Depressão, medo de rejeição e isolamento. Apesar de não fazerem parte dos sintomas da Hanseníase - enfermidade que afeta os nervos e a pele- tais sentimentos estão presentes na vida das pessoas como, Mauricélia que ainda sofre preconceito por ser portadora da doença. Sensibilizado com o problema de sua esposa, Marcos Antônio, de 33 anos, tornou-se voluntário do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).
“Ela me contou que tinha Hanseníase quando éramos apenas namorados. No começo, ela escondeu que tinha a doença, por medo que eu a rejeitasse e acabasse nosso relacionamento. Mas superamos isso e já estamos juntos há quatro anos. Foi difícil passar por isso, pois o caso dela se agravou, causando o que eles chamam de garra fixa, que é uma atrofia os dedos das mãos e dos pés”, comentou Marcos Antônio.
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Emocionado, o rapaz contou que tem medo que a esposa e a filha, de apenas dois anos, sofram preconceito na rua. “As pessoas tinham medo de serem contaminadas por minha esposa. Às vezes saímos na rua e eu percebo que as pessoas olham diferente para ela. Já penso em preparar minha filhinha, com ajuda de um psicólogo, para que ela entenda que a mãe dela é normal. Meu medo é que ela sofra algum preconceito na escola por conta disso”.
O coordenador do Morhan e amigo do casal, Gildo Bernardo, falou sobre como lidou com o fato de ter tido hanseníase e sobre o preconceito enfrentado. “Aconteceu em 1994, e na época não sabia absolutamente nada sobre a doença. Ao contrário do comum, não desenvolvi as manchas, só perdi a sensibilidade. Quando descobri, a doença já estava bem avançada. Incrivelmente, a primeira pessoa que demonstrou ter ‘medo’ de mim, foi meu penúltimo médico, que desconfiou que eu tivesse Hanseníase e durante toda a consulta não chegou perto de mim”, contou.
“Fiz todo meu tratamento na Policlínica Lessa de Andrade, com a médica Rosa Lapenda, que me ajudou bastante. Tomei os remédios durante dois anos e hoje estou curado da doença. Infelizmente meu quadro se agravou, por falta de diagnóstico, e minha mão esquerda teve atrofia. O objetivo do Morhan é divulgar informação sobre a doença em escolas, eventos e outros, para que outras pessoas não sofram o mesmo preconceito”, comentou Gildo.
Para marcar o Dia Mundial de combate à Hanseníase, celebrado nesta quinta-feira (30), foi feita uma ação que disponibilizava exames gratuitos e atividades preventivas, realizados no Praça do Carmo, área Central do Recife. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, Pernambuco é o décimo Estado com maior coeficiente de detecção no Brasil. A cada grupo de 100 mil pernambucanos, 36 são diagnosticados com a doença e podem sofrer algum tipo de incapacidade no futuro.
O Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Sergio Palma, explica a necessidade de realizar o diagnóstico com antecedência. “Quanto mais rápido for feito o diagnóstico, que é algo bem elaborado e demora pra ser feito, mais fácil e rápido será o tratamento do paciente. O problema é que muitas vezes, as pessoas não percebem os sintomas”, pontuou.
Entre os principais sintomas estão manchas esbranquiçadas ou avermelhadas e até caroços na pele, alterações de sensibilidade à dor, frio, calor e tato. Deve procurar o atendimento quem identificar algum tipo de dormência ou formigamento nas mãos ou nos pés, ausência ou diminuição de suor na área atingida e perda de pelos no local.
O dermatologista comenta que após começar o tratamento, não existe risco de contaminação. “É importante deixar claro, que quando a pessoa inicia o tratamento, composto por um coquetel de comprimidos, não há possibilidade de contágio. O tratamento dura, dependendo da gravidade do caso, de seis meses a um ano”.
O paciente que for diagnosticado com a enfermidade será encaminhado para a unidade de saúde mais próxima à sua residência, já que os casos de rotina de hanseníase são tratados na rede municipal. Apenas os casos mais graves e com complicações deverão ser atendidos em unidades de referência. O Hospital Otávio de Freitas (HOF), no bairro de Tejipió, Zona Oeste do Recife e o Hospital Geral da Mirueira, em Paulista, são referência secundárias estaduais no atendimento aos pacientes de hanseníase em Pernambuco e o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) referência terciária.