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Milhares de mulheres vão às ruas nesta quarta-feira (8) para denunciar uma ofensiva global contra seus direitos e exigir o fim da discriminação e dos feminicídios, que aumentam em diversos países.

Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, eventos e manifestações serão organizados em várias cidades ao redor do mundo.

As razões da mobilização são inúmeras: a discriminação imposta no Afeganistão desde a volta do Talibã ao poder, a repressão aos protestos no Irã pela morte de Mahsa Amini, o questionamento do direito ao aborto nos Estados Unidos ou as consequências da guerra da Ucrânia para as mulheres.

No Brasil, atos em São Paulo e no Rio de Janeiro denunciarão os "cortes nas políticas de proteção às mulheres" e o "crescimento vertiginoso do machismo e da misoginia" durante o mandato do direitista Jair Bolsonaro (2019-2022), afirmou Junéia Batista, da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O atual presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, participará em Brasília do lançamento de programas para mulheres e da criação do Dia Nacional Marielle Franco contra a violência política, em homenagem à vereadora assassinada em 2018.

"Os avanços obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos", alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na segunda-feira.

"No ritmo atual, a ONU Mulheres calcula que serão necessários 300 anos" para alcançar a igualdade entre homens e mulheres, acrescentou ele, depois de recordar a situação no Afeganistão, onde mulheres e meninas foram "apagadas da vida pública" desde o retorno do Talibã ao poder, em agosto de 2021.

As universidades afegãs reabriram na segunda-feira após as férias de inverno, mas apenas os homens foram autorizados a frequentar as aulas.

A União Europeia (UE) adotou na terça-feira sanções contra o ministro talibã do Ensino Superior, Neda Mohammed Nadeem, "responsável pela violação generalizada do direito das mulheres à educação".

Outros indivíduos ou entidades responsáveis por violações dos direitos das mulheres no Irã, Rússia, Sudão do Sul, Mianmar e Síria também foram alvos de sanções.

- Manifestações proibidas -

As manifestações de mulheres foram proibidas em vários lugares, como no Paquistão, onde as autoridades acusaram os "cartazes controversos" que as manifestantes costumam carregar, com reivindicações sobre o divórcio ou contra o assédio sexual.

As organizações feministas independentes de Cuba, que convocaram uma "marcha virtual" nas redes sociais para conscientizar sobre a violência de gênero e os feminicídios, também não receberam autorização para protestar.

Outro tema central dos protestos será a defesa do direito ao aborto, enfraquecido nos Estados Unidos pela decisão da Suprema Corte em junho de revogar a decisão de 1973 que o garantia o acesso a nível federal.

Na Europa, esse direito também foi enfraquecido na Hungria e na Polônia.

"Lutamos contra um patriarcado (...) que disputa até a morte esses nossos direitos - como o aborto - que conquistamos lutando", afirma o manifesto da marcha que acontecerá em Madri.

Na França, foram convocadas manifestações pela "igualdade no trabalho e na vida". O país está em crise por greves e protestos contra a reforma da Previdência promovida pelo governo liberal de Emmanuel Macron, que os críticos dizem ter efeitos nocivos sobre as mulheres.

Também há protestos marcados nas principais cidades do México, Colômbia e Venezuela.

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O estado do Rio de Janeiro registrou 110 feminicídios no ano passado, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), subordinado ao governo do estado. Esse é o maior número de ocorrências desde 2017, primeiro ano completo desde que o crime começou a ser registrado no estado.

Quando os números foram comparados com 2021, houve um aumento de 29,4% (ou 25 casos a mais). Em relação a 2017, a expansão é de 61,8% (42 casos a mais).

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O dossiê registra ainda a ocorrência de 293 tentativas de feminicídio em 2022, um aumento de 11% (29 casos) em relação ao ano anterior (264 registros).

O Dossiê Mulher 2023, estudo que reúne dados de crimes contra as mulheres no estado do Rio de Janeiro, será divulgado nesta quarta-feira (8).

O estado do Rio de Janeiro registrou 110 feminicídios no ano passado, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), subordinado ao governo do estado. Esse é o maior número de ocorrências desde 2017, primeiro ano completo desde que o crime começou a ser registrado no estado.

Quando os números foram comparados com 2021, houve um aumento de 29,4% (ou 25 casos a mais). Em relação a 2017, a expansão é de 61,8% (42 casos a mais).

O dossiê registra ainda a ocorrência de 293 tentativas de feminicídio em 2022, um aumento de 11% (29 casos) em relação ao ano anterior (264 registros).

O Dossiê Mulher 2023, estudo que reúne dados de crimes contra as mulheres no estado do Rio de Janeiro, será divulgado hoje (8).

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse nesta terça-feira, 7, que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinará na quarta-feira, 8, um Projeto de Lei para que homens e mulheres que exerçam o mesmo cargo tenham salários iguais. "A Constituição já diz isso, mas a lacuna ainda persiste, então a lei da igualdade de salário será mais enxuta e vamos ver se essa lei pega, porque até agora não pegou", disse, durante almoço realizado na Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

Na quarta-feira, 8, será comemorado o Dia Internacional da Mulher.

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De acordo com Marinho, as mulheres sofrem atualmente com salários desiguais e falta de oportunidades. "É nossa tarefa minar todo preconceito, seja de raça, de cunho religioso e de diferença entre homens e mulheres", mencionou.

O ministro salientou que o Ministério do Trabalho ainda está em transição porque alguns setores da pasta ainda estão em outras áreas da Esplanada, como na Justiça, na Fazenda e nos Direitos Humanos. "Estamos ainda no meio de escombros do desastre que sofremos no Brasil", disse numa menção indireta ao governo de Jair Bolsonaro.

As mulheres têm um estilo de vida que as leva, em média, a emitir menos gases de efeito de estufa do que os homens, segundo um artigo de uma economista consultado pela AFP nesta terça-feira (7).

"Embora à primeira vista possa parecer que as mudanças climáticas afetam toda a população da mesma forma, existem estudos que mostram as diferenças de gênero nos comportamentos responsáveis pela origem das emissões de gases de efeito de estufa e nas consequências das mudanças climáticas", explica Oriane Wegner, autora do artigo, que será publicado no site do Banco da França na quarta-feira.

O artigo foi revelado pelo jornal francês Libération.

Especialista em economia climática do Banco da França, Wegner afirma se basear em um estudo sueco de 2021 que diz que as tendências de consumo dos homens "causam em média 16% mais gases de efeito estufa" do que as das mulheres. Os homens comem mais carne do que as mulheres (67% dos franceses vegetarianos são mulheres), usam mais o carro e gastam mais em bens de consumo.

Em 2021, os homens solteiros emitiram, em média, dez toneladas de gases de efeito estufa, contra pouco mais de oito toneladas para as mulheres solteiras, apesar de seu gasto ser "apenas 2%" superior ao dessas mulheres.

Wegner reconhece, porém, que mais do que gênero, é o nível de renda que desempenha "um papel mais importante".

E, ao mesmo tempo, as consequências são desiguais.

Segundo estudos da ONU citados por Wegner, 80% das pessoas que tiveram que deixar suas casas em decorrência de eventos climáticos extremos são mulheres.

"As políticas públicas nacionais e os marcos de atuação internacional seriam mais efetivos se as interações entre gênero e meio ambiente fossem levadas em conta para reforçar sua eficácia", conclui a autora do artigo.

As mulheres enfrentam mais dificuldades no acesso ao mundo do trabalho do que se pensava anteriormente, e a diferença de salários e condições permaneceu quase inalterada nas últimas duas décadas, alertou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) nesta segunda-feira (6).

A OIT afirmou ter desenvolvido um novo indicador que mede melhor a taxa de desemprego e detecta todas as pessoas sem emprego à procura de alguma atividade.

