Tópicos | Vazamentos

Em julgamento retomado no plenário virtual do Supremo Tribunal Federal, nesta sexta-feira (26), o ministro Gilmar Mendes votou pelo trancamento dos inquéritos abertos pela Polícia Federal para investigar o vazamento de documentos sigilos obtidos pela CPI da Covid no Senado Federal. O decano divergiu do relator do caso, ministro Edson Fachin, que havia se manifestado por negar habeas corpus impetrado pelos senadores Omar Aziz (PSC-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL), presidente, vice e relator da comissão parlamentar, respectivamente.

O caso começou a ser discutido pelo STF em julgamento também no plenário virtual no dia 22 de outubro. Na ocasião, o ministro Gilmar Mendes pediu vista (mais tempo para análise), suspendendo o julgamento. Com a retomada da análise do caso, os ministros terão até o dia 3 de dezembro, próxima sexta-feira, para depositar os votos no plenário virtual.

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O relator do caso, ministro Edson Fachin, havia se manifestado por negar o pedido de trancamento do inquérito por não ver 'flagrante hipótese de constrangimento ilegal'. O ministro levou em consideração informações prestadas pela Polícia Federal no sentido que os investigadores aguardavam a decisão do STF no âmbito do habeas corpus em questão para 'para expedir ofício em para autorização para instauração de procedimento investigativo'.

Já Gilmar considerou que há 'manifesta ilegalidade' na abertura da investigação, com 'usurpação da competência' do Supremo Tribunal Federal para julgamento de autoridades com foro por prerrogativa de função. "Tal expediente é manifestamente ilegal ao passo que a autoridade policial não possui poder de abrir investigação de ofício contra autoridades detentoras de foro e tampouco requerer a abertura ao STF, iniciativa que cabe à PGR", ponderou.

Na avaliação do ministro, a PF reconheceu 'que houve o início de atos investigativos sem que os elementos tenham sido remetidos para a Procuradoria-Geral da República, autoridade com iniciativa para requerer ao Supremo Tribunal Federal eventual abertura de investigação'.

O voto do decano está em linha com a manifestação do procurador-geral da República Augsuto Aras sobre o caso. Em agosto, o chefe do Ministério Público Federal defendeu o trancamento das investigações sob o argumento de que a apuração pode atingir autoridades com foro privilegiado e, nesse caso, a prerrogativa para pedir a instauração do inquérito é exclusiva da PGR.

Por conta de ataques hackers aos servidores da Capcom, imagens, cutscenes e o final do novo game da empresa, "Resident Evil Village", foram vazadas e circulam pela internet. Além disso, os dados também indicam o lançamento do jogo para maio de 2021.

Os vazamentos estão espalhados no YouTube e em fóruns de discussão. Por conta disso, é recomendado aos fãs da franquia, que não desejam ter a experiência comprometida, tomarem cuidado ao realizar pesquisas sobre "Resident Evil Village".

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Situações semelhantes já ocorreram na indústria dos jogos. O caso mais recente foi com o game da Naughty Dog, "The Last of Us Part II", que teve seu enredo vazado na íntegra, um mês antes do lançamento.

"Resident Evil Village" foi anunciado em junho, durante o State of Play da Sony, e desde então os fãs aguardam por novidades do game.

Algumas cópias do novo game "Cyberpunk 2077" (CD Projekt Red) começaram a chegar nas prateleiras de varejistas, como a Amazon, mesmo com lançamento programado para 9 de dezembro. Com isso, algumas pessoas já tiveram acesso ao jogo, e vídeos de gameplay com possíveis spoilers já circulam na internet.

As imagens da mídia física foram compartilhadas por um usuário da rede social Reddit. A cópia em questão era a da versão de Playstation 4. Nas fotos, é possível ver os conteúdos da caixa, que acompanha dois discos e confirmam que o game terá upgrade gratuito no Playstation 5.

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O usuário que postou a foto confirmou que o game ocupa 70GB no HD do PS4, e conta que a embalagem é bem pesada por possuir bastante conteúdo dentro da caixa. A princípio, o vazamento não foi levado a sério. Em poucas horas foi postado um vídeo de gameplay, que circulou via YouTube e, depois, foi rermovido. Uma cópia do vídeo também estava disponível no Google Drive, mas o link foi apagado por "violar os Termos de Serviço".

Ao que parece, o conteúdo foi apagado pela própria CD Projekt Red, que está monitorando possíveis vazamentos. Até o momento não surgiram outras gameplays do título, mas novos vídeos acompanhados de spoilers podem aparecer na internet a qualquer momento.

Por Natalia Viana, Andrew Fishman, Maryam Saleh, Agência Pública/The Intercept Brasil

Não era para menos. Naquela terça-feira, uma delegação de pelo menos 17 americanos apareceu na capital paranaense para conversar com membros do MPF e advogados de empresários que estavam sob investigação no Brasil. Entre eles estavam procuradores americanos ligados ao Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) e agentes do FBI, o serviço de investigações subordinado a ele. Todas as tratativas ocorreram na sede do MPF em Curitiba. Em quatro dias intensos de trabalho, receberam explicações detalhadas sobre delatores como Alberto Youssef e Nestor Cerveró e mantiveram reuniões com advogados de 16 delatores que haviam assinado acordos entre o final de 2014 e meados de 2015 em troca de prisão domiciliar, incluindo doleiros e ex-diretores da Petrobras.

