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Para marcar o centenário de Isaac Asimov (1920 - 1992), escritor de ficção científica responsável pelas três leis fundamentais da robótica, 2020 não poderia ser mais certeiro. Assim como o pai dos robôs inteligentes sonhou - um futuro repleto de máquinas capazes de fazer as tarefas que realizamos diariamente, a Huawei resolveu botar em prática o que, até pouco tempo, era apenas ficção. Isso porque a gigante chinesa abriu, no dia 1º de janeiro, a primeira loja varejista de dispositivos da marca com um total de zero funcionários humanos.

A companhia abriu sua primeira loja inteligente não tripulada e oficial, na China. Ela está localizada no Centro Internacional de Novo Desenvolvimento de Wuhan Optics Valley e foi projetada em formato cilíndrico com a parte frontal feita de vidro transparente à prova de balas. É possível fazer pedidos on-line e compras no local, onde há três braços robóticos, capazes de girar 360 graus (sendo um grande e dois pequenos), para atender os pedidos.

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É possível comprar smartphones e acessórios a qualquer momento do dia, uma vez que a loja fica aberta, ininterruptamente, por 24 horas. Entre os serviços oferecidos além das vendas, que não precisam de intervenção humana direta, estão armazenamento inteligente 24 horas, inventário automático de robôs e gerenciamento inteligente de agendamento.

Quem for experimentar os serviços do local deve comprar os produtos da Huawei através de uma grande tela colocada na área do cliente. Depois do pedido finalizado, o grande braço robô pega o dispositivo e o coloca na área de entrega, onde o pequeno bracinho robô o empurra para o comprador. Agora é torcer para que, ao contrário dos personagens de Asimov, os robôs permaneçam apenas ajudando a humanidade.

Nada parece acalmar o apetite do mundo financeiro por investimentos sustentáveis, um setor complexo que representa, segundo estimativas, um terço dos ativos em nível global e que enfrenta o desafio de demonstrar seu impacto real.

- O conceito e suas opções -

Um investimento sustentável financia um projeto favorável ao meio ambiente ou ajuda um ator a efetuar sua transição ecológica.

Os dois principais termos técnicos são ISR (Investimento Socialmente Responsável) e os critérios ESG (Ambientais, Sociais e de Governança).

Os investidores podem escolher entre cinco opções: a exclusão (de empresas de atividades contaminantes, por exemplo), a seleção das melhores em termos de ESG, o aspecto temático (fundos dedicados à água...) e o investimento com "impacto positivo", que melhora concretamente uma situação.

- Energias fósseis e nucleares -

É sustentável investir em grupos petroleiros? Para alguns não, mas para outros, sim, pois consideram que sua transição é necessária. Por exemplo, uma emissão de bônus "verdes" lançada pela Repsol gerou um acalorado debate no setor financeiro em 2017.

E no caso da energia nuclear? Quando o governo francês defendeu que esta fosse integrada na "rotulagem ecológica" europeia destinada a produtos financeiros, provocou protestos do Greenpeace.

- Furor investidor -

A dívida verde - bônus emitidos no mercado para financiar projetos ecológicos e submetidos a posteriori a uma avaliação -, ocupa um lugar preponderante.

Mas os investimentos sustentáveis vão além e incluem ações ou obrigações de empresas, por exemplo de provedores de energias renováveis, empréstimos para projetos verdes e inovações como o crédito baseado no impacto, no qual o empréstimo custa menos se forem alcançados os objetivos ESG definidos previamente.

Dos 92 trilhões de dólares em ativos financeiros em 2018, US$ 30 trilhões eram considerados como investimentos verdes, segundo Stéphane Marciel, encarregado de bônus sustentáveis e Julien Brune, correspondente de conselho e estruturação da dívida do Société Générale CIB.

A Europa se situa no topo, com 14,075 trilhões, seguida de perto da América do Norte, com 13,694 trilhões, muito distantes da Ásia, com 2,180 trilhões.

Para Noémie de la Gorce, analista de Finanças Sustentáveis, da S&P Global Ratings, "os mercados se lançaram em uma corrida para demonstrar que podiam participar do financiamento de [o combate às] mudanças climáticas".

- Falta de regulação -

Nenhuma regulação internacional se aplica às finanças verdes.

Mas a maioria dos atores são regidos pelos grandes princípios dos bônus sustentáveis, elaborados sob a égide da Associação Internacional de Mercados de Capitais (ICMA), destaca Frédéric Gabizon, encarregado do mercado de bônus no HSBC França.

A publicação em junho, de parte da Comissão Europeia, de um sistema de classificação constitui uma antecipação maior, embora por enquanto não tenha valor vinculante.

- Fraudes -

A onda verde também traz a questão do "greenwashing" ou maquiagem verde, ou seja, quando um projeto é apresentado como ecológico sem ser.

"Felizmente, as verdadeiras mentiras são incomuns, existem maus hábitos e alguns abusam do argumento ecológico", segundo o Fórum para o Investimento Responsável, uma associação que reúne representantes financeiros e ONGs.

Em caso de fraude, a sanção é dupla: os investidores fecham as comportas e a má fama se propaga.

- A chave: o impacto real -

As operações sustentáveis implicam sistematicamente uma avaliação sobre como se destinam os fundos e cada vez mais sobre seu impacto. Os informes são feitos pelos tomadores de empréstimos, mas cada vez mais se recorre a auditorias externas. Mas a avaliação do impacto é uma ciência jovem e complexa.

"Sobre as energias renováveis, pode-se dizer sem muita controvérsia que têm um impacto positivo. Mas no caso do carro elétrico, para além da redução de emissões, é preciso integrar o impacto da extração de minerais necessários para a bateria", segundo a especialista da S&P.

Para De la Gorce, "demonstrar o impacto real é o desafio mais importante" para o futuro das finanças responsáveis.

Um dia depois do primeiro-ministro britânico Boris Johnson retornar a Londres com um acordo de divórcio debaixo do braço, os governantes europeus abordam nesta sexta-feira o futuro da União Europeia (UE), em um momento de forte divisão.

Orçamento do bloco para 2021-2027, luta contra a mudança climática, prioridades da futura Comissão Europeia liderada por Ursula von der Leyen: os desafios se acumulam sobre a mesa em Bruxelas.

Mas a unidade que os 27 sócios de Reino Unido demonstraram durante a longa, intensa e extenuante negociação do Brexit se rompe quando os olhares são voltados para o futuro, como ficou evidente na quinta-feira.

Os europeus não conseguiram aprovar o início das negociações de adesão com a Macedônia do Norte e a Albânia, especialmente pela oposição da França.

"Quando pedimos aos países vizinhos que façam um esforço adicional para mudar e eles fazem isto é nosso dever igualar este esforço", alertou, em vão, o presidente da Eurocâmara, David Sassoli.

"A ampliação exige unanimidade e simplesmente não temos unanimidade", declarou o primeiro-ministro da Letônia, Krisjanis Karin.

A UE deveria ter anunciado uma decisão em junho de 2018, que primeiro foi adiada por 12 meses e depois para outubro de 2019. E, apesar da pressão da Eurocâmara e dos líderes das instituições europeias, a situação permaneceu bloqueada na quinta-feira.

A questão que provoca mais divisão no segundo dia da reunião de cúpula é o futuro Marco Financeiro Plurianual (MFP) 2021-2027.

"Ainda estamos muito longe uns dos outros, resta muito trabalho por fazer para conseguir o avanço do planejamento financeiro", admitiu a próxima presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O próximo orçamento da UE terá de enfrentar o vácuo deixado pela saída do Reino Unido, um contribuinte líquido, que a Comissão estima calcula como uma perda de 12 bilhões euros no primeiro ano e de 84 bilhões para todo o período.

Além disso, os europeus desejam financiar novas prioridades, como o desenvolvimento militar, o setor digital ou a proteção das fronteiras, sem deixar de lado as políticas agrícolas e de coesão tradicionais entre as regiões.

As crianças da geração passada eram "mandadas para o inglês" por pais conscientes do diferencial que um idioma estrangeiro poderia representar no futuro de seus filhos. Hoje, apesar de ainda fundamental, o inglês não é mais o "pulo do gato" - transformou-se em uma ferramenta básica. O tal diferencial tem sido procurado em outra língua, mais especificamente no idioma da tecnologia. Cursos de robótica e programação para crianças e adolescentes (de 5 a 17 anos) vêm se espalhando pelo País.

Veja só o Maurílio Moraes, de 13 anos, que até bem pouco tempo tinha uma agenda ocupada pelo inglês, pela natação e pelo judô. Ultimamente, ele também tem as sextas-feiras, que antes eram livres, bloqueadas por uma atividade. Você pode encontrá-lo, por exemplo, concentrado em aprender a programar uma lâmpada que se acende sozinha ou um carrinho inteligente que desvia dos obstáculos. "Acho que no futuro posso trabalhar com tecnologia", garante.

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Nas escolas visitadas pela reportagem do Estado, as aulas partem de exercícios lúdicos (com blocos para encaixar e aplicativos que já ajudam as crianças menores a começar a entender a lógica da programação), mas avançam em direção à criação de aplicativos, robótica, desenvolvimento de games e internet das coisas e maker (aulas em que os alunos são incentivados a criarem objetos e executarem projetos).

Em média, o custo desses cursos vai de R$ 250 a R$ 450 - com aulas semanais que duram de 1h30 a 2 horas.

"Com a programação, a criança começa a aprender a pensar, a desenvolver um raciocínio lógico e a trabalhar com criatividade. Às vezes, os pais não entendem como o interesse natural das crianças pelo computador, jogos e YouTube pode ser canalizado para o futuro", disse o idealizador da escola CTRL+ Play, Henrique Nóbrega.

Mercado

Fundador da escola Happy Code, Rodrigo Santos aponta uma das funções práticas dos cursos livres de programação e robótica. "Um dos grandes problemas no mercado de trabalho mundial e, principalmente, brasileiro é encontrar profissionais capazes de criar tecnologia. Temos um déficit de mão de obra nessa área. Em um país com tantos desempregados, essa é uma questão importante."

