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Celebrando o Mês da Consciência Negra, o LeiaJá buscou entender o significado da palavra "empretecer", tão usada por estudiosos, artistas, figuras políticas e lideranças do movimento negro. O termo, que exalta a contribuição intelectual preta na construção da identidade do Brasil, tem o intuito de dar a população a oportunidade de entender a ótica africana sobre determinados assuntos, assim como também, encorajar a sociedade em defender políticas públicas que incluam o negro em espaços de poder e decisões do país.

A palavra, que vem ganhando visibilidade nas redes sociais quando são discutidos temas que envolvem demandas étnico-raciais, também está, cada vez mais, sendo incorporada nos discursos políticos. Na última segunda-feira (20), durante evento realizado no Palácio do Planalto em que foi lançado um pacote de políticas públicas para a população negra, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que "assim como nós (negros) estamos empretecendo as universidades, vamos empretecer também os poderes constituídos nesse país".

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Além disso, Benedita usou parte de seu discurso para cantar a música Juízo Final, escrita por Nelson Cavaquinho, como síntese do desejo de negros e negras do país: "O sol há de brilhar mais uma vez/A luz há de chegar aos corações/O mal será queimada a semente/O amor será eterno novamente/É o juízo final/A história do bem e do mal/Quero ter olhos pra ver/A maldade desaparecer".

No evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, anunciaram um pacote de medidas, com um volume de R$ 68,9 milhões em recursos. Ao todo, 13 ações, articuladas entre diversas pastas, visam garantir ou ampliar o direito à vida, à inclusão, à memória, à terra e à reparação, eixos apontados por Anielle como guias das políticas do seu ministério.

"Quando me perguntam qual é prioridade do Ministério da Igualdade Racial, digo que é a vida digna para todas as pessoas. Não aceitaremos nada menos do que isso. Ano a ano, os dados persistem em comprovar que a fome e a insegurança alimentar, o acesso à educação e à saúde, o desemprego e as mortes violentas atingem de forma desigual a população negra. Fruto do racismo que impede que todo mundo possa viver bem”, pontuou a ministra.

Se um dos significados de empretecer é defender a inclusão de negros em locais de poder, Anielle fez questão de colocar isso em prática. Dois dias após o evento no Palácio do Planalto, a ministra informou que elaborou em conjunto com a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, uma "lista tríplice" com nomes de mulheres negras a serem consideradas pelo presidente Lula na escolha da pessoa para ocupar a vaga em aberto no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em 132 anos de história, o Supremo teve 171 ministros. Entre eles, apenas três homens negros e três mulheres brancas. Com esses números, lideranças do movimento negro pressionam Lula para que, pela primeira vez, uma mulher negra possa fazer parte da Corte.

Se a coisa tá preta, a coisa tá boa

Em entrevista ao LeiaJá, a ativista da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Daniele Braz, afirma que o sentido da palavra empretecer "é dizer que ficar preto também é bom". Ela revela que o termo faz críticas a abordagem da nossa linguística, "que coloca as coisas claras como boas e coisas negras como ruins".

"A gente pode falar também que a gente vai empretecer ao invés de clarear. Porque essa disputa de narrativa vem sendo feita nesses últimos anos, por conta da desconstrução do racismo estrutural que está presente na nossa língua também. Então, usar o termo empretecer é dizer que a gente pode melhorar a visão, se referenciando aos nossos irmãos pretos e a população preta, que ser preto também é uma coisa boa”, pontua Danielle, que também representa a Frente Nacional Contra Criminilização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto, e faz parte da coordenação colegiada do Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE).

Mesmo com o crescimento de debates sobre a temática, a ativista avalia o contexto da representação dos corpos negros nos espaços de poder intelectuais como “um lugar de disputa extremamente hostil”, pois a presença de pessoas pretas “ainda incomoda a branquitude que sempre hegemonizou esses espaços de poder”.

“No contexto de hoje, a gente vem lutando para manter nossos companheiros e companheiras nesses espaços de poder de forma qualificada, mas também tendo a consciência que esses espaços são totalmente violentos e ainda muito limitados para os corpos negros, onde a gente vive uma racialização do trabalho que foi construído, e a gente vem tentando desconstruir essa hegemonia branca e esse pacto da branquitude do poder e da intelectualidade no mundo, não é só no Brasil”, afirma.

Questionada sobre como enxerga o desempenho do país em incluir a população negra em espaços de poderes, a ativista afirma que nos últimos quatro anos, nos quais o Brasil foi comandado pelo Governo Bolsonaro, as tomadas de decisões sobre espaço de poder para pessoas negras foram “totalmente restringidas”, fazendo com que os movimentos negros se unissem para “pautar todos os desrespeitos e retrocessos de direito que a população negra estava enfrentando”. Ela acredita que, com a troca de gestão, algumas conquistas foram alcançadas, porém o povo preto ainda precisa criar “estratégias de sobrevivências” para conseguir ocupar espaços.

Intelectualidade negra e arte

Em 2022, a palavra empretecer tomou conta da folia do Sambódromo Marquês de Sapucaí. Com alegorias e fantasias opulentas, a escola de samba Beija flor de Nilópolis homenageou escritores negros de reconhecimento nacional e internacional através do enredo "Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor".

Os mais de 3 mil componentes da escola da Baixada Fluminense, ecoaram trechos do samba que citava Cruz e Souza, importante poeta do século 19 eternizado em obras como “Missal” e “Broquéis”. Além disso, a agremiação trouxe um carro alegórico que homenageava escritores e intelectuais como Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis, Lima Barreto, Conceição Evaristo e Djamila Ribeiro.

Foto: Douglas Shineidr/Riotur/Flickr

Na época, em entrevista à revista Elástica da Abril, o carnavalesco André Rodrigues afirmou que era muito importante uma escola de samba, que é considerada "um organismo que a sociedade civil não entende", trazer o debate sobre temas que envolvem a intelectualidade do povo preto. “A gente está produzindo debate no país desde 1932. Desde o primeiro desfile, tudo que a escola de samba faz é debatido, mas a gente não é reconhecido como arte.”

"A Lélia [Gonzalez, filósofa brasileira] fala exatamente sobre isso, sobre como esse corpo é admirado no carnaval, mas durante o ano ele está, sei lá, nas cozinhas. É exatamente o pensamento dela, e o pensamento que a gente escolheu colocar no desfile, que é uma crítica à essa branquitude, à forma como somos objetificados, e como se coloca também a própria escola nesse lugar", pontuou.

O artista ainda fez questão de lembrar que a intelectualidade do povo preto também resiste na arte e cultura do país. Para isso, ele citou o fundador da Beija flor, o sambista Cabana, como um homem preto de periferia que usou de sua inteligência para assumir um papel de compositor, músico e agente social.

"O Cabana é um intelectual, assim como outras pessoas que constroem a Beija-Flor são intelectuais em suas áreas. E a gente acaba falando sobre essa intelectualidade não-acadêmica para que ela também seja louvada, porque nós pretos somos feitos disso. Boa parte da nossa intelectualidade também é feita fora da academia", disse.

 

 

 

Nesta segunda-feira (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra, data importante na história do Brasil, que marca o assassinato de Zumbi dos Palmares, líder do movimento de libertação de pessoas escravizadas no período colonial no país.

Desde a época da colonização, o Brasil enfrenta problemas, atualmente seculares, de inclusão social, principalmente quando se trata da população negra, nos mais diversos espaços de poder, seja esse poder econômico, trabalhista, educacional, entre outros.

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Como forma de combater as desigualdades históricas, que existem e desfavorecem a população negra, majoritária no país, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018, confira algumas leis que fazem o papel de garantir que os direitos de acesso não sejam negados a essa parcela da sociedade.

Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288, de 2010) 

Redigido em 2009, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), o projeto do Estatuto reúne um conjunto de ações e medidas que, uma vez adotadas pelo Governo Federal, garantem direitos fundamentais à população negra em todo o território nacional. O texto original já possui algumas alterações, como a inclusão da Lei 14.553, de 2023. 

Atualização da Lei de Cotas (PL 5.384/2020) 

Sancionada em 2012 por meio da Lei 12.711, que determina que 50% das vagas de cursos de graduação sejam destinadas às pessoas negras, a Lei de Cotas foi recentemente atualizada, a partir do Projeto de Lei 5.384/2020. O novo texto aplica que os candidatos cotistas passarão a concorrer também nas vagas gerais, e apenas se não conseguirem nota para ingresso concorrerão às vagas reservadas. Além da abrangência das vagas, o PL inclui agora os quilombolas, e estende as cotas para a pós-graduação. O PL foi redigido pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). 