Isso projeta "um panorama muito mais sombrio da situação das mulheres no mundo do trabalho do que a taxa de desemprego mais comumente usada", disse esta agência da ONU em um comunicado, a dois dias do Dia Internacional da Mulher.

"Os novos dados mostram que as mulheres continuam tendo muito mais dificuldades para encontrar trabalho do que os homens", disse a agência.

Segundo dados da OIT, 15% das mulheres em idade ativa no mundo gostariam de ter um emprego, mas não têm, contra 10,5% dos homens.

"Essa desigualdade de gênero permaneceu praticamente inalterada por duas décadas", observou a organização.

Em contraste, as taxas oficiais de desemprego para homens e mulheres são muito parecidas.

Isso se deve, segundo a OIT, ao fato de que os critérios usados para determinar se alguém deve ser considerado oficialmente desempregado tendem a excluir de forma desproporcional as mulheres.

De acordo com o relatório, as responsabilidades pessoais e familiares, incluindo o trabalho de cuidado não remunerado, afetam desproporcionalmente as mulheres.

Esse tipo de atividade impede as mulheres de trabalhar, procurar emprego ativamente ou estar disponíveis com pouca antecedência.

"A brecha (de gênero) no trabalho é especialmente grave nos países em desenvolvimento, onde a proporção de mulheres que não conseguem encontrar um emprego chega a 24,9% nos países de baixa renda", disse a agência.

O acesso ao emprego não é o único problema. A OIT observou que as mulheres tendem a estar super-representadas em alguns empregos vulneráveis, inclusive em negócios familiares.

"Essa vulnerabilidade, junto a índices de emprego mais baixos, tem impacto sobre as rendas das mulheres", disse a agência.

A OIT concluiu que "a nível mundial, para cada dólar de renda do trabalho ganho pelos homens, as mulheres ganham apenas 51 centavos".

A compositora Thayssa Menezes desfilou neste ano pela primeira vez sem a identificação "Compositor", no masculino, em suas costas. Isso só foi possível porque ela chegou à presidência da ala dos compositores da Acadêmicos do Cubango, na Série Prata do carnaval carioca, e pediu que o óbvio fosse considerado: mulheres também podem ser compositoras de sambas-enredo.

"Existem pouquíssimas, de se contar com os dedos da mão, mulheres ocupando esse lugar, e, então, nós somos masculinizadas. As mulheres nas alas dos compositores têm que vir com roupas masculinas, porque os carnavalescos têm um parâmetro de que essa ala é masculina. Eu, na minha ala, neste ano, mandei fazer a camisa escrito compositores", disse.

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A mudança de poucas letras e muito significado é um exemplo de uma série de questionamentos levantados nos últimos anos sobre o domínio de homens e brancos em uma festa com forte herança de tradições matriarcais e africanas. Abertas as notas dos jurados do Grupo Especial neste ano, personalidades negras e ativistas antirracistas ecoaram outro tema, “onde estão os negros e os saberes ancestrais na avaliação do carnaval?”

"O carnaval está vivendo uma insurgência negra, que está voltando a reivindicar essa essência, esse fundamento, de olhar para a escola de samba como um terreiro, de reivindicar esse matriarcado negro que estava na construção do que a gente entende como escola de samba", explica Thayssa, que também é pedagoga e pesquisadora do carnaval.

"Eu encaro essa insurgência como resultado de um conjunto de políticas públicas que aconteceram, como a Lei de Cotas e a garantia do ensino da cultura africana e afro-brasileira dentro das escolas. A gente está vivendo agora as pessoas fruto dessas políticas públicas sendo inseridas no carnaval", disse.

A pesquisadora aponta que homens brancos são a grande maioria nas presidências, direções e outros postos de comando das escolas de samba, e também acabam controlando o que é considerado a concepção artística da festa, que está nas mãos do carnavalesco.

"A figura do carnavalesco, que é a figura dessa pessoa que é imbuída de conhecimento, que vem da faculdade de Belas Artes trazer a arte erudita mesclada com a popular para essa comunidade, é a figura do homem branco", avalia. Ela vê como lugares esperados para as mulheres negras aqueles marcados pelo bailado, como a porta-bandeira, a passista e a baiana.

"Esses lugares que as mulheres ocupam são vistos como lugares hierarquizados de forma menor. É como se as mulheres ocupassem a base da pirâmide. Não que exista um valor menor para a baiana. A baiana é uma das maiores figuras dentro da escola de samba. A gente valoriza e respeita, mas a gente também quer estar em outros espaços", defende.

Apesar desse domínio branco e masculino, Thayssa destaca avanços que vêm quebrando esse paradigma, como o carnavalesco André Rodrigues, da Beija-Flor, que propôs com o enredo deste ano uma revisão da história do Brasil, para recuperar o papel dos negros e outros grupos excluídos na Independência e outros processos históricos.

"Esse discurso não é novo, já existia nas conversas nas escolas de samba, mas como contradiscurso. Mas quando a gente tem dentro dessa figura do carnavalesco uma pessoa preta que vai reivindicar isso, não como contradiscurso, mas como o próprio discurso do enredo, isso é ganho muito grande", comemora. "O que a gente tem conseguido aos poucos é muito caro. E acho que não tem volta. É daí pra frente".

Autoestima

Se homens negros já são raros no posto de carnavalesco, mulheres negras são ainda mais. Nascida em Nilópolis, na Baixada Fluminense, Winnie Nicolau é uma pioneira no cargo, assinando o carnaval na Pimpolhos da Grande Rio, escola mirim do carnaval carioca.

"Passei por uma montanha de emoções juntas, de me tornar uma pessoa que representa outras, de ser a primeira pessoa a fazer aquilo, de ter uma responsabilidade como pessoa preta carregando isso. Mas eu vi que eu entreguei. Abri essa porta para que viessem outras mulheres pretas", disse.

No desfile concebido por Winnie, transbordou sua experiência de vida como mulher preta. A escola contou a história do livro O Pequeno Príncipe Preto, de Rodrigo França, que trabalha a autoestima e o afeto de uma criança preta.

"Eu joguei tudo que eu vivi, porque já fui essa criança que precisou ter a autoestima reforçada por causa do meu cabelo, do meu nariz, do tom de pele. Por ser retinta, o bullying era muito mais cruel", disse. "Eu procurei jogar toda a minha trajetória desde quando eu era criança até hoje, e como eu quero que uma criança hoje seja tratada, já que sou mãe de uma menina negra e tia de um menino negro. Apliquei tudo isso dentro do desfile e deu super certo".

Winnie vê seu pioneirismo como uma possibilidade de levar transformação não apenas ao carnaval, mas aos componentes das escolas de samba que estão em contato com o enredo e podem sair da avenida fortalecidos por ele. E como sua escola é uma agremiação mirim, são as crianças da comunidade que ela busca inspirar.

"Falar para a minha filha é fácil. Hoje o meu papel é falar fora de casa, para trazer uma autoestima. Se você não tiver nem a autoestima, a gente está fazendo o que o sistema quer, que é matando o que tem dentro daquela criança desde pequeno para se tornar o adulto que eles querem, inerte, de baixa autoestima, e que não se reconhece como pessoa preta e não sabe se posicionar socialmente. Meu papel hoje é quebrar isso", disse.

Ausência

A ausência das mulheres em posições decisórias na história do carnaval não quer dizer que elas tenham ficado de fora da construção do que são os desfiles das escolas de samba. A jornalista e doutora em Memória Social Bárbara Pereira, pesquisadora do carnaval, conta que o apagamento das mulheres vem desde a fundação das escolas de samba, processo em que tiveram atuação decisiva.