Alguns alunos, já chegam nesse tipo de escola imbuídos de espírito de inovação tecnológica, como é o caso de João Léllis, de 15 anos. "Eu gostaria de criar coisas para ajudar as pessoas. Acho que posso fazer isso através da programação", conta Léllis, que estava trabalhando na automação de uma maquete envolvendo a sincronia de um farol de trânsito e uma cancela.

Em outra aula, flagramos os alunos desenvolvendo saídas para games - e soluções para problemas colocados pelos próprios personagens criados por eles. Pedro Campos, de 10 anos, por exemplo, quer fazer um milionário arrecadar dinheiro para contratar professores. "Ele vai tirar de quem tem muito dinheiro e investir nos professores", disse Pedro - que se animou ao ter a sua criação comparada a Robin Hood. Para o garoto, as aulas têm funcionado bem. Ele, que já sonhou em ser astrofísico, tem pensado seriamente em se especializar no desenvolvimento de jogos.

Sustentabilidade

Em Fortaleza, o professor André Cardoso desenvolve um trabalho de robótica sustentável em escolas públicas e particulares. Desde 2016, ele usa caixas de papelão, tampinhas de garrafa e toda variedade de lixo eletrônico possível na construção de robôs. "Tinha a ideia de ensinar robótica, mas não tinha recursos. Daí nasceu a ideia de ensiná-la de forma sustentável", contou o professor. "Ao mesmo tempo em que ensino tecnologia, falo em conservação do meio ambiente", completou.

Cardoso afirmou que alguns dos seus alunos já estão empreendendo a partir do conhecimento adquirido. "Eles criaram dinossauros e jacarés que já participam de disputa de robôs e são usados em festas de criança", disse. "Mesmo sem recurso é possível pensar e trabalhar com robótica para crianças e adolescentes", completou.

Alto lá

A psicopedagoga e conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagoga (ABPp) Quézia Bombonatto prefere fazer ponderações sobre o afã tecnológico de pais e crianças. "Os pais dizem que estão preparando os filhos para o futuro. Eu posso entender isso, mas é preciso lembrar que o futuro não passa apenas pela tecnologia", disse. "O perigo é você não estimular outras habilidades em uma criança - e deixá-la acomodada nesse mundo virtual", completa.

Para Quézia, tecnologia é útil como ferramenta, mas não como fim. "Não pode substituir outros aprendizados. A criança precisa de habilidades cognitivas, desenvolver empatia e convivência em grupo."

Ideias expandidas e conectadas

Mas não só de futuros profissionais da tecnologia vivem esses cursos. Julia, de 11 anos, por exemplo, quer criar e produzir histórias em quadrinhos - até anda com alguns exemplares feitos por ela mesma (com histórias de aventura e humor). "As aulas de tecnologia me ajudam a expandir minhas ideias e a conectá-las", afirmou. "Gosto muito das aulas. Menos de lição de casa. Lição de casa nunca é divertido", completou.

Na mesma classe, os irmãos Isadora e Guilherme Rossi, de 11 e 9 anos, gostam de pensar no aprendizado da tecnologia como um conhecimento a mais para o futuro, mas sem pressão. "Ainda não sei o que quero ser, mas acho que pode ser uma profissão que me sustente e me faça viajar o mundo", falou ela.

Para Rodrigo Santos, fundador da Happy Code, o curso busca potencializar o tempo que crianças já gastam na frente do computador. "Por isso, temos a preocupação de passar conceitos de ética digital, controle de dados e até de direitos autorais. Enfatizamos que tudo na internet é escrito a caneta e não se apaga. É preciso desenvolver a responsabilidade das crianças também", disse. "No futuro, podem desenvolver um perfil de inovação, tudo o que o País precisa."

O professor Gabriel Ajala Oliveira, da escola Supergeeks, relata que é comum os pais o procurarem para agradecer a melhora do filho em disciplinas escolares. As crianças ganham habilidades em várias áreas, como em interpretação de texto e, claro, na Matemática - já que desenvolvem a lógica nesse universo da programação e robótica. "A criação de um robô ou de um jogo de computador faz com que a criança se desenvolva em muitos aspectos."

Pai

O engenheiro Rogério Lima Afonso, pai de um menino de 12 anos, falou que pensa em visitar escolas de robótica para matricular o filho. "Há dez anos, não se tinha essa preocupação. Hoje, acho que se meu filho não aprender a programar ou entender o universo da tecnologia, ele vai ser tratado como um analfabeto no futuro", comentou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Se um dos anúncios mais esperados do Apple Event era o lançamento do iPhone 11, um dos mais surpreendentes não teve nada a ver com o aparelho. O painel de apresentação do Watch Series 5, novo relógio inteligente da maçã, se tornou muito mais do que uma apresentação de um smartwatch pela quantidade de funcionalidades apresentadas no gadget. O que começou com depoimentos tocantes sobre como o aparelho melhorou a vida de seus usuários, terminou com um vislumbre do que pode ser o futuro.

Sempre ligadão

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Uma das primeiras mudanças anunciadas foi na aparência do relógio. A Apple estreou uma uma tela Retina Always-On que nunca dorme, ou seja, mesmo que você não esteja olhando diretamente para o acessório, ela continuará acesa, mas com menos brilho. Para fazê-la brilhar, basta mexer o braço (com o bom e velho movimento de ver as horas) ou tocar na tela. Tudo isso sem gastar tanto a vida útil da bateria, que promete ter uma duração diária de 18 horas, durante todo o dia.

GPS + Chamadas Internacionais de Emergência

O novo Apple Watch também está empenhado em fazer com que nenhum dos clientes da maçã se perca por aí. O Series 5 vem com uma nova bússola incorporada e o aplicativo Maps atualizado, que permitem que os usuários vejam para onde estão indo. Um novo aplicativo, Compass permite ainda ver rumo, inclinação, latitude, longitude e elevação atual. Tão bom quanto os melhores treinamentos de escoteiro. 

Para quem gosta de fazer trilha, além das novidades de localização está - sem dúvidas - uma das atualizações mais úteis e inteligentes: as chamadas internacionais de emergência. Sem precisar estar perto do iPhone, o relógio agora é capaz de fazer chamadas internacionais para serviços de emergência, independentemente de onde o dispositivo foi originalmente adquirido ou se o plano de celular foi ativado.

Ela também funciona com a "detecção de queda" um recurso que, se ativado, deve efetuar automaticamente uma chamada de emergência. Se o Apple Watch perceber que o usuário sofreu uma queda forte e permanecer imóvel por cerca de um minuto, o relógio vai ligar para os números que podem ajudá-lo. Isso pode fazer a total diferença em casos de acidentes em lugares remotos ou viagens.

 WatchOS 6: “Esse relógio diz a hora e outras coisas”

Para os recursos do sistema operacional, muita coisa do que foi anunciada na WWDC deste ano foi confirmada. Um dos destaques foi o aplicativo Cycle Tracking, para monitorar o ciclo menstrual, o Noise, que mede o barulho do ambiente e o Activity Trends no iPhone para monitorar suas próprias atividades. Infelizmente, a prometida e esperada Apple Store personalizada não foi mencionada durante a apresentação, fazendo pensar que este ainda é um sonho em progresso. 

E é claro, pulseiras coloridas

Nem novos aplicativos, nem as funcionalidades criativas, o que parece ter empolgado mesmo os desenvolvedores do Apple Watch foram as pulseiras coloridas. A aparência do relógio foi um dos destaques do painel. A empresa tem se esforçado em fazer com que seus consumidores tenham smartwatches personalizados, pelo menos externamente. São muitas pulseiras coloridas, modelos diferentes e diversas combinações, para ficarem bem em todas as ocasiões. 

Eles também são feitos em 100% de alumínio reciclável e titanium. Os valores do novo Apple Watch Series 5 varia de U$ 399 (o simples) e US $ 499 os com GPS, cerca de R$ 1620 e R$ 2025,50, respectivamente, na cotação atual. A série 3 fica mais barata com a chegada dos novos relógios e baixa para U$ 199 (R$ 808).

Se antes, em um passado recente, fazer um curso superior era algo quase inacessível – seja pelos altos valores das faculdades particulares, seja pela dificuldade de conseguir uma vaga nas instituições públicas –, o cenário atual da Educação Superior é muito mais promissor e democrático. Parte desse progresso é reflexo da expansão da educação a distância (EAD), que vem crescendo a passos largos nos últimos anos.

Segundo pesquisa realizada em 2018 pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), naquele ano, o número de matrículas no ensino a distância nas universidades particulares aumentou de 818 mil para quase 950 mil. Nesse ritmo, a entidade prevê que o EAD supere o ensino presencial em 2023. Razões para esse crescimento não faltam. Os cursos EAD são mais acessíveis à população em vários pontos: é possível estudar onde, como e quando puder, permitindo que o aluno adeque seu tempo de estudo à sua rotina diária; os custos são, em geral, mais baixos do que o ensino presencial; e os diplomas têm a mesma validade dos da modalidade tradicional.

Enquanto o ensino presencial vive um momento de instabilidade, o EAD só cresce. O número de matrículas em cursos de graduação presencial diminuiu 0,4% entre 2016 e 2017; na modalidade a distância, no entanto, houve aumento de 17,6% no mesmo período, maior percentual registrado desde 2008. Os números mostram que o EAD é uma realidade e tem sua força. Ainda que existam pessoas que tenham receio de aderir a esse tipo de ensino, por gosto ou insegurança, fato é que as grandes marcas da educação superior privada no Brasil já voltam seus olhos para o que deve se tornar o futuro do setor. A oferta cresce cada vez mais.

Por vezes, se questiona sobre as limitações didáticas ou pedagógicas do EAD, ou mesmo da falta de oportunidades para networking, mas esses pontos vêm sendo observados pelas instituições que oferecem a modalidade. Para promover o networking, por exemplo, é possível colocar pessoas de locais diferentes, o que gera possibilidades até mais abrangentes de comunicação e troca de conhecimentos. Também, as ferramentas utilizadas para o ensino a distância estão se modernizando para promover melhores estratégias e didáticas. Tudo para que o aluno tenha uma experiência igual à presencial.