Lei que equipara injúria racial ao crime de racismo o (Lei 14.532, de 2023) 

A pena aumentada de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão tipifica o crime de injúria racial, quando a violência é direcionada a um único indivíduo, equiparando ao crime de racismo, quando o preconceito é contra uma coletividade. Segundo o texto, fruto de um substitutivo do senador Paulo Paim, todos os crimes previstos na Lei 7.716, conhecida como a Lei de Crime Racial, terão as penas aumentadas em um terço até a metade quando ocorrerem em contexto ou com intuito de descontração, diversão ou recreação. 

Lei que determina inclusão de dados sobre raça em documentos trabalhistas (Lei 14.553, de 2023) 

Sancionada pelo presidente Lula (PT) em abril deste ano, a normativa determina que a raça e etnia seja discriminada na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) como forma de subsidiar políticas públicas de inclusão. As informações de raça e etnia deverão ser fornecidas pelo trabalhador nos seguintes formulários: admissão e demissão no emprego; acidente de trabalho; inscrição de segurados e dependentes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); pesquisas do IBGE; registro feito no Sistema Nacional de Emprego (Sine); e na Relação Anual de Informações Sociais (Rais). 

*Com informações da Agência Brasil 

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta segunda-feira (20) a titulação de cinco territórios quilombolas, dos quais dois federais e três estaduais, estas no Estado do Maranhão. A ação faz parte do segundo "Pacote pela Igualdade Racial", que engloba um conjunto de 13 iniciativas, apresentado pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em parceria com outros dez ministérios e órgãos federais.

Uma das titulações assinadas se refere ao título integral para comunidade da Ilha de São Vicente, que fica em Araguatins, no Tocantins, e conta com 55 famílias. O outro, foi o título de imóvel para 89 famílias de Lagoa dos Campinhos, que fica em Amparo de São Francisco e Telha, no Sergipe. Ambos territórios federais.

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Ao lado de Anielle, Lula lançou o segundo pacote com as medidas pela igualdade racial. O Programa Nacional de Ações Afirmativas conta com R$ 9 milhões de investimento. De acordo com informações do Ministério dos Povos Indígenas, o pacote busca formular, promover, articular e monitorar políticas voltadas para mulheres e pessoas negras, quilombolas, indígenas, ciganas ou com deficiência.

Dentre as iniciativas do pacote, está o investimento de R$ 2 milhões destinados à regularização fundiária quilombola. Outros R$ 5 milhões estão previstos para cursos de capacitação para o uso de tecnologia social sustentável de baixo custo, formação empreendedora para a comercialização do excedente de produção e ações de transferência de tecnologia.

Hip-Hop

No evento, Lula também assinou decreto presidencial de reconhecimento do Hip-Hop como referência cultural brasileira, estabelecendo as diretrizes nacionais de valorização da cultura.

O menino José Vicente não via muitas opções quando olhava para o horizonte do Morro do Querosene, na periferia de Marília, interior de São Paulo. O caminho normal da vida era ser boia-fria como os pais, colhendo café ou laranja e cortando cana. Mas não era bem isso que queria.

O caçula de seis irmãos desejava mesmo ser jogador de futebol, outro lugar possível para pretos, pobres e periféricos. O ponteiro canhoto habilidoso ensaiou uma carreira promissora no Marília Atlético Clube, ganhou o apelido de Cafuringa, referência a um jogador das antigas, mas ele não tinha dinheiro para esperar que a salvação viesse de um olheiro.

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Descobriu que era um bom driblador também com as palavras, com poesias e letras de música. Era tão habilidoso que foi o segundo colocado no Festival Estadual da Música no final dos anos 1970, com apresentação do ex-locutor Osmar Santos - ele se lembra até hoje - e entrega do troféu pelo cantor Fagner. Mas a mãe, dona Isabel, falou que poesia não enchia a barriga de ninguém.

Foi nessa época que a Polícia Militar de São Paulo abriu concurso público. Nunca foi seu sonho, mas o salário de soldado era dez vezes maior que o de um boia-fria. Além disso, ele "podia colocar o revólver na cinta e falar grosso". Foram cinco anos nas baratinhas, os antigos veículos militares, trabalhados em paralelo ao curso de Direito em Guarulhos, na região metropolitana. Quando terminou a faculdade, pediu baixa na PM.

CURSINHO PARA JOVENS

Como advogado criminalista nos anos 1990, defendeu jovens negros e começou a lutar por bolsas de estudo. O projeto cresceu para um cursinho preparatório e hoje se transformou em uma universidade pioneira voltada à inclusão racial no ensino superior. Desde 2003, a Zumbi dos Palmares já formou cerca de 5 mil jovens, a maioria negros. Em parceria com o Estadão, a instituição também terá um curso para formação em Jornalismo.

Foi assim que Cafuringa se transformou no reitor José Vicente, hoje com 63 anos. Mas a maneira como pensa o menino preto da periferia de Marília que se tornou um dos líderes antirracistas mais conhecidos do País merece ir além do resumo.

COMBATE AO RACISMO

Nos últimos anos, o professor foi um dos pioneiros do movimento Cotas Sim, sobre a adoção de ações afirmativas no Brasil, em particular no ensino superior público. Esse movimento despertou a atenção de muita gente para o tema racial.

Outra ação importante, a adoção do feriado em todo o Estado de São Paulo para a Consciência Negra, neste dia 20 - proclamado Dia de Zumbi dos Palmares -, foi outra bandeira que ergueu anos atrás. Até uma rua próxima à universidade passou a receber o nome do próprio líder histórico do quilombo dos Palmares, em Alagoas, morto neste dia, em 1695.

Diante dessas medidas práticas, que mexem no cotidiano dos negros, o Estadão pergunta se ele prefere uma luta antirracista mais pragmática e objetiva. "Precisamos debater, reivindicar e denunciar. Mas precisamos de foco, direção e objetividade. Se não, a gente vai fazer um bom debate, mas não consegue tornar real nenhuma das ações que o debate estrutura. Sempre tivemos essa preocupação: a da ação direta", diz.

Mesmo com esses avanços, o reitor mostra cautela. "Estamos avançando, mas ainda muito lentamente e superficialmente na questão racial. É um momento enriquecedor e oportuno, mas a presença do negro ainda é limitada nos espaços de decisão."

Vicente fica com um pé atrás porque ainda é discriminado diariamente. Quando ele estaciona sua Mercedes preta num hotel de luxo para uma palestra, os funcionários pedem para ele ir mais adiante, abrir espaço para a chefia, como se fosse um motorista que ia esperar alguém. No momento em que entra na sala de reuniões, ele conta que sente os olhares de estranhamento, como se estivesse na sala errada.

Na saída, os participantes do próprio evento entregam a chave do carro como se ele fosse manobrista. Não há demérito algum em ser motorista ou manobrista; a questão é imaginar que negros e negras não possam ocupar outras posições, além dessas. "Na percepção deles, um negro de terno e gravata só pode ir buscar o carro, não pode ser o proprietário. Dinheiro não livra a gente de sofrer racismo", relata o reitor.

CONSCIÊNCIA

Vicente não se descobriu negro na época em que era apenas Cafuringa. Vivia só "a luta diária para defender a subsistência" e entender que o mundo era assim e já estava definido. Também não foi na época da PM. "Isso é curioso. Você vestia a capa de policial e as questões raciais não atravessavam o nosso olhar. Foi no curso de Direito que comecei a perceber, principalmente nas eleições para os diretórios acadêmicos", conta ele.

O reitor trabalha agora pela construção de Museu da História do Negro em São Paulo. Depois da concordância do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o museu vai ocupar a antiga sede do Centro Paula Souza, patrimônio público construído no século 19, tombado e localizado nas proximidades da Estação de Metrô Tiradentes, no Bom Retiro, região central.

Os recursos para restauração e manutenção do imóvel ficam sob a responsabilidade da Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural (Afrobras), do qual o professor é presidente do Conselho de Fundadores.

"O órgão estuda, técnica e juridicamente, a elaboração de uma proposta que permita o uso do prédio para instalação do Museu da História do Negro, um importante acervo cultural e histórico para o Estado", informou o Centro Paula Souza.

Mesmo ocupado com a atuação em tantas áreas, Vicente diz que a poesia nunca ficou de lado. O professor conta que ainda se aventura na ficção (prometeu revirar seu baú e depois mandar uns versos para a reportagem).

