Em reunião com figuras da centro-direita, como a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e o deputado estadual Alberto Feitosa (PSC-PE), em junho deste ano, o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, teria sido lançado como pré-candidato ao Senado. Ele é tido como um dos integrantes da linha de frente do presidente Jair Bolsonaro para 2022. No entanto, na ausência de uma figura solidamente alinhada ao bolsonarismo em Pernambuco, o nome do empresário já é comentado como uma possível presença do tipo na disputa do estado. Atualmente, os que cumprem esse papel são os conservadores Coronel Meira, presidente do PTB-PE e Clarissa Tercio (PSC-PE).
Gilson Neto tem, nos negócios, uma carreira ilustre que o levou ao assento do Turismo no Governo Federal. Sua experiência no Executivo, por outro lado, é nula e o empresário não dispõe de muita popularidade política além de ser um bolsonarista convicto. Veterinário, não seguiu carreira na medicina, sua área de formação, e acabou se encontrando no mundo do entretenimento e do turismo. O empresário também é músico, sanfoneiro e investe em artistas do ramo. Em maio de 2019, assumiu a presidência do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), após a passagem relâmpago de Paulo Senise.
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Machado também foi Coordenador do Grupo Temático do Turismo durante a transição para o governo do presidente Jair Bolsonaro e secretário nacional de Ecoturismo do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O ministro, que é dono de uma pousada em área de proteção ambiental, foi multado em R$ 3.500 por descumprir regras de turismo sustentável. Ainda em janeiro, o analista ambiental que multou o sanfoneiro foi exonerado da chefia da área de proteção ambiental Costa dos Corais. Sobre o episódio, à época, Neto disse que se tratou de um “erro fiscal” por desconhecimento da legislação local e que a multa havia sido retirada por essa razão.
Muito embora Gilson Machado Neto tenha ascendido timidamente no meio político pernambucano e brasileiro, não pode ser considerado uma figura política de peso e com condições de bancar a Frente Popular ou as demais forças viáveis encontradas em Pernambuco. Para entender o surgimento desta opção no cenário estadual, o LeiaJá convidou um cientista político, que acompanhará a entrevista a seguir.
— Elton Gomes, doutor em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professor universitário.
LJ: Estar ancorado no presidente é o melhor caminho para lançar Neto em PE?
EG: Ele vem de uma força partidária (PSL) que não é consolidada em Pernambuco. Embora tenha crescido junto ao antipetismo e ao discurso antissistêmico da lógica bolsonarista, (o PSL) não é um partido que construiu uma organicidade no estado ou mesmo capilaridade, que significa que o partido estaria representado nas principais praças locais: no Recife, em Jaboatão, Gravatá, Vitória, Petrolina. Claro que um candidato, seja de onde for, apoiado pelo presidente, que pode reduzir custos institucionais e tem um nível de popularidade nada desprezível - de 25 a 30% de apoiadores orgânicos - ganha certa dimensão. Isso daria fôlego a uma eventual campanha. Ao mesmo tempo seria uma coisa que dividiria os esforços da oposição. Há alguns anos que a gente vê em Pernambuco a Frente Popular se beneficiar muito da divisão dos seus opositores. Isso dá para ela mais recursos, mais presença e tempo de televisão. A realidade é que Paulo Câmara busca aqui (em PE) o seu sucessor.
Lançar múltiplas candidaturas de oposição seria um fenômeno semelhante às municipais em Recife: várias candidaturas contra o governo, mas acabou sendo uma disputa entre oligarcas familiares. A ruptura foi substancial e eles (João Campos e Arraes, PT e PSB) já refizeram a aliança.
LJ: Qual o perfil de Gilson Neto? Ele é relevante para política, nos dois espectros?
EG: Gilson é um candidato rico e com influência empresarial, mas desconhecido, sem capilaridade e atrapalha o esforço do restante da oposição, composta por possíveis candidaturas de Jarbas e Raul Henry, Raquel Lyra e Priscila Krause, para lançar uma alternativa na disputa de quem tem condições de ir contra a Frente Popular no segundo turno. Já se tem do governo uma posição de largada boa e as oposições não conseguem fechar consenso em torno de um único nome. A única vez que a Frente chegou perto de perder foi em 2014, com a morte de Eduardo Campos, que estava se lançando como presidente e lançando um governador, que foi Paulo Câmara.
LJ: Além do PSB, quem mais pode oferecer peso ao pleito pelo governo?
EG: Armando Monteiro não será candidato e não há outras lideranças fortes e consolidadas. Se ele (Gilson Neto) realmente for lançado, é pouco provável que se tenha condições de fazer nele um candidato viável de oposição em Pernambuco através da nacionalização da disputa. Em Pernambuco, Bolsonaro é impopular; na RMR, que decide o governo, Bolsonaro é impopular. No Sertão ele é popular, mas as populações são pequenas. O candidato que vier com esse rótulo de candidato de Bolsonaro terá mais demérito, mais prejuízo eleitoral. Se o cenário fosse outro, talvez esse candidato pudesse quebrar o monopólio do PSB.
LJ: Gilson Neto pode ser visto como uma tentativa de Bolsonaro de se aproximar do eleitorado pernambucano?
EG: Há algum tempo o presidente percebeu que se quiser se reeleger, ele não pode ficar restrito aos bolsões eleitorais no Centro-Sul. Bolsonaro precisa acabar com a hegemonia do lulopetismo no Nordeste. Sabendo que as capitais e metropolitanas do Nordeste são majoritariamente de esquerda, assim como os governadores são, Bolsonaro fez uma manobra muito inteligente: ele se encaminhou para a região periférica dos estados e levado por congressistas que são fortes nessas regiões, realizou obras. Foi ao sertão do Ceará, de Pernambuco, entregou as hídricas, obras do exército. Com os votos do Centro-Sul, mais alguns do Nordeste, Bolsonaro teria condições de se reeleger. Isso dá a ele fibra para lançar alguns candidatos a governador, como Ciro Nogueira, que conta com esse apoio para poder ir contra o petista Wellington Dias, no Piauí.
Esse não é o caso de Pernambuco. O governo de Paulo Câmara, apesar das muitas dificuldades, não é tão mal avaliado e nem conta com opositores que poderiam se articular em torno de uma bandeira federal para acabar com o PSB e seu sistema regional. Localmente, a dinâmica é muito à parte do restante do Nordeste e do país: a grande disputa não é quem tem apoio do Governo Federal, mas entre a Frente Popular e quem está contra ela. Além dos oligarcas que protagonizam o estado há décadas, sendo eles os Coelho, Arraes/Campos, Lyra.
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