O EAD é uma realidade e vem para somar no desenvolvimento da educação brasileira. Com ele, é possível expandir ainda mais o alcance do conhecimento acadêmico, alcançando milhares de vidas antes distantes desse mundo, impossibilitadas por limitações geográficas ou econômicas. O Brasil é um país continental e, como tal, tem suas dificuldades de levar educação superior a todos os locais. O EAD se torna, então, também uma potente forma de inclusão social.

Tamas Rohonyi, promotor do GP do Brasil, participou de uma reunião com o atual chefão da categoria, Chase Carey, e Duncan Llowarch, diretor financeiro da FOM, empresa que gere a categoria. O encontro ocorreu em Londres e foi mais um para tentar manter a etapa brasileira no circuito paulistano de Interlagos.

O executivo brasileiro deixou o encontro animado. Uma minuta de um contrato de renovação até 2030 chegou a ser elaborada e foi discutida entre as duas partes, que se encontrarão novamente ainda neste mês, novamente na capital britânica.

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Em entrevista recente ao Estado, Tamas afirmou que esperava um desfecho nas conversas até o fim de agosto. A cidade de São Paulo tem contrato com a Fórmula 1 até 2020 e vem tentando desde o início do ano estender este vínculo.

Ao mesmo tempo, o Rio despontou como rival na disputa para receber a prova da principal categoria de automobilismo do mundo. Entre o fim de maio e o início de junho, autoridades cariocas também estiveram em reunião com Carey tanto no Brasil quanto em Montecarlo, quando apresentaram o projeto do novo autódromo da cidade, a ser erguido em Deodoro, com um custo estimado em R$ 700 milhões.

A disputa com o Rio vem se tornando uma "novela" desde que o presidente Jair Bolsonaro anunciou no início de maio que assinara um termo de compromisso com a Fórmula 1 para levar de volta a categoria à capital fluminense.

"Ser uma pessoa ansiosa é ser agitada”, diz jovem vítima de transtorno de ansiedade. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

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Quem dera que as noites de sono fossem dignas de aliviar angústias assombrosas. Nem no anoitecer, quando corpo e mente padecem por descanso, há calma. Pesadelos parecem tão reais que impulsionam o corpo de volta à realidade e um turbilhão de pensamentos retorna à cabeça de quem vive temendo o futuro. O coração bate de maneira desesperada em um sinal de que um mar de preocupações afoga a mente paulatinamente, ao mesmo tempo em que a respiração ofegante revela que não existem mais sinais de calmaria.

É quase impossível controlar a mente. O futuro, por sua vez, torna-se um “monstro cruel”, envolto por preocupações sistemáticas, muitas vezes sem nenhuma explicação ou justificativa. Todos os dias, persistem medos excessivos do que há por vir, além de um nó na garganta peculiar. Choro, tremores. Dúvidas, mal-estar. Mais dúvidas, mais medo. Corpo e mente vomitam a ansiedade de Isa*.

Isa remexe o olhar. Suas mãos são extremamente inquietas. Os primeiros diálogos com a reportagem quase não têm pontos finais. Ela é intensa nas palavras, expressa como ninguém, por meio da face, cada sentimento descrito em suas frases. Seu corpo fala claramente, balançando de um lado para o outro como se ela estivesse sempre nervosa, talvez angustiada. Respira profundamente antes de organizar suas ideias que remetem à infância, perpassam pela juventude e desembocam em um presente não tão presente assim, já que sua cabeça não esquece o futuro. Como é possível ter tantas preocupações com situações que nem chegaram se concretizar? O que explica ela imaginar os piores cenários possíveis?

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Tais questionamentos são respondidos por Isa, uma jovem de 23 anos. Ela revela ser vítima de transtorno de ansiedade. O que ocasionou? Para ela, existem vários fatores, da infância à vida adulta. Frustrações, conflitos familiares, uma vida profissional marcada por incertezas e relacionamentos amorosos que findaram em lágrimas. Há uma série de situações, segundo ela, que pode explicar seus atritos psicológicos. Um passado que deixa cicatrizes e ainda é capaz de assombrar o futuro.

“Ser uma pessoa ansiosa é ser agitada, é não conseguir parar jamais a cabeça. Ser ansiosa é não conseguir parar onde estou. Não consigo parar no presente! Minha mente é um turbilhão de pensamentos irrefreáveis”, descreve a jovem.

Isa nasceu em uma cidade pacata marcada pelo conservadorismo. Município onde os moradores conhecem uns aos outros. De classe média, a garota teve a oportunidade de estudar em uma escola tradicional, onde construiu sua base de conteúdos estudantis, mas não moral. Ela não compactuava com alguns ideais impostos pelos educadores.

Nesse período, ainda criança, ela acredita que desenvolveu uma estranha atitude oriunda dos primeiros processos ansiosos que enfrenta até então. “Sempre roí muito as unhas, normalmente as pessoas quando estão ansiosas elas roem. Não consigo perceber o que me fazia isso. Depois que eu já tinha roído todas as minhas unhas, eu pedia para roer as dos adultos. Queria continuar repetindo aquele comportamento. Não consigo lembrar o que desencadeava isso”, conta.

Em dado momento, a face de Isa expressa revolta, ao contar detalhes da relação que tinha com o pai. Segundo ela, um homem autoritário, violento, defensor de suas próprias convicções, independente do que pensavam as pessoas ao seu redor. “Meu pai era violento, batia em mim, como uma coisa que ele entendia que era uma ferramenta de educação. Para ele era uma forma de correção. Era autoritário, extremamente rígido. Um homem muito bruto. Apesar de eu gostar dele, quando era mais nova, nunca respeitei meu pai, apenas tive medo. Toda obediência, tudo que sempre fiz para me manter na linha, foi por medo de porrada”, relata.

A jovem aponta a relação conflituosa com o pai como um dos fatores que ocasionaram ansiedade em sua vida. Além disso, revela inquietude na região onde nasceu, afirmando que as pessoas do local a vigiavam por ela pertencer a uma família tradicional. “Comecei a me sentir deslocada e desencontrada no lugar onde vivia. Estava em uma cidade do interior, um local conservador, machista, pequeno, onde as pessoas têm uma mentalidade diferente, todos se conhecem e todos falam a respeito de todo mundo. Todo mundo lá sabia quem eram meus familiares e eu, então qualquer coisa que eu fizesse poderia virar uma fofoca. Não demorei, quase nada, a querer ter liberdade, a ser mais crítica e pensar diferente do povo. Sempre tive o sonho, o plano e a ideia de sair de lá para um lugar mais desenvolvido, com mais horizonte. Me sentia vigiada, tolhida e com medo dos julgamentos”, descreve Isa.

Infeliz na região onde nasceu, Isa conseguiu, por meio da ajuda de familiares, passar alguns dias em uma cidade metropolitana. Foi onde começou a conhecer outras pessoas, desencadeando seu momento de liberdade tão esperado. Alegria à parte, foi nesse período, já na adolescência, que a garota entrou em um ciclo rebelde, quando seus maiores conflitos aconteciam com sua mãe. Elas não eram harmoniosas, muito menos compartilhavam das mesmas ideias. Discussões marcaram essa relação. “Me tornei uma adolescente muito rebelde”, conta.

Um dos conflitos entre mãe e filha aconteceu no momento em que Isa se preparava para prestar vestibular. A jovem optou por uma formação extremamente contestada pelos pais. De acordo com ela, sua mãe nunca aceitou a escolha e, diante da decisão de Isa, proferiu críticas.

Antes da chegada à universidade, no entanto, o momento de preparação para o vestibular também foi marcado por brigas entre mãe e filha, além dos primeiros sinais físicos de que a jovem sofria transtorno de ansiedade. Aos 17 anos, ela mudou-se de vez para a cidade grande, onde ingressou em cursos preparatórios para o processo seletivo. Isa lembra que sentia sérias dificuldades em algumas matérias, uma vez que não tinha familiaridade com essas áreas, porém, sua mãe, não aceitava o desempenho ruim. Dessa forma, as críticas e insatisfação da mãe foram atreladas à pressão pela aprovação no ensino.

“Não passei no vestibular na primeira seleção; me frustrei quando eu vi a nota.  Muitas coisas ruins vinham da minha mãe, ele me acusava que minhas dificuldades em certas matérias vinham da vagabundagem. Me sentia desestimulada, descartada, um zero à esquerda. Sinto que minha mãe nunca acreditou e não acredita em mim”, desabafa.

Apesar da reprovação e principalmente das críticas de sua mãe, Isa insistiu no sonho de passar em um curso bastante criticado pelos pais. Consequentemente, sua postura desencadeou uma pressão ainda maior durante os estudos, devido a uma rotina intensa que envolvia aulas e percursos consideráveis entre o curso e sua residência.

Certo dia, no curso onde estudava, enquanto aguardava em uma fila para ter um texto corrigido, Isa passou mal. “O primeiro sintoma da ansiedade que lembro claramente aconteceu quando eu estava em uma fila para correção de redação com uma amiga, quando, de repente, comecei a me sentir com tontura, falta de ar e tremor; meu coração disparou também. Comecei a tremer e a ficar nervosa. Estava ali vivendo a minha rotina e de repente tudo pipocou! Estava respirando, mas meu coração disparava. Meu corpo começou a reagir com tontura e perda gradual de visão. Tentava respirar fundo até passar. Fui parar em um pneumologista e cardiologista, porém acabei encaminhada para um psiquiatra e psicólogo, porque nada foi constatado. Tratava-se, então, de um problema psicológico”, conta a jovem.

Isa novamente prestou vestibular e foi aprovada. No entanto, a felicidade pela aprovação logo daria lugar a um dos momentos mais difíceis da sua vida. Na época, ela namorava um rapaz que, momentos depois do fim da prova, anunciou o fim do relacionamento.

