Atualmente, o Pacto Pela Democracia é uma organização com sede própria, sete diretores executivos remunerados e seis financiadores que pagam R$ 150 mil cada por ano. Entre os patronos estão Maria Alice Setúbal, Beatriz Bracher, Fundação Lemann e a National Environment for Democracy, ONG americana ligada ao Congresso.

"Quem defende a democracia estava muito calado enquanto eles ocupavam espaço. Os bolsonaristas são sempre bons de rede", disse o cientista político Luiz Felipe D'Avila, fundador do Centro de Liderança Pública (CLP), uma das ONGs que assinaram o manifesto do Pacto pela Democracia. Para D'Avila, o momento ainda é de defender os princípios violados da democracia.

Já o ambientalista Mário Mantovani, diretor do SOS Mata Atlântica, que também integra o pacto, acredita que um eventual processo de impeachment do presidente "está amadurecendo". "Estava na hora dessa reação. A luta era muito desigual, com robôs e um grupo muito violento. Houve uma falência múltipla do governo, que não entregou nada e só privilegiou grupos de interesse."

"A Presidência da República age em ataques graves e sistemáticos aos próprios fundamentos da vida democrática; pois, em lugar de união e paz na construção conjunta do País, dedica-se a afirmar a cisão, a discriminação, o racismo e o caos como pilares de seu projeto de poder", afirma o manifesto divulgado nesta terça. "O governo incita abertamente movimentos golpistas na sociedade, enquanto alicia as Forças Armadas e atores políticos corruptos para o avanço de um horizonte autocrático."

A reação de grupos e personalidades levou organizações tradicionais a reagir. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se reuniu com representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e das seis maiores centrais sindicais em videoconferência para articular um ato em defesa da democracia com a participação de diferentes setores da sociedade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os protestos motivados pela morte de um cidadão negro por um policial branco se intensificaram nesta terça-feira (2) nos Estados Unidos diante da indignação provocada pela ordem do presidente Donald Trump de reprimir uma manifestação pacífica e sua ameaça de mobilizar o Exército.

Apesar da pandemia do novo coronavírus, que deixou mais de 106.000 mortos nos Estados Unidos, a morte por asfixia há oito dias de George Floyd, em Minneapolis, enquanto era imobilizado pelo policial, levou multidões às ruas, nos maiores protestos registrados no país em décadas.

A cinco meses das eleições presidenciais, Trump aumentou as tensões, após ameaçar na segunda-feira mobilizar o Exército para impor a ordem depois que, à margem de protestos, se registraram distúrbios com saques em várias cidades.

"Me ofende o fato de que esteja disposto a mobilizar os militares", disse à AFP Amore, estudante do ensino médio de 16 anos, que protestava em Nova York, onde milhares de pessoas foram às ruas protestar pacificamente nesta terça.

As autoridades da cidade estenderam até 7 de junho o toque de recolher, uma medida que não era usada desde a Segunda Guerra Mundial, depois dos saques registrados na noite de segunda.

- Trump ataca seus adversários -

Na noite de terça-feira, apesar do toque de recolher, uma multidão permanecia reunida em frente à Casa Branca.

"Estamos cansados de ver as notícias de que matam pessoas de forma habitual (...) Isto acontece há tempo demais", disse à AFP Caleb, um manifestante que participa dos protestos há quatro dias em Washington, onde na segunda-feira à noite ocorreram mais de 300 detenções.

A cidade tinha um forte contingente de segurança depois do registro, durante o dia, de manifestações espontâneas em frente ao Capitólio e ao memorial de Lincoln. Dois helicópteros sobrevoavam os atos, enquanto a polícia pedia às pessoas a obedecerem o toque de recolher.

Trump reiterou nesta terça a ameaça de mobilizar o Exército e afirmou que na noite passada Washington "foi o local mais seguro da Terra".

O mandatário, que se apresentou como o presidente da "lei e da ordem", também atacou seus adversários e criticou a gestão da segurança em Nova York - onde democratas governam o estado e a cidade -, afirmando que cederam à "escória".

Apesar dos incidentes e das críticas do governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, que disse que a Polícia e o município "não fizeram seu trabalho", o prefeito da cidade, Bill De Blasio, se negou a mobilizar a Guarda Nacional, considerando que a Polícia podia fazer frente à situação.

- Polícia sob investigação -

Em Houston, uma cidade com uma importante comunidade negra, onde George Floyd passou a infância, cerca de 60.000 pessoas participaram de uma passeata, segundo o prefeito.