"Essa veia poética sempre esteve em mim. De vez em quando ainda sai algo. A poesia é uma mais elaborada, de passar sua mensagem. Não só sobre sentimentos, mas sobre a vida", afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O início do futebol no Brasil, ainda no final do século XIX, foi marcado pelo racismo. De origem etilista e praticada exclusivamente por brancos, nasceu como uma clara tentativa de segregação racial. Em Pernambuco, alguns nomes chegaram para quebrar paradigmas e ajudar a reescrever as páginas da história do esporte mais popular entre os brasileiros.

No Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro em virtude da morte de Zumbi dos Palmares, o LeiaJá relembra alguns baluartes antirracistas em solos e gramados pernambucanos. 

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Lacraia: o pioneiro

O Santa Cruz tem contribuição essencial na inserção do negro em nosso estado. Quando nasceu, trouxe consigo um manifesto contra o racismo. Fundador do clube em 1914, Teófilo Baptista Bacelar de Carvalho, mais conhecido como "Lacraia", aparece na primeira foto oficial do Santa, destoando da maioria esmagadora de brancos.

A reportagem ouviu Gil Batista Bacelar Neto, bisneto de Lacraia, o primeiro negro a jogar por aqui. Ele nunca viu o bisavô atuar, mas ouvia as histórias do pai, Gil Batista Bacelar Filho, e, além de herdar a paixão pelo Mais Querido, se orgulha de sentir correr nas veias um DNA tão importante para a causa.

“Eu costumo dizer que sou um branco de alma preta. Vários dos meus antepassados são de cor negra, não só Lacraia. Na nossa família nunca houve nenhum tipo de distinção, todo mundo trata todos como iguais. Afinal, a cor não interfere nem no caráter nem no potencial da pessoa”, disse Gil.

Vale lembrar que, inicialmente, o Santa tinha um uniforme preto com listras brancas em homenagem a Lacraia. O clube só passou a ser tricolor após perder um sorteio contra o Flamengo-PE, que também era alvinegro, já que segundo o regulamento da extinta Liga Sportiva Pernambucana, o Estadual não poderia ter dois times com a mesma tonalidade. Depois de jogador, Lacraia ainda comandou o Santa como técnico.

Seu maior arrependimento foi não ter comparecido para assinar a ata de fundação por estar prestando vestibular no dia 3 de fevereiro de 1914. Ali, além de um grito por igualdade racial, nascia a alcunha "Time do Povo". Já como ex-jogador, ele foi gerente por décadas de um dos maiores bancos do país.

"Meu pai foi homenageado com uma placa no ano do Centenário do Santa (2014). Foi um dia que ele ficou bastante orgulhoso. Ele me falava muito de Lacraia, do pouco tempo que conviveu com ele. Já meu avô, Gil Baptista Bacelar, o viu jogando ", disse o bisneto.

Gil Baptista Bacelar Filho recebe homenagem no centenário do Santa (Arquivo Pessoal)

Não existe nenhum registro oficial sobre a data do óbito de Lacraia, assim como nenhum familiar vivo para dizer. No entanto, informações não oficiais dão conta que ele faleceu no início da década de 1960.

Nilson: o quebrador de barreiras

Nilson Corrêa foi um dos poucos goleiros negros a ter destaque no Brasil até os anos 2000. Nascido em Vitória-ES, ele marcou época defendendo a meta do Santa Cruz, clube no qual ficou até 2004. Neste mesmo ano, se mudou do Arruda para os Aflitos, sendo campeão pernambucano pelo Náutico, derrotando a própria Cobra Coral na decisão. Desde 2019, o ex-goleiro virou treinador de futebol - seu último clube foi o Aymorés-MG.

“Existia a máxima de que goleiro negro não ia vingar no futebol, mas eu e o Dida (campeão do Mundo pelo Brasil em 2002, no Penta), mostramos que isso não passa de um preconceito. Teve também o Barbosa, goleiro da Copa de 1950. Mas na minha época, duvido que chegue em 10 ou 15% do número de goleiros que eram de cor negra”, relatou Nilson ao LeiaJá.

Para contarmos bem a história de Nilson é preciso voltar a 2000. Jogando pelo Santa, era vítima constante de injúria racial nos Aflitos, com o torcedor ecoando sons alusivos a um macaco. Em janeiro deste ano, foi publicada a Lei 14.532/2023, que equipara a injúria ao crime de racismo, podendo culminar em reclusão de dois a cinco anos, de cunho imprescritível e inafiançável.

Perguntado pela reportagem sobre o que mudou de lá para cá, Nilson fez um desabafo. “Cara, sinceramente...pouca coisa mudou. A diferença é que já há alguns anos, existe o advento da internet, então as coisas se reverberam. E eu também acredito que muitas pessoas vão pelo 'politicamente correto'. Diz que é antirracista nas redes sociais, mas se ver um negro, atravessa a rua. Se for um negro sendo pego pela polícia, fala 'Olha aí! Só podia ser preto’”, disparou.

Outros nomes

Além de Lacraia e Nilson, outros jogadores marcaram época na luta por equidade racial no futebol pernambucano. Um deles é José Roque Paes, ou simplesmente Traçaia. Mato-grossense de Cuiabá, Traçaia é até o hoje o maior artilheiro da história do Sport, com 202 gols marcados. Dentre esses tentos, foram 10 hatt-tricks e duas partidas em que o craque marcou quatro gols - Sport 10 x 0 Auto Esporte em 1955, e Sport 7 x 1 Íbis em 1959.

O artilheiro defendeu o Rubro-negro entre 1955 e 1963. Logo em seu primeiro ano na Praça da Bandeira, ergueu o título do Cinquentenário, sob o comando do lendário técnico Gentil Cardoso. Neste campeonato, sagrou-se o maior goleador, empilhando 22 bolas nas redes adversárias. Ao todo, Traçaia foi pentacampeão estadual (1955, 1956, 1958, 1961 e 1962).

Traçaia, maior artilheiro da história do Sport (Arquivo)

No Náutico, outro negro que destruiu dogmas foi o jamaicano Alan Cole, amigo íntimo de Robert Nesta Marley, o Bob Marley, um dos maiores nomes da música em todos os tempos. Marley, inclusive, era fanático por futebol e chegou a atuar de forma amadora no país da América Central. Lembrando que o Timbu foi o time mais “resistente” do Trio de Ferro a aceitar negros como atletas. 

No Santa Cruz, outros baluartes deixaram suas marcas. Na década de 1970, o pernambucano Ramon, nascido em Tracunhaém, se tornou o artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1973, superando Leivinha, do Palmeiras, e Mirandinha, do São Paulo, ambos com 20. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, fez 18.

Ramon no gramado onde iniciou sua carreira, o Arruda (Divulgação/SCFC)

Ramon deu seus primeiros dribles com a bola na Usina Trapiche, enquanto se dividia entre cortar cana de açúcar e alimentar o sonho de um dia se tornar jogador de futebol. Depois de deixar o Mais Querido, passou por clubes como Internacional, Vasco, Goiás e Ceará, até pendurar as chuteiras, em 1985. Alguns tricolores que podem ser lembrados são Zé do Carmo e Luiz Fumanchu, entre tantos outros.

Após a Prefeitura de Curitiba divulgar, em suas redes sociais, um vídeo de uma festa do Mês da Consciência Negra, realizada pela gestão municipal na última quarta-feira (15), internautas estão apontando falta de pessoas pretas nas apresentações do evento.

Nas imagens, é possível observar artesantos da cultura afro-brasileira, doces com desenhos de pessoas negras e bonecos representando alguns orixás. No entanto, no palco do evento, os cantores e os músicos que aparecem tocando tambores, são pessoas brancas. Isso está sendo o motivo para as duras críticas nos comentários e compartilhamentos da publicação.

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"Esqueceram de convidar os negros", escreveu uma seguidora. "Branco ganhando dinheiro à custas da cultura negra. Nenhuma novidade por aqui", criticou outra internauta.

Já outros seguidores observaram que na parte de trás do palco das apresentações, existem imagens de caravelas portuguesas e de um homem negro amarrado pelos braços. Internautas interpretaram a ilustração como se referindo a uma pessoa escravizada sendo açoitada. Mesmo com a repercussão, a Prefeitura de Curitiba ainda não se manifestou sobre o assunto.

 

Entre os dias, 18, 19, 20 e 21 de novembro, o Memorial da América Latina em São Paulo (SP) receberá a terceira edição da Expo da Consciência Negra. O tema deste ano é “Uma lei, muitas lutas”, que celebra os 20 anos da Lei 10.639/2003 - na qual inclui no currículo escolar nacional "História e Cultura Afro-Brasileira". 