 “Logo depois da prova do vestibular, ele terminou o namoro. Foi então que tive a minha primeira crise depressiva. Não conseguia minimamente sobreviver, era um zumbi chorão que não dormia, não comia, não fazia nada além de chorar. Sonhava com a criatura, só pensava nela. Não queria ver ninguém, meu coração acelerava. Quando batia a ansiedade, eu ficava nervosa, os pensamentos normalmente eram sobre ele. Eu tinha lembranças do passado e medo do futuro. Era uma sensação de que as coisas não poderiam melhorar”, relata Isa.

“As pessoas precisam entender que ansiedade e depressão caminham bem juntas. E quando você tem as duas é um verdadeiro inferno. Uma vez ouvi uma frase que descreve bem: ansiedade é quando você se importa com tudo e depressão é quando você se importa com nada”, acrescenta a jovem.

Em crise depressiva e ao mesmo tempo sofrendo ansiedade, Isa passou a fazer terapia psicológica e, posteriormente, recebeu atendimento psiquiátrico. Apesar das dificuldades, teve forças para entrar na universidade, fato que, em certa medida, aliviou parte da tristeza que enfrentava na época.

No período, Isa começou a namorar novamente. Apegou-se bastante ao novo relacionamento, mas, novamente, viu uma os vínculos findarem. Ela revela que os familiares do rapaz não gostavam dela por suas posições políticas e ideológicas, e mesmo cobrando uma imposição energética do companheiro, ele se mantinha submisso às opiniões alheias.

“A família dele nunca gostou de mim. Não era a moça bela, recatada do lar, que eles queriam. Me criticavam e ele não me defendia, por isso ficava ansiosa, nervosa, ficava chateada, brigava para ele ser mais energético. Teve um primeiro término que essa questão familiar”, revela Isa.

“Foi quando bateu, além de uma ansiedade gigantesca, a depressão mais pesada de todos. Na ansiedade, em meio a tudo que eu sentia, começaram sintomas que vieram para o corpo. Passei a mexer o meu corpo. Em outro impulso, simplesmente começava, na hora da agonia, a esfregar as unhas na pele. Se tornava ferida. Isso aconteceu quatro vezes, a ponto de rasgar a pele. Já cheguei a me morder. As mordidas deixaram marcas e dor”, conta, demonstrando tristeza.

De acordo com a jovem, o relacionamento foi restaurado. Porém, as obrigações da universidade também motivaram, segundo ela, a manutenção da ansiedade. “A faculdade, depois de um tempo, começou a ser um fator estressante. Demorar a estagiar, todo mundo começando e eu não, sensação de que as coisas não dariam certo. Só comigo que não acontece. Me questionava sobre a minha capacidade. Isso era desesperador”, relata Isa.

Em um ritmo intenso de estudos e afetada pelos efeitos da ansiedade, Isa atrelou à terapia um tratamento psiquiátrico. Por inúmeras vezes, foi vítima de crises ansiosas, as quais descrevem com detalhes: “Quando eu sentia que ia entrar em crise, o coração acelerava e a respiração começava a falhar. Então eu corria para o banheiro, não queria que ninguém percebesse. Apesar do meu processo terapeuta, a ansiedade parecia que não era contida. Não conseguia responder aos meus trabalhos, não conseguia dar conta”.

Ela revela, ainda, que seus problemas psicológicos foram intensificados após mais um término do namoro, desta vez de maneira definitiva. Isa diz que foi um dos momentos mais difíceis da sua vida. Nesse período, sentiu que sua autoestima foi fortemente abalada. “A minha autoestima sempre foi terrível com tudo. Impactou bastante nas minhas relações amorosas. Me sino indigna de ser amada, porque me esforcei muito para que desse certo. Para mim, fui uma ótima namorada para todo mundo que passou pela minha vida. Nunca me achei bonita”, desabafa. “Tenho a sensação de que há algo de errado comido, porque não dou certo com ninguém. Me sinto como se tivesse dedo podre. Mesmo quando eu tenho alguém que parece ser legal, por mais que eu tente acaba não dando certo”, completa Isa.

Isa é resistência. Sofre, cai, mas levanta-se diante da ansiedade. É uma caminhada rumo à recuperação, mesmo a passos difíceis. Ela encara as suas frustrações e medo. Com a ajuda de amigos e especialistas, luta pela saúde.

Isa confessa, no entanto, que é difícil batalhar contra os efeitos da ansiedade – na mente e no corpo -. “Uma pessoa que tem ansiedade ela nunca se prende apenas no presente. Quando estou muito ansiosa, às vezes me pego andando a esmo sem razão alguma. Mesmo sem ter nada para fazer, fico tão inquieta que saio do quarto para a sala, da sala para cozinha, da cozinha de volta para o quarto. Parece que estou procurando o que fazer, mas eu simplesmente não tenho. Minha mente é um turbilhão de pensamentos irrefreáveis. Tenho dificuldade para dormir, o sono é agitado. Às vezes tenho pesadelos e acordo no meio da noite”, descreve.

“O que descreve melhor o turbilhão da minha mente e do meu corpo: ser ansiosa é não conseguir parar onde estou. Não consigo parar no presente. Quem é ansioso se importa o tempo todo e com tudo. Não consegue parar de ter cobranças, está sempre pensando no que pode acontecer. Você pensa no passado. Você pensa no que deixou de fazer. Você não consegue parar de imaginar mil cenários e hipóteses. Não para de pensar como deveria fazer as coisas da sua vida ou como as pessoas estão interpretando as coisas que acontecem com você. Sua cabeça te joga para frente e para trás”, diz, em um ritmo acelerado.

Antes do ponto do final do relato, uma singela pergunta para Isa: O que você espera do futuro? Ela responde: “Essa pergunta me causa ansiedade”.

*Nome fictício

Reportagem integra o especial “Ansiedade”. Produzido pelo LeiaJá, o trabalho jornalístico detalha como a doença afeta pessoas de todo o mundo, bem como mostra as formas de tratamento. Confira as demais matérias:

2 - Os brasileiros são os mais ansiosos do mundo

3 - Dependência tecnológica: ansiedade pode ser gatilho

4 - Depressão e ansiedade podem andar juntas

5 - Muito além do divã: tratamento clínico pode ser integrado

Em uma disputa com o Rio de Janeiro para manter o GP do Brasil de Fórmula 1 em São Paulo, o governador João Doria está tão confiante na permanência da categoria na capital paulista que já faz planos a longo prazo. Seu objetivo é manter a tradicional corrida no Autódromo de Interlagos pelos próximos 20 anos.

"A ideia, a priori, é planejar 20 anos, como um objetivo, de 2021 para os próximos 20 anos", revelou Doria, na terça-feira, após reunião com o prefeito Bruno Covas e o diretor executivo da F-1, o norte-americano Chase Carey. O contrato atual entre a categoria e São Paulo se encerra em 2020.

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O plano de 20 anos, portanto, teria início em 2021. Sem revelar detalhes, Doria avisou que as primeiras reuniões serão realizadas nas próximas semanas. "Do ponto de vista de São Paulo, já montamos um grupo de trabalho, com o governo estadual e com a Prefeitura de São Paulo. Nas próximas semanas, eles vão estar reunidos com os representantes da Fórmula 1 em São Paulo."

Os encontros serão encabeçados pelo atual promotor do GP do Brasil, Tamas Rohonyi, que também já realizou os GPs da Hungria e de Portugal. "Com estas reuniões, vamos trabalhar com o tempo necessário, com a serenidade que exige uma decisão desta ordem. Que seja uma decisão madura, definitiva e sobretudo empresarial", projetou Doria, já prevendo, confiante, a eventual renovação do contrato de São Paulo com a F-1.

A meta do grupo é se alinhar com as novas diretrizes da F-1, que vem aos poucos sofrendo mudanças desde a compra da categoria pelo grupo norte-americano Liberty Media. Desde que assumiu a categoria, em 2017, o grupo vem tentando tornar o campeonato mais popular, agregando eventos culturais e de entretenimento às corridas e treinos.

"Fiquei muito feliz com apresentação feita pelo senhor Chase Carey, de que, além do GP de Fórmula 1, com corrida e treinos, agora sob a nova gestão, quer tornar o GP uma experiência", declarou Doria, após a reunião com o dirigente. Carey pretende tornar a F-1 semelhante ao Super Bowl, a final do futebol norte-americano, que agrega shows e espetáculos e mobiliza a cidade-sede do evento.

"Isso é muito interessante porque aumenta a percepção em torno da Fórmula 1. Aumenta o interesse do público em torno do GP. Aumenta também o efeito residual da F-1 no local onde se realiza e até mesmo fora. O GP pode ser realizado em São Paulo e ter 'fan fests' fora da cidade. E, por último, a ideia de plataforma é contagiante porque traz um legado maior, inclusive no plano da educação e sensibilização dos jovens para a F-1", disse Doria.

Para tanto, São Paulo precisa vencer uma queda de braço com o Rio de Janeiro. No início de maio, o presidente Jair Bolsonaro assinou um termo de compromisso para trazer de volta ao Rio a categoria, a partir de 2021. Com este forte apoio, a cidade espera erguer um novo autódromo em Deodoro para voltar ao mapa da F-1. O futuro circuito, cujo projeto já foi apresentado a Carey, terá um custo estimado de R$ 700 milhões, com promessas de investimento apenas privado.

Nas últimas semanas, o chefão da F-1 se reuniu com dirigentes e autoridades das duas cidades. Mas anunciou que ainda não chegou a uma decisão e avisou que não estabeleceu um prazo para definir se o País permanecerá no calendário depois de 2020 e onde seria disputada a etapa brasileira.

Não foi nesta terça-feira que o GP do Brasil de Fórmula 1 teve o seu futuro definido. E, a julgar pelas declarações do norte-americano Chase Carey, atual chefão da categoria, os fãs de automobilismo do País vão ter que esperar mais um pouco para saber se a etapa seguirá no calendário e onde ele seria disputada, em São Paulo ou no Rio de Janeiro.