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Mas nem tudo foram flores para a equipe de Deltan Dallagnol. No final do dia 6 de outubro, às 23h16, ele foi chamado ao Telegram pelo diretor da Secretaria de Cooperação Internacional (SCI) da Procuradoria-Geral da República (PGR), Vladimir Aras: “Delta, MSG DO MJ”.

A mensagem era grave. O Ministério da Justiça acabara de tomar conhecimento da visita dos americanos pelo Itamaraty – quando eles já estavam em Curitiba.

Segundo um acordo bilateral, atos de colaboração em matéria judicial entre Brasil e Estados Unidos – tais como pedir evidências como registros bancários, realizar buscas e apreensões, entrevistar suspeitos ou réus e pedir extradições – normalmente são feitos por meio de um pedido formal de colaboração conhecido como MLAT, que estipula que o Ministério da Justiça deve ser o ponto de contato com o Departamento de Justiça americano. O procedimento é estabelecido pelo Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal, tratado bilateral assinado em 1997.

Naquela época, o ministério era chefiado pelo ministro José Eduardo Cardozo, sob a presidência de Dilma Rousseff (PT).

A mediação é feita pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, o DRCI, então chefiado pelo delegado da Polícia Federal (PF) Ricardo Saadi. Era dele a interpelação que dizia que o governo não fora informado da visita dos procuradores e agentes americanos. No final, o encontro ocorreu à revelia do Executivo, em tratativas diretas entre os americanos e os procuradores de Curitiba.

O email enviado por Saadi dizia o seguinte: “Fomos informados hoje pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE) sobre possível vinda de autoridades americanas para o Brasil para conversar com autoridades brasileiras e/ou realizar investigações no âmbito da Operação Lava Jato. Considerando que, até a presente data, este DRCI não tinha qualquer conhecimento dessa possibilidade, pergunto: 1. O MPF tem conhecimento sobre eventual vinda de autoridades norte-americanas para o Brasil para conversar com autoridades brasileiras e/ou para praticar atos de investigação ? 2. Em caso positivo, qual o período que ficariam em solo nacional ? 3. Foi feito algum contato oficial nesse sentido ? 4. Quais seriam as atividades desenvolvidas pelos norte-americanos em solo nacional ? 5. O MPF teria nome/função das autoridades americanas que viriam ? 6. Outras informações que entender relevantes”.

O recado foi compartilhado no chat “FTS-MPF”, onde membros da Lava Jato coordenavam ações com outros procuradores.

Especialistas ouvidos pela Agência Pública e The Intercept Brasil afirmam que quaisquer diligências – atos de investigação que vão gerar um processo e provas criminais – em solo nacional teriam que ser oficializadas por meio de um MLAT. Procurado pela reportagem, procurador Vladimir Aras respondeu, por nota, que “as reuniões prévias e o intercâmbio de informações no curso da investigação compreendem a etapa chamada ‘pré-MLAT’. O MP e a Polícia não estão obrigados a revelar ou a reportar esses contatos a qualquer autoridade do Poder Executivo”.

Mas os diálogos demonstram que, como a cooperação internacional não é regulamentada por lei nacional que estabeleça procedimentos padrões, os membros da Lava Jato exploraram zonas cinzentas que permitiram aos americanos avançar suas investigações, escondendo esse fato do governo federal – em especial, durante a época em que Dilma Rousseff ainda era presidente. Os contatos geraram questionamentos dentro da PGR e são ainda mais sensíveis por terem como alvo a empresa de economia mista Petrobras.

Em um chat de 13 de fevereiro de 2015, Deltan Dallagnol demonstra desconfiança em relação ao DRCI – e ao governo Dilma.

Questionado por Vladimir Aras sobre se estaria “tudo tranquilo” com o delegado federal Isalino Antonio Giacomet Junior, que era assessor do DRCI, Dallagnol responde: “Tranquilo, obrigado, embora eu não goste da ideia do executivo olhando nossos pedidos e sabendo o que há. Ainda bem que é o Saadi e não o Tuminha lá”, diz, referindo-se ao ex-delegado Romeu Tuma Júnior.

Em setembro de 2019, a força-tarefa da Lava Jato afirmou ao site The Intercept Brasil e ao UOL que “diversas autoridades estrangeiras de variados países vieram ao Brasil para a realização de diligências investigatórias, algumas ostensivas, outras sigilosas, conforme interesse dessas autoridades. Sendo um caso ou outro, todas as missões de autoridades estrangeiras no País são precedidas de pedido formal de cooperação e de sua autorização”. A primeira visita americana a Curitiba, porém, ocorreu sem nem mesmo o conhecimento do MJ. Durante quatro dias, os americanos foram apresentados a advogados de delatores e já começaram negociações de colaboração com a Justiça dos EUA. Depois, a força-tarefa orientou os americanos a convencer os colaboradores a ir aos EUA para depor, a fim de não ficarem sujeitos às limitações da lei brasileira. Se isso não fosse possível, eles ofereceriam sugestões sobre interpretações “mais flexíveis” das decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). E a força-tarefa ainda se comprometeu a “pressionar” os investigados a colaborar com os EUA. Além disso, a agenda da visita não foi divulgada para a imprensa brasileira a pedido dos americanos, segundos revelam os diálogos.