O evento gratuito contará com palestras, debates, feira de empreendedorismo, oficinas culturais e shows. Entre os destaques estão nomes como Carlinhos Brown, Fat Familly, Mumuzinho, Baiana System, Baco Exu do Blues e Liniker. Para participar basta se inscrever no link. As palestras e debates serão transmitidas no YouTube.

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A coordenadora de Projetos e gerente da II Expo Internacional da Consciência Negra, Elaine Gomes fala sobre o objetivo da iniciativa: “Meu desejo é que as pessoas se sintam motivadas a agir contra o racismo estrutural. É a nossa História! Somos protagonistas desta luta diária. O autoconhecimento da negritude tem implicações sem volta no intelecto de uma pessoa negra. E é por meio da educação que nossa luta começa. Quando uma criança cresce com uma educação antirracista, todo um sistema é mudado”, explica.

Já, a Secretária Municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy esclarece o tema de 2023: “Sabemos que a aplicação da Lei 10.639/03 ainda não é completa. Isso é mais um sintoma do racismo estrutural que infelizmente persiste, é uma ferida aberta na sociedade brasileira. A educação é o principal caminho de transformação, por isso a importância de debater a lei. Por isso também a Expo existe, ela é fruto direto da história e da cultura afro-brasileiras, valoriza e expressa esse protagonismo e é um poderoso instrumento de promoção da igualdade”, afirma.

Outras informações no site: https://farolantirracista.sp.gov.br/.

Serviço - III Expo da Consciência Negra

Data: 18, 19, 20 e 21 de novembro de 2023

Horário: 10h às 22h

Local: Memorial da América Latina

Endereço: Avenida Mário de Andrade, número 664 - Barra Funda, São Paulo/SP

Ingressos gratuitos online

O Dia da Consciência Negra, celebrado na próxima segunda-feira, 20, será feriado em todo o Estado de São Paulo pela primeira vez neste ano. O feriado estadual foi instituído por uma lei que entrou em vigor no mês de setembro passado. Em outros cinco Estados e em cerca de 1.260 municípios a data também é considerada como um feriado.

Veja quais Estados instituíram feriado no Dia da Consciência Negra:

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- Alagoas;

- Amapá;

- Amazonas;

- Mato Grosso;

- Rio;

- São Paulo.

O Dia da Consciência Negra é feriado nacional?

O levantamento do número de municípios é da Fundação Cultural Palmares. Em 2011, a lei federal 12.519 instituiu o 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, mas não transformou a data em feriado nacional. Por isso, cabe a cada Estado e município decretar ou não feriado, em seu âmbito.

Existe um projeto de lei (3.268/2021) em tramitação no Congresso Nacional que, se aprovado, tornará o dia 20 de novembro feriado nacional. De autoria do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), o projeto já foi aprovado pelo Senado e aguarda tramitação na Câmara dos Deputados.

O que se comemora no Dia da Consciência Negra?

A data foi instituída para proporcionar reflexões sobre o valor e a contribuição da comunidade negra para o Brasil, além de debater a necessidade de combater o racismo e de dar visibilidade à cultura africana.

Quem foi Zumbi dos Palmares?

Em 20 de novembro de 1695 o líder quilombola Zumbi foi assassinado. Ele tinha 40 anos e chefiava o Quilombo dos Palmares, o maior quilombo do período colonial, então situado na capitania de Pernambuco e hoje no município de União dos Palmares, em Alagoas.

Quilombos eram comunidades formadas principalmente por pessoas escravizadas que tinham conseguido fugir das propriedades. O governo e os proprietários de pessoas escravizadas combatiam essas comunidades para tentar capturar os fugitivos.

Em 1694, o Quilombo dos Palmares foi atacado e destruído pelo grupo do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. A maioria dos moradores foi capturada e escravizada, mas Zumbi sobreviveu e conseguiu fugir.

No ano seguinte ele foi delatado por um de seus capitães, Antônio Soares, e morto pelo capitão Furtado de Mendonça, que recebeu prêmio de 50 mil réis do rei de Portugal, Pedro II.

A cabeça de Zumbi foi cortada, salgada e levada ao governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro. Ele determinou que a cabeça fosse exposta em praça pública do Recife, para acabar com o mito da imortalidade de Zumbi.

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) lançou, nesta segunda-feira (6), na ocasião da 1ª Jornada Antirracista, a instituição do “Selo Alepe Antirracista”, rótulo que identifica atividades, programas e ações promovidas pela Casa, que sejam ligadas ao combate ao racismo.  

A proposta é instituir uma política permanente no legislativo estadual a partir da criação do selo, como uma espécie de reconhecimento interno vinculado à pauta. 

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Medalha Antirracista Marta Almeida  

Além do selo, a Casa Legislativa deverá instituir, por meio de um projeto de lei, a criação da medalha Antirracista Marta Almeida, a ser dada a instituições públicas e privadas, que levantem ações de combate ao racismo em seus meios. 

Segundo a deputada estadual Dani Portela (PSOL), a iniciativa visa trazer uma interseccionalidade das questões raciais especialmente em defesa das mulheres, da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, queer, intersexual, assexual, pansexual, não-binários e outras orientações e identidades de gênero (LGBTQIAPN+), dos povos e comunidades tradicionais, dos povos de terreiro e dos quilombolas. 

“Esse é um esforço coletivo da superintendência geral da Alepe, juntamente com a nossa mandata, da deputada Rosa Amorim e dos deputados João Paulo e Doriel Barros, que foi apresentado à Mesa Diretora desta casa na construção da 1ª Jornada Antirracista da Alepe. É muito importante ver essa Casa Legislativa atuando de forma contundente para a construção de um estado com equidade racial”, afirmou a parlamentar. 

Marta Carmelita Bezerra de Almeida era pedagoga e ativista, e morreu em setembro de 2023, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ela foi coordenadora do Movimento Negro Unificado de Pernambuco (MNU-PE), além de ter feito parte, como membro, do Comitê Institucional Metropolitano de Mulheres Negras da Secretaria Estadual da Mulher e do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (COEPIR/PE). 

Confira a programação completa da Jornada Alepe Antirracista, que acontece de 6 a 10 de novembro, no Auditório Sérgio Guerra, na Alepe, no centro do Recife. 

I JORNADA ALEPE ANTIRRACISTA 

6 DE NOVEMBRO (SEGUNDA-FEIRA) 

14h – Apresentação do Maracatu Baque Virado Nação Tupinambá 

14h15 – Abertura da 1ª Jornada Alepe Antirracista 

15h – Conferência: Reescrever a estrutura, desconstruindo o que nos faz subservir – palestra Lepê Correia 

16h – Conferência: Desconstruindo o Racismo Institucional para a efetiva implementação da Igualdade Racial – palestra Bernadete Figueiroa 

16h45 – Debate com mediação do deputado João Paulo (PT) 

17h30 – Lançamento da exposição ‘Lia de Itamaracá: Cirandar é resistir!’ e apresentação de Lia de Itamaracá 

18h – Encerramento 

7 DE NOVEMBRO (TERÇA-FEIRA) 

9h – Apresentação de Orun Santana 

9h15 – Conferência: Do sofrimento psíquico à política antirracista nas instituições – palestra Maria de Jesus Moura 

10h – Conferência: Aspectos da Sociogênese do Racismo Estrutural no Brasil: processo das desigualdades e expropriação das identidades – palestra Edilson Fernandes de Souza 

11h – Debate com mediação do deputado Doriel Barros (PT) 

11h45 – Apresentação do Coco dos Pretos 

12h – Encerramento 

8 DE NOVEMBRO (QUARTA-FEIRA) 

9h – Apresentação de Odailta Alves 

9h15 – Conferência: Mulherismo Africana como um dos Caminhos para Centramento e Restauração do povo Africano (Continente e Diáspora) – palestra Lilian Katchaki 

10h – Conferência: Antirracismo na Educação: uma experiência Quilombola – palestra Zezito Araújo 

11h – Debate com mediação da deputada Rosa Amorim (PT) 

11h45 – Apresentação de Isaar, com o show “Coisa de Preta” 

12h – Encerramento 

9 DE NOVEMBRO (QUINTA-FEIRA) 

9h – Afoxé Alafin Oyó 

9h15 – Conferência: Fortalecimento da Identidade: Construindo a Cultura do Antirracismo – palestra Bernadete Lopes 

10h – Conferência: Antirracismo e saúde mental: importância das questões étnico raciais na construção de políticas públicas de atenção à saúde mental em Pernambuco – palestra Guilbert Araújo 

11h15 – Debate com mediação da deputada Socorro Pimentel (União) 

11h45 – Apresentação de Gabi da Pele Preta 

12h – Encerramento 

10 DE NOVEMBRO (SEXTA-FEIRA) 

9h – Apresentação de Valdi Afonjah 

9h15 – Palestra com a ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco 

10h15 – Apresentação de Iyadirê Zidanes 

10h45 – Debate com mediação da deputada Dani Portela (PSOL) 

11h45 – Apresentação do Grupo Bacnaré – Balé de Cultura Negra do Recife 

 

O Sport lançou, nesta quarta-feira (1), um novo padrão que homenageia o mês da consciência negra. Por ser o uniforme especial, não será utilizado pelo Leão nos jogos da Série B do Campeonato Brasileiro.