Na tarde desta terça, ele disse que a categoria não trabalha com qualquer prazo para a definição, após reunião com o governador João Doria, o prefeito Bruno Covas, secretários estaduais e o atual promotor do GP, Tamás Rohonyi. O contrato de São Paulo vai até o próximo ano.

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"Temos algum tempo ainda. Estamos focados em analisar as etapas cujos contratos se encerram neste ano", afirmou Carey. A lista de corridas que não tem vínculo para 2020 inclui Inglaterra, Espanha, Alemanha e México. "Mas a prova brasileira é importante para nós. O mercado brasileiro é tremendamente importante para nós", declarou.

Carey, contudo, admite que pretende analisar com cuidado as propostas de São Paulo e Rio, que aposta na construção de um novo autódromo em Deodoro para voltar a receber corridas - o que não acontece desde 1989. "Acho que temos tempo. Queremos avançar de forma cuidadosa, mas o mais breve possível."

Na entrevista, o diretor executivo da F-1 fez elogios a Tamás Rohonyi e lembrou da trajetória histórica do Brasil na categoria. "O Brasil é parte da nossa história, com muitos heróis das pistas. As provas aqui são sempre interessantes e esperamos que possamos manter esta tradição em novembro", afirmou, referindo-se ao GP deste ano.

Ao mesmo tempo, Carey fez questão de destacar que candidatos a receber etapas da F-1 devem atender agora a novos critérios, não apenas esportivos. "Queremos continuar crescendo e expandindo o esporte. Estamos focados em criar um grande evento de F-1 para todos os fãs, com diferentes espetáculos, que envolva as pessoas de todas as idades e que mexa com a cidade. Queremos que seja como um Super Bowl", ressaltou, ao mencionar a final do futebol americano.

"Queremos discutir mais sobre as oportunidades no Brasil. São discussões fechadas. Ainda não temos uma resposta. Mas estamos ansiosos para construir algo bom para nós e para os fãs do Brasil e do mundo", enfatizou Chase Carey.

Em maio de 2019 a pesquisa agropecuária na Amazônia completa 80 anos de história. Para marcar a data, a Embrapa Amazônia Oriental reunirá especialistas em agronegócio, Amazônia, ciência, tecnologia e mercado para um debate público sobre o presente, o futuro e a inovação na agropecuária da região. Aberto ao público, o evento será nesta quinta-feira (16), das 8h30 às 11h30, na sede da instituição, em Belém.

Uma das 42 unidades da empresa em todo o país, e sucessora direta da primeira instituição de pesquisa agropecuária do Norte do Brasil - o Instituto Agronômico do Norte (IAN), a Embrapa Amazônia Oriental é uma das instituições pioneiras na produção de conhecimento na Amazônia. “O que a Empresa gerou ao longo desses 80 anos foi de fundamental importância para a produção agropecuária e florestal em diferentes escalas na região, como também para a construção de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, afirma o pesquisador Adriano Venturieri, chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental.

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Na Amazônia, a empresa atua na agricultura, pecuária e no segmento florestal. Entre os principais resultados de pesquisa figuram novas variedades de cupuaçu, açaí, milho, arroz, feijão-caupi, pimenta-do-reino, além de sistemas de produção de carne e leite e bovinos e bubalinos, pastagem e manejo florestal. Tudo isso para produzir mais, melhor e com sustentabilidade ambiental na Amazônia.

Um dos desafios para a região é aliar a tecnologia da informação à produção agropecuária, o que já é uma realidade em diferentes regiões do país. O tema Agricultura 4.0 está na pauta do debate que acontece na sede da Embrapa Amazônia Oriental, nesta quinta, em Belém.

A Agricultura 4.0 será abordada pela chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas-SP), Sílvia Massruhá. Trata-se de um conjunto de tecnologias digitais integradas e conectadas por meio de softwares, sistemas e equipamentos capazes de otimizar a produção agrícola, em todas as suas etapas. Drones, sensores, GPS e softwares de análise de dados já são utilizados para, por exemplo, verificar a necessidade de água ou adubo em uma plantação ou para fazer a gestão da propriedade ou ainda para encontrar pragas e doenças em plantas com precisão.

 “Há fazendas já bastante automatizadas. Um próximo passo importante será avançar na convergência dessas tecnologias e na análise e tratamento do grande volume de dados produzidos para a entrega de informação qualificada na forma de serviços para o produtor rural”, explica a especialista.

Programação

O painel “Um olhar para o Futuro” conta com a participação de Cleber Soares, diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa, que vai falar sobre a inovação no contexto da pesquisa agropecuária no Brasil; Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), que vai abordar as oportunidades para o agronegócio na Amazônia; Judson Valentim, gestor do portfólio de pesquisas da Embrapa para a Amazônia; Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, que vai abordar a Agricultura 4.0; entre outros. 

Com informações da assessoria da Embrapa Amazônia Oriental.

Os fãs de "Black Mirror" já podem comemorar. A Netflix liberou nesta quarta-feira (15) o teaser da quinta temporada da série futurista, e com a presença de uma estrela do pop internacional. Miley Cyrus fará uma participação em um dos episódios e promete emocionar.

"Não tenho nem mais coragem pra chamar essa série de distopia. De qualquer forma, #BlackMirror volta dia 5 de junho", anunciou a plataforma nas redes sociais. De acordo com a Netflix, serão disponibilizadas três histórias.

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Confira o trailer:

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Duas turmas da Escola Municipal Lauro Chaves, na Baía do Solo, em Mosqueiro, ao todo mais de 50 alunos, foram beneficiadas pelas doações dos materiais que são arrecadados pelo projeto Futuro Brilhante, que existe há quatro anos. A entrega ocorreu no sábado (30).

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O projeto surgiu para atender às crianças da comunidade quilombola Cruzeirinho, no Baixo Acará, que estavam deixando de ir à escola por falta de material escolar. Em 2018 a arrecadação conseguiu atender não só à comunidade Cruzeirinho, mas ONGs, projetos sociais e escolas, como foi o caso da escola Lauro Chaves.

"É uma comunidade muito carente de vários serviços, de oportunidades de emprego e até a acessibilidade é complicada porque são poucos ônibus. A gente resolveu vir contribuir para que eles tenham mais condições de prosperar na educação. Também conseguimos trazer alguns brinquedos, as crianças ficaram muito felizes. A gente sempre orienta os pais a continuarem incentivando e espero que seja um pontapé inicial para que eles possam dar continuidade", disse Diego Martins, professor e idealizador do projeto Futuro Brilhante.

Segundo Emmanuellee Franco, diretora da escola, quase 500 famílias são atendidas pelo espaço. "Nós ficamos muitos satisfeitos. Qualquer projeto que chegue para agraciar a comunidade é bem aceito. A escola Lauro Chaves está sempre aberta para essas parcerias", afirmou.

Denilza Pamplona, professora do Jardim II, parabenizou o projeto. "É maravilhoso estar contribuindo com essas crianças que são carentes. É importante vocês trazerem e acolherem eles com esses materiais, isso contribui com o aprendizado deles. Nossa comunidade é carente e ter a participação de vocês é muito importante", avaliou.

Para Diego Melo, analista de sistemas e apoiador do projeto, palavras não descrevem o sentimento de ajudar ao próximo. "É bem gratificante o dia de entrega dos materiais para as crianças. Cada sorriso, cada abraço que você recebe dessas crianças, no momento em que você entrega, é sincero, não tem como descrever. É uma felicidade imensa estar aqui hoje", afirmou.

As arrecadações dos materiais vão até 1º de maio. Quem tiver interesse em doar pode entrar em contato pelo número (91) 99214-2537 ou pelas redes sociais @FuturoBrilhante ou @DireitoSemFormalismo.

 

 

Na semana em que o Reino Unido deveria ter deixado a União Europeia, Theresa May ainda trabalha nesta segunda-feira (25) em sua estratégia sobre o Brexit, com a ameaça de que o Parlamento assuma o controle e termine com seus dias de primeira-ministra pairando sobre sua cabeça.

Antes do início de um conselho extraordinário de ministros, os membros de um governo visivelmente dividido teriam sido convidados, segundo um jornalista do Daily Telegrapah, a ler relatórios sobre diferentes estratégias relativas ao Brexit.

Estas iriam da aprovação do acordo de May com Bruxelas à anulação pura e simples do Brexit, através da convocação de um segundo referendo sobre a permanência ou não no bloco.

Estas são algumas das opções sobre as quais o próprio Parlamento poderá decidir esta semana, em uma série de votações indicativas e não vinculativas, se a primeira-ministra for afastada do caótico processo.

May manteve conversações de crise no final de semana com seus colegas conservadores para tentar recuperar o controle das negociações.

De acordo com a imprensa britânica, em uma tentativa de fechar as fileiras, a primeira-ministra programou uma reunião na residência rural de Checkers com vários deputados conservadores, entre eles alguns eurocéticos veementes como o influente Jacob Rees-Mogg e o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, que muitos acreditam que aspiram substituí-la na chefia de Governo.

A reunião versou sobre "materializar o Brexit. No encontro foi discutida uma ampla lista de temas, incluindo se há apoio suficiente nos Comuns" para voltar a votar o acordo de divórcio pactuado entre a UE e May, explicou um porta-voz de Downing Street que confirmou à AFP que May mantém conversas com os colegas.

- UE preparada -

A Comissão Europeia, por sua vez, anunciou nesta segunda que a União Europeia (UE) concluiu seus preparativos para um Brexit sem acordo.

"Dado que é cada vez mais provável que o Reino Unido abandone a UE sem chegar a um acordo em 12 de abril, a Comissão Europeia completou hoje seus preparativos para o Brexit sem acordo", declarou o Executivo comunitário em um comunicado.

A data de 12 de abril foi a prorrogação do Brexit dada aos presidentes europeus à sua colega britânica caso a Câmara dos Comuns rejeite pela terceira vez esta semana o acordo de divórcio negociado.