Procurada pela Pública, a força-tarefa Lava Jato afirmou, por nota, que “a necessidade de formalização da diligência ocorre quando ela tem cunho probatório (“diligências investigatórias”), destinando-se, por exemplo, a colher depoimentos formais que são enviados via canais oficiais. A informação não engloba, certamente, contatos e conversas entre autoridades, que podem se dar informalmente, por telefone ou pessoalmente”. Afirmou também que “Eventuais reuniões com autoridades alienígenas – e foram dezenas, algumas presenciais e outas virtuais com diversos países -, não necessitam de qualquer formalização via DRCI, mas apenas autorização interna dos respectivos órgãos interessados”. O posicionamento completo da força-tarefa está reproduzido no final desta reportagem, a pedido da assessoria de imprensa.

Escondendo os americanos

Só depois da meia-noite, já no dia 7 de outubro de 2015, Aras recebeu uma resposta de Deltan Dallagnol. Ele não quis dar detalhes ao MJ, sugerindo a Aras que, em vez disso, “eles consultem o DOJ, porque eles pediram que mantenhamos confidencial”. Ou seja: preferiu proteger o relacionamento com os americanos a dar explicações ao governo brasileiro.

Dallagnol ainda sugeriu que Aras evitasse entregar o nome dos investigadores americanos: “Caso Vc entenda que deve abrir, posso te mandar a lista, mas sugiro reflexão, porque isso pode gerar ruídos com os americanos”. Em resposta, Aras diz que o ministério sabia da visita porque “algo já tinha saído na imprensa”, mas “o tempo fechou”. E conclui: “Vou desanuviar”.

Ao mesmo tempo, do lado americano, o chefe da divisão que cuidava de corrupção internacional no DOJ, Patrick Stokes, também procurou evitar os holofotes sobre a visita.

Num diálogo com o então procurador Marcelo Miller sobre a viagem a Curitiba, ele disse: “Nós tornamos a investigação pública nos Estados Unidos, então nossa pessoa de imprensa vai simplesmente confirmar o fato mas não vai comentar sobre a investigação ou a nossa presença no Brasil. Como eu mencionei, o FBI vai confirmar sua presença no Brasil mas não vai comentar sobre a razão ou a investigação”.

Em resposta, às 9 da manhã, Aras descreve: “O Executivo está “indignado”. E zomba: “Tem gente com medo de cair na grade americana. Já prevejo viagens internacionais de fim de ano sendo canceladas”.

Os diálogos foram reproduzidos com a exata grafia em que foram recebidos pelo The Intercept Brasil, incluindo erros ortográficos. As mensagens sem nome do autor são do celular do ex-procurador Marcelo Miller, segundo apurou a reportagem.

A razão da preocupação é a FCPA – Foreign Corrupt Practices Act, ou Práticas de Corrupção no Exterior –, uma lei americana que, desde 1988, permite ao DOJ investigar e punir, nos Estados Unidos, atos de corrupção que envolvam autoridades estrangeiras praticados por empresas e pessoas estrangeiras, mesmo que não tenham ocorrido em solo americano – basta que tenha havido transferência de dinheiro por algum banco americano, que se vendam ações de empresas envolvidas na bolsa nos EUA, ou até mesmo que a propina tenha sido paga em dólares.

Com base nessa lei, a divisão de FCPA do DOJ – a mesma que entre 2014 e 2016 foi chefiada por Stokes – investigou e puniu com multas bilionárias empresas brasileiras alvos da Lava Jato, entre elas a Petrobras e a Odebrecht.

Para evitar publicidade da visita do DOJ em outubro de 2015, Dallagnol mandou a assessoria de imprensa do MPF seguir a orientação de sigilo dos americanos, conforme revela o diálogo abaixo.

“Eles podem usar essa info contra nos pelo tamanho da delegação”, escreveu Dallagnol

No dia 7 de outubro de 2015, o debate sobre como deveriam responder ao Ministério da Justiça continuou às 8 da noite. Lendo um rascunho de email proposto por Aras, Dallagnol pede mais uma vez que se escondam do governo os nomes dos americanos que estavam no Brasil. “Eu tiraria a lista anexa e diria para consultarem os americanos, para evitar ruídos e porque me parece uma ‘cobrança indevida’, mas Vc que sabe. Eles podem também usar essa info contra nos pelo tamanho da delegação. Não é suficiente informar os órgãos de origem? Isso é bom pq não inclui SEC”. Aras argumenta que não vê problema em enviar os nomes, mas acaba cedendo ao procurador.