Em Minnesota, onde fica a cidade de Minneapolis, as autoridades anunciaram que vão abrir uma investigação sobre os possíveis abusos por parte da polícia nos últimos dez anos.

"Temos que aproveitar este momento para mudar tudo", disse a vice-governadora, Penny Flanagan.

A pandemia cristalizou muitas das desigualdades que a comunidade negra sofre nos Estados Unidos, de um risco maior de morrer do novo coronavírus, a taxas de desemprego duas vezes maiores que as dos brancos.

A resposta de Trump aos maiores distúrbios em décadas foi criticada por Joe Biden, virtual candidato presidencial democrata nas eleições de novembro.

Em um discurso nesta terça na Filadélfia, Biden disse que os protestos são um "chamado de alerta" e prometeu que, se for eleito, vai lutar contra o "racismo sistêmico".

E em um gesto pouco habitual, o ex-presidente republicano George W. Bush fez um apelo ao país para examinar seus "trágicos fracassos" para por fim ao "racismo sistêmico".

- "Discriminação racial endêmica" -

Nas redes sociais, a hashtag "Black Out Tuesday" tingiu de preto Twitter, Facebook e Instagram nesta terça, enquanto os protestos se estenderam a outros países com mobilizações na França, em Israel, na Austrália e na Argentina, entre outros.

Em Paris, por exemplo, o protesto foi dedicado a Adama Traoré, um homem negro morto em 2016 ao ser preso.

"O que acontece nos Estados Unidos provoca um eco ao que acontece na França", disse à AFP a irmã do falecido, Assa Traoré.

De Genebra, a Alta Comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, disse que as manifestações expõem a "discriminação racial endêmica" nos Estados Unidos.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou "o assassinato de George Floyd" e expressou seu pesar pelos "atos violentos registrados no contexto das recentes manifestações como reação à violência policial contra afro-americanos" nos Estados Unidos.

A cidade de Nova York manterá o toque de recolher até domingo devido aos diversos roubos de comércios em meio aos protestos contra o racismo e a brutalidade policial após a morte de um homem negro pelas mãos de policiais brancos, anunciou o prefeito Bill de Blasio nesta terça-feira (2).

O toque de recolher foi imposto já na segunda-feira das 23h00 às 05h00, mas não foi respeitado por algumas pessoas que roubaram comércios por toda a cidade, incluindo no coração de Manhattan e na Quinta Avenida.

A partir de hoje, o toque de recolher começará mais cedo, às 20h00, quando ainda estiver claro, e terminará às 05h00, afirmou de Blasio.

Majoritariamente pacíficas, as manifestações em todo o país acontecem por causa da morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos, pelas mãos de policiais brancos em Minneapolis há uma semana, durante uma prisão pela compra de cigarros com uma suposta nota falsa.

Porém, pequenos grupos de manifestantes aproveitaram para destruir vitrines de bancos e comércios, além de roubarem lojas luxuosas, principalmente de artigos esportivos e eletrodomésticos.

O governador Andrew Cuomo disse nesta terça em uma coletiva de imprensa que o prefeito subestimou a situação.

"Não usaram força policial suficiente" para proteger o comércio, disse Cuomo. "O que aconteceu nesta última noite em Nova York é indesculpável", ressaltou.

Cuomo quer enviar membros da Guarda Nacional para reforçar a vigilância da cidade, mas isso deve ser solicitado pelo prefeito, que defende que a forma policial nova-iorquina, com 38.000 agentes, é suficiente para controlar a situação.

"Os roubos devem acabar", insistiu o governador.

Muitas cidades do país decretaram toque de recolher para enfrentar a violência, entre elas Los Angeles, Houston e Washington DC.

Novas manifestações foram convocadas nesta terça em Nova York, incluindo uma na tarde próximo ao quartel da polícia no sul de Manhattan, junto à ponte do Brooklyn.

Em meio à onda de protestos nos Estados Unidos, a protagonista da série Glee, Lea Michele, intérprete da personagem Rachel Berry, foi acusada de racismo através das redes sociais pela colega de elenco Samantha Marie Ware, que interpretou a Jane Hayward na última temporada da série.

Lea usou seu perfil no Twitter para se posicionar contra o racismo. “George Floyd não merecia isso. Este não foi um caso isolado e isso deve acabar. Vidas negras importam”, escreveu ela.