E, enquanto paira a incerteza no Reino Unido sobre se a premiê britânica voltará a submeter o acordo do Brexit à votação nos próximos dias, a UE aumenta a pressão sobre os britânicos.

Bruxelas destaca que, se o Reino Unido se retirar sem conseguir um acordo com a UE, não haverá um período de transição e o Direito Internacional, como o da Organização Mundial do Comércio (OMC), vai ser aplicado a partir do momento da saída.

"A UE deverá imediatamente aplicar suas regras e seus direitos de aduana em suas fronteiras com o Reino Unido, incluindo os controles aduaneiros, sanitários e fitossanitários", aponta a Comissão, que adverte para "atrasos nas fronteiras".

As medidas para enfrentar um Brexit sem acordo englobam, assim, âmbitos como o setor pesqueiro, a segurança aérea, os transportes com o Reino Unido, o programa de intercâmbio Erasmus, ou a reciprocidade de vistos, entre outros.

Nesta segunda, a Comissão publicou também uma série de orientações para cidadãos e empresas e implantou o número de telefone gratuito 00 800 67 89 10 11 para informar sobre como se preparar para um Brexit sem acordo.

Na série de reportagens "Brumadinho - O que restou depois da lama", o LeiaJá viajou pela cidade de Brumadinho ouvindo relatos de pessoas afetadas pelo rompimento da barragem.

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Letreiro fica na entrada da cidade. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Há um mês, a pacata cidade de Brumadinho se tornava palco da maior tragédia humana da história da mineração no Brasil. Era o horário do almoço para alguns moradores e para outros o momento do descanso, que só seria cessado com os gritos por todos os lados. "A barragem da Vale estourou", diziam aos prantos sem entender o que estaria acontecendo a poucos quilômetros do centro da cidade, na área urbana. O rompimento da Barragem I da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, no último dia 25 de janeiro durou alguns minutos e foi suficiente para devastar um município, que aos poucos busca se reinventar.

Depois do choque dos primeiros dias após o que muitos identificam como o maior "crime" da Vale na região, a lama e as perdas deixaram a população desnorteada, sem saber para onde ir. A rotina se transformou e aos 40 mil habitantes, agora se somam, centenas de bombeiros, policiais militares e muitos voluntários vindo de todas as regiões do Brasil. Pela estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os trabalhos deverão se estender por três a quatro meses após o rompimento.

Os dados oficiais do poder público contabilizam 179 mortos já identificados e 131 pessoas desaparecidas após a tragédia. Desses, 102 corpos identificados são de funcionários da Vale, enquanto outros 77 pertencem à comunidade e empresas terceirizadas. Quanto aos desaparecidos, 29 são da Vale e outros 102 do outro grupo. O balanço foi divulgado na noite deste domingo (24) pelo tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).

Pela estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os trabalhos deverão se estender por três a quatro meses após o rompimento. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Já são 31 dias depois da tragédia e a força tarefa que investiga o caso ainda não chegou a uma conclusão sobre o que gerou o rompimento da barragem, apesar de já se ter o conhecimento de que alguns funcionários da Vale sabiam dos problemas. Em entrevista à imprensa, o promotor de Justiça de Brumadinho, William Garcia Pinto afirmou que a barragem rompeu com toda a sua fúria num evento que representantes da Vale insistem em afirmar que foi acidente. "Mas o Ministério Público e as polícias de Minas Gerais têm hoje a convicção de que ocorreu a prática de um crime doloso e um crime de homicídio, por meio do qual diversos atores assumiram o risco de produzir centenas de mortes".

Luto, lama e a tentativa de seguir um futuro diferente distante das atividades mineradoras. É sobre o que muitos brumadinhenses têm debatido nas últimas semanas. No último dia 12 de fevereiro, a Câmara Municipal da cidade sediou a primeira reunião oficial dos moradores para debater o futuro da cidade, levando em consideração as inúmeras consequências do tsunami de lama que manchou a história de Minas Gerais.

Falta de informações, tristeza, baixa nas vendas, incerteza sobre o futuro e soluções pensadas pelos próprios moradores colocam em dúvida se a atividade mineradora ainda será bem vinda na região. O encontro foi organizado pelo Movimento Somos Todos Atingidos de Brumadinho, Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB e a Frente Brasil Popular de Brumadinho e contou com a presença de dezenas de participantes.

Passado um mês da tragédia, o que pensam os moradores da cidade sobre o futuro?

Moradores de Brumadinho participam de reunião para pensar sobre o futuro da cidade. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Para a moradora Junia Viana, 53, a dor é grande e vai demorar a passar, mas é preciso que a gestão municipal se preocupe com o psicológico das pessoas que seguirão habitando na região. Ela destaca ainda que cidades atingidas por catástrofes têm alto índice de alcoolismo, por exemplo. "Vamos ter que pensar em dar mais qualidade de vida para a nossa população. Brumadinho necessita de praças, parques e espaços de lazer. Podemos fazer a história diferente e isso seria bom tanto para os turistas, quanto para nós, não custa caro", afirmou.

João Sérgio, 26, também acompanhou o debate e decidiu expor a opinião contra o funcionamento de mineradoras em sua cidade. "Aqui nós crescemos ouvindo que no dia que a Vale fechasse, seria um desastre em Brumadinho. Sabemos que a conta não fecha sem os impostos pagos pela mineração. Mas até quando vamos viver disso?", questionou. Ele alertou que nesse primeiro momento, as câmeras do Brasil todo estão voltadas para a cidade e, por isso, devem cobrar do poder público políticas públicas para minimizar a dependência do extrativismo.

Para o morador, o turismo é apenas um dos caminhos, já que o Instituto Inhotim, referência internacional no mundo das artes, fica localizado na cidade. "Sabemos que o turismo gerado por Inhotim é bom, mas não dá conta da cidade toda. Precisamos de mais empresas investindo aqui, temos cachoeiras e trilhas e porque não utilizamos o turismo ecológico. Não somos organizados e muitas vezes o turista nem sabe dessas outras coisas. É o momento de se reinventar porque mesmo que a barragem não tivesse estourado, em um momento esse minério vai acabar e aí o que vai acontecer?", perguntou.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a principal atividade de Brumadinho é a mineração seguida pela agricultura de pequeno porte. Dos 20,5 mil hectares de lavoura, 17 mil são de produtores individuais, que utilizam da agricultura de subsistência e comercial para alimentar a família. Avimar Barcelos (PV), prefeito da cidade, disse que sem a mineração, a cidade não conseguiria pagar pelos serviços essenciais. Ele estima que 35% da arrecadação da cidade venha dessa atividade.

Raphaela Pereira, integrante do MAB, questionou a interpretação da Vale de quem são os atingidos. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Diante dos números, Raphaela Pereira, integrante do MAB, questionou a forma como a Vale e a Prefeitura da cidade estão interpretando quem são os atingidos. Já que além das mortes, a lama também ceifou o espaço de produção de muitos agricultores, o que também afeta o comércio local. Durante a reunião, representantes da CDL local apontaram uma queda de até 70% nas vendas.

"O que é ser atingido? Como é que eles estão avaliando isso? Não existe essa afirmação de diretamente e indiretamente atingido. Todos nós tivemos um pedaço de nós levados pela lama. Isso abala a vida de todos. Precisamos parar de depender da Vale para tudo. É o momento de pensarmos no fomento de outras formas de renda e união vai ser mais que necessária", apontou a militante.

O Ministério da Saúde anunciou no último dia 18 a liberação de mais R$ 4 milhões para a cidade de Brumadinho e a região. De acordo com o ministro Henrique Mandetta, que assinou os documentos para os repasses na Cidade Administrativa, a pasta vai acompanhar por pelo menos cinco anos as consequências do desastre, com atenção especial para a saúde mental dos moradores.

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Além do dano social e psicológico, o mar de rejeitos de minério também contaminou o Rio Paraopeba, ao longo de 300 quilômetros do curso d'água. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, peixes morreram e mais de 270 hectares de vegetação nativa foram devastados. A entidade estima que o ecossistema na região levará pelo menos 300 anos para se recuperar totalmente.

O vereador do município Professor Caio fez um alerta sobre o futuro do Rio Paraopeba. Ele diz que se chover, a cidade vai alagar e será mais um transtorno para se preocupar, já que o rio está com um contingente de tóxicos alto. Se chover, a lama de rejeitos vai afetar todo o centro da cidade e poluir tudo.

"A Vale precisa acelerar isso. Temos dragas em Brumadinho e eles podem alugar esses equipamentos com facilidade. Essa limpeza deve ser feita em caráter emergencial, é uma empresa irresponsável. Essa tragédia não pode ficar impune, perdemos muito mais do que o aspecto financeiro. Eu pescava nesse rio, muitas pessoas precisavam dele para se alimentar e agora a gente nem sabe se ele está vivo. O aspecto ecológico acabou. Eles dizem que estão dando o máximo, mas a gente sabe que é mentira, mataram o nosso rio", contou.

Antônio Paulorinho afirmou que a Vale acabou com a nascente dos rios na região. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O aposentado Antônio Paulorinho, 69, morador do Córrego Feijão também criticou a forma como a Vale subtrai os recursos da natureza e não devolve. Na ocasião, ele lamentou que não pode mais produzir seus alimentos porque as nascentes dos rios estão secando. "Trabalhei, economizei, lutei e deixei de comer bem para comprar uma terra para mim. Agora não posso mais produzir porque as minhas águas todas secaram. Estou morrendo aos poucos", contou o morador que também perdeu familiares no rompimento da barragem.

Ele criticou a falta de preocupação da empresa com o futuro dos recursos hídricos já que as hortas e as criações dependem da água. "Eles roubam as nossas águas com esses poços artesianos e não devolvem tudo de boa qualidade, extraem até a última gota. Eu não sou minerador, vou produzir o que? Se minha horta está morrendo e minha casa não chega mais água?".

