O papa Francisco lamentou nesta quinta-feira (21)os estragos da prostituição de mulheres e crianças em uma missa na Tailândia para 60.000 fiéis, após uma série de encontros com o rei e o patriarca dos budistas. O pontífice, sorridente mas visivelmente cansado, cumprimentou os católicos a bordo do papamóvel, sendo aclamado pela multidão.
A comunidade católica da Tailândia, que representa apenas 0,6% da população (menos de 400.000 pessoas), nasceu no século XVI com a chegada de missionários jesuítas. A última vez que um papa visitou o país foi em 1984, com João Paulo II.
"Penso especialmente nos meninos, meninas e mulheres, expostos à prostituição e ao tráfico, desfigurados em sua dignidade mais autêntica; naqueles jovens escravos das drogas", disse Francisco em sua homilia.
O papa, que usava um casaco dourado feito em um convento de Bangcoc, também recordou os "migrantes despojados de sua casa" e pediu que fossem tratados com misericórdia, porque "eles fazem parte de nossa família".
Na parte da manhã, ele já havia feito um apelo por proteção à dignidade das crianças, vítimas de exploração sexual em vários pontos do sudeste asiático.
"É necessário garantir a nossos filhos um futuro digno", disse o pontífice, em referência aos mais "vulneráveis, maltratados e expostos a todas as forças de exploração, escravidão, violência e abuso".
As declarações foram feitas no momento em que a assinatura da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e Adolescente completa 30 anos.
Três décadas depois, o sudeste asiático ainda tem muitos casos de exploração sexual dos mais jovens. Na região, quase 70% das vítimas de maus-tratos com objetivo de exploração sexual são menores de idade, afirma o relatório mais recente do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
Dezenas de milhares de crianças são exploradas por sistemas de câmeras de vídeo on-line, especialmente nas Filipinas, mas também na Indonésia, Camboja e Tailândia.
Diante do primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha, o papa elogiou os esforços da Tailândia para tentar "eliminar este flagelo".
A posse de pornografia infantil é considerada um delito desde 2015 no reino. No mesmo ano, o país criou uma unidade especial para investigar a exploração de crianças na internet.
- Ampla maioria budista -
O pontífice também abordou um de seus temas favoritos, o desafio migratório, que considera "um dos principais problemas morais que nossa geração enfrenta".
Francisco deseja ainda incluir na agenda da viagem a bandeira do diálogo inter-religioso. Ele elogiou uma "nação multicultural e diversa, que mostra respeito e estima pelas diferentes culturas e grupos religiosos".
O papa, 82 anos, fervoroso defensor do diálogo entre religiões, se reuniu com o 20º patriarca supremo, Somdej Phra Maha Muneewong, em um dos locais mais simbólicos do budismo, religião praticada por mais de 95% dos habitantes do reino.
Antes de entrar no templo histórico do patriarca de Bangcoc, Francisco tirou os sapatos.
Descalço e envolvido em um tradicional manto "jee worn", o papa ouviu atentamente as palavras do patriarca.
"Desde a chegada do cristianismo à Tailândia, há quatro séculos e meio, os católicos, mesmo sendo um grupo minoritário, desfrutam de liberdade na prática religiosa e por muitos anos vivem em harmonia com seus irmãos e irmãs budistas", disse o papa.
Depois do encontro com o primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha, o pontífice se reuniu com o rei da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, que assumiu o trono após a morte de seu pai, Bhumibol Adulyadej, em 2016.
O monarca - um dos homens mais ricos do mundo e protegido por uma draconiana lei que pune severamente qualquer crítica a seu respeito - é o responsável por garantir a unidade do reino, cenário de 12 golpes de Estado desde 1932.
Durante a visita, Francisco também terá um encontro em um hospital com cinco crianças de Khlong Toei, o maior bairro pobre de Bangcoc, onde vivem 100.000 pessoas.
Ele permanecerá no país até sábado, quando viajará ao Japão, a segunda etapa da visita ao continente, com elevado peso político e simbólico, pois visitará Nagasaki e Hiroshima, onde há 74 anos as bombas atômicas americanas provocaram 74.000 e 140.000 mortes, respectivamente.