"Em muitas escolas, as fundadoras ficaram de fora das atas de fundação, só os homens assinaram. As mulheres que estavam ali fazendo de tudo para que as escolas existissem não estão nas atas. E quando você olha a trajetória, desde os anos 30 até hoje, o número de mulheres como presidente de escola é pífio perto dos homens", disse. "As escolas de samba reproduzem o machismo que existe na sociedade. Hoje há uma certa desconstrução, entre muitas aspas, mas as escolas continuam sendo machistas. Os papéis de homens e mulheres desde o começo dos desfiles estão definidos como os papéis sociais. O papel de poder é o do homem".

Bárbara cita que há exceções, como a presidente da Imperatriz Leopoldinense, Cátia Drummond, ou a carnavalesca Rosa Magalhães, mas, mesmo nesses casos, elas estão cercadas por homens em outras posições decisórias.

"É um universo predominante masculino", define. "O dia que tiver uma escola de samba em que a presidente é mulher, a carnavalesca é uma mulher progressista, a enredista é mulher, a diretora de barracão é mulher. Enfim, um conjunto feminino, de fato, no topo da pirâmide da escola de samba, não estou dizendo que tudo seria diferente, mas a gente nunca experimentou isso, uma escola tendo essencialmente decisões femininas", defende.

Autora do livro Trajetórias e Memórias de Passistas do Carnaval Carioca, a pesquisadora discorda de quem aponta machismo na exposição dos corpos femininos na Marquês de Sapucaí, afinal, o carnaval é a festa da sensualidade. Para Bárbara, o machismo está no fato de esse ser o único lugar de visibilidade que é esperado delas.

"Não critico a mulher que recebe essa visibilidade. Ela tem que existir, porque a mulher tem que estar onde ela quiser. Se a mulher quer estar em frente à bateria seminua, beleza. Só que os outros espaços das escolas de samba deveriam ser ocupados pelas mulheres também. É o que eu não consigo ver quando olho a trajetória do carnaval. Não vejo avanço nesse sentido", reclama.

Entre as poucas mulheres que chegaram à presidência de uma escola no Grupo Especial está Elizabeth Nunes, a primeira mulher que presidiu a Acadêmicos do Salgueiro, entre 1986 e 1988. Seu trabalho é reconhecido como responsável por tirar a escola de um período de crise.

"Luxo e requinte passaram a ser marca da escola que, através de sua administração, passou a conquistar lugar de destaque entre as escolas de samba", diz nota de pesar assinada pelo presidente do Salgueiro, André Vaz, após a morte da ex-presidente, em 2020.

A filha de Elizabeth, a cantora Liesbeth Nunes, disse que sua mãe tinha um profundo envolvimento com a comunidade, colaborando em tarefas diárias do barracão e da quadra, ao mesmo tempo em que fazia a ponte entre a comunidade do Morro do Salgueiro e o público e artistas da roda de samba que ela organizava na zona sul.

"Ela já era muito querida no Salgueiro, e as mulheres já mandavam muito no Salgueiro. Elas sentavam com a diretoria e decidiam as coisas, mesmo sem ter cargo", conta Liesbeth, que lembra que sua mãe não se intimidou por ser a primeira mulher a presidir a escola. "As pessoas não contavam que uma mulher seria presidente. E minha mãe era mão de ferro, minha mãe mandava, dava ordem pra homens, brigava, era exigente no barracão. Minha mãe foi amada e odiada. Agora, a maioria do morro só fala bem dela, que aquele tempo era o tempo bom do Salgueiro".

A cantora lembra que mesmo o fato de sua mãe ser bonita, bem relacionada com artistas e poderosa no mundo do samba, não impediam que ela fosse questionada como mulher em uma posição de poder. "O que aconteceu foi que muitos homens passaram a ter muita inveja dela, queriam acabar com ela. Ela foi invejada 24 horas. Ela fala que não sofreu [machismo], mas ela não dura muito tempo na presidência mesmo tendo 40 anos de escola. Ela preparou toda a escola para ser campeã. Ela fez toda a cama e tiraram ela quando o Salgueiro saiu da lama".

Além do legado na agremiação tijucana, Elizabeth deixou o samba como herança para a filha, que trava suas próprias batalhas para marcar seu lugar como intérprete e compositora no carnaval das escolas de samba. Em sua ala de compositores no Salgueiro, ela disse que são sete mulheres e 200 homens.

"Na disputa de samba-enredo, que hoje em dia é milionária e tem que chegar chegando, e os puxadores são homens, é raridade uma mulher. Eu já puxei, mas já ouvi que mulher cantando não tem nada a ver, que tem que ser um homem", disse, acrescentando que já disputou com suas composições em várias escolas e cantou no carro de som neste ano nos desfiles do Salgueiro, Anil e Estácio de Sá.

"Pra vir uma mulher puxando o samba na avenida, eu não sei quando vai acontecer. A gente já vê puxando ao lado do homem, mas sendo a puxadora mesmo [intérprete principal], eu não consigo nem imaginar. Só uma escola muito atrevida e corajosa para fazer isso, porque eles têm medo de perder ponto. A mulher participa, mas nunca é a puxadora oficial. Até porque para a mulher ser a puxadora oficial, tem que ser no tom dela e o restante tem que vir atrás dela. Hoje ela tem que cantar no tom do homem".

Gêneros em debate

A reivindicação de espaço na estrutura das escolas de samba passa também por um conflito entre as estruturas ancestrais concebidas no desfile e os questionamentos ao binarismo de gênero, ainda sem soluções simples. As regras do desfile na Sapucaí, por exemplo, exigem que apenas mulheres estejam na ala das baianas, que tradicionalmente homenageia as mães de santo, e a performance do casal de mestre-sala e porta-bandeira se dá com o termo casal contemplando apenas homem e mulher. Da mesma forma, passistas performam coreografias masculinas e femininas em seu samba no pé, seguindo a tradição dos malandros e cabrochas que marcavam a boemia dos tempos em que nasceu o carnaval moderno no Rio de Janeiro.

O pesquisador Rodolfo Viana ouviu e observou, em seu trabalho de doutorado, os dilemas enfrentados por passistas gays nas escolas de samba. Ele pondera que, de maneira geral, as manifestações populares brasileiras estilizam e encenam práticas facilmente reconhecidos por qualquer pessoa que assista, como a sedução do homem à mulher, o que se dá também nas quadrilhas juninas e nas danças tradicionais do norte do Brasil.

"Os festejos têm um código de comportamento em que parece que só existe a vida heterossexual para uma performance. E aí mora um grave conflito com os tempos atuais, que divide opiniões, gera desconfortos, tretas e reprodução de preconceitos. Na minha pesquisa, escolhi olhar para a prática da tradição e para os tempos em que vivemos e discuti ‘quem disse que malandro precisa ser macho?’. Pois é isso que é esperado do homem passista, independente da orientação sexual. É a hora que a tradição vira uma exigência para cumprir uma regra arbitrária de gênero, que nem de perto quer saber de ter um bamba do samba se parecendo com uma bicha".

A colisão entre a tradição dos passistas e a diversidade sexual é um tema sensível nas escolas, disse o pesquisador, já que passistas gays não "têm como desinstalar de seus corpos a manifestação de sua homossexualidade". Viana argumenta que a tradição busca eternizar o malandro macho, mas deveria ter espaço também para a bicha malandro, com Madame Satã como uma referência.

"Imagino essa figura tão poderosa da Lapa, que duvido que o Seu Zé [Pilintra] não tiraria o chapéu em gesto de respeito. Ou seja, o mundo do carnaval brasileiro é criativo demais e vai respondendo os próprios dilemas da tradição que esse mesmo mundo inventou. Isso não é conciliação, é inteligência popular que busca saídas para um futuro, onde, de fato, a liberdade seja vivenciada por todo mundo".