O governo de Minas Gerais reiterou a proibição do uso da água do Rio Paraopeba, que abastece a região. Não foi informado por quanto tempo valerá a determinação. Em nota, divulgada pelas secretarias de Saúde, Meio Ambiente e Agricultura, o alerta é para evitar o uso em quaisquer circunstâncias. “A orientação de não se utilizar a água bruta do rio, sem tratamento, é válida para qualquer finalidade: humana, animal e atividades agrícolas”.

Para Jarbas da Silva, da Coordenação Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, o rompimento da barragem da Vale, no dia 25 de janeiro, alertou mais uma vez a sociedade brasileira sobre a necessidade de ter mais informações acerca das Barragens de Rejeitos de Mineração que se encontram ao redor de suas casas e cidades. "Somente neste século, ocorreram oito rompimentos de barragens de rejeitos minerais no estado de Minas Gerais, isso demonstra que existe algum grande problema com o processo de extração mineral.

Governo de Minas Gerais recomenda que população não use mais a água do Rio Paraopeba. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O ativista ressaltou ainda questionamentos de como está estruturado o setor mineral brasileiro e quais são os motivos dessas tragédias. "Não podemos negar que os rompimentos ocorridos nos últimos anos, que causaram cerca de 400 mortes de trabalhadores, contaminações de pessoas, mortes de rios e destruição da fauna e flora, nos revelou que existem graves limites nos processos de fiscalização e manutenção das barragens de rejeitos no país. Ainda assim, ocultam o verdadeiro problema que necessita ser enfrentado com muita seriedade e responsabilidade: o modelo mineral que mata, mutila, enlouquece, sonega, evade divisas, recebe incentivos de diferentes caráteres, compra parlamentares e possui uma autarquia do Estado para garantir os seus interesses", revelou Jarbas.

Após o desastre, o poder público entrou em alerta. Por conta disso, mais de 1000 pessoas já foram retiradas de casas que ficam abaixo de barragens de risco, em quatro cidades próximas a Belo Horizonte. Assim como em Brumadinho, essas famílias que residem nas cidades de Barão de Cocais, Nova Lima (em dois pontos) e Ouro Preto e Itatiaiuçu, onde há um complexo da ArcelorMittal.

No último dia 18, foi publicada resolução no Diário Oficial da União por recomendação da Agência Nacional de Mineração (ANM). O Ministério de Minas e Energia definiu uma série de medidas de precaução de acidentes nas cerca de mil barragens existentes no país, começando neste ano e prosseguindo até 2021. A medida prevê a extinção ou descaracterização das barragens chamadas "a montante", exatamente como a que se rompeu em Brumadinho, até 15 de agosto de 2021.

Confira mais reportagens clicando nas fotografias abaixo:

<p>A série O BRASIL QUE TEREMOS, do LeiaJá, ouviu especialistas sobre diversos temas da atualidade para construir um cenário para os próximos quatro anos. Aqui, para analisar a situação da segurança pública, o convidado é o professor Rodolfo Marques, mestre em Ciência Política (UFPA), doutor em Ciência Política (UFRS), bacharel em comunicação social (UNAMA), com curso superior de Gestão profissões e eventos culturais (UNAMA), MBA em Marketing (Fundação Getúlio Vargas) e pós-graduação em Docência em educação superior (FAZ Ipiranga). Rodlfo é professor nos cursos de Comunicação Social, Relações Internacionais e Marketing e servidor público no Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJE). <strong>Ouça o podcast abaixo.</strong></p>

A série O BRASIL QUE TEREMOS, do LeiaJá, ouviu especialistas sobre diversos temas da atualidade para construir um cenário para os próximos quatro anos. Aqui, a convidada é a médica Verônica Costa. Para ela, o governo deve reforçar o Sistema Único de Saúde (SUS) e ampliar a rede de atenção básica. Verônica é formada pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), com especialização em Nefrologia pela Escola Paulista de Medicina. É diretora de Comunicação do Sindicato dos Médicos do Estado do Pará, secretária da Mulher Médica na Federação Médica Brasileira e presidente da Regional do Pará da Sociedade Brasileira de Nefrologia. Clique no ícone abaixo e ouça.

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A série O BRASIL QUE TEREMOS, do LeiaJá, ouviu especialistas sobre diversos temas da atualidade para construir um cenário para os próximos quatro anos. Neste podcast, a professora Ana Sabrina Favacho, coordenadora dos cursos de Ciências Econômicas e Administração, CST Recursos Humanos e CST Logística da UNAMA – Universidade da Amazônia, bacharel em Ciências Contábeis, especialista em Auditoria e mestra em Administração, responde à pergunta: “O que podemos esperar do novo governo no mercado de trabalho?”. Clique no ícone abaixo e ouça.

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É difícil se desapegar de algo quando ele já faz parte da nossa cultura. Os discos de vinil custaram a perder a força, muitas pessoas relutaram e continuam insistindo neles, tanto que novas versões atualizadas e modernas (também chamadas de vintage), mas com a mesma essência, continuam sendo produzidas. As pessoas que diziam que os rádios acabariam na época em que as televisões estavam se desenvolvendo, hoje mordem a língua ao ver a enorme audiência que os programas de rádio ainda cativam. Agora a bola da vez está com os jornais impressos, ameaçados pelas novas plataformas digitais.

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O jornalista Lázaro Morais, editor chefe do jornal O Liberal, não acredita no fim do impresso. Para ele, “o que vai determinar o desaparecimento do jornal impresso não é o meio, mas sim as condições materiais. E enquanto houver árvore, tem papel e tem jornal impresso”. De acordo Lázaro, se as matérias-primas necessárias continuarem existindo, as duas plataformas irão conviver. Ele ainda afirma que a maior ameaça aos jornais impressos são as mudanças geracionais, que o que sustenta o jornal impresso é costume da leitura e que “enquanto houver a memória, a cultura sobrevive”. Para ele, o que vai mudar é a forma como o conteúdo será apresentado e não o meio em que ele será produzido. “A questão é que esse modelo de jornal impresso tende a acabar, ele não vai mais tentar ser factual, vai ser analítico, de serviços e que proporcione outros interesses”, explica.

De acordo com a professora Ana Prado, doutora em Comunicação Social e titular da Universidade Federal do Pará (UFPA), as pesquisas pelo menos concordam que essa plataforma terá que se modificar para se adaptar aos novos tempos. Uma das possibilidades que a pesquisadora enxerga para a continuidade dos jornais impressos é que ele aborde as notícias de forma diferente, sem se preocupar em transmitir o factual que já vai estar nos jornais digitais há muito mais tempo.

Valdo Ferreira, diretor de O Liberal, assegura que os jornais impressos não vão acabar, mas que irão atender um público muito específico, que não vai manter a fidelidade por causa das notícias, mas pela própria plataforma: o jornal impresso. Ao tentar considerar a hipótese desse término, ele garante que a informação seria escassa mesmo que já houvesse uma revolução tecnológica e ainda faz referência aos já conhecidos discos de vinil. “No dia em que as redes sociais derem a certeza (credibilidade) que os jornais impressos dão, as pessoas não vão mais sentir falta, mas se isso não acontecer, vão sentir. E aí o jornal pode até ressurgir, como acontece hoje com os vinis”, conclui.

O jornalista Adaucto Couto, editor executivo do Diário do Pará, também acredita que a possível extinção dos jornais em papeis seria decorrente de uma mudança cultural e não material. Ele até chega a aceitar o possível fim da plataforma, mas diz que para isso é preciso que os jornais digitais consigam a substituir totalmente quanto à credibilidade. Essas afirmações são confirmadas pela pesquisadora Ana Prado, que afirma não ter apenas um motivo para a crise dos jornais impressos. Para ela, tanto as mudanças culturais, quanto as transições geracionais e novidades tecnológicas auxiliam neste enfraquecimento. “Essa geração não foi culturalmente acostumada a ler em papel”, continua a professora.

Mas nem todos são otimistas. A jornalista Rita Soares não demonstra felicidade quando repete insistentemente que os jornais impressos vão acabar e que nada mais pode ser feito para mudar isso. Ela, também como professora, afirma já ter sido indagada sobre o tema inúmeras vezes, e que por muito tempo relutou à possibilidade de aceitar o término dos jornais tradicionais de papel. Até que, de acordo com ela, chegou um momento em que não pôde mais fugir dessa realidade que conseguiu enxergar com mais clareza quando começou a trabalhar na área digital.

Últimas tentativas

Como diz o ditado: a esperança é a última que morre. Os discos de vinil, que por algum tempo foram esquecidos, hoje conservam um valor simbólico talvez mais especial do que teriam se não tivessem passado por uma crise. Então por que desacreditar em uma longa expectativa de vida para o jornal impresso? Muitos jornais apresentam novidades na forma de produzir conteúdo com o objetivo de chamar a atenção dos leitores. Outra válvula de escape são as transformações gráficas. O escritor Orlando Carneiro recebeu o Prêmio Jabuti de designer gráfico pelo livro “Marcas do Tempo”, e mesmo assim afirma que o layout é importante, mas que as letras continuam as mesmas: o “a” continua sendo “a”, o “b” sendo o “b” e assim por diante. Ou seja, de acordo com ele os jornais são feitos para oferecer conteúdo informativo, então o principal objetivo não deve ser a apreciação pela beleza do material.

Além disso, colocar revistas e projetos dentro do jornal com a chamada “venda casada” é outra forma continuar conquistando o leitor, como explica o diretor de contas de O Liberal, Valdo Ferreira. Se a pessoa se interessar por uma revista ou outro material, ela terá que comprar o jornal impresso inteiro para poder conferir essa produção, assim o leitor tem o que quer e o jornal faz o que precisa: vender e informar.

O jornal Diário do Pará, por exemplo, produziu um projeto chamado “Casarões”, no qual maquetes de papel que retratavam prédios históricos de Belém eram adicionadas ao jornal, com o intuito que o leitor pudesse montar a miniatura, conhecer mais da cultura paraense e, claro, não deixar de comprar o jornal esperando pela próxima construção. Hamilton Pinheiro, que acompanhou essa e outras produções do jornal, conta que conheceu famílias que montavam as maquetes juntas e faziam questão de ir até o prédio real para comparar a miniatura com a construção. “A gente tem que ter a consciência de que os tempos mudaram, as pessoas mudaram e a gente tem que mudar junto, se não vamos ficando para trás”, acrescenta Hamilton.