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Samantha compartilhou a publicação da colega e expôs para o público o que vivenciou enquanto trabalhava com Lea Michele. “Você se lembra de quando fez da minha estreia na TV um inferno? Porque eu nunca esqueci. Eu acho que você disse a todo mundo que, se tivesse a oportunidade, ‘cagaria na minha peruca’, entre outras pequenas agressões traumáticas que me fizeram questionar a minha carreira em Hollywood”, contou.

A trajetória de Lea Michele no seriado musical sempre foi regada a polêmicas sobre o seu comportamento com as colegas de elenco. O assunto dessa vez chegou aos mais comentados no mundo.

Em reunião por videoconferência, Donald Trump exigiu nessa segunda-feira (1°) que os governadores usem a força e prendam os manifestantes que tomam as ruas de mais de 130 cidades do país há uma semana. Os pedidos de repressão feitos por um presidente acuado na Casa Branca estão sendo usados por países rivais, que sempre foram criticados pelos EUA por abusos de direitos humanos, e agora acusam o governo americano de hipocrisia.

"Vocês precisam dominar a situação. Se não dominarem, estarão perdendo tempo. Eles vão atropelá-los. Vocês vão parecer um bando de idiotas", disse Trump aos governadores, segundo áudio divulgado pelo Washington Post. "Vocês devem prender e julgar as pessoas e elas devem ficar presas por um longo período."

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Protestos ontem foram registrados em várias partes do mundo. Em Berlim, no sábado, e em Londres, no domingo, as manifestações se concentraram diante da embaixada americana. Em Amsterdã, uma multidão lotou ontem a Praça do Dam, no centro da cidade. Em Paris, os franceses pediam justiça para Adama Traoré, negro de 24 anos morto pela polícia em 2016.

Em países rivais dos EUA, a onda de violência virou uma chance de ironizar Trump, principalmente na China, que vinha se queixando da interferência americana na repressão aos protestos em Hong Kong. Hua Chunying, porta-voz da chancelaria chinesa, respondeu pelo Twitter a uma mensagem do Departamento de Estado americano com a frase "Não consigo respirar", usada por George Floyd, negro asfixiado por um policial branco de Minneapolis, episódio que desatou a onda de protestos.

"Há diferentes razões para os tumultos, mas as semelhanças são avassaladoras: eles desafiam a lei, subvertem a ordem e são destrutivos", afirmou Hu Xijin, editor do Global Times, jornal ligado ao governo da China. Em vídeo, Xijin elogia o fato de Pequim ter mantido distância dos protestos nos EUA, diferentemente do que fizeram os americanos em Hong Kong.

Na China, a imprensa oficial tem tratado a crise como um sinal da decadência americana - que ocorre ao mesmo tempo em que o país acumula mais de 100 mil mortos pela pandemia de covid-19 e 40 milhões de desempregados. Na sexta-feira, quando chegou a notícia de que Trump havia sido levado para um bunker na Casa Branca, a hashtag #BunkerBoy chegou ao segundo lugar no Twitter.

Os protestos também viraram propaganda no Irã. O chanceler, Mohamed Zarif, publicou no Twitter um comunicado antigo em que o Departamento de Estado dos EUA critica a repressão iraniana, mas substituindo as menções ao Irã pela palavra "América". Até o aiatolá Ali Khamenei se pronunciou. "Se você tem a pele escura, e está caminhando nos EUA, não tenha tanta certeza de que estará vivo nos próximos minutos", dizia a frase em uma conta ligada ao líder supremo no Twitter.

"Este não é o primeiro de uma série de comportamentos ilegais e de violência injustificada por parte da polícia dos EUA", disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, em comunicado. "O caso se soma à longa história do Kremlin de assinalar os abusos de direitos humanos nos EUA."

Em Washington, autoridades do governo americano entraram na batalha de propaganda. "A diferença entre nós e muitos países autoritários por aí é que, quando algo como isso ocorre aqui, nós investigamos", declarou o assessor de Segurança Nacional Robert O’Brien, no programa This Week, da rede ABC.

"O problema é que a posição de Trump agora não é diferente da expressada por outros autocratas", escreveu Ishaan Tharoor, colunista do Washington Post, que lembrou os elogios do presidente americano aos protestos dos "coletes amarelos" na França, quando Trump usou a revolta para criticar o ativismo ambiental do presidente Emmanuel Macron. (Com agências internacionais)

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente americano, Donald Trump, prometeu nesta segunda-feira (1°) restaurar a ordem nos Estados Unidos após a maior explosão de protestos em décadas pela morte de um homem negro nas mãos de um policial branco, ameaçando os estados com a mobilização de militares se a violência não ceder.