E sob os holofotes da Marquês de Sapucaí, uma das posições que recebe maior destaque da imprensa é a rainha de bateria, que algumas escolas reservam a passistas da comunidade, mas grande parte entrega a “famosas”. Também nesse lugar, começam a surgir novidades, como o rei de bateria, posto que o maquiador Juarez Souza ocupou pelo segundo ano seguido na Acadêmicos de Niterói. Este ano, pela primeira vez, ele veio sozinho à frente da bateria da escola.

"Eu vim bem seguro com a minha escola, porque conheço todos. Eu me senti abraçado. O público que está assistindo, na minha visão, quer ver o espetáculo, e eu acho que quando você entrega o que o público quer ver, o gênero fica secundário. Em nenhum momento vi alguém fazendo caras e bocas, algum tipo de preconceito", disse Juarez, que foi acompanhado de perto pelo marido e pela mãe. "Meu marido me dá muito apoio, está sempre comigo desde quando a gente começou. Quando desfilei de destaque, ele que amarrou meu costeiro. Ele me dá o maior apoio e fica mais nervoso que eu, às vezes", disse.

Componente de escolas de samba há 13 anos, Souza conta que já foi passista, já desfilou em ala, já foi destaque e até sonhava em ser rei de bateria, mas não achava que um dia isso seria possível. Esse, aliás, é um sonho secreto de muitos homens passistas, revela.

"Acreditava que era impossível pelo preconceito. Mas a partir do momento que você vê um homem à frente da bateria, ou uma trans, como foi na Unidos de Padre Miguel, isso abre uma porta para várias pessoas sonharem. Eu acho que ali é um lugar de sambista. Não importa se é homem cis, homem trans, homem gay, homem hétero, mulher cis, mulher trans. É um lugar para quem é apaixonado pelo samba", afirma.

 

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação Luciana Santos (PCdoB) anunciou a reestruturação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) nesta sexta-feira (3). 

Em sua fala durante evento na Academia Brasileira de Ciências (ABC), a ministra disse que planeja ainda esse mês de propor um Projeto de Lei (PL) ao Congresso Nacional para a abertura de crédito para recomposição dos E$ 4,2 bilhões do FNDCT. Com isso, restabelecerá os R$ 9,6 bilhões planejados inicialmente para aplicar no desenvolvimento. Os recursos citados incluem taxas e impostos que, por lei, deveriam ser aplicados em Ciência e Tecnologia, apoiando universidades e institutos de pesquisa.

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Devido um veto do presidente Lula ao orçamento desse ano, o montante havia sido retirado do Fundo. Na época, o Poder Executivo informou que ocorreria um descumprimento da proporção entre as operações reembolsáveis e não reembolsáveis, uma exigência que o FNDCT precisa cumprir por lei.

Segundo a ministra, a ação já teria sido acertada com o Ministério do Planejamento e a Casa Civil. No evento, Santos também informou que a sua equipe está discutindo assuntos importantes.

Segundo a ministra, em breve, também serão anunciadas medidas para incentivar trabalhos científicos desenvolvidos por mulheres em diferentes áreas das ciências no Brasil. Ela ainda citou o descongelamento dos concursos públicos para os institutos federais de pesquisa, a elaboração do Plano de Ação em Ciência, a permanência de mulheres nos cursos de pós-graduação, entre outros assuntos relevantes. 

“A ciência e tecnologia perpassam os desafios do país. As pautas da fome, das mudanças climáticas, a reindustrialização, as desigualdades, as intolerâncias, os preconceitos e os retrocessos que vivemos passam todos pela ciência. Esse é o conceito que nos move no Ministério”, apontou.

Pesquisas

 Luciana destacou o papel do ministério desde o início do novo Governo Lula (PT), citando os reajustes das bolsas de pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A ministra pernambucana, ainda fez críticas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmando que o governo Bolsonaro implementou medidas que dificultaram o desenvolvimento de pesquisas de cientistas em todo o território nacional.

“O ex-presidente não só negou a ciência, mas o fez no momento mais emblemático do planeta, como foi o enfrentamento à Covid-19. Ao mesmo tempo, tentou desqualificar a nossa base de pesquisa, tratando as universidades como ‘espaços de balbúrdia’, quando são elas que produzem 90% da nossa tecnologia. Por isso, dizemos que, agora, a ciência está de volta no Brasil”, disse a ministra no local.

Além da ministra e de nomes da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a mesa aberta reuniu também os porta-vozes e representantes da Academia Nacional de Medicina (ANM), da Academia Nacional de Engenharia (ANE), Academia Brasileira de Letras (ABL). 

*Por Guilherme Gusmão

O Santander Universidades está com uma nova edição aberta da bolsa Santander Women | W50 Leadership 2023 – LSE, destinada a mulheres que ocupam cargos de liderança e que querem desenvolver suas habilidades de gestão. O programa oferece 50 vagas para uma formação presencial no campus da London School of Economics and Political Science (LSE), em Londres.

O curso é voltado para mulheres de todas as idades que tenham inglês avançado e que ocupem posições de alta gestão, cargos de C-level ou que fazem parte de conselhos de administração. As interessadas devem se inscrever até 13 de março pelo site do Bolsas Santander Women.

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As participantes aprenderão a potencializar seu estilo de liderança pessoal por meio de aulas, atividades e coaching individual. Além disso, terão a oportunidade de compartilhar experiências com mulheres de diferentes países e fomentar o networking internacional. Mais de 700 mulheres de 11 países (Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Espanha, EUA, México, Polônia, Portugal, Reino Unido e Uruguai) foram bolsistas da Santander W50 (SW50).

O programa está estruturado em três fases: a primeira etapa começa com uma sessão introdutória online, na qual as 50 participantes se apresentam e conhecem os professores e seus mentores individuais. A segunda fase, de cinco dias em Londres, inclui um programa de treinamento intensivo em que as profissionais entrarão em contato com um estudo crítico sobre o que significa liderança eficaz e seus impactos.

As bolsistas colocarão em prática diferentes teorias de liderança e desenvolverão seu próprio estilo de liderança. A terceira parte do programa consiste na apresentação de um plano de desenvolvimento pessoal de liderança ao corpo docente.

O Ministério da Educação (MEC) divulgou, nesta quarta-feira (1), dados referentes ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2023, cujo resultado foi divulgado na última terça-feira (28). De acordo com o MEC, a maioria dos inscritos no processo seletivo é mulher, com até 21 anos, e nordestina.

Dos 1.073.024 candidatos, 62,1% são do sexo feminino e 37,9%, do sexo masculino. Em relação à faixa etária, 77,8% tinham 21 anos de idade ou menos. Candidatos acima dessa faixa etária, ou seja, dos 21 aos 30 anos, representaram 15,4%, e, em seguida, estão participante de 31 a 40 anos (4,1%), 41 a 50 anos (1,9%) e maiores de 50 anos (0,8%).

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Domínio da Região Nordeste

Ainda segundo o levantamento do MEC, 40,1% dos 1.073.024 inscritos por CPF são da Região Nordeste. Em seguida, aparece o Sudeste com 33,8%, Sul com 9,5%, Norte com 8,76% e o Centro-Oeste com 7,83%. O estado de São Paulo reúne a maior parte das inscrições, 12,4% dos candidatos. Na sequência estão: Minas Gerais (10,3%), Rio de Janeiro (9,2%), Bahia (8,1%) e Ceará (7%).

Sisu 2023

Esta primeira edição do Sisu 2023 contabilizou, segundo dados divulgados pelo MEC, 2.062.815 inscrições. O quantitativo superou o Sisu 2022, que contou com 1.054.474 inscritos. A primeira chamada contou com mais de 226 mil vagas em 128 instituições públicas do ensino superior.

Na última terça-feira (28), agentes da Delegacia do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, efetuaram a prisão de um homem por extorsão e "stalking", que significa perseguição de mulheres. De acordo com relatos e mensagens apresentadas pelas vítimas, Bruno César Roxo Ferreira chamava as mulheres para jantar e, depois, cobrava delas todo o valor gasto, caso não aceitassem praticar relação sexual com ele. Em algumas mensagens, Bruno chega a ameaçar uma das vítimas de morte.