"Novembro é o mês da Consciência Negra. Momento de reafirmar a importância do legado afro-brasileiro. Uma história construída com muita luta, resistência e grandeza. A nova camisa da Cazá do Sport é um tributo à força, resiliência e inegável contribuição da comunidade negra", postou o clube nas redes sociais.

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Segundo a loja oficial do clube, os modelos masculinos, femininos e infantis já estão disponíveis nas lojas físicas. Em breve, eles estarão à venda nas plataformas digitais.

Valores:

Masculino: 157,90

Feminino: 149,90

Infantil: 143,90

Dia da Consciência da Negra

O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro, dia da morte de Zumbi, chefe do Quilombo dos Palmares. 

Popularizada com o nome de ‘tatuagem’, a técnica de marcar o corpo com desenhos e símbolos, entre outros elementos, é uma prática que acompanha toda a história da humanidade. Presente nas mais diferentes culturas e tradições, desde os tempos antes de Cristo, esse tipo de modificação corporal transcendeu limites políticos e sociais e hoje está inserida nas mais diversas esferas da sociedade, desde as camadas mais pobres às mais abastadas. 

Porém, apesar de popularizada e aceita socialmente enquanto expressão artística na maioria dos espaços hoje em dia, a tatuagem continua esbarrando em alguns padrões coloniais e eurocêntricos que acabam por limitar seu acesso à determinada parte da população. Para as pessoas pretas, a decisão de marcar o próprio corpo com uma tatuagem vai muito além da vontade do indivíduo de tatuar-se, passando por aspectos como raça, racismo e branquitude, preceitos que ainda costumam dinamizar diferentes práticas no nosso cotidiano.  

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A falta de representatividade e informação sobre tatuagem em peles pretas começa na pouca ou nenhuma ocorrência de pessoas negras nos feeds de tatuadores, sites e revistas do segmento, e segue por um caminho de (pré)conceitos estabelecidos pelo senso comum que pregam a ideia de que tattoos só ficam bonitas em peles brancas e claras. Para o tatuador pernambucano Anderson Lopes, também um homem preto, isso não passa de uma ideia racista e preconceituosa: “Tatuagem é para todo mundo.”, afirma durante entrevista ao LeiaJá.

Anderson tatua há uma década e tem como especialidades os estilos fineline e o realismo. Em seu estúdio, localizado no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, ele procura atuar não só como tatuador, mas também como agente multiplicador de informação, aliando ao trabalho com as tintas e agulhas a função de esclarecer dúvidas e desconstruir mitos. “Tatuagem em pele negra fica bom sim, mas a falta de conhecimento das pessoas e a falta da escolha de um bom profissional acaba atrapalhando”.

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O tatuador costuma compartilhar seus trabalhos em peles pretas pelas redes sociais a fim de que esse público se veja representado. Além disso, ele também faz publicações informativas desmistificando o preconceito e dando dicas de cuidados antes e pós-tatuagem que ajudam a garantir o sucesso da tattoo. Segundo o profissional, não há grandes diferenças entre tatuar uma pele branca e uma pele preta, muito embora elas possam comportar-se de maneiras distintas na hora de receber os pigmentos. 

O resultado da tatuagem na pele preta vai depender de alguns fatores como a escolha de um profissional capacitado, que faça uso de tintas de qualidade e equipamentos seguros, além de outros, como por exemplo, o estudo da pigmentação da tinta, do local do corpo onde o desenho será feito e do sombreamento. “A tinta (quando entra) vai pra melanina e fica abaixo dessa camada, que é como se fosse uma película, então, quanto mais melanina mais escura a cor do pigmento fica. Em peles muito escuras os tons acabam não ficando muito destacados mas isso não quer dizer que você não pode ser tatuado. Eu indico tons sombreados. Com um estilo de cor sombreado você consegue deixar uma tatuagem boa.”, explica Lopes.  

Cortesia

Já em relação aos cuidados pós-tattoo, esses são os mesmos para qualquer tipo de pele. É importante se proteger do sol, evitar banhos de piscina e mar, e manter a região bem hidratada até que ocorra a cicatrização. “A tatuagem é um ferimento, então, é necessário cuidar, passar uma pomada, hidratar, beber bastante água. Depois que cicatrizar, basta usar protetor solar, hidratante, ela vai ficar sempre viva e bonita”, ensina o tatuador. 

Tatto para todos

A luta pelo fim do racismo no mundo da tatuagem vem ganhando adeptos em todo o país há algum tempo. Nas redes sociais, é possível encontrar perfis de profissionais especializados em pele preta que, além de compartilharem suas artes, também disseminam conhecimento formando uma rede colaborativa e informativa. Perfis como o @pretosas - que mapeia tatuadoras mulheres e indígenas pelo Brasil -, e o do tatuador aposentado soteropolitano Finho, criador do projeto #pelepretatatuada, somam forças aos de profissionais como o pernambucano Anderson Lopes na luta pela descolonização das práticas da tatuagem no país. 

Uma das integrantes da equipe do estúdio de Anderson, a body piercer Carla Moana, complementa a discussão apontando a falta de referências no segmento: “Precisamos destruir essa cultura. Sobretudo aqui no Nordeste, as pessoas aqui não têm a pele clara como as que moram na Europa. É importante trazer essas informações para essas pessoas que têm tanto medo de se tatuar”. 

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A profissional lembra ainda que, para além do apelo estético das tattoos, essas também funcionam como ferramenta de autoestima, pertencimento e afirmação. Sentimentos que não podem nem devem ser limitados a determinada parcela da população, sobretudo em virtude de sua raça e cor de pele. “É uma questão estrutural. Esse racismo que sempre coloca que o negro é menor, que ele não pode ... Precisamos trazer essas informações pra mostrar que essas ideias são pura maldade”. 





 

Compre de preto e venda para todos. Podemos dizer que esse é um dos pilares do movimento Black Money, que busca fortalecer os afroempreendedores e fazer o capital girar entre as pessoas pretas o máximo de tempo. Além disso, é uma iniciativa que fortalece a comunidade preta, capacitando e instrumentalizando jovens autônomos, com geração de emprego, ampliação de renda e fomento do crédito.

Nina Silva é CEO do Black Money, um hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital junto a transformação do ecossistema empreendedor negro, com foco em comunicação, educação e geração de negócios. Ela detalha que o movimento é o apoio mútuo entre as pessoas pretas dentro do sistema capitalista que vivemos. “A gente atua e sobrevive enquanto a manutenção do capital. Nada seria diferente também na manutenção das vidas e da possibilidade de prosperidade de pessoas pretas”, diz. 

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A CEO confirma ainda que o movimento com “m minúsculo”, é um movimento de apoio para fazer com que o capital, seja ele financeiro, social ou intelectual de pessoas pretas, seja inserido intencionalmente no esforço e progresso de outros negros. “Quando a gente bota o movimento com 'M maiúsculo', que é a institucionalização, a gente data de cinco anos, que foi o intuito dentro da minha ideologia e também o meu amor a tecnologia junto ao meu sócio Alan Soares, que já atuava também pensando na emancipação da autonomia das pessoas pretas no Brasil”, destaca.

No e-book disponibilizado pela instituição Black Money, é detalhado que os afroempreendedores possuem o crédito 3x mais negado do que um não negro. Além disso, as pessoas pretas, em sua maioria, têm como origem empregos de baixo salário, onde ficam impossibilitados de construir reserva de capital. 

Um estudo da consultoria IDados, publicado no ano passado com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que cerca de 30 milhões de brasileiros que recebem apenas um salário mínimo, quase 20 milhões são negros, o que representa 43,1% dos negros ocupados até setembro do ano passado.

Para tentar melhorar a realidade dos afroempreendedores, o movimento Black Money, enquanto instituição, consegue atuações locais com os cursos e apoios específicos aos afroempreendedores. “A gente acabou de acelerar 120 negócios no país, onde cerca de um terço desses negócios eram da região Nordeste”, assegura Nina Silva, que já conseguiu impactar com o seu movimento cerca de mil negócios liderados por negros. 