No mesmo email, enviado para o então chefe do DRCI, eles decidem amenizar o conteúdo da visita e dizer que ela se limita a “reuniões de trabalho”, como “apresentação de linhas investigativas adotadas pelo MPF e pela PF e pelos norte-americanos no caso Lava Jato”, e não “diligências de investigação no Brasil, o que seria irregular”.

Documentos oficiais do Itamaraty obtidos pelo The Intercept contradizem a versão defendida por Dallagnol na resposta ao Ministério da Justiça. Segundo esses documentos o DOJ pediu vistos para pelo menos dois de seus procuradores – Derek Ettinger e Lorinda Laryea – detalhando que eles planejavam viajar a Curitiba “para reuniões com autoridades brasileiras a respeito da investigação da Petrobras” e com advogados dos delatores da Lava Jato. “O objetivo das reuniões é levantar evidências adicionais sobre o caso e conversar com os advogados sobre a cooperação de seus clientes com a investigação em curso nos EUA”.

Então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo afirma que foi surpreendido pela informação da presença americana em Curitiba. “Eu fui avisado pela PF de que havia uma equipe norte-americana em Curitiba estabelecendo um diálogo com autoridades, e a PF me perguntou se isso havia sido autorizado por nós. Eu não tinha a menor ciência disso.” A seguir, o ministro procurou o Itamaraty e o então procurador-geral da República Rodrigo Janot, perguntando se ele tinha ciência disso. “Ele disse que não tinha, ficou de ver do que se tratava… Ele me retornou dizendo que era uma atividade exclusivamente não funcional. Era uma situação de contatos fora de qualquer situação oficial, que tinha alguma finalidade acadêmica”, relembra. “Eu voltei a falar com a PF, a PF falou: ‘Olha, tá parecendo um pouco nebulosa essa atuação’. Nós fizemos uma interpelação para saber o que tava acontecendo, mas eu nunca tive uma resposta conclusiva sobre isso.”

“Pela legislação, quem representa a autoridade brasileira para fins de cooperação internacional é o MJ. E nós temos exatamente para isso um departamento, que é o DRCI”, detalha o ex-ministro, que afirma que já havia alertado a PGR sobre documentos que haviam sido trazidos ilegalmente da Suíça por membros da Lava Jato.

Apresentando os delatores para o DOJ

A delegação, liderada por Stokes, incluía alguns dos procuradores que se tornariam estrelas da luta anticorrupção internacional nos Estados Unidos.

O próprio Stokes deixou a chefia da seção de FCPA, no Departamento de Justiça, em 2016, para se tornar advogado de defesa de empresas que são investigadas pela mesma divisão que ele comandava. Hoje, é sócio no rico escritório Gibson, Dunn & Crutcher’s – que atende a Petrobras nos Estados Unidos – uma posição cujo salário chegou a R$ 3,2 milhões em 2017.

Além dele, estavam presentes dois procuradores-chave nos casos da Petrobras e Odebrecht, Christopher Cestaro e Lorinda Laryea. Ambos continuam atuando na divisão de FCPA do DOJ. Em 2017, Cestaro foi nomeado chefe-assistente da divisão e, em julho do ano passado, tornou-se o chefe de FCPA, comandando todas as investigações de corrupção internacional contra empresas americanas e estrangeiras.

Do lado do FBI, George “Ren” McEachern liderou até dezembro de 2017 a Unidade de Corrupção Internacional do FBI em Washington, com mais de 40 agentes, supervisionando todas as investigações de corrupção ligadas à Lava Jato. A agente Leslie Backschies, que também esteve na comitiva, era supervisora da Divisão de Operações Internacionais do FBI no continente e acompanhou de perto todas as investigações no Brasil. Ela atualmente ocupa o antigo cargo de “Ren” e supervisiona os três esquadrões do FBI dedicados a investigar corrupção pelo mundo afora.

Na terça-feira, dia 6, Dallagnol recebeu os agentes americanos com uma apresentação geral sobre as investigações, que durou uma hora.

A seguir e ao longo da quarta-feira, cada procurador fez uma exposição sobre cada um de seus investigados. Todos já haviam assinado acordos de delação premiada com a força-tarefa – a maioria após ter passado meses na prisão em Curitiba.

O procurador Paulo Galvão detalhou o caso de Alberto Youssef, talvez o mais importante colaborador da Lava Jato, cuja delação premiada fora homologada em dezembro de 2014. Testemunha-chave na operação, o doleiro já era conhecido por esquemas de corrupção desde 2002, quando atuou no caso Banestado. À Lava Jato, admitiu ter participado, por exemplo, da lavagem e distribuição de dinheiro desviado da Refinaria Abreu e Lima a políticos do PP, PMDB e PT. Sua delação levou a diversas operações da PF e sua pena chegou ao total de 122 anos de prisão, sendo reduzida a três anos pela delação premiada. “A colaboração dele [Youssef] foi estruturante. Foi a espinha dorsal”, declarou seu advogado ao UOL, na época. Desde o mês anterior, circulavam reportagens dizendo que Youssef estava negociando uma delação com os americanos.

A seguir, Galvão detalhou a situação do primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, cujo acordo havia sido homologado em 30 de setembro de 2014, após seis meses de prisão. O procurador explicou também os detalhes da investigação sobre Augusto Mendonça Neto, dono da empresa de construção Toyo Setal e primeiro empresário a se tornar delator.