“Burra, idiota, se eu te pegar te mato. Você me fez passar vergonha” diz uma mensagem enviada por Bruno para uma mulher. Em outro momento, ele continua: “Gastei a maior fortuna e nem ganhei um beijo”.

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Ao G1, os investigadores relataram que, enquanto uma das vítimas estava na delegacia fazendo o registro de sua queixa, continuava recebendo ligações e mensagens de Bruno. “Me sacaneia para ver o que eu faço”, ameaçou.

A vítima disse que conheceu Bruno em uma rede social de relacionamentos. De acordo com ela, os dois se encontraram por duas semanas, mas não tiveram contatos íntimos, como beijos ou relações sexuais. Depois disso, ela não quis seguir com os encontros e ele passou a agir de maneira agressiva, pedindo de volta o dinheiro que havia gasto com os encontros e exigindo sexo.

Não há um levantamento oficial de quantas mulheres lidam diretamente com a computação quântica. Mas um recorte realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Informação Quântica (INCT-IQ) ajuda a dimensionar a participação feminina nessa área da pesquisa quântica como um todo.

Dos 120 participantes beneficiados financeiramente pelo instituto, apenas 9% são mulheres. "A baixa participação de mulheres é um problema que tem de ser atacado no nível da escola primária, secundária", afirma Belita Koiller, coordenadora do INCT-IQ.

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Numa tentativa de aumentar a participação feminina na física, professoras das Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) criaram o projeto chamado de Tem Menina no Circuito em 2013, com o objetivo de atrair estudantes mulheres para a área das Ciências Exatas.

"Como todo problema, nunca é uma razão só para o baixo número de mulheres. Claramente, está ligado como o ensino médio apresenta as questões de física. É uma coisa muito formal, só vê o lado matemático da física e abandona a criatividade", afirma Thereza Paiva, professora da UFRJ e uma das fundadoras do projeto.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sancionou uma nova lei de combate ao assédio e violência contra mulheres no Estado de São Paulo. A lei, publicada nesse sábado no Diário Oficial do Estado, determina que estabelecimentos como bares, restaurantes, boates, clubes noturnos e casa de shows capacitem anualmente seus funcionários especificamente para identificar e combater casos de assédio e violência contra a mulher.

A legislação determina ainda que os estabelecimentos terão de fixar um aviso em local público de fácil visualização identificando qual o funcionário ou funcionária é responsável no local pelo acolhimento e proteção da mulher para atendimento imediato. Em caso de descumprimento, os estabelecimentos poderão sofrer punições, variando de multa até a cassação da licença de funcionamento.

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"A proteção e a garantia dos direitos das mulheres são prioridades da nossa gestão. A nova lei vem para complementar as ações de amparo e acolhimento às vítimas de violência no Estado. São Paulo avançou muito nos últimos anos em medidas diversas para mulheres, nosso trabalho agora é garantir que elas se tornem efetivas, eficazes e contínuas", afirmou Tarcísio de Freitas.

No início do mês, o governador já tinha publicado uma primeira determinação que obriga bares, restaurantes, casas noturnas e de eventos a adotarem medidas de auxílio às mulheres que se sintam em situação de risco. O auxílio tem de ser prestado pelo estabelecimento mediante a oferta de um acompanhante até o carro, outro meio de transporte ou comunicação à polícia.

"Nós buscamos, com esta iniciativa, facilitar o acesso da mulher vítima de violência a pessoas capacitadas, para que haja o devido amparo e encaminhamento", disse a secretária de Políticas para a Mulher, Sonaira Fernandes.

Caso Daniel Alves

As iniciativas tomadas até agora pela administração estadual são inspiradas no documento espanhol No Callem (Não nos silenciamos, em catalão), que aplica medidas para combater a violência de gênero. O protocolo já foi adotado por 40 estabelecimentos de Barcelona, entre elas, a boate Sutton, onde o jogador Daniel Alves teria estuprado uma mulher de 23 anos.

A boate de luxo seguiu as recomendações à risca. A jovem deixou a boate em uma ambulância em direção a um hospital de referência. Os funcionários que atenderam a mulher foram treinados seguindo o protocolo. Daniel Alves está preso por agressão sexual.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A cada hora cerca de duas mulheres morreram em razão do uso nocivo de álcool em 2020. Ao todo, 15.490 brasileiras perderam a vida por motivos atribuídos ao álcool naquele ano. A faixa etária mais afetada foi a das mulheres de 55 anos e mais (70,9%), seguida por 35 a 54 anos (19,3%), 18 a 34 anos (7,3%) e de 0 a 17 anos (2,5%). Os dados fazem parte de estudo inédito, divulgado nesta semana pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) para marcar o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, comemorado hoje (18).

Segundo o levantamento, as principais causas desses óbitos foram doença cardíaca hipertensiva (15,5%), cirrose hepática (10,4%), doenças respiratórias inferiores (8,7%) e câncer colorretal (7,3%). 

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O consumo abusivo de álcool pelas brasileiras aumentou 4,25% de 2010 a 2020. A tendência foi registrada em 12 capitais e no Distrito Federal. Os maiores aumentos no consumo foram verificados em Curitiba (8,03%), São Paulo (7,34%) e Goiânia (6,72%). O levantamento é realizado pelo Cisa, com dados do Datusus 2021.

Por consumo abusivo considera-se a ingestão de quatro ou mais doses, para mulheres, ou de cinco ou mais doses, para homens, em um mesmo dia. O aumento mais significativo foi observado entre mulheres, passando de 7,8% em 2006 para 16% em 2020. O centro considera que uma dose padrão corresponde a 14g de etanol puro no contexto brasileiro. Isso corresponde a 350 ml de cerveja (5% de álcool), 150ml de vinho (12% de álcool) ou 45ml de destilado (como vodca, cachaça e tequila, com aproximadamente 40% de álcool).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de álcool pode causar mais de 200 doenças e lesões. Está associado ao risco de desenvolvimento de problemas de saúde como distúrbios mentais e comportamentais, incluindo dependência ao álcool, doenças graves como cirrose hepática, alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares, bem como lesões resultantes de violência e acidentes de trânsito. Em todo o mundo, 3 milhões de mortes por ano resultam do uso nocivo do álcool, representando 5,3% de todas as mortes.

Consumo abusivo

Os perigos do consumo nocivo de bebidas alcoólicas afetam, de formas diferentes, homens e mulheres. Segundo a presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Alessandra Diehl, as mulheres têm predisposição a ter adoecimento clínico e psíquico mais rápido do que os homens.

“Uma das questões aí é a vulnerabilidade biológica”, disse, em entrevista à Agência Brasil. A psiquiatra explicou que as mulheres têm menor concentração de enzimas que fazem a metabolização do álcool, o que faz com que ele seja mais tóxico para o organismo feminino do que para o masculino. Segundo Alessandra, as mulheres, às vezes, com menos tempo de uso crônico de álcool que os homens, já apresentam mais prejuízos para a saúde, como hepatite, cirrose e envelhecimento.

De acordo com o psiquiatra e presidente do Cisa, Arthur Guerra, os efeitos do consumo de álcool entre as mulheres também podem variar conforme o ciclo menstrual, a gestação e amamentação. Além disso, elas sofrem impactos por fatores sociais, como a maternidade e participação no mercado de trabalho. 

“Outro ponto é que as mulheres acabam tendo outras influências hormonais, como ciclo menstrual por exemplo, que acabam afetando o consumo de álcool também. Algumas delas, durante a fase pré-menstrual, a famosa TPM, ficam mais sensíveis e vão usar o álcool como se fosse um remédio para aliviar os sintomas”, explicou o médico.

