Cerca de 250 famílias que haviam montado um acampamento do Movimento Sem Terra (MST) em um engenho em Amaraji, Mata Sul de Pernambuco, foram despejadas na manhã desta terça-feira (25). Ao todo, nove pessoas foram levadas para a delegacia, entre elas um garoto de 12 anos.
O Acampamento Bondade, como foi batizado, estava montado desde o último mês de março no Engenho Bonfim, onde fica localizada a Usina União. Segundo o MST, os acampados são, em sua maioria, ex-trabalhadores da própria usina. "Despejar não resolve o problema, cria outro problema. A terra continua improdutiva e 250 famílias continuam sem terra", diz Jaime Amorim, coordenador nacional do MST.
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Os policiais começaram a chegar por volta das 7h. As famílias tentaram resistir fazendo uma vala e colocando fogo em pneus. O Batalhão de Choque usou bombas de gás lacrimogêneo, conseguindo dispersar os agricultores. "O início foi muito tenso, pois um major chegou apontando um fuzil para os trabalhadores no momento inicial da conversa", diz o advogado do MST Tomás Agra.
Durante a reintegração de posse, nove pessoas foram detidas. Até às 13h30, apenas duas haviam sido liberadas. Entre os sete que seguem na delegacia, há um garoto de 12 anos, segundo Agra. As informações preliminares recebidas pelo advogado são de que o menino estaria tocando fogo na área. "O que acho difícil, porque já teria sido na evacuação. E ele deveria estar correndo, não tocando fogo", avalia.
As famílias estavam vivendo do roçado, com a plantação de macaxeira, milho, coco, banana, entre outros alimentos. Após o despejo, elas montaram um acampamento provisório em uma área próxima. "A gente vai fazer como sempre faz. Vamos esperar até umas 48 horas e a gente volta a ocupar o mesmo engenho, a mesma usina", afirma o coordenador Jaime Amorim.
A deputada estadual Kátia Cunha, que integra as Juntas (Psol), acompanhou a reintegração como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Ela critica a forma como ocorreu a reintegração. "O despejo aconteceu de forma violenta, queimando e destruindo as casas e pertences das moradoras e moradores, que foram atacados com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha do Batalhão Especializado de Policiamento do Interior (BEPI), do Batalhão de Choque e da Cavalaria da Polícia Militar", diz nota das Juntas.
As codeputadas tentaram aprovar um Projeto de Lei Ordinária que pede a suspensão do cumprimento de mandados de reintegração de posse, despejos e remoções enquanto Pernambuco estiver em situação de calamidade pública devido à pandemia da Covid-19.
Os agricultores relataram nos últimos dias que estavam sendo intimidados. Segundo o MST, pessoas armadas estariam rondando o local. O LeiaJá aguarda posicionamento da Polícia Militar sobre a operação de reintegração de posse nesta manhã.