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A vida na terceira idade é naturalmente recheada de cuidados. Com a pandemia e o isolamento social, tais cuidados precisaram se intensificar em relação ao bem-estar físico e à saúde mental das pessoas idosas. “Antes, mostrávamos carinho através de presença, do toque, do abraço. Hoje precisamos mostrar que amamos nossos idosos nos distanciando fisicamente deles”, diz Ana Cristina Costa França professora do curso de Psicologia da UNAMA - Universidade da Amazônia e psicóloga clínica.
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O isolamento social pode aumentar os casos de depressão e ansiedade, como também provocar uma rigidez mental, ou seja, pensar em um único modo de resolver as coisas, estar preso ao passado e não se permitir avançar. “No caso de idosos, é comum surgir uma rigidez mental, com frases como ‘sempre foi assim e sempre deu certo’, ‘por que tenho que mudar agora?’. Temos nos deparado cada vez mais com casos de depressão, ansiedade e outros transtornos emocionais”, conta a psicóloga.
Para lidar com esse “novo normal” não existe receita. Cada individuo deve buscar a própria maneira de passar pelo isolamento social. Porém há algumas dicas que podem ajudar.
“Ter uma rotina. Acordar, tomar banho, trocar de roupa (passar o dia de pijama é péssimo!). Tentar preencher o tempo com atividades prazerosas e diversificadas (jogos e quebra-cabeça são ótimas opções). Tentar fazer algum exercício físico (mesmo em casa, é possível fazer 30 minutos diários de alongamento, ioga, meditação etc.). Não passar o dia inteiro em frente à televisão, consumindo informações sobre a pandemia, e evitar excesso de informações sobre esse assunto”, lista Ana França.
Evitar pensamentos catastróficos é recomendado para ter uma boa qualidade de vida. “Evitar pensamentos catastróficos, como: ‘Estamos vivendo dias difíceis e insuportáveis’; ‘Isso vai piorar muito’ e substituir tais pensamentos por: ‘ Estamos realmente vivendo dias difíceis, mas vamos conseguir suportar e superar’; ‘Uma hora vai passar, cada um tem que fazer sua parte’”, aconselha a psicóloga. Ela reforça a necessidade de boa alimentação, uma rotina de sono saudável e exercícios físicos.
No ano passado, 62% dos idosos conectados à internet afirmaram que a pandemia contribuiu para inserção da tecnologia no dia a dia, segundo levantamento realizado pela Kantar IBOPE Media, empresa de pesquisa de mídia da América Latina. Os dados também mostram que as redes sociais mais acessadas pela terceira idade são o Facebook (98%) e o Whatsapp (95%).
A tecnologia torna-se uma grande aliada para os idosos no período de isolamento social, em especial para os que moram sozinhos. “O ser humano é um ser essencialmente social, precisamos do outro para lidar conosco. Então, é importante que esse contato seja mantido. Envelhecer não precisa ser sinônimo de tristeza ou solidão. Envelhecer pode (e deve) ser sinônimo de sabedoria e felicidade”, afirma Ana França.
A psicóloga diz como as pessoas mais jovens podem contribuir para a qualidade de vida dos idosos. “Estar presente na vida de alguém não precisa ser fisicamente. Ligue, faça videochamada, ensine seu pai/mãe/avô/avó a usar as tecnologias e dê atenção sempre que possível. Valorizemos a vida, a presença, as histórias e as sabedorias dos nossos idosos”, finaliza.
Terceira idade x isolamento social
A assistente social Walkiria Pereira Casanova teve a rotina modificada pela pandemia, mas acredita que a grande mudança gerada por esse contexto foi o despertar para a solidariedade. O compromisso com o próximo foi e continua sendo marcante para ela.
Walkiria conta que, assim como o resto do mundo, precisou aprender a lidar com o dito “novo normal”, mas que enfrentar muitos dias dentro de casa não é nada fácil. “A convivência diária é muito difícil, principalmente quando lidamos com pessoas caladas e difíceis. A ansiedade aumenta e exige de nós paciência para tentarmos fugir dela e do estresse. Enfim, ela testa nossos limites”, diz.
A assistente social revela que sente falta do convívio social com amigos e de realizar as atividades que antes costumava fazer. Por essa razão, Walkiria relata buscar alternativas para se manter ocupada. “Procuro me manter em atividade em casa mesmo, leio, cuido de plantas, cozinho, faço crochê, entre outros”, destaca.
