A um dia de assumir a presidência do PT em Pernambuco, o advogado Bruno Ribeiro recebeu a equipe do Portal LeiaJá, na sede da legenda, no bairro do Recife. Durante a conversa, ele detalhou as expectativas para os próximos dois anos, avaliou o cenário nacional e confirmou que as prioridades petistas para 2016 são os pleitos nas cidades do Recife e de Olinda.
Ligado à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetape), Ribeiro foi candidato a deputado estadual em 2006, já passou pelo PSB e chegou a integrar o terceiro governo de Miguel Arraes (1995-1998). Agora ele assume o comando da sigla no estado substituindo a deputada estadual Teresa Leitão (PT) e dando segmento a um acordo firmado após o Processo de Eleições Diretas (PED) em 2013, quando sob o intermédio do então deputado federal Pedro Eugênio, os dois decidiram revezar a liderança da legenda.
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Teresa Leitão passa a ocupar a vice-presidência do PT-PE, antes comandada por Bruno Ribeiro. A posse do novo presidente do PT será nesta sexta-feira (18), às 18h, no Forte do Brum.
Confira a entrevista na íntegra:
LeiaJá (LJ) - Como o senhor avalia esses dois primeiros anos da presidência do PT compartilhada com a deputada Teresa Leitão?
Bruno Ribeiro (BR)- Nesses últimos dois anos venho trabalhando com Teresa [Leitão] com muita harmonia e integração. Esta fase pós-PED [Processo de Eleições Diretas] foi muito rica e preparou ainda mais o partido para enfrentar este momento [de crises] e 2016. Foram dois anos de exercício, muita transparência e de lealdade. Nós não temos dois mandatos. É um mandato só. Teresa e eu, e as forças que nós representamos, aceitamos o desafio e demos conta dele. Vamos continuar administrando o partido juntos.
LJ – Quais os planos para os próximos dois anos?
BR - Temos uma agenda de curto prazo, que nesse instante não é só uma agenda do PT, mas da sociedade, na luta contra a tentativa de golpe que está em curso. Temos em 2016 também, um desafio não só nosso, mas de todos os partidos. É um instante em que a política tem que se repensar e ela começa com uma nova oportunidade que é o fim do financiamento privado de campanha. É uma oportunidade que partidos e políticos se reencontrem com a sociedade. A política é uma atividade que vem acumulando descrédito com a população. O ator central da política deve ser o povo, o eleitor. Assumo a presidência do partido, com o apoio de Teresa, para enfrentar estas questões de curto prazo e as eleições de 2016.
LJ - Vocês vivenciaram um PED no contexto de divisão interna no PT e resolveram tentar reabilitar a legenda. Nesses dois anos, já dá para dizer que o PT em Pernambuco é outro?
BR - O PT é um partido democrático, diferentemente de outros partidos que o presidente manda e desmanda. Temos divergências que são negativas e positivas. Em um determinado momento, elas se agudizam e criam um clima de confronto ou de disputa. Fizemos campanhas de níveis no PED e, por força do destino, ninguém venceu. Foi muito bom para Teresa e para Bruno. Possibilitou o entendimento de que o trabalho era conjunto. Para restabelecer o clima de diálogo e transparência. Às vezes me pergunto em que partido duas pessoas disputaram o mesmo cargo e conseguiram, juntos, administrar? Nenhum outro. O PT, às vezes, proporciona essas coisas novas. Hoje o partido é mais amadurecido, pronto e unido. É muito bom para que possamos viver esse tempo difícil.
LJ - Por falar em tempos difíceis, nesta semana saiu uma nova avaliação da gestão da presidente Dilma Rousseff e novamente ela tem uma popularidade baixa. Com este cenário, que interfere também em Pernambuco, como é que vocês pretendem se organizar para 2016?
BR - Pesquisas são muito importantes, mas retratam apenas o momento. No caso de Dilma, um momento em que o país está precisando reajustar as suas contas, em que ela sofre uma campanha negativa que não se encerra. Há um ano e meio são notícias e notícias negativas. Tenta-se desestabilizar o governo dela. No próximo ano, o PT vai comparecer a este debate com o conhecimento do desgaste e das acusações feitas, mas com muitas coisas na mão. Muitas coisas feitas em Pernambuco e no Brasil. É isso que vai fazer com que, na nossa expectativa, a sociedade reflita 2016 como um outro ano. Em Pernambuco, contribuímos de forma extrema para a mudança social e política, com Suape, a Transnordestina, a Fiat, a Transposição e o polo petroquímico. Em 2016, vamos comparecer ao debate com esse acervo de coisas feitas. O povo vai os julgar pelas melhoras.
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LJ - Depois de uma eleição sem sucesso para o PT no estado em 2014, quais os planos para 2016?
BR - Em 2014, tivemos uma peculiaridade em Pernambuco, que corresponde pelo tamanho atual do PT – nenhuma vaga na Câmara e apenas duas na Alepe. Isso é resultado de uma aliança de quase duas décadas com o PSB. Ela foi importante para o governo de Lula, quando o PSB deu apoio, Eduardo foi ministro. Foi importante para Pernambuco, porque muitos investimentos foram feitos e, sobretudo, de grande significância para o povo que se beneficiou pela prioridade dada ao estado. Mas ela foi muito ruim para o PT. De certo modo, o PSB conviveu com esta aliança interditando o crescimento do partido no estado. Assim que o nosso então aliado enxergou as dificuldades do partido investiu contra a Prefeitura do Recife. Então, nós vamos chegar em 2016 libertados desta aliança que foi tão dura para o PT de Pernambuco.