Para a socióloga Mariana Thibes, coordenadora do Cisa, o aumento no consumo de bebida alcóolica tem um componente cultural.

“As mulheres estão bebendo mais e isso é uma mudança cultural importante que foi acontecendo ao longo da última década. Provavelmente tem a ver com a maior presença delas no mercado de trabalho, acho que esse é o fator mais importante. A mulher está nos mesmos espaços que os homens, então ela sai para um happy hour com os colegas homens e por que ela vai consumir menos álcool?”, questionou.

Segundo Mariana, o acúmulo das jornadas também é relevante para o aumento do consumo abusivo de álcool entre as mulheres. 

“O acúmulo de trabalho dentro de casa, fora de casa, cuidar dos filhos, da profissão, do trabalho doméstico. Esse aumento das pressões acaba levando muitas mulheres a procurar no álcool uma espécie de recurso para relaxar. No período da pandemia, vimos a hastag #winemom viralizar, com muitas mães postando fotos com taça de vinho no fim do dia, como uma espécie de recompensa depois daquele dia duro de acúmulo de jornada. Esse estresse que as mulheres passaram a sofrer nos últimos anos também pode ajudar a explicar o aumento do consumo abusivo de álcool”, afirmou. 

Menores

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com estudantes de 13 a 17 anos, a experimentação de bebida alcoólica cresceu de 52,9% em 2012 para 63,2% em 2019. O aumento, no período, foi mais intenso entre as meninas (de 55% para 67,4%) do que entre os meninos (de 50,4% para 58,8%).

O consumo excessivo de álcool também aumentou. Foi de 19% em 2009 para 26,2% em 2019 entre os estudantes do sexo masculino e de 20,6% para 25,5% entre as adolescentes. A experimentação ou exposição ao uso de drogas cresceu em uma década. Foi de 8,2% em 2009 para 12,1% em 2019.

A presidente da Abead, Alessandra Diehl, alerta que a iniciação no álcool ocorre cada vez mais cedo, em média aos 13 anos de idade, sendo que 34,6% dos estudantes tomaram a primeira dose de álcool com menos de 14 anos. “Há prevalência de meninas jovens iniciando o consumo de álcool”, disse.

Alcoolismo

Diferentemente do abuso de álcool, a dependência é considerada doença pela Organização Mundial da Saúde. De acordo com a socióloga Mariana Thibes, “em geral, leva-se uma década para passar do estágio de consumo abusivo para a dependência”.

Esse tipo de dependência é considerado crônica e multifatoria. Isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais, tipicamente associados aos seguintes sintomas: 

- Forte desejo de beber

- Dificuldade de controlar o consumo (não conseguir parar de beber depois de ter começado)

- Uso continuado apesar das consequências negativas, maior prioridade dada ao uso da substância em detrimento de outras atividades e obrigações

- Aumento da tolerância (necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito obtido com doses anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância) 

- Por vezes, um estado de abstinência física (sintomas como sudorese, tremores e ansiedade quando a pessoa está sem o álcool).

No primeiro dia de desfiles das escolas de samba no Carnaval São Paulo em 2023, os amantes do samba vão ouvir enredos que exaltam a resistência negra, os indígenas, às mulheres e o próprio samba. A primeira noite do Grupo Especial acontece no Sambódromo do Anhembi nesta sexta-feira (17). 

Após o desfile das velhas-guardas de São Paulo, a primeira escola de samba a desfilar no Sambódromo do Anhembi é a Independente Tricolor. A previsão é que a escola entre na passarela do samba às 23h15 com o enredo “Samba no pé, lança na mão, isso é uma invasão!”

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O samba-enredo vai ser entoado por Pê Santana e Lico Monteiro. O tema usa referências da mitologia e traça um paralelo com a realidade. Segundo a escola, o enredo é uma alusão à estratégia para vencer batalhas, partindo da vitória grega sobre os troianos, e à conquista de espaços, uma referência ao retorno da escola ao Grupo Especial em 2023.

Assinam a obra que vai embalar o desfile da Independente Tricolor os compositores Maradona, André Diniz, Evandro Bocão e Marcelo Valência.

Veja a letra completa do enredo.

Acadêmicos do Tatuapé

A segunda escola a entrar na avenida é a Acadêmicos do Tatuapé, que vai apresentar uma homenagem à cidade de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro.

A cidade da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), da arquitetura colonial, do Caminho do Ouro, da natureza exuberante,  Patrimônio da Humanidade, da gastronomia criativa, dos caiçaras, indígenas e quilombolas é, também, do carnaval paulistano.

Com o tema Tatuapé Canta Paraty! Do Caminho do Ouro à Economia Azul. Patrimônio Mundial, Cultura e Biodiversidade. Paraty Cidade Criativa da Gastronomia, o intérprete Celsinho Mody canta o enredo dos compositores Fabiano Tennor, Henrique Silva, Magoo e Kuka Monteiro.

Veja a letra completa do samba

Barroca Zona Sul

Terceira escola a desfilar, a Barroca Zona Sul leva para a avenida o enredo Guaicurus. O tema da verde e rosa vai contar a história da tribo indígena homônima no Pantanal brasileiro.

Historicamente, os guaicurus habitaram os estados do Mato Grosso do Sul, Goiás e a região do Chaco paraguaio. O espírito guerreiro é a marca deste povo indígena.

Os compositores são Thiago Meiners, Claudio Mattos, Sukata, Morganti, Tubino, André Mattos, Thiago Savanna, Wilson Mineiro, Julio Alves, Rodrigo Alves, Silvio Ribeirinho, Fernando Negão e Pixulé, que também é o intérprete do samba.

Leia a letra completa do enredo

Unidos de Vila Maria

A Unidos de Vila Maria entra no desfile em 2023 com o samba-enredo que faz referências a desfiles antigos, ao bairro e à própria história. O samba Vila Maria. Minha Origem. Minha Essência. Minha História! Fonte de Amor Muito Além do Carnaval é assinada por Alemão do Pandeiro, Paulo Senna, Anderson Magrão e Tadeu Gomes e será interpretada por Wander Pires.

Conheça a letra completa do enredo

Rosas de Ouro

Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome é assim que em 2023, a Rosas de Ouro faz coro à busca por respeito e igualdade racial. A resistência negra através dos tempos vai ser retratada em um manifesto racial no sambódromo do Anhembi.

A proposta do samba-enredo é mostrar desde a ancestralidade até os dias de hoje, e para agregar algo atual, foi inserida a frase "que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”, que é uma referência à música AmarElo, do Emicida. O samba tem composição de Arlindo Cruz, Fabiano Sorriso, Pedrinho Sem Braço, Paulinho Sampagode e Osmar Costa e será interpretado por Royce do Cavaco.

Veja a letra completa do enredo

Tom Maior

A Tom Maior leva para o sambódromo este ano Um Culto às Mães Pretas Ancestrais que aborda o maternar espiritual, através dos pilares: criação, ensinamento, guia, força, respeito e devoção. Os compositores que falam desse amor são Gui Cruz, Turko, Portuga, Rafa do Cavaco, Vitor Gabriel, Fabio Souza, Imperial, Junior Fionda, Willian Tadeu e Anderson. O samba-enredo será interpretado por Gilsinho.

Veja aqui o samba-enredo da Tom Maior

Gaviões da Fiel

E a escola que vai fechar o primeiro dia de desfiles, já ao amanhecer, é a Gaviões da Fiel, com o samba-enredo Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos… Amém!. O enredo fala sobre a edificação da humanidade através da fé e propõe uma reflexão sobre a intolerância religiosa.

Os compositores são Araken, Fabinho do Cavaco, Armênio Poesia, Nando do Cavaco, Bruno Jaú, Maestro Jota IlhaBela, Sebastian e A. Filosofia e o intérprete é Ernesto Teixeira.