Walkiria sempre teve familiaridade com o meio digital. Entretanto, diz que passou a utilizar a internet e as redes sociais com mais frequência e até mesmo para realizar suas compras e pagamento das contas. “Acredito que a internet está sendo a minha grande companheira nesse período. Sem ela, talvez a nossa vida tivesse se transformado no caos”, finaliza Walkiria
Terapia ocupacional
A terapeuta ocupacional Jacquie Grigório Santiago explica que a mudança abrupta na rotina de todas as pessoas, advinda da pandemia da covid-19, pode ser considerada um fator de desgaste físico e mental e responsável pelo aumento de dores musculares, menor mobilidade, crises depressivas, entre outros.
Segundo Jacquie, o distanciamento social impôs, especialmente aos idosos, um "break" no desempenho ocupacional, e que por causa disso até mesmo consultas de rotina foram suspensas. Quando liberadas, houve um enorme absenteísmo dos idosos, que passaram a ter medo de sair de casa.
Além disso, o isolamento tornou-se um fator de instabilidade dos aspectos psíquicos desse grupo, fazendo com que o medo e o rebaixamento do humor se tornassem comuns em uma população que já apresentava comorbidades como a depressão, demências e doença de Parkinson. “As limitações físicas próprias da idade e, em alguns idosos, já aceleradas por outras patologias, como Acidente Vascular Encefálico (AVE), por exemplo, se instalaram mais fortemente, comprometendo ainda mais sua independência e autonomia”, afirma.
A terapeuta ressalta a importância de evitar o rebaixamento do desempenho ocupacional e o agravamento dos déficits cognitivos dos idosos. Isso só é possível se o idoso conseguir a garantia de que seus vínculos afetivos estejam estáveis e saudáveis. Jacquie também menciona que o idoso precisa ser estimulado a projetar o futuro, independentemente da pandemia.
“Manter-se ativo implica também cuidar de si, estar consciente de suas fragilidades, perceber suas vulnerabilidades e, diante delas, ter possibilidades de amenizar os riscos de adoecimento e morte. Família, comunidade e Estado fazem parte da rede promotora de assistência integral à saúde do idoso e é também ela que tem responsabilidade nesta questão”, salienta.
Para que os idosos mantenham qualidade de vida, Jacquie destaca a sensibilização dos familiares, estabelecendo com clareza que o envelhecimento saudável depende da inserção no cotidiano, bem como da prática de atividades significativas e promotoras de vínculos afetivos e saudáveis.
“Neste sentido, a família ao oferecer afeto, cuidado e também ser cuidada, implica menores índices de violência contra a pessoa idosa, o que é um ponto extremamente importante”, complementa.
A terapeuta informa que, durante a quarentena, os idosos podem realizar atividades que sejam realmente significativas e agucem o interesse deles, promovendo a criatividade e a melhora da condição funcional.
“A realidade pandêmica trouxe algumas surpresas. Alguns idosos atendidos no ambulatório de Terapia Ocupacional foram motivados a iniciar alguma atividade significativa. As que há 30 anos tinham deixado a costura de lado começaram um projeto de confecção de máscaras. Outras foram confeccionando tapetes e colchas que posteriormente foram vendidos, sendo mais uma fonte de renda em plena pandemia e serviram de mimos destas vovós aos netos, sobrinhos e filhos”, conta.
Garantir a segurança dos idosos durante a realização dessas atividades é essencial. A terapeuta explica que é importante conhecer o cotidiano deles, considerando as suas dinâmicas familiares e, dependendo de suas condições socioeconômicas, buscar investir mesmo que de forma básica, em preparar o ambiente para caminhadas, banho de sol, entre outros.
“Verificar no ambiente interno se é possível a realização da atividade escolhida, mesmo que há muito tempo não a pratique, como por exemplo cantar, dançar ou mesmo costurar, caso haja interesse e condições funcionais para realizá-la. Identificar os pontos favoráveis ou não, para executar a tarefa e promover mudanças neste sentido, junto à família, se for o caso também, para que o idoso tenha garantido seu momento de realização, prazer, criatividade e comprometimento com sua saúde física e mental”, orienta.
Jacquie afirma que as famílias dos idosos têm um papel muito importante nesse processo. “Em todo o tempo, a família pode ser a melhor ou pior parceira. Estar junto dela sana temores, preconceitos e empodera a família e os cuidadores de idosos, no sentido de serem pontes para que o idoso se sinta seguro, amado e confiante em realizar novas conquistas”, diz.
Para os idosos que moram sozinhos, também existem recomendações. Segundo a terapeuta ocupacional, estes necessitam de um olhar mais atento do profissional e precisam ser incentivados a cultivar sua autonomia.
Jacquie também aponta para a necessidade de compreender que morar sozinho não é viver sozinho. “Nesta pandemia, foi buscado o contato de familiares e incentivada a visita, mesmo virtualmente, mais diária e não esporádica. Também, quando possível, um passar um tempo na casa de um ou outro. Ora pai na casa do filho, ora filho na casa do pai”, diz.
Por Carolina Albuquerque e Isabella Cordeiro.