Os procuradores Roberson Pozzobon e Antonio Carlos Welter fizeram apresentações sobre o passado de Pedro Barusco, ex-gerente de serviços na Petrobras que assinara acordo de delação em novembro do ano anterior.

Outros delatores que tiveram seus casos detalhados aos americanos foram Hamylton Padilha, lobista da Petrobras que atuava na área de aluguel de sondas para perfuração de poços; Ricardo Pessoa, ex-presidente da Construtora ETC Engenharia; e Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa.

O programa daquele dia previa, ainda, discussões sobre “quaisquer” negociações em andamento com possíveis colaboradores.

Depois de ser “brifada” sobre vários alvos da Lava Jato, a delegação americana passou dois dias negociando com advogados de delatores-chave. Cada um deles teve meia hora para apresentar seus casos e conversar sobre os termos da colaboração com as autoridades americanas.

Muitos desses contatos foram bem-sucedidos. No ano seguinte, uma nova delegação voltou a Curitiba e ao Rio de Janeiro – dessa vez com um MLAT assinado – para ouvir cinco alvos da Lava Jato. Outros delatores negociariam acordos para depor diretamente nos EUA.

“Devemos cumprir pedidos passivos sempre que possível, mas sem cair em armadilhas”

Em 9 de outubro, dia em que a missão do DOJ deixou Curitiba, Aras, que estava em férias na Alemanha, mudou o tom da conversa com Dallagnol, mostrando-se muito mais preocupado com as investigações conduzidas em solo brasileiro. Isso porque, segundo Aras, os procuradores do DOJ poderiam usar as informações contra cidadãos ou empresas brasileiras.

A preocupação demonstra como o chefe da Lava Jato em Curitiba explorou uma zona cinzenta, fazendo soar alarmes na própria PGR.

Em uma longa mensagem às 20h56, ele diz: “Delta, como já conversamos, essa investigação dos americanos realmente me preocupa. Fiquei tranquilo quando vc garantiu que esse grupo de americanos não fez investigações em Curitiba quando esteve aí. Você sabe que eles têm poucas limitações para uso de provas lá. Mesmo as obtendo de maneira menos formal no exterior, eles podem usá-las válida e te em alguns casos. Daí o meu receio inicial, já que o MPF e a SCI não podem permitir isso sob pena de gerar decisões contrárias ao auxílio direto e à autonomia do MPF nas medidas de cooperação internacional passiva e ativa. Como te disse na segunda, o MRE mencionou até a possibilidade de ‘abalo nas relações bilaterais’”, escreveu.

“Claro que devemos cumprir pedidos passivos sempre que possível, mas sem cair em armadilhas”, prossegue, pedindo mais uma vez que o assunto seja coordenado com ele para evitar “baixas de guerra”: “Vamos tocando esse assunto de forma coordenada: SCI/FT/GT. Obrigado pelos informes. Manterei vc também ciente. Que todos sejam responsabilizados pelo que fizeram, de preferência sem ‘casualties of war’. Abs.”

Força-tarefa sugeriu a americanos meios “mais flexíveis” de questionar brasileiros no Brasil e nos EUA

Na semana seguinte à missão em Curitiba, no dia 13 de outubro de 2015, os membros da força-tarefa da Lava Jato seguiam satisfeitos com a visita dos americanos, e o procurador Orlando Martello combinava com Dallagnol um email de agradecimento. Os americanos tinham pressa: queriam tomar depoimentos de delatores brasileiros já em novembro de 2015.

O rascunho do email que seria mandado para Stokes foi enviado a Dallagnol às 11:47:36. Martello brinca que pode ameaçar os investigados brasileiros de entregá-los aos americanos. “Foi muito interessante e útil para nós trabalhar com vocês e sua equipe na semana passada. Pudemos entender melhor os procedimentos nos EUA, assim como aprender sobre sua expertise em acordos. Com esse conhecimento, agora nós temos mais uma maneira de convencer empresas e indivíduos a revelar fatos: ameaçar informar ‘as autoridades Americanas’ sobre corrupção e delitos internacionais… (risos)”, escreveu Martello, em inglês.

Em tom mais sério, o procurador explica no email que há “dificuldades” e “questões legais” na tomada de depoimentos por uma autoridade estrangeira no Brasil. O maior empecilho seria um entendimento do STF de que todas as diligências no Brasil devem ser presididas por autoridades brasileiras; assim, os americanos poderiam apenas enviar perguntas a serem feitas por procuradores brasileiros. Mas os integrantes da força-tarefa tinham outras sugestões para evitar isso.