Nina também facilita a ponte dos empreendedores pretos junto com empresas que estão alinhadas à luta antirracista. “Essas alianças precisam ser feitas de maneira muito horizontal. Nosso intuito, para além de colocar colaboradores em grandes empresas, é fazer com que essas pessoas entrem no mercado de tecnologia de igual pra igual com não negros. Não adianta só essas empresas nos procurar porque precisam fazer um movimento reparatório de ter pessoas pretas no seu quadro. Precisa também fazer um movimento mais amplificado”, assevera.

Junto com uma outra mulher preta, Manoela criou o Instituto Enegrecer. Foto Arnaldo Carvalho/Divulgação

Enegrecer as empresas dá lucro

É o que afirma Manoela Alves, advogada, professora e CEO do Instituto Enegrecer, que atua para inspirar práticas organizacionais socialmente responsáveis e inclusivas. A CEO destaca que pesquisas mostram que empresas que têm perfis diferentes de pessoas, que valorizam a diversidade, são empresas que geram mais lucros e conseguem se manter na ponta da inovação. 

“São empresas que têm suas equipes muito mais motivadas, que conseguem atender com muito mais fidelidade os anseios de seus clientes. Pensar um ambiente organizacional mais responsável e mais inclusivo é a principal missão do Instituto Enegrecer”, diz Manoela.

Criado há um ano, o Enegrecer vem numa expectativa de, junto com as organizações, perceber qual o papel das empresas para combater o racismo, a LGBTfobia e todo tipo de discriminação. “No instituto a gente entende que as instituições correm grave risco quando elas têm colaboradores com condutas discriminatórias, com o risco de sofrer indenizações, de precisar passar por processos que podem acarretar em condenações milionárias”, fala a advogada.

Enegrecer não só no período da Consciência negra

Manoela comenta que as empresas precisam entender que a pauta do combate ao racismo e o "enegrecimento" das instituições precisam crescer durante todo o ano, não só ser lembrado ou feito como algo pontual, seja para atender a lei ou o período de debate da Consciência Negra. 

"As minorias marginalizadas, elas têm um potencial muito grande e nós enquanto sociedade temos uma responsabilidade muito grande com elas. Indiscutivelmente ainda temos muito para crescer. A gente não pode pensar em igualdade racial só em novembro. Mas esse movimento [de inclusão] tem crescido e se apresentado de forma intensa. Nós trabalhamos arduamente para que essas pautas sejam pensadas como prioritárias. É uma agenda que vem da ONU e que deve incluir organizações públicas e privadas numa missão única que é para vencer todo tipo de discriminação”, pontua Manoela.

Guinada

Povo preto ajudando povo preto fortalece as instituições e auxilia para que essa parcela da sociedade saia da base da pirâmide. Por isso, o reforço: o aumento na produção e consumo entre as pessoas pretas faz com que o dinheiro permaneça por mais tempo na comunidade, gerando renda e emprego. O poder de consumo da população menos favorecida se torna maior e a economia começa a girar de forma mais sustentável e benéfica para essas pessoas.

Os afroempreendedores podem procurar acessar o site do Movimento Black Money (www.movimentoblackmoney.com.br), onde podem encontrar capacitações e treinamentos para melhor empreender - tudo de graça.

Diante do racismo velado, pretos e pretas buscam estratégias pessoais de proteção, como o estagiário de TI Lucas Oliveira, de 21 anos, que não usa capuz ou touca nas compras e sempre vai direto à prateleira onde está o produto desejado. "Se eu ficar circulando pela loja, tenho certeza de que um segurança vai aparecer", diz o morador da Penha, zona leste. Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que sete em cada dez negros já passaram pelo drama dele. Os rituais particulares protegem, mas não atacam frontalmente o problema, alertam especialistas, que destacam alguns pontos contra o racismo velado.

FILHOS

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Para Michelle Levy, CEO e cofundadora da consultoria Filhos no Currículo, especializada na criação de políticas parentais, é importante criar filhos com uma visão antirracista desde cedo. "Tratar o assunto com eles, principalmente até os 6 anos", defende Michelle. Humberto Baltar, do coletivo Pais Pretos Presentes, rede de apoio para educar pessoas pretas, frisa a relevância de criar filhos "na diversidade" e não "para a diversidade".

ESCOLA

Então, verifique se a escola do seu filho possui temáticas étnico-raciais e de diversidade na grade escolar e na proposta pedagógica, sobretudo sobre a história e a cultura afro-brasileira e africana que não sejam apenas a escravidão. É importante também mostrar pessoas pretas em posição de protagonismo. A Lei 10.639/03, de 2003, torna obrigatório o ensino de "história e cultura afro-brasileira" nas escolas oficiais e particulares.

TRABALHO

Procure conteúdos antirracistas no trabalho. Pesquise se a empresa tem comitê de diversidade e cartilhas de inclusão. Se a posição é de direção, pense na proporção de negros e brancos entre os seus colaboradores.

AMIGOS

Converse com amigos pretos sobre as diferenças na forma com que brancos e pretos são tratados - e compartilhe experiências com os negros, defende Leizer Pereira, CEO da Empodera, que prepara as empresas para inclusão.

DENUNCIE

Denuncie se achar necessário, aconselha ainda Dennis Oliveira, da USP. Cuide do vocabulário e leia obras de autores negros, como Racismo Estrutural, de Silvio de Almeida, e Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro.

O que você faria se um policial, aos gritos, apontasse uma arma para você quase em frente a sua casa? Alexandre Marcondes levantou as mãos e perguntou o que acontecia. Segundo o advogado de 45 anos, o PM afirmou que ele estava "em atitude suspeita" por usar máscara contra a covid e por causa de um adolescente que andava na mesma rua do Alto da Lapa, na zona oeste. Os dois estariam planejando assaltar um casal de idosos, segundo o policial.

O advogado denunciou atitude racista. A PM nega e afirma que "toda abordagem é realizada com base em critérios objetivos e legais". Experiências como a de Alexandre ilustram o preconceito velado ou camuflado. Ele não é explícito, como chamar alguém de "macaco", mas é comum. Está nos comentários sobre o cabelo e a cor da pele, no medo ao cruzar com um homem preto na rua ou quando uma funcionária suspeita que a cliente está furtando uma blusa, como aconteceu em uma loja Renner no Shopping Madureira, no Rio, na semana passada.

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O OLHAR. Depois da abordagem, Alexandre sentiu as pernas bambas, sentou na calçada e chorou. Olhou para se certificar de que sua filha, de 6 anos, não tivesse visto a cena da sacada da casa onde moram na região nobre. O episódio, registrado pelas câmeras de TV no dia 2 de outubro, foi denunciado na Ouvidoria da Polícia Militar. A OAB-SP afirmou que enviou um ofício ao comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo e outro ao procurador-geral de Justiça.

Pesquisa qualitativa nacional realizada pelo Instituto Locomotiva no ano passado aponta que 84% das pessoas reconhecem que há racismo no País em relação aos negros, mas apenas 4% se consideram preconceituosos. "O racismo brasileiro não é o pior nem o melhor, mas ele tem suas peculiaridades, entre as quais o silêncio e o não dito, que confunde vítimas e não vítimas", afirma o antropólogo Kabengele Munanga, da USP.

Para o casal Ana Paula Inácio Pereira e Gilmar Dias Inácio Pereira, o motivo da preocupação também é a frequência das abordagens policiais. Eles têm um Jeep Compass branco na garagem do condomínio localizado no Lausanne, zona norte da cidade. "Para a sociedade, a gente não deveria ter esse carro. Normalmente os outros carros passam e o nosso fica." O problema não acontece só em São Paulo.

A pesquisa "Elemento suspeito: racismo e abordagem policial no Rio de Janeiro", realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania do Rio de Janeiro (Cesec), mostra que 63% das abordagens na cidade tiveram como alvo pessoas negras em 2021. As abordagens policiais ilustram o racismo velado na opinião de Rafael Alcadipani, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. "Este é um caso exemplar do racismo estrutural no Brasil."

PATROA

A enfermeira aposentada Renilda Aparecida estava preparando o almoço quando tocou a campainha de sua casa em Tremembé, região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Quando chegou ao portão, a senhora de 68 anos ouviu. "A senhora pode chamar a patroa?". Cida, como é conhecida, era a dona da casa. "Eu fechei a cara e disse ‘A patroa sou eu’. Nem perguntei o que eles queriam", conta.

