Sem aviões de combates no céu, ou alertas de foguetes. A tranquilidade retornou na manhã desta sexta-feira (21) à Faixa de Gaza e Israel, depois da entrada em vigor do cessar-fogo que acabou com 11 dias de confrontos violentos.
Desde o início da aplicação da trégua, nesta sexta-feira, às 2h (20h de Brasília, quinta-feira), milhares de palestinos saíram às ruas de Gaza para festejar o fim dos bombardeios israelenses. Manifestações de júbilo também foram observadas em cidades da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ocupados.
"É a euforia da vitória", disse Khalil al Haya, número dois do gabinete político do Hamas na Faixa de Gaza, durante um discurso para os manifestantes. Ele prometeu "reconstruir" as casas destruídas pelos bombardeios israelenses.
"Desde as 2h não se detectou nenhum lançamento de foguete, e os aviões (das Forças Armadas) voltaram para suas bases", afirmou o exército israelense.
O acordo foi possível, graças à mediação do Egito, uma potência regional que mantém relações tanto com Israel como com o Hamas. Este movimento é considerado "terrorista" pelo Estado hebreu, pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
O presidente americano, Joe Biden, agradeceu ao Egito pelo papel desempenhado no cessar-fogo, que chamou de "oportunidade genuína para avançar" rumo à paz entre israelenses e palestinos.
"Acredito que os palestinos e os israelenses merecem viver com segurança e desfrutar do mesmo nível de liberdade, prosperidade e democracia", disse Biden.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, visitará o Oriente Médio nos próximos dias para reuniões com seus colegas "israelense, palestino e regionais", informou o Departamento de Estado.
A UE celebrou o anúncio e recordou que "a situação na Faixa de Gaza é insustentável há muito tempo", enquanto a Alemanha, que também elogiou a iniciativa, advertiu que agora é necessário "abordar as causas profundas do conflito para encontrar uma solução" no Oriente Médio.
Os bombardeios aéreos e os disparos de artilharia no território palestino deixaram em 11 dias as mortes de pelo menos 232 palestinos, incluindo 65 menores de idade e combatentes, e 1.900 feridos, segundo as autoridades de Gaza. Em Israel, os foguetes palestinos mataram 12 pessoas, incluindo uma criança, uma adolescente e um soldado, e deixaram 355 feridos, segundo a polícia.
- "Sem condições" -
O cessar-fogo foi anunciado após uma reunião do gabinete de segurança israelense, comandada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que "aceitou por unanimidade" a iniciativa egípcia "de cessar-fogo bilateral sem condições".
Hamas e Jihad Islâmica - outro grupo armado palestino em Gaza - confirmaram o acordo da trégua, alcançada com a mediação dos "irmãos egípcios".
"A resistência palestina respeitará o acordo desde que a ocupação (como o Hamas chama Israel) o respeite", afirmou o grupo islamita.
O Hamas iniciou as hostilidades em 10 de maio com o lançamento de foguetes contra Israel em "solidariedade" com centenas de palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas de Jerusalém, o terceiro local mais sagrado do islã. Os distúrbios começaram após os protestos contra a expulsão de várias famílias palestinas, em benefício de colonos israelenses, de um bairro da Cidade Sagrada.
Depois dos lançamentos de foguetes, Israel iniciou uma operação para "reduzir" as capacidades militares do Hamas, com vários ataques aéreos contra o pequeno território de dois milhões de habitantes sob bloqueio israelense há quase 15 anos.
O Exército anunciou que matou "25 dirigentes do Hamas" nos bombardeios e que destruiu mais de 100 quilômetros de túneis e dezenas de edifícios que, segundo as Forças Armadas, o Hamas utilizava para "atividades terroristas".
De acordo com o Exército, Hamas e Jihad Islâmica lançaram mais de 4.300 foguetes contra Israel - mais de 90% deles foram interceptados pelo sistema antimísseis israelense.
Em Sderot, uma cidade israelense na fronteira com Gaza, o anúncio do cessar-fogo foi recebido com ceticismo.
"O problema é que o Hamas não vai respeitar, não devemos ser ingênuos", declarou o prefeito do município, Alon Davidi, que defende que o Exército prossiga com a operação para evitar a retomada dos confrontos.
- Delegações egípcias -
Depois de três guerras em uma década, Hamas e Israel estabeleceram em 2018 uma trégua para estabilizar e desenvolver Gaza, território com péssimas infraestruturas e alto índice de desemprego, após a mediação da ONU, Egito e Catar, um emirado do Golfo próximo ao movimento Irmandade Muçulmana, do qual procede o Hamas.
Nos bastidores, ONU e os dois países intensificaram as negociações na quinta-feira para alcançar o acordo de trégua.
"Duas delegações egípcias serão enviadas a Tel Aviv e aos Territórios Palestinos para vigiar a aplicação (do cessar-fogo) e o processo para manter condições estáveis de forma permanente", afirmaram fontes diplomáticas do Cairo.
Apesar da trégua, a situação é preocupante na Cisjordânia, onde os confrontos entre palestinos e as forças de segurança deixaram mais de 25 mortos em 11 dias.