“Vamos diretamente ao ponto. Para as entrevistas que você e sua equipe planejaram conduzir aqui no Brasil em novembro, elas terão que ser conduzidas por autoridades brasileiras (por procuradores federais ou pela polícia federal). Eu não tinha ciência deste fato, mas Vladimir Aras me lembrou sobre esse entendimento da nossa Corte Suprema. Isso significa que as autoridades brasileiras têm que ‘presidir’, estar a cargo, para conduzir as entrevistas. As autoridades dos EUA podem acompanhar todas as entrevistas e podem fazer perguntas através das autoridades brasileiras. Isso pode ser feito em inglês (se o réus/colaborador e o procurador falarem inglês) ou em português com a ajuda de um tradutor. Nessas entrevistas, as autoridades brasileiras não precisam tomar notas ou registrar o que dizem os réus, mas no final das entrevistas nós anotamos um pequeno resumo do que aconteceu durante as entrevistas (um relatório sobre o ato e não sobre o conteúdo das entrevistas). Em paralelo, os agentes do FBI e quaisquer outras autoridades dos EUA podem tomar notas livremente”. Ele conclui: “Esse procedimento pode tomar muito tempo!”.

A seguir, Martello detalha quatro opções para conduzir as entrevistas de maneiras “mais flexíveis”. Primeiro, eles poderiam ouvir os colaboradores da Lava Jato nos Estados Unidos – o que é, para ele (e para Stokes), a melhor ideia, embora parte deles pudesse não aceitar ir voluntariamente para os EUA. E então sugere: “Nós podemos pressioná-los um pouco para ir para os EUA, em especial aqueles que não têm problemas financeiros, dizendo que essa é uma boa oportunidade, porque, embora seja provável que autoridades dos EUA venham para o Brasil para conduzir as entrevistas, as coisas podem mudar no futuro”. Assim seria possível evitar as limitações impostas pela decisão do STF e novas decisões que poderiam se seguir.

Ele prossegue: “Então podemos sugerir que é melhor garantir a imunidade deles o mais rápido possível”.

A segunda opção seria fazer as entrevistas no Brasil, conduzidas pelos procuradores brasileiros, e “permitir perguntas diretas pelas autoridades americanas”. “Assim, as autoridades brasileiras conduziriam/presidiriam o procedimento, mas nós o tornaríamos mais flexível”, complementou.

Martello, porém, anota: “Eu pessoalmente não acho que esta é a melhor opção porque haverá alguns advogados, como os da Odebrecht, que vão ficar sabendo deste procedimento (advogados falam uns com os outros, especialmente neste caso!) e vão reclamar”.

A terceira opção seria fazer as oitivas por videoconferência – desse modo, tecnicamente a sessão seria conduzida nos EUA e os americanos poderiam fazer as perguntas e nenhuma lei seria ferida. A opção permitiria que os depoentes permanecessem em solo brasileiro, mas fossem questionados diretamente pelas autoridades estrangeiras.

Há, ainda, uma quarta opção, sugerida por Stokes, que Martello não recomenda: realizar as entrevistas na embaixada americana, portanto em solo americano. “Eu tenho medo que a Corte Suprema Brasileira possa entender esse procedimento como uma maneira de contornar sua decisão e decidir contra nós.”

O rascunho do email entusiasmou o chefe da Lava Jato: “Ta tão lindo que se eu tivesse ai te dava umas 8 lambidas kkkkk”, escreveu Dallagnol, ao que Martello retrucou: “Da próxima vez faço pior então”.

De fato, a recomendação da Lava Jato foi seguida à risca pelos americanos. Pouco depois, os procuradores do DOJ já estavam tratando diretamente com advogados dos empresários brasileiros a sua ida para os EUA.

“EUA estão com faca e queijo na mão”

A possibilidade de os delatores colaborarem com os americanos a partir do Brasil foi assunto de diversas trocas de mensagem entre Aras e membros da força-tarefa. Nelas, se nota a constante preocupação do ex-diretor da SCI e uma tensão com Dallagnol.

Em 30 de novembro de 2015, às 21:09:52, Dallagnol avisa a Aras que os americanos já “estão ouvindo colaboradores”. Aras reage com surpresa e Deltan responde: “Não temos controle sobre as oitivas porque são uns 10 colaboradores que já estão em tratativas de acordos, ou acordos feitos. EUA estão com faca e queijo na mão para ouvirem”.

Aras pergunta se os colaboradores estão sendo ouvidos nos Estados Unidos. “Onde estão ouvindo? Informaram ao DRCI?” Dallagnol responde que, por serem nos EUA, as oitivas ocorreriam “à revelia do DRCI”. E prossegue, referindo-se à visita dos americanos no mês anterior: “Nós estamos com pressa, porque o DOJ já veio e teve encontro formal com os advogados dos colaboradores, e a partir daí os advogados vão resolver a situação dos clientes lá… Isso atende o que os americanos precisam e não dependerão mais de nós. A partir daí, perderemos força para negociar divisão do dinheiro que recuperarem. Daí nossa pressa”.

“Mas eles só conseguirão isso se colaborarmos, não? Eles não têm provas. Ou têm?”, retruca Vladimir.

Em resposta, Dallagnol diz que os americanos “conseguem sim” provas, através dos processos – todos foram publicados online através do sistema eletrônico do TRF4, cujas senhas de acesso eram e ainda são enviadas todas as semanas para centenas de jornalistas do país pelas assessorias do MPF e da Justiça Federal do Paraná.

