Os resultados de uma pesquisa feita em 2020 pelo Instituto TIM, através do projeto “O Círculo da Matemática no Brasil”, trazem novas informações sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus na saúde mental e bem-estar de professores em todo o país. Os dados foram coletados com docentes do ensino fundamental de diversos estados do Brasil, tanto da rede pública quanto privada, no período de janeiro a novembro. Apesar do alto índice de dificuldades enfrentadas com o ensino remoto (quase 70%), a pandemia fez crescer uma sensação positiva e otimista em relação à carreira dos entrevistados.
O levantamento aponta que, mesmo com todos os problemas advindos do ensino remoto (66,4% dos relatos mostram dificuldades de adaptação, 58% contam que não conseguem ministrar as aulas em casa sem barulho ou interrupções, e 78% apresentam problemas de insônia ou excesso de sono), o ambiente físico de sala de aula se apresenta sendo mais danoso aos professores do que o virtual. Os principais fatores negativos apresentados são conflitos nas turmas e violência nas localidades onde as escolas estão inseridas. Na pesquisa, 64% dos docentes responderam que já presenciaram agressão física ou verbal contra professores ou funcionários, feitas por alunos. Outros 72% relataram já ter presenciado brigas entre estudantes.
##RECOMENDA##“O ensino remoto trouxe, sim, dificuldades, mas a principal conclusão do estudo é que os professores do país, em geral, já estavam psicologicamente esgotados muito antes da pandemia. O novo modelo de trabalho, inclusive, reduziu o nível de estresse e cansaço em alguns casos. É um alerta importante para a sociedade, os profissionais da educação precisam ser olhados com atenção, inclusive, com avaliações psicológicas periódicas”, explica Flavio Comim, economista, professor da IQS School of Management (Barcelona) e da Universidade de Cambridge, e responsável pela pesquisa e um dos idealizadores do projeto.
Como consequência, ocorreu um crescimento do sentimento de autoeficácia dos professores durante a pandemia e o otimismo em relação à carreira. Aproximadamente 45% dos participantes viam possibilidades de desenvolvimento e de promoções, indicador que aumentou 15 pontos percentuais nos questionários feitos na segunda rodada da pesquisa. Mais de 80% dos docentes acreditam que suas qualificações continuarão válidas no futuro.
A avaliação, no entanto, não foi tão positiva em todos os aspectos. Ela destacou ainda mais as desigualdades sociais do país: professores pardos e negros foram mais impactados pela pandemia. Entre as pessoas negras, 76% mencionaram dificuldades de adaptação às aulas online, 64% não conseguiram trabalhar bem de casa e 83% tiveram problemas de sono durante a pandemia. O contexto familiar também retrata as diferenças: 79% dos professores negros contaram que suas famílias perderam parte da renda durante a crise sanitária, contra 61% dos profissionais brancos.
O estudo é um dos desdobramentos do projeto “O Círculo da Matemática do Brasil”, realizado pelo Instituto TIM. Os detalhes sobre o projeto e suas aplicações estão disponíveis no site da organização.