Mas se o que faz a escola é o aluno, quem faz o jornal é o leitor. Cezar Cruz, o personagem que representa os fiéis leitores dos jornais impressos e digitais, afirma, sem demonstrar dúvidas, que enquanto houver jornal impresso, ele não deixará de consumir. E assim o jornal segue vivendo. Ou sobrevivendo. Torcendo para que, caso tudo dê errado e realmente acabe, possa ressurgir e ter, em sua versão vintage, um valor simbólico tão especial quanto o dos nostálgicos discos de vinil.

Por Yasmim Bitar.

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Não é preciso estar dentro dos jornais para enxergar a diferença de preço de produção, de lucro e de consumo que as plataformas impressas e digitais apresentam. Leitor fiel de jornais impressos desde 1978, Cezar Cruz, secretário financeiro executivo do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial e Lacustre e das Agências de Navegação do Estado do Pará (Sindarpa), afirma que os jornais digitais são muito mais econômicos, já que as pessoas só precisam ter internet para acessá-los, o que, querendo ou não, provavelmente já vão ter mesmo que por outros interesses e necessidades. Ele também acredita que o preço que é cobrado pelo jornal impresso não corresponde aos gastos e esforços que as empresas têm para produzi-lo. Pensamentos parecidos com os da jornalista maranhense Rita Soares, que após trabalhar por mais de nove anos no Diário do Pará hoje coordena, com outros dois jornalistas, o site de notícias Conexão AMZ. Ela, por experiência própria, assegura que produzir para o meio digital praticamente não exige investimentos financeiros, mas que os retornos também são mínimos.

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Valdo Ferreira, diretor de Contas do jornal O Liberal, concorda quando afirma que, economicamente falando, não é possível sobreviver com jornais digitais. De acordo com ele, os principais insumos para a produção do jornal impresso são a tinta, o papel, a chapa de impressão e a mão de obra, já que só na equipe de impressão do Liberal trabalham 11 funcionários. Mas ele não fechou os olhos para as mudanças. Valdo conta que foi necessário mexer no quadro pessoal da empresa e diminuir a qualidade dos materiais utilizados para a produção, até chegar a um “meio termo”, no qual é possível produzir um jornal de qualidade sem gastos excessivos.

A concorrência digital não é a única vilã dessas dificuldades financeiras. Valdo afirma, assim como Hamilton Pinheiro, gerente de marketing e circulação do Diário do Pará, que a crise econômica que o país vive tem grande influência nas quedas dos jornais.  Para eles, só será possível enxergar quanto espaço as mídias digitais roubaram dos jornais impressos quando o país se reestabelecer financeiramente.

Já o cronista Orlando Carneiro chega a utilizar, sentado no sofá da casa onde mora, termos técnicos de engenharia para descrever a atual situação dos jornais e do país. Ele explica que a economia é vaso comunicante, ou seja, as variações financeiras das empresas, incluindo os jornais, são diretamente proporcionais ao quadro econômico do país. Se um cresce ou cai, diz, o outro acompanha.

A pesquisadora Ana Prado confirma que a crise econômica é um dos principais fatores que, junto à nova concorrência digital, afetam os jornais impressos. Bem-humorada, ela explica que em tempos de crise “a primeira coisa que as pessoas cortam não é comida, são coisas que elas podem ficar sem ou obter de outra forma”. Então se a mesma informação contida nos jornais impressos estiver disponível de forma gratuita em outras plataformas, afirma a pesquisadora, a crise levará o leitor a dispensar os jornais tradicionais de papel. Ela também explica que os investimentos dos jornais em suas próprias produções também caem devido à crise: as redações tendem a ser mais enxutas no quadro pessoal e os que ficam passam a ser “Severinos”, já que as funções começam a se integrar e os jornalistas tendem a se tornar multifuncionais, exercendo diversas (se não todas) atividades.

Hamilton Pinheiro, apesar de participar da administração do Diário do Pará, não enxerga as novas tecnologias informativas como uma ameaça ao futuro do jornal. Ele afirma que as mudanças trazidas pelas plataformas digitais afetaram principalmente os jornais que vivem de assinantes. “Esse não é o caso dos jornais da Região Amazônica, onde o maior número de leitores está na venda avulsa, ou seja, as pessoas que compram o jornal regularmente, mas com uma frequência eventual na rua” explica.

Mas isso não impediu que os jornais impressos se vissem obrigados a diminuir os preços de custo, graças também à “concorrência desleal”, como os jornais digitais foram chamados por diferentes pessoas durante esta produção. “Você tem um concorrente de graça. É a lei da oferta e da demanda”, acrescenta o editor chefe de O Liberal, Lázaro Morais. 

Acessibilidade

Um dos principais atrativos de um produto é a facilidade de consumi-lo. Ele pode ser feito com as melhores matérias-primas e técnicas mais avançadas, mas isso não vai adiantar se o consumidor não puder aproveitar essa qualidade sem dificuldades. Entre os prós e contras que os vinis oferecem, a acessibilidade foi um dos principais lados negativos que levaram as pessoas a os trocarem pelos CDs. Tanto os próprios vinis quanto os seus tocadores eram muito maiores e difíceis de manusear que os oferecidos pelos CDs, o que ajudou muito essas novas mídias musicais a ganharem o coração dos ouvintes. E para os jornais não é diferente.

 Orlando Carneiro, analisando como leitor, acredita que ler nos jornais impressos é mais agradável, principalmente por muitas versões digitais não fornecerem o formato e-book, o que, para ele, torna mais difícil passar as páginas na web e impossibilita a marcação do texto. Ele ainda acrescenta, ao contar como uma confidência, que adora ler deitado, e que por isso a versão e-book seria a mais adequada para ele, já que passar as páginas do jornal em papel na posição horizontal “é muito chato”.

Para Adaucto e Lázaro, editores dos principais jornais de Belém, escolher qual plataforma é mais acessível (entre impressos e digitais) é relativo. Eles acreditam que a facilidade para consumir esses diferentes tipos de produção depende da idade e dos costumes de cada leitor. Lázaro Morais explica que cada geração tem um hábito diferente e que é isso que determina a preferência de cada um. Adaucto Couto confirma: “A acessibilidade depende muito de que público estamos falando, porque depende de cada costume e geração”.

Já o leitor Cezar Cruz dá certeza de que o jornal impresso é mais fácil de manusear, além de não provocar problemas na vista como as telas digitais. Mas para a jornalista Rita Soares os informativos digitais são mais práticos e tendem a ser cada vez mais vistos dessa forma com o passar das gerações.

Redes sociais

“As redes sociais aproximaram os distantes e afastaram os próximos.” Essa citação é feita com uma expressão de total concordância pelo cronista Orlando Carneiro. Ele acredita que as redes sociais atrapalham os jornais impressos principalmente devido à velocidade que elas conseguem atualizar as publicações, o que os jornais de papel não têm como acompanhar.

Para o jornalista Lázaro Morais, o maior problema das redes sociais é que elas, junto à fragilidade do sistema de educação do país, fazem com que os leitores (usuários) percam o hábito da leitura e só consomem tudo de forma superficial, sem se preocupar em checar e se aprofundar no assunto. Afirmação que talvez explique a alta potencialidade de proliferação de notícias (verdadeiras ou falsas) nas redes sociais.

A pesquisadora Ana Prado ainda ressalta como as mídias digitais e os novos costumes sociais afetam o papel de mediador de informações do jornal. “Hoje, o público que antes só recebia informações, agora se apropria de ferramentas que possibilitam que todos possam produzir conteúdos informativos, sejam eles de qualidade ou não”, explica. Com esses limites tão moderados, os fatos passam a ser coadjuvantes para os leitores, enquanto a necessidade de receber constantemente informações que reforçam crenças pessoais vira protagonista.

O jornalista Adaucto Couto também ressalta os riscos das fake news. Ele explica que as redes sociais possibilitam que pessoas com gostos e costumes parecidos possam se encontrar com mais facilidade, mas que as fake news presentes nesse meio ainda são um grande problema. “Essas pessoas não têm a visão jornalística que nós temos. E fake news podem ser espalhadas por dois motivos: ignorância ou má fé”, acrescenta.

Esses meios de comunicação digitais chamados de “processo sem volta” pelo funcionário do Diário do Pará, Hamilton Pinheiro, de acordo com ele trazem muitos pontos positivos. Ao acompanhar as mudanças tecnológicas, ele observou que as pessoas não querem mais apenas consumir a notícia, mas querem também fazer parte dela e até mesmo produzir seu próprio conteúdo. “Muitas matérias publicadas no jornal impresso chegam através de colaborações de leitores pelo WhatsApp, o que mostra como as novas tendências tecnológicas podem se integrar às plataformas mais antigas” conta Hamilton.

A jornalista Rita Soares tem uma visão diferente. Para ela, produzir notícia para os meios digitais e principalmente para as redes sociais ainda é um grande desafio. Ela explica que as pessoas não estão nessas plataformas para se informar, mas para se divertir. E por isso, muitas notícias são descartadas desde o título por não serem de interesse imediato ou simplesmente por não ir a favor das ideologias pessoais do leitor. Rita ainda diz que “na internet é necessário ter um nicho específico de público, o que dificulta ainda mais a produção jornalística, já que a notícia não é produzida a partir de vontades pessoais, mas para transmitir informações de interesse público”.

Mas a jornalista não chega a ser totalmente pessimista quanto às novidades tecnológicas. Ela acredita que a internet enfraquece o “monopólio de notícias”. “Os jornais impressos que antes podiam com facilidade deixar de publicar assuntos que não eram de seu interesse, hoje não têm como esconder, porque tudo está na internet”, explica.

Por Yasmim Bitar.

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