Essa "confusão" acontece também com José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares. Ele conta que dificilmente é recebido como professor nos eventos. Situação semelhante foi vivida pelo ex-ministro da Igualdade Racial, Eloi Araújo. Durante um passeio com a família em Petrópolis (RJ), ele estacionou o carro e ficou esperando o retorno da filha e da mulher. Aí, ele ouviu: "Você pode estacionar meu carro".

Mulheres negras sofrem ainda com a objetificação do corpo, que gera violência. Destaque da escola de samba Rosas de Ouro, Alessandra Vania conta que seu cabelo virou um símbolo de afirmação. "Os olhares não me diminuem. Quanto mais eles me olham, mais minha autoestima se eleva. Mas é uma afirmação e uma luta a cada dia", afirma ela.

O Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado neste domingo (20), tem o objetivo de propor reflexão sobre temas correlatos, como o racismo estrutural e o genocídio do povo negro no Brasil. O cinema nacional possui importantes longas-metragens que dão visibilidade às potências criativas, intelectuais e sociais da população negra. A equipe do LeiaJá selecionou quatro produções, todas estão disponíveis em serviços de streaming como Amazon Prime Video, Globoplay e Now.  

Doutor Gama – Com direção de Jeferson De, Doutor Gama é baseado na biografia de Luiz Gama (1830-1882), um dos personagens mais importantes da história brasileira: um homem negro que utilizou as leis e os tribunais para libertar mais de 500 escravos. O longa, distribuído pela Elo Company, acompanha três fases de Luiz Gama, interpretado por Pedro Guilherme na infância; Ângelo Fernandes, na juventude; e César Mello, na vida adulta. Disponível no Globoplay.  

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Café com Canela – Com direção de Ary Rosa e Glenda Nicácio, Café com Canela se passa no recôncavo baiano e conta a história de Margarida, isolada pela dor da perda do filho; e Violeta, que encara adversidades do dia a dia e traumas do passado. Quando as duas se reencontram inicia-se um processo de transformação, marcado por visitas, faxinas e cafés com canela, capazes de despertar novos amigos e antigos amores. Disponível no Amazon Prime Video, Now e Vivo Play. 

Mussum, Um Filme do Calcides – O documentário conta a trajetória do músico e comediante da trupe de “Os Trapalhões”. Com direção de Susanna Lira, o longa acompanha os passos do comediante desde que entrou como vocalista do grupo “Os Originais do Samba” até chegar a brilhar na TV, cinema e teatro – sempre ao lado dos companheiros Dedé, Didi e Zacarias. Disponível no Now e Vivo Play.  

O silêncio da chuva – Dirigido por Daniel Filho, O Silêncio da chuva traz Lázaro Ramos e Thalita Carauta em um thriller policial. Na trama, o delegado e a investigadora tentam solucionar a morte de um executivo, encontrado baleado sentado ao volante do carro. O filme se passa no bairro da Urca, Rio de Janeiro, e conta ainda com Guilherme Fontes e Cláudia Abreu. O filme tem coprodução da Globo Filmes. Disponível no Globoplay, Apple TV, YouTube e Now.  

A empresa de telefonia Vivo está disponibilizando cerca de 50 vagas exclusivas para profissionais negros em nome da comemoração do mês da Cosciência Negra. As oportunidades são em oito estados brasileiros, especificamente em Recife (PE), Fortaleza (CE), Salvador (BA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Belo Horizonte (BH).

Estão sendo oferecidas posições de supervisor, coordenador e gerente nas áreas de tecnologia, administrativa, telecom, relacionamento com o cliente, campo e comercial (lojas). Para se inscrever é preciso ter experiência em gestão de pessoas e não há obrigatoriedade de ensino superior.

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O período de inscrições vai até o dia 27 de novembro através do site destinado à Feira de Recrutamento Afro na Liderança Vivo. Todas as vagas são elegíveis para Pessoas com Deficiência (PcDs) e/ou reabilitados. As contratações estão previstas para começar em janeiro de 2023.

Neste 20 de novembro, a população preta do Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, considerado importante para o combate ao racismo e as diversas opressões que esse povo sofre. A data escolhida é em homenagem a Zumbi dos Palmares, uma das principais lideranças pretas do Brasil, que deu a vida contra a escravidão.

Mas como nossos representantes têm atuado para fortalecer essa luta atualmente? Na última quinta-feira (18), um projeto de Lei do senador Paulo Paim (PT), que tipifica a injúria racial como racismo, foi aprovado por unanimidade no Senado Federal. A matéria agora segue para análise da Câmara dos Deputados.

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A aprovação da matéria ocorre após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir, em outubro deste ano, que o crime de injúria racial não prescreve. Na ocasião, os ministros da Corte entenderam que casos de injúria podem ser enquadrados criminalmente como racismo, conduta considerada imprescritível pela Constituição. 

Paim, ressaltou a importância da votação do projeto para o enfrentamento ao racismo. "A população brasileira é composta por 56% de pretos e pardos, ou seja, 120 milhões de brasileiros. A grande maioria é pobre, todos nós sabemos. O racismo estrutural é uma realidade. Está no olhar, nos gestos, nas palavras, na violência, no ódio", afirmou.

A cientista política e advogada Tassiana Oliveira, 36 anos, ressalta a importância de se ter políticos pretos, como é o caso do senador Paulo Paim, engajados na luta antirracista. No entanto, ela destaca a sub-representação desse povo. 

Para se ter uma idéia, dos 513 deputados em exercício, 89 deles se declaram pretos. No Senado, a diferença é ainda mais gritante: dos 64 senadores, 17 são pretos. No recorte por gênero, essa realidade consegue ser pior. Existem 11 mulheres pretas na Câmara dos Deputados e nenhuma no Senado.

Esses números estão longe de representar a realidade étnica do Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontam que 55,8% dos brasileiros se declaram como pretos ou pardos - enquanto brancos representam 43,1% da população. 

“A ciência política diz que, se a gente tem um número maior de pessoas representando as mais diferentes cores ou gêneros da sociedade no Legislativo, a gente tem melhores leis. No entanto, o que a gente precisa ter cuidado é que essa representação precisa ser substantiva, se não a gente teria casos como a do presidente da Fundação Palmares (Sérgio Camargo), que é uma pessoa racista em uma fundação que foi criada para lutar contra o racismo”, detalha. 

Pernambuco

Em Pernambuco, dos 49 deputados estaduais, apenas 14% deles se autodeclaram negros. No entanto, maioria (5) ainda se declara parda, apenas os deputados Doriel Barros (PT) e Juntas codeputadas (PSOL) se declaram realmente pretos.

Robeyoncé Lima, uma das codeputadas das Juntas, detalha que quando se associa a perspectiva da raça também com o gênero, se encontra mais dificuldade. "Não é somente a dificuldade de acesso no contexto local, é também a dificuldade de acesso no cenário nacional. A gente vem cada vez mais enfrentando dificuldade por conta do conservadorismo, de como arrumar estratégias para ocupar esses espaços".

Na luta contra o racismo, as juntas conseguiram aprovar na Assembléia Legislativa de Pernambuco (Alepe) a lei que impede qualquer forma de discriminação no acesso aos elevadores dos edifícios públicos ou privados e comerciais ou residências por causa da raça, sexo, cor, origem, condição social, profissão, idade, deficiência, doença não contagiosa e religião.

“A gente tem o Estado brasileiro que nega a existência do racismo, mas a gente fica o tempo todo batendo na tecla para que esse debate seja levado em questão. Infelizmente a gente tem feito um debate de quase 400 anos do povo negro, sem nenhuma reparação histórica que chegue ao ponto de compensar toda essa humilhação e constrangimento que aconteceu por mais de quatro séculos”, diz Robeyoncé. 

A codeputada salienta ainda que, para fomentar a luta pela igualdade, as Juntas tem apresentado diversos projetos de lei em relação à temática. “No que toca à questão do desencarceramento da população preta, da violência obstétrica com recorte racial, da própria questão do acesso à saúde no contexto da pandemia. São temáticas que a gente vem abordando de maneira transversal, com a perspectiva da raça”, detalha.

Preocupação com a Lei de Cotas para 2022

Em 2022 a Lei de Cotas, sancionada em 2012, que determina a reserva de 50% das vagas das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) a estudantes de escolas públicas, negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência irá completar 10 anos. Segundo consta na Lei, o programa de reserva de vagas deve ser revisto no prazo de dez anos de publicação da norma.

Na Câmara dos Deputados há uma proposta tramitando para que essa revisão seja transferida para 2032. No entanto, possíveis mudanças na lei são vistas como necessárias pelos parlamentares. 

A cientista política Tassiana declara uma preocupação com a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que já declarou várias vezes publicamente ser contra as cotas, trabalhar para acabar com o programa. 