“Eles podem pegar e usar tudo que está na web”, argumenta Dallagnol. Aras pergunta: “Quando eles farão pedido formal de oitivas?”.

“Não precisam fazer. Ouvirão nos EUA os que estão soltos e podem viajar.”

A resposta surpreende Aras: “Os advogados concordaram? Eles vão viajar sem salvo-conduto????? Loucura”.

O assunto causa alarme na PGR, e Aras vai conversar com o então procurador-geral Rodrigo Janot, que recebera uma ligação de Deltan. “Estou refletindo sobre uma posição”, escreve Aras.

“Os americanos prometeram salvo conduto”, responde Dallagnol.

“Prometer não adianta. Tem de ser no papel”, retruca Aras.

Em 17 de dezembro de 2015, Aras reitera seu desgosto com aquele arranjo entre a Justiça americana e colaboradores da Lava Jato, quando discute com Dallagnol um pedido dos EUA para uma oitiva com Hamylton Padilha, que se tornara delator em julho de 2015.

Aras explica qual seria o caminho legal a ser seguido pelas autoridades americanas.

“O ideal seria eles pedirem isso via DRCI: – execução pelo MPF (mera notificação) – transferência voluntária do colaborador aos EUA para depor – emissão de “safe passage” para o colaborador antes da viagem – tomada do depoimento nos EUA – retorno do colaborador ao Brasil”. “Safe Passage” seria um salvo-conduto, uma garantia que os brasileiros não seriam presos ao irem dar depoimento em solo americano.

Dallagnol argumenta que o delator em questão não está preso, e Aras explica que isso não importa: “A pessoa a ser transferida com salvo-conduto não precisa estar presa. Pode ser vítima, perito, testemunha, acusado/suspeito”.

Dallagnol admite, então, que a força-tarefa pode ter errado ao não avaliar as consequências da parceria com os americanos durante a visita secreta a Curitiba. “Quando estavam aqui, e não tínhamos ainda restrições, mas estávamos operando no automático, sem conhecimento da dimensão das consequências e pensando em aplicar o tratado diretamente (o que ainda não está fora de cogitação, estamos todos refletindo, creio), dissemos que não haveria problema em os colaboradores, que pudessem, ir aos EUA para prestar as declarações.”

Se de fato, porém, a ideia de Deltan não era garantir vantagens aos americanos e driblar o governo brasileiro, já era tarde demais.

Um marco no relacionamento entre a Lava Jato e o DOJ foi a primeira visita oficial aos Estados Unidos, em 9 e 10 de fevereiro de 2015, dos procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima, Marcelo Miller e Deltan Dallagnol, que acompanhavam o então procurador-geral da República Rodrigo Janot e o próprio Aras em visita cuja existência chegou a ser noticiada na imprensa brasileira.

Eles se reuniram com o DOJ, representantes da Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês), da Receita Federal americana (IRS, na sigla em inglês), do FBI e do Departamento de Segurança Interna (DHS). Foi a partir dessa visita que os procuradores passaram a discutir a vinda da comitiva a Curitiba.

Aquela missão tinha três objetivos, segundo um relatório feito pelos procuradores de Curitiba e compartilhado nos chats: agilizar o intercâmbio de informações nos casos da Lava Jato, conseguir a prioridade de execução nos pedidos de cooperação internacional já encaminhados e “criar e manter um ambiente favorável à colaboração de investigados, buscando-se o compromisso das autoridades alienígenas na não persecução daqueles que firmaram acordos com o Ministério Público Federal”. A ideia era conseguir um acordo com o DOJ de que nenhum dos delatores da Lava Jato seriam investigados nos EUA.

O relatório conclui: “Desses três objetivos, os dois primeiros foram atingidos. O terceiro ainda está sendo objeto de análise pelos Estados Unidos, por necessitar de uma apreciação mais ponderada das evidências, dos acordos e da sua contribuição para as investigações”.

No final, todos os sinais indicam que Dallagnol nunca conseguiu essa concessão dos americanos, o que deixou os delatores à mercê das autoridades americanas, negociando caso a caso.

De acordo com advogados de defesa que trabalharam nesses casos, os acordos com o DOJ são “casuísticos”, ou seja, decididos caso a caso, em negociações individuais. Advogados relataram casos em que houve a emissão de um salvo-conduto para viagens aos EUA e outros em que se chegou a um non-prosecution agreement, um compromisso formal do governo americano de que os delatores não seriam processados. Porém, em outros casos, nenhuma dessas garantias foi dada pelo governo americano ainda.

“Não há nenhum papel nosso concordando, com certeza”

Diante da hesitação dos procuradores brasileiros, os americanos foram rápidos e, a partir de dezembro de 2015, já havia delatores viajando para os Estados Unidos a fim de prestar depoimentos ao DOJ.

As notícias das viagens de Augusto Mendonça e Júlio Camargo, executivos da Toyo Setal, empresa que mantinha contratos com a Petrobras, que relataram terem pagado propina ao PT, causaram nova consternação na PGR, que voltou a pedir explicações à força-tarefa.