Veja aqui o samba-enredo da Gaviões da Fiel

Programação

17 de fevereiro, sexta-feira

20h30 – Desfile das velhas-guardas de São Paulo

23h15 – Independente Tricolor

00h20 – Acadêmicos do Tatuapé

01h25 – Barroca Zona Sul

02h30 – Unidos de Vila Maria

03h35 – Rosas de Ouro

04h40 – Tom Maior

05h45 – Gaviões da Fiel

Uma briga entre mulheres em um voo que deixava Salvador, na Bahia, nessa quinta-feira (2), repercutiu nas redes sociais depois de atrasar a decolagem em mais de 1h. A confusão ocorreu em uma aeronave da Gol com destino a São Paulo.

Em meio a gritaria e puxões de cabelo, os comissários da companhia entraram no meio da briga para separar as envolvidas. Enquanto alguns passageiros filmavam as agressões, outros tentavam ajudar os funcionários e acalmar os ânimos.

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O voo G3 1659 estava programado para às 13h45, mas só decolou por volta das 15h. A Gol explicou que as mulheres que protagonizaram a briga foram desembarcadas e não seguiram viagem. 

"A Companhia lamenta todo ato de violência e reforça que as ações realizadas pela equipe de tripulantes foram tomadas com foco na Segurança", pontuou a empresa. A reportagem questionou se a Polícia Federal chegou a ser acionada, mas a informação não foi confirmada. O motivo da briga e a identidade das envolvidas também não foram divulgados pela Gol. 

Em um áudio que repercutiu junto com os vídeos da confusão, um homem que se identifica como comissário disse que a briga envolveu duas famílias, uma com 10 pessoas e outra com cinco, e foi causada por um assento na janela.

A mãe de uma criança com deficiência queria sentar na cadeira perto da janela, mas a mulher que estava no assento não quis ceder o lugar. A irmã da criança teria escutado ofensas e partiu para cima da passageira.

A Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN) irá realizar no dia 26 de janeiro às 17h, em São Paulo, a Cerimônia de Diplomação do Comitê ABEFIN Mulher. O evento visa levar o “empoderamento financeiro” para as mulheres empreendedoras em todo o país, para que possam ter sustentabilidade em sua vida pessoal e em seu negócio. 

A ideia é realizar ações em todos os estados brasileiros, emparceiradas com os movimentos de empreendedorismo feminino ou movimentos relacionados às mulheres, buscando apoiá-las com projetos e programas ligados a sustentabilidade, retomada produtiva e aposentadoria sustentável. 

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Além disso, a iniciativa tem o objetivo de mostrar o protagonismo feminino no cenário econômico, estando à frente da vida financeira de empresas e famílias; suprindo com isso a falta da educação do comportamento financeiro em suas vidas. 

A cerimônia também será transmitida ao vivo, e poderá ser assistida através do canal da ABEFIN no Youtube. 

 

O Ministério das Relações Exteriores deve anunciar, nesta segunda-feira (23), novos embaixadores e secretários, segundo apurou o Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. A expectativa é que sejam divulgados os escolhidos para os principais postos de representação brasileira no exterior.

Pelos nomes cotados no momento, três das dez secretarias do Itamaraty seriam chefiadas por mulheres. O número é visto como baixo por diplomatas em um cenário em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, prometeram aumentar a diversidade de gênero nos postos de chefia da atual administração.

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Segundo fontes, a mais cotada para assumir a embaixada do Brasil em Washington é Maria Luiza Viotti, que foi representante do Brasil nas Organização das Nações Unidas (ONU). Antônio Patriota, que foi chanceler no governo de Dilma Rousseff, deve ser anunciado embaixador em Londres. Em Paris, o cargo deverá ficar com Ricardo Neiva Tavares, que foi embaixador em Roma.

O nome mais forte para assumir a secretaria de América Latina e Caribe da Pasta é Gisela Padovan. Já a secretaria de Europa e América do Norte deve ficar com Maria Luisa Escorel. A secretaria de Clima, Energia e Meio Ambiente deverá ser chefiada por André Corrêa do Lago e a secretaria de Gestão Administrativa por Fátima Ishitani.

Nas embaixadas, a visão é de que as mulheres poderiam ocupar pelo menos 40% dos postos, algo que, pelo que está em discussão agora, não ocorrerá. De acordo com estudo da Associação de Diplomatas Brasileiro (ADB) as mulheres representavam 23% do total de diplomatas do Itamaraty em 2022, mas havia uma sub-representação nos cargos de chefia (abaixo de 20%). Dos 25 maiores postos da carreira, nenhum era chefiado por uma mulher.

"Ela engordou", "está com barriga", "não está se cuidando". Essas falas podem parecer arcaicas para muitos, mas ainda são comuns em comentários nas publicações de muitas mulheres nas redes sociais, em especial das que estão em destaque na mídia.

Na última quarta-feira, 18, a atriz Paolla Oliveira gravou um vídeo respondendo internautas que levantaram a possibilidade dela estar grávida. Os comentários surgiram após a atriz publicar outro vídeo, no qual mostrava sua roupa para participar de um ensaio da escola de samba em que ela é rainha de bateria, a Grande Rio.

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"Fiquei pensando que esse é um papo muito sério e pode ser um gatilho para muitas mulheres", disse ao lembrar que muitas ainda buscam alcançar padrões estéticos e "foram ensinadas" a se preocuparem demais com a aparência e o corpo.

"Vocês acharam que eu estava com barriga? Quer saber? Com barriga ou sem barriga, eu estava me achando linda e isso que importa. E vem cá, gente: nem toda barriga é de bebê não", completou.

A cantora e atriz norte-americana Selena Gomez também foi vítima de críticas sobre seu corpo após compartilhar fotos de uma viagem com amigos no início de 2023. Os comentários aumentaram depois que a artista fez uma aparição no Globo de Ouro no último dia 10.

Após a premiação, ela fez uma live no Instagram ao lado da irmã e chegou a dizer: "Estou um pouco grande agora, porque eu aproveitei os feriados de fim de ano. Mas a gente não se importa".

Personalidade que constantemente rebate comentários gordofóbicos, Jojo Todynho gravou um vídeo ainda na última quinta, 19, respondendo usuários que diziam que "não viam diferença" no corpo dela após começar a malhar.

"Quem tá malhando não está malhando para você ver diferença não. O corpo não é seu. Cuida da sua vida. Você é médico, nutricionista, endocrinologista? Qual é a sua formação?", questionou a cantora.

Jojo ainda apontou que esses internautas não estão preocupados com o peso da pessoa, mas sim em externalizar o preconceito deles.

Eliana Santos de Farias, professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Braz Cubas, aponta que o comportamento nocivo de alguns usuários em relação às mulheres pode ser explicado por duas vias: cultura e educação.

A primeira nos lembra que as mulheres da sociedade brasileira e de sociedades semelhantes com a nossa foram historicamente criadas para estarem em segundo plano.

"Essa mulher está em uma posição em que ela é muito mais essa pessoa que figura algo bonito ou que deveria estar ali para compor a decoração, para harmonização social, do que de fato alguém que está ali para fazer suas próprias escolhas e para viver plenamente", diz.

Para a especialista, isso explica porque algumas pessoas se espantam quando uma mulher não usa maquiagem ou, na visão delas, não cuidou de sua aparência.

"Uma outra explicação, que passa pela educação, é o quanto nós vamos falando de mulheres importantes da história e a gente pouco valoriza o que de fato elas fizeram. Não só como profissão e fonte de renda, mas o que elas fizeram na história, que escolhas elas tiveram, o porquê dessas escolhas", completa.

Eliana explica que, no momento em que vivemos hoje, algumas pessoas acreditam que mulheres ainda devem ocupar esse espaço estético e que, com a quantidade de exposição vinda das redes sociais, esse tipo de pensamento atinge um patamar ainda maior.