“Existe a preocupação de que essa norma seja extinta. Mas como é um ano eleitoral, pode ser que o governo deixe para lá, não se preocupe agora, deixando para 2023. Mas, mesmo assim, só se vier alguém mais progressista que a gente pode descansar. Se Bolsonaro renovar o seu mandato, a gente tem a possibilidade que essa lei seja extinta”, fala Tassiana.

A estudiosa complementa que “a luta negra brasileira tem muitas décadas. Nós hoje somos filhos e filhas daqueles que lutaram por esses espaços que a gente está ocupando. Mas essa luta ainda não acabou. Esse governo nos mostra que se a gente dormir, algo pode acontecer e a gente perder tudo ou muita coisa”, pontua.

O influenciador Júlio de Sá, ativista do movimento negro, registrou boletim de ocorrência após ter sido alvo de uma abordagem policial considerada racista no Centro do Rio. O episódio foi transmitido ao vivo aos seus mais de 194 mil seguidores na página Carioquice Negra no Instagram.

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Responsáveis pela defesa do influenciador, os advogados Joel Luiz Costa e Djeff Amadeus, do Instituto Defesa da População Negra (IDPN), registraram o caso como crime de preconceito. Costa classificou a ação policial como ‘violenta e arbitrária’.

No vídeo, dois policiais militares do Centro Presente, força-tarefa de policiamento de proximidade que atua na região central do Rio, abordam o influenciador na saída de uma loja de departamentos alegando que ele teria um ‘volume na cintura’. Os agentes também tentam justificar a abordagem dizendo que Júlio ‘saiu muito rápido’ do estabelecimento e ‘não comprou nada’. A ação aconteceu na tarde da última quarta-feira, 17.

"Duas horas da tarde. Eu tenho certeza que se fosse tarde da noite, a situação como foi, talvez eu não teria nem tempo para abrir uma live para falar o que está acontecendo", afirma o influenciador na gravação. Após o episódio, ele contou que decidiu fazer a transmissão ao vivo para se defender. "A primeira avaliação feita é a cor da pele", lamenta Júlio.

Depois que o influenciador contestou a justificativa da abordagem e se recusou a informar seus dados aos policiais, eles chamaram reforço de mais quatro agentes para conduzi-lo contra a vontade até a 5.ª DP (Centro). Ao ser questionado sobre o motivo da condução, um dos policiais militares diz que o influenciar ‘incorreu no crime de desobediência’.

"O senhor está desobedecendo uma ordem legal que está sendo dada do senhor. É só identificação, o senhor não quis, então o senhor está incorrendo no crime de desobediência. Aí lá na delegacia o senhor vai tomar melhor ciência do fato", responde.

Diante da resistência do influenciador em entrar sozinho na van com os policiais, os agentes dizem que ele está ‘caçando quizumba’ e ‘vai entrar, por bem ou por mal’. "Eu não quero usar de meios de força", afirma um dos agentes.

Em nota, a PM do Rio informou que, na delegacia, ‘nada foi constatado’ e o influenciador foi liberado. A corporação também afirma que ‘as abordagens policiais são realizadas conforme previsto em lei’. "Os policiais e agentes da operação são orientados e a cor da pele não é escolha para abordagem policial", diz o texto.

COM A PALAVRA, A POLÍCIA MILITAR DO RIO

 

"Os policiais do Centro Presente estavam patrulhando a região na tarde de ontem (17) quando suspeitaram de um rapaz que, segundo eles, demonstrou insatisfação com a aproximação policial e pareceu querer se desvencilhar dos agentes entrando em uma loja.

Os policiais se aproximaram do rapaz e pediram que ele se identificasse, mas ele se recusou e foi conduzido à delegacia, conforme procedimento padrão. Na DP ele foi identificado, nada foi constatado e foi liberado em seguida

Vale ressaltar que o foco da Operação Segurança Presente é o atendimento à população e as abordagens policiais são realizadas conforme previsto em lei. Os policiais e agentes da operação são orientados e a cor da pele não é escolha para abordagem policial.

As abordagens não são pautadas por cor da pele, orientação sexual, religiosa, de gênero ou qualquer fator pessoal, mas a partir de denúncias ou comportamentos que podem representar algum risco à coletividade"

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Com o tema "sou uma, mas não sou só", o povo de terreiro sai em cortejo pelas ruas da área central do Recife na sua 15ª caminhada. O evento, que marca o início do mês da Consciência Negra na capital pernambucana, começou a sua concentração às 14h no Marco Zero.

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A saída aconteceu às 17h, sendo puxada por baianas e cantos aos orixás, e será encerrada às 20h desta quarta-feira (03).

Mãe Elza, coordenadora da Caminhada dos Terreiros, declara que este é um ano atípico, “mas nós enfrentamos a pandemia e estamos aqui dizendo não ao racismo e não a discriminação religiosa”. Para ela, o povo de terreiro não poderia deixar de estar nas ruas neste mês da Consciência Negra.

“A gente tinha que estar nas ruas e dizer que este mês é importantíssimo, mas não é o único mês que se pode discutir o negro e a negra no Brasil”, salienta. 

Sobre o tema da caminhada, ela destaca que é importante juntar as pessoas contra a intolerância, seja ela de qualquer religião. “Deus não tem religião. Ele está aqui para todos e neste momento ele nos abençoa. Nesta caminhada nós temos judeus, cristãos, todos juntos dizendo não a discriminação religiosa”, diz.

Chacon Viana, coordenador do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira do Recife, aborda que a Caminhada dos Terreiros vem para abrir um mês que é muito difícil, “mas também para provar que as pessoas precisam entender que a gente busca novas possibilidades para o nosso povo, cobrando mais respeito, emprego e cidadania. Precisamos estar juntos, independente de crença, Deus é um só e o inimigo está em todos os cantos”, aponta.

Participando pela décima vez do cortejo, a pedagoga Iramires Aragão, 55 anos, assevera que para desconstruir o preconceito é preciso que o povo preto seja visto. 

“É tempo de aquilombar-se mais do que nunca e nos mostrar. A gente só vai conseguir quebrar essa raiva e esse preconceito que existe se formos vistos. É tempo de estarmos nas ruas mostrando nossa estética a partir das nossas vestes, dos nossos cabelos e dizer que estamos aqui, somos de santo e trago a minha ancestralidade”, acentua.

Ela reforça ainda a pertinência do tema desta 15ª caminhada e garante que Jesus Cristo está presente em todos os lugares. “Ele disse que onde tiver mais de uma pessoa falando meu nome, eu estarei presente. A gente só fala de amor, só fala em Cristo e eu estou aqui para agradecer”, pontua

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado anualmente em 20 de novembro, poderá se tornar feriado nacional. Atualmente, a data é comemorada apenas em cinco estados e mais de mil municípios brasileiros. Mas essa realidade pode mudar com a aprovação, nesta segunda-feira (23), do Projeto de Lei do Senado (PLS) 482/2017, de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em decisão terminativa na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).

O relator da matéria na Comissão, senador Paulo Paim (PT-RS), explicou que a data escolhida remete ao dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, um dos maiores do período Brasil-Colônia.

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"Trata-se de um ícone, um símbolo do povo negro, de origem africana, povo esse que deixou marcas profundas de sua identidade cultural em nossa arte, música, gastronomia e religião. A efeméride é também um símbolo de luta e de emancipação das injustiças impostas por séculos contra a população negra", justificou.

Paim destacou que transformar a data em feriado nacional vai enfatizar e valorizar a luta do povo negro e fortalecer o processo de conscientização de seus desafios.

O texto foi aprovado com duas emendas de redação para incluir o nome Zumbi na data comemorativa, que originalmente constava apenas como Dia da Consciência Negra.

O senador Confúcio Moura (MDB-RO) reforçou a importância histórica da proposta. Segundo ele, após a abolição da escravatura, não houve ações de integração do negro à sociedade.

"Eles continuaram perambulando na pobreza, na discriminação, nos serviços mais humildes e é a grande massa de pobres do nosso país até hoje. Agora, com a criação dessa data, é também marcante para que se possa abrir um debate maior nesse dia, e em todos os dias do ano. O negro nos hospitais, o negro médico, o negro deputado, senador, o negro nos tribunais, ocupando os espaços nas grandes corporações. Então, esse é um trabalho tardio, mas que chega em boa hora. Como dizem muitos: 'Antes tarde do que nunca'", declarou.

Depois de passar pela CE, o projeto poderá seguir direto para a Câmara dos Deputados se não houver recurso para votação pelo Plenário do Senado.

*Da Agência Senado

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