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Os desastres provocados pelo óleo que mancha o litoral nordestino estão por todos os lados, principalmente contra o próprio povo que depende diretamente do que se produz no mar e do turismo. Neste sábado (26), o LeiaJá percorreu algumas praias do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, e o que a equipe de reportagem encontrou nos locais foi um estado de abandono, desespero por parte dos comerciantes e a luta para a reconstrução da imagem desses espaços.
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Na praia de Suape, pescadores como Genildo Plínio, 49 anos, estão conseguindo manter com muita dificuldade - pelo menos no curto prazo - as despesas da casa. Com ele moram os dois filhos e a sua esposa. Plínio aponta que desde a última segunda-feira (21), dia que as manchas atingiram o local, ele não consegue vender ou pescar.
“Estou há quase uma semana sem fazer nada. A gente fica sem saber o que fazer por conta de tudo isso que está acontecendo. Até para vender está difícil porque as pessoas estão com medo de comprar”, afirma o pescador.
De acordo com o pescador, todos que dependem da pesca em Suape passam pela mesma dificuldade. Chico Peixoto/LeiaJá Imagens
Genildo garante que nunca passou, nem tinha conhecimento de um desastre como esse que atinge o Nordeste. “O tempo que eu tenho de vida é o tempo que vivo no mar e eu nunca passei por essa situação. Para você ter idéia, tem mês que eu consigo fazer R$ 5 mil aqui, agora não sei como vai ser”, desabafa.
Trabalhando há dois anos na Barraca de Maria, na beira mar de Suape, Tacia Maria da Silva, 35 anos, diz estar preocupada com a situação. Ela começou os trabalhos deste final de semana por volta das 8h, quase três horas depois ainda não tinha atendido um cliente sequer. “Em dias bons a gente atende no mínimo umas 100 pessoas aqui. A procura é tão grande que às vezes não tem mesa para o pessoal. Estar passando por isso agora é horrível”, exclamou Tacia.
Na praia de Xaréu, o cenário era o mesmo que o de Suape: pouca movimentação de banhistas. Os que insistiram em curtir o sábado ensolarado encontraram um espaço tranquilo e, aparentemente, limpo. Os comerciantes do local confrontam as informações de que Xaréu foi atingida pelas manchas e apontam uma “irresponsabilidade” das autoridades públicas que fizeram tal afirmação.
Dava para contar nos dedos quantas pessoas se banhavam em Xaréu. Chico Peixoto/LeiaJá imagens
“O óleo passou quase 250 metros daqui e atingiu a praia de Itapuama, que faz divisa com Xaréu. Se essa praia aqui tivesse sido atingida as praias ainda estariam meladas de olho. Se você olhar em volta, não vai encontrar uma gota de óleo”, garante Luciana Alves, 49 anos.
Ela tem um comércio na praia de Xaréu há 27 anos. Hoje, 6 famílias dependem dela para levar comida para casa. Mas Luciana aponta que se a situação não melhorar precisará dispensar todos os seus funcionários e trabalhar, ela própria, com o auxílio de alguns familiares, no comércio de bebidas e comidas. “Não tenho como manter todas as minhas despesas com o caixa vazio. Só de energia eu pago mais de 1 mil reais. A diária de cada um aqui varia de 60 a 70 reais, dependendo do dia da semana. Infelizmente, se nada melhorar, não vou ter outra escolha”, lamenta a comerciante.
Esse é o medo de todas as pessoas que dependem do mar. Jair Borges, 64 anos, aposentado, complementava a renda de casa guardando carros num estacionamento privado de Itapuama, local que foi bastante atingido pelas manchas do petróleo. Desde a última segunda (21), que seu Jair não faz outra coisa a não ser auxiliar na retirada do óleo.
Os voluntários foram essenciais para o combate ao óleo. Chico Peixoto/LeiaJá Imagens
A dedicação foi tamanha que o aposentado acabou sentindo os efeitos da ação voluntária sem proteção devida. “Na última quinta-feira (24), eu precisei procurar um posto de saúde porque estava passando muito mal. Sentia bastante dor na parte frontal das cabeça, além de náuseas”, por indicação médica, Jair não conseguiu mais se juntar aos voluntários da limpeza e neste sábado (26), prevendo o ‘abandono’ da praia, só restou sentar na beira do mar.
Resquícios de óleo em Suape
Mesmo a praia já tendo sido limpa pelos voluntários e autoridades competentes, neste sábado (26), a equipe de reportagem do LeiaJá ainda encontrou alguns resquícios do petróleo na beira mar de Suape. As manchas são pequenas e apareceram num local distante de onde se concentrou maior parte do óleo. Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho e a Marinha do Brasil realizaram um mutirão nas praias de Gaibu, Itapuama e Suape justamente para tentar combater esses pequenos desprendimentos.
Muito óleo
De acordo com as informações oficiais, entre o dia 17 de outubro e a última sexta-feira (25), mais de 1.447 toneladas de resíduos foram recolhidas em Pernambuco. Equipes da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) monitoram as praias do Janga (Paulista), Barra de Jangada, e Candeias (Jaboatão dos Guararapes) as equipes da CPRH e da Semas realizaram ações nas praias do Paiva, Xareu e Itapuama (Cabo de Santo Agostinho); Cupe, Muro Alto, Maracaípe, Porto de Galinhas e Serrambi (Ipojuca); Mamucabinhas (Barreiros), Pedra e Reduto (Rio Formoso); Boca da Barra (Tamandaré) e nos estuários dos rios Una e Pissununga (São José da Coroa Grande). As praias dos municípios de Itamaracá, Itapissuma e Goiana, todas no Litoral Norte, também estão sendo monitoradas.
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