LJ - Mas e com relação à disputa pelas prefeituras, quais as prioridades?
BR - Temos debatido muito desde o início do ano. Foram feitos dois ciclos de plenárias regionais para ouvir os petistas, os diretórios municipais. Nós temos oito prefeituras geridas pelo PT e o consenso é preservá-las. Temos um desafio, muito priorizado no partido, que é a Região Metropolitana do Recife. Queremos recuperar protagonismo, com vereadores, e disputar as prefeituras de Recife, Olinda, Paulista e outras cidades. Nesse instante, o sentimento identificado pelos petistas vai nesses eixos. Além de cidades estratégicas, como Caruaru e Petrolina. Temos hoje um Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) que está discutindo esses assuntos no estado. Gosto de olhar com muito otimismo este cenário, onde voltaremos ao debate corpo a corpo com o eleitor.
- Veja o que diz Bruno Ribeiro sobre o pleito no Recife e em Olinda:
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LJ – Saindo do contexto local, como o senhor avalia o cenário nacional onde o PT é protagonista de constantes derrotas?
BR - Temos a compreensão exata das dificuldades que estamos vivendo: a baixa popularidade da presidenta, o ajuste fiscal, a recessão econômica. Vivemos um mundo que está com dificuldades, estamos fazendo um ajuste depois de uma década de investimentos que mudaram o Brasil. É natural, depois de um tempo de investimentos, a necessidade de se fazer alguns ajustes. Pernambuco mesmo é um bom exemplo disso. Há dez anos produzia cana, fazia um esforço na área de serviços e tentava construir um porto. Dez anos depois, é um estado que fabrica automóvel, exporta petróleo e onde não se vê mais saques na seca.
LJ – A dificuldade econômica supera a política ou os dois itens andam lado a lado?
BR - Temos um quadro em que os problemas políticos são maiores que os econômicos. A elite brasileira sempre foi avessa a mudanças. Sempre reagiu a tentar fazer com que o país quebrasse o apartheid, que saísse de vez das senzalas e tivesse mais igualdade. Getúlio viveu o que viveu também por uma conjuntura feito a de hoje. Essa elite reage a mudanças. O que estamos vendo hoje não é só um combate ao PT. Partes poderosas do Brasil não querem essas mudanças. Note que no ano em que a América começa a romper com sua intransigência com Cuba, que o Papa vai a Cuba, a retórica brasileira é antiquada. Há movimentos para desarticular, aqui na América Latina, governos que conseguem avanços nas relações sociais e econômicas. Precisamos libertar a política desta vulgaridade em que ela está vivendo. É isso que incomoda o povo, não ver partidos e políticos discutindo temas contemporâneos e que interessam para que o país retome o crescimento e permaneça com inclusão social. Nós temos muita clareza. O nosso adversário, não. Ele só tem um mote: o impeachment. É o que um jornalista chamou de ‘os taradinhos do impeachment’. Eles não pensam em outra coisa. E passaram o ano tentando desestabilizar o governo de Dilma. Aprovando pautas que agravaram os gastos públicos e tentando violar a constituição, para no final do ano dizer ‘ela não governa’.
LJ – E como o senhor avalia este processo de impeachment em curso no Congresso Nacional?
BR - O principal impeachment que vemos hoje no país não é em relação à Dilma, mas da interdição do debate político. Essa atividade tão importante é que está sofrendo um impeachment. É dentro desse cenário que surge a ideia de derrubar uma presidente eleita. A única indubitavelmente honesta, nisso tudo, é Dilma. Os outros têm processos e respondem a acusações. O país vê isso. O impeachment é previsto na Constituição Federal como uma medida extrema. Não é algo para você recorrer a qualquer instante. O impeachment tem uma condição, o crime de responsabilidade. Não há nada de irregular, doloso ou criminoso contra a presidente. Não é possível uma condenação sem crime. A Câmara que vota o impeachment somente 6,3% chegou por seus votos, o resto foi por alquimia das coligações. É um quadro de falta de legitimidade. Quase metade da comissão que eles escolheram está envolvida com denúncias. Falta representatividade nesta Câmara para poder retirar o mandato que a urna democraticamente conferiu a uma cidadã. Espero que esse impeachment seja logo rejeitado para reestabelecer o debate no país.
LJ – Sabe-se que há um jogo de poderes por trás deste processo protagonizado pelo PT e o PMDB. Nesta semana o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, voltou a defender o fim da aliança entre as duas legendas. O senhor acredita que já está na hora do PT retirar o PMDB do seu quadro de aliados?
BR - [Eduardo Cunha] tem sido o ‘calcanhar de Aquiles’ do país, não é do PT. Reajo muito à vulgarização da política e não gosto de adjetivar essas pessoas, guardarei para mim os adjetivos que tenho para ele. Agora sabemos nitidamente que as acusações contar ele são graves. Como advogado, defendo, lógico, o direito ao contraditório, mas com o grau de acusações que tem, ele já deveria ter deixado a presidência da Câmara para se defender e esclarecer tudo. O impeachment surge manchado na lama que é o conjunto de denúncias contra o presidente da Câmara. Dizer que o PT tem controle sobre a Lava Jato é não ler jornal. Não há um adversário que possa acusar Dilma de fazer qualquer movimento para inibir as investigações.