A busca pelo corpo perfeito

 

"A psicanálise diz que quando eu aponto no outro é algo em mim. Em mim, eu tenho dificuldade de ver, mas no outro é mais fácil, né? Isso é um mecanismo de defesa que a gente chama de projeção", diz Eliana.

Para ela, isso pode ser também uma explicação de por que muitos comentários sobre o corpo das mulheres partem de outras mulheres, já que são elas que mais sofrem com a pressão estética da sociedade.

De acordo com Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em Neurociência do Comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, esse comportamento também pode ser uma forma do que ele chama de "protecionismo".

"Eu equalizo o outro, acho defeito no corpo dos outros, faço algum tipo de apontamento negativo para que isso se torne uma situação na qual eu me sinta melhor. Pode ser que isso ocorra, mas não necessariamente é uma regra", diz.

O especialista destaca que é importante se policiar quando pensarmos em fazer um comentário sobre o corpo de outra pessoa e que o primeiro passo para isso é o desenvolvimento da empatia, ou seja, se colocar no lugar do outro.

"Nós temos que trabalhar nossa autoestima, as nossas inseguranças e os nossos métodos de defesa, para que isso não nos machuque cada vez mais. Senão, a gente acaba executando um comportamento com o próximo do qual nós não gostamos que as pessoas tenham com a gente", completa.

Quais as consequências e como lidar?

 

Mesmo que os comentários sejam recorrentes para mulheres em exposição na mídia, esse comportamento se reflete para diversas meninas e até mesmo para os homens. O crescimento das cirurgias plásticas, por exemplo, é uma das consequência disso.

"Nos últimos 10 ou 15 anos, a pressão estética para todo mundo se tornar ‘perfeito’ aumentou muito e a gente percebe que os pacientes, os jovens mesmo, não aceitam determinados tipos de ‘defeitos’ que sempre foram normais", diz Wendell Uguetto, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do Hospital Albert Einstein.

O médico argumenta que, na era das redes sociais, é comum que pacientes busquem procedimentos estéticos baseados na aparência de influenciadores digitais, mas não levam em consideração a ação dos filtros e edições de imagem.

"A questão de você fazer um procedimento estético por pressão é que, muitas vezes, o que está te desagradando não é que desagrada você, mas sim as outras pessoas. Então, é muito difícil depois você ter um certo grau de satisfação com o resultado final. E isso vai levar à busca de mais procedimentos", completa.

Para o psicólogo Yuri Busin, uma das maneiras de cuidar da autoestima é fazer uma lista de coisas positivas sobre si mesmo: "Todos nós temos, só temos que aprender a olhar e isso é uma coisa que as pessoas não costumam fazer".

Ele e Eliana destacam, também, a importância da terapia e do autoconhecimento. "No sentido oposto, também temos mulheres que conseguiram encontrar o seu ponto de equilíbrio emocional e que, ao invés de gastar o seu tempo de vida apontando o corpo da outra, buscam olhar para elas mesmas", diz a professora.

O Centro das Mulheres do Cabo (CMC) está promovendo uma busca ativa de meninas, adolescentes e jovens mulheres fora das escolas do município, localizado na Região Metropolitana do Recife. A ação integra a campanha Nenhuma Menina Fora da Escola.

“Estamos realizando uma busca ativa para que as meninas a partir dos 12 anos, adolescentes e jovens mulheres, que gostariam de voltar a escola e estão encontrando dificuldade, de se matricular, de acesso ou de permanência, ligue para 99937.0817 que vamos contribuir para que elas tenham acesso e permaneçam estudando e tendo seus direitos garantidos”, afirmou a ativista pela Educação do Fundo Malala, Cássia Jane, que atua no CMC como coordenadora do projeto. 

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Levantamento do CMC apontou que um dos principais motivos do abandono escolar foi o impacto direto da Covid-19. (Divulgação/CMC)

Em 2022, o CMC e o Fundo Malala lançaram um diagnóstico sobre a situação da evasão escolar de meninas no Cabo de Santo Agostinho. O material foi apresentado à prefeitura municipal junto com uma série de recomendações no sentido de prevenir a evasão escolar e orientar a busca ativa para o retorno dessas meninas e jovens mulheres à sala de aula, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio.

O levantamento apontou que um dos principais motivos do abandono escolar foi o impacto direto da Covid-19. Nas entrevistas, 37,5% das mulheres indicaram que deixaram de estudar devido à falta de celular com internet, o que as impediu de acompanhar as aulas virtualmente.

A gravidez precoce também figura entre as principais causas de abandono escolar. Dentre as entrevistadas, 14,6% tiveram que trabalhar para gerar renda para a própria subsistência e de suas famílias. A interrupção das aulas presenciais foi avaliada como muita negativa pelas meninas, visto que 95,2% delas desejam voltar às aulas presenciais. Para 40%, as escolas não ofereceram a estrutura necessária para garantir segurança sanitária no contexto de pandemia. 

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) anual mostra que o perfil da pessoa endividada no Brasil é de uma mulher, com menos de 35 anos e ensino médio incompleto, moradora das regiões Sul ou Sudeste, cuja família recebe até dez salários mínimos.

A pesquisa foi divulgada hoje (19) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).  Na série histórica, iniciada em 2011, o ano bateu recorde: 77,9% das famílias estavam endividadas em 2022, uma alta de 7 pontos percentuais em relação a 2021 e de 14,3 se comparado com 2019, antes da pandemia de covid-19. O índice mais baixo foi registrado em 2018, quando 60,3% das famílias estavam com dívidas.

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O presidente da CNC, José Roberto Tadros, destacou que a pandemia reverteu a tendência de queda no endividamento que era registrada até 2019, especialmente entre os mais pobres. Segundo ele, os “efeitos perversos” da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do número de desempregados, e no pós-pandemia, o avanço da inflação, fez com que as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do consumo de primeira necessidade.

“Enquanto entre as famílias de maior renda foi a retomada do consumo reprimido que levou a maior contratação de dívidas. Esses fatores geraram o aumento no número de endividados em 2022 no país”, afirmou Tadros.

Recorde de superendividamento A Peic anual indicou que, do total de endividados, 17,6% se consideraram muito endividados, a maior proporção da série histórica. A cada dez famílias com renda mais baixa, duas comprometeram mais da metade da renda mensal para o pagamento das dívidas.

Já entre aqueles com maiores salários, o índice cai pela metade, o que sugere que o superendividamento está concentrado entre os mais pobres.

“Em média, durante 2022, o brasileiro gastou, a cada R$ 1 mil, R$ 302 em dívidas. No total, 70% das famílias comprometeram pelo menos 10% da renda com essa finalidade. Mais de 1/5 dos endividados tiveram de gastar, no mínimo, metade do salário para pagar dívidas”, diz a CNC.

O diretor de Economia e Inovação da CNC, Guilherme Mercês, afirmou que é importante que sejam adotadas medidas que possibilitem uma redução nos juros e na inflação, com uma nova âncora fiscal para a gestão das contas públicas.

“Em mais de dez anos, nunca as pessoas se sentiram tão endividadas, e o que a Peic demonstra é que o superendividamento é principalmente um problema para as famílias de baixa renda. Se esse endividamento diz respeito ao custo dos créditos e da inflação, um dos fatores essenciais para resolver isso é ter uma economia brasileira com juros mais civilizados, porque taxa de juros alta é sinônimo de dívidas caras, sempre”, disse Mercês, durante coletiva de imprensa no Rio de Janeiro.

Para o diretor, programas de renegociação de endividamento como os que estão sendo anunciados pelo governo federal são fundamentais e “estancam as angústias das pessoas e famílias”. “Mas, em termos estruturais, o que vai resolver esse problema é uma taxa de juros mais baixa”, ressaltou.

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