Uma semana depois da morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos que foi asfixiado por um policial branco que o imobilizou em Minneapolis, os protestos se espalharam de costa a costa do país e as manifestações, a maioria pacíficas, degeneraram em distúrbios na noite de domingo.

Na capital, Washington, foram registrados distúrbios nas imediações da Casa Branca, com destroços, incêndios provocados pelos manifestantes, bandeiras americanas em chamas e muros grafitados com palavras de ordem contra a polícia.

A Casa Branca ficou às escuras e o presidente teve que se abrigar em um búnquer.

"O que aconteceu na cidade ontem à noite é uma desonra absoluta", disse Trump em discurso proferido na Casa Branca, ao mesmo tempo em que a Polícia dispersava um protesto a poucos metros da sede do Executivo americano.

Trump anunciou que mobilizará militares na capital para conter "os distúrbios, os saques, o vandalismo, os ataques e a destruição gratuita da propriedade".

"Estou enviando milhares e milhares de soldados fortemente armados", afirmou Trump, ameaçando as outras cidades com a mobilização do exército para "arrumar rapidamente o problema" se não tomarem decisões para frear os protestos.

Pouco depois de a polícia dispersar os manifestantes reunidos do lado de fora da igreja de Saint John, um edifício histórico perto da Casa Branca, danificado no domingo à noite à margem do protesto, Trump dirigiu-se ao local levando uma bíblia em uma das mãos.

Nesta segunda, a prefeita de Washington antecipou em quatro horas o início do toque de recolher, que começou às 19h locais (21h de Brasília). Em Nova York, as restrições à circulação vão começar às 23h locais (01h de terça-feira em Brasília).

Durante o dia, Trump responsabilizou a "esquerda radical" pelas mobilizações e criticou os governadores, chamando-os de "fracos" e exigiu que "se imponham".

Estes protestos ocorrem em um momento em que mais de 100.000 pessoas morreram nos Estados Unidos pelo novo coronavírus e em que as medidas tomadas para mitigar a pandemia acertaram um forte golpe na economia americana em um ano eleitoral.

A epidemia teve um impacto devastador na comunidade negra e alguns estudos mostram que esta população corre até três vezes mais riscos de morrer da doença do que os brancos.

"Temos filhos negros, irmãos negros, amigos negros e não queremos que morram", disse à AFP na localidade de Saint-Paul Muna Abdi uma manifestante negra de 31 anos.

"Estamos cansados de que isto se repita, esta geração não vai permiti-lo", afirmou.

- Duas necropsias -

A família de George Floyd divulgou nesta segunda-feira os resultados de uma segunda necropsia, que apontaram que o policial provocou-lhe asfixia mecânica, contradizendo as conclusões de um exame preliminar.

Os resultados definitivos entregues pelas autoridades do condado de Hennepin também se alinharam a esta tese e determinaram que Floyd morreu vítima de "homicídio", devido a uma "compressão no pescoço".

Também revelaram que a vítima tinha consumido fentanil, uma poderosa droga sintética. As imagens da morte de George Floyd, depois de ser imobilizado pelo policial que pressionou o joelho contra seu pescoço durante nove minutos, causaram indignação na opinião pública.

Trump condenou a morte de Floyd, mas também se referiu aos manifestantes como "pistoleiros".

- "Votem" -

Em Minneapolis, o irmão do falecido visitou um memorial improvisado no local do crime. Terrence Floyd pegou um megafone e disse: "Parem de pensar que nossas vozes não importam e votem" e pediu o fim da violência.

No centro da polêmica está o tratamento judicial que o policial Derek Chauvin, que está preso, terá pela morte de Floyd. Ele foi denunciado por homicídio culposo e deveria ter se apresentado a um tribunal nesta segunda-feira, mas a audiência foi adiada pra 8 de junho.

Depois de exibido um vídeo mostrando que outros policiais também mobilizaram o tronco e as pernas do falecido, os manifestantes pedem que os outros três agentes também sejam detidos.

Em muitos protestos, os manifestantes ficaram de joelhos, repetindo um gesto popularizado por esportistas para denunciar a violência policial contra os negros nos Estados Unidos.

Vários vídeos mostraram policiais em Santa Cruz, Califórnia, Nova Jersey e Michigan fazendo o gesto para dialogar com os manifestantes.

Mas em outra dezena de cidades, a tônica foi o envio de unidades da tropa de choque e efetivos da Guarda Nacional. Esta resposta esteve acompanhada do uso de blindados para transportar as tropas, assim como bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.

Joe Biden, que provavelmente será o candidato democrata para enfrentar Trump em novembro, reuniu-se nesta segunda-feira com líderes comunitários negros em uma igreja e prometeu a eles combater o "racismo institucional".

Biden é o único concorrente democrata para enfrentar Trump nas eleições de 3 de novembro, mas ainda precisa ser nomeado formalmente na convenção de seu partido.

A Sony divulgou um comunicado adiando o lançamento do novo PlayStation 5. O console seria apresentado ao mundo na próxima quinta-feira (4), mas por conta dos protestos desencadeados pela morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado por policial norte-americano no último dia (25).

"Nós decidimos postergar o evento do PlayStation 5 marcado para o dia 4 de junho. Entendemos que jogadores do mundo inteiro estão entusiasmados para ver os jogos do PS5, mas não achamos que agora seja um momento para celebração e, por enquanto, nós queremos recuar e permitir que vozes mais importantes sejam ouvidas", diz o comunicado, em tradução livre.

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A decisão da empresa é vai no mesmo caminho do tomado por outras gigantes da tecnologia, como o Google e a empresa de jogos EA Games. A  empresa não divulgou qual será a nova data de apresentação do console.

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As imagens de conflitos entre manifestantes e policiais se acumularam no fim de semana nos Estados Unidos à medida que as autoridades intensificavam seus esforços para reprimir revoltas com balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo em violentos atos que assolavam cidades em todo o país. Mas alguns policiais tiveram ações bem diferentes e proporcionaram imagens contrastantes que contavam outra história sobre o momento nacional turbulento após a morte de George Floyd, um negro de 46 anos, por um policial branco em Minneapolis, no Estado de Minnesota.

De Nova York a Des Moines, os policiais - às vezes de uniformes - ajoelharam-se ao lado dos manifestantes e marcharam em solidariedade com eles. O ato tornou-se sinônimo de protestos pacíficos nos últimos anos depois que o jogador de futebol Colin Kaepernick se ajoelhou como parte dos protestos contra a brutalidade policial contra cidadãos negros desarmados.

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Um vídeo que viralizou no Facebook mostra duas pessoas de uniforme se juntando a uma multidão ajoelhada no Queens. "Obrigado!", gritaram as pessoas na multidão. Os oficiais ainda permaneceram no local quando um círculo de pessoas começou a cantar nomes de americanos negros mortos em casos recentes infames.

Também houve aplausos na capital de Iowa quando os policiais de Des Moines se ajoelharam atrás de uma barricada policial. Dois fizeram uma oração pela segurança dos que estavam reunidos.

Policiais também foram filmados do lado de fora do tribunal em Spokane, no leste de Washington, ajoelhados a pedido dos manifestantes. Autoridades de segurança em Washington, Miami e Santa Cruz, na Califórnia, também tiveram atitudes semelhantes.

Mas o gesto nem sempre difundiu a tensão ou respondeu às demandas subjacentes dos manifestantes pelo fim da brutalidade policial. Aleeia Abraham, que filmou vídeos de policiais ajoelhados no Queens, disse à CNN que a ação foi insuficiente. "Isso é ótimo, é um bom sinal, mas o que realmente estamos procurando é ação", disse ela. "Ficarei ainda mais impressionada quando não formos pisadas e abatidas. Esse é o momento que estou procurando".

Chris Freeman, de 31 anos, na Filadélfia, disse que manifestantes exigiram que os policiais pronunciassem as palavras "vidas negras importam", concentrando-se principalmente nos policiais negros.

Em Michigan, o xerife do condado de Genesee, Chris Swanson, marchou com manifestantes. O mesmo fez o chefe de polícia de Norfolk. Em Atlanta, o chefe de polícia recebeu elogios por ter invadido uma multidão de manifestantes, estendendo as mãos e perguntando sobre as preocupações deles. "As pessoas estão chateadas, com raiva, com medo e eu entendo", disse a chefe de polícia Erika Shields. "Eles querem ser ouvidos."

Mas aderir às demandas dos manifestantes trouxe repreensão em alguns lugares. No centro da cidade de Washington, um oficial negro que se ajoelhou foi arrancado da multidão por seu supervisor e voltou para a fila.

De qualquer forma, as cenas ofereceram um contraste com imagens de policiais ignorando os apelos dos manifestantes em outros casos e, às vezes, recorrendo ao uso da força.

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