Mais uma vez, Dallagnol responde a Aras que não tem nenhum controle sobre as negociações diretas entre a Justiça americana e colaboradores da Lava Jato – mas se esquece de mencionar que as viagens para os EUA foram uma sugestão do seu grupo. “Lembro até que Vc tinha sugerido para preferencialmente as oitivas serem via MLAT, mas preferencialmente, ideia que só veio depois das reuniões deles e, em função disso, não temos mais controle”, escreve.

Aras retruca: “Lembro de quase tudo isso, Delta, menos de ter concordado com a prática de colaboradores receberem alguma espécie de aval do MPF para viajarem aos EUA, como andam dizendo por aí. O ok seria dado em pedidos formais de MLA, após pedidos de transferências de pessoas”.

“Pelo que entendi não há nenhum papel firmado por vcs concordando com tais viagens, ou há? Esse é o ponto da minha preocupação”, pergunta Aras.

Dallagnol responde de madrugada, à 1:04:07 do dia 7 de abril. “nenhum papela nosso concordando, com certeza”. E acrescenta: “O que fizemos foi apresentar e não nos opormos”.

“Melhor assim. Joia.” É a resposta de Aras.

Em 2016, procuradores do DOJ questionaram Cerveró, Costa e Youssef

Em julho de 2016, uma nova comitiva do DOJ veio ao Brasil para tomar depoimentos em Curitiba e no Rio de Janeiro. Dessa vez, a comitiva veio munida de MLAT e aparentemente seguiu as sugestões da equipe de Dallagnol, evitando questionamentos no STF.

O documento com a programação da viagem mostra que participaram da comitiva os advogados Lance Jasper e Carlos Costa Rodrigues, da SEC, e os procuradores do DOJ Kevin Gringas, Hector Bladuell, Davis Last, Gustavo Ruiz e, mais uma vez, Christopher Cestaro, atual chefão de FCPA do governo americano.

Da parte do FBI, vieram duas intérpretes (Tania Cannon e Elaine Nayob) e dois agentes: Becky Nguyen e Mark Schweers – ele já acompanhara a comitiva de outubro de 2015.

Entre 13 e 15 de julho, o grupo utilizou a sede da PGR no centro do Rio de Janeiro para ouvir o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró e o ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa, ao longo de três sessões, totalizando nove horas de questionamentos a cada um. Quatro meses depois, em novembro daquele ano, a Folha de S.Paulo noticiou que Costa havia fechado um acordo para cooperar com o FBI e o DOJ, comprometendo-se a fornecer documentos e prestar depoimentos e entrevistas sempre que convocado.

Estavam presentes nas oitivas no Rio de Janeiro o procurador da Lava Jato fluminense Leonardo Freitas e membros da SEC, além dos advogados dos delatores.

Refinaria de Pasadena na mira

Entre 14 e 21 de julho de 2016, a agenda dos americanos foi na Procuradoria da República em Curitiba – e bastante cheia.

Uma novidade – que não constava nas apresentações iniciais listadas na agenda do encontro de outubro de 2015 – foi o contato com o ex-funcionário da Petrobras Agosthilde Mônaco de Carvalho, ex-assessor de Cerveró que atuou na compra da refinaria de Pasadena, no Texas.

Os agentes do FBI e do DOJ o questionaram durante seis horas. Ele reconhecera o pagamento de propina na compra, em novembro do ano anterior, e em depoimento ao Tribunal de Contas da União foi chamado de “homem bomba”, ao falar sobre a aprovação do Conselho da Petrobras, presidido à época por Dilma Rousseff.

Na semana da visita dos americanos, Dilma já estava afastada do cargo de presidente, no processo de impeachment a que respondia.

Os agentes americanos questionaram também o doleiro Alberto Youssef durante seis horas, assim como seu ex-funcionário Rafael Ângulo Lopez.

No último dia, a comitiva americana reuniu-se durante todo o dia para discutir o caso Odebrecht com a Lava Jato: Dallagnol, Martello, Galvão, Roberto Pozzobon e Marcelo Miller, então na PGR. A reunião começou às 10 da manhã e seguiu até as 17 horas, com direito a uma hora de almoço, segundo o documento.

DOJ vai para cima da Odebrecht

Em dezembro de 2016, pouco antes do Natal, a Odebrecht, junto com sua subsidiária Braskem – uma sociedade com a Petrobras –, fez um acordo com o DOJ no qual ambas concordaram em pagar um mínimo de US$ 3,2 bilhões aos EUA, Suíça e Brasil – total depois reduzido para US$ 2,6 bilhões – pelas práticas de corrupção ocorridas fora dos EUA. Na época, foi o maior acordo global de corrupção internacional. O acordo firmado com os EUA pelas empresas garante que elas têm que colaborar com as autoridades americanas em quaisquer investigações, disponibilizando seus funcionários para questionamentos sempre que chamados.

Advogados de defesa consultados pela reportagem afirmam que houve pelo menos mais duas delegações do DOJ para ouvir empresários da Odebrecht, na sede do MPF em São Paulo, nos anos 2017 e 2018.

As oitivas são precedidas do attorney proffer, uma negociação com advogados que estabelecem quais os pontos que o DOJ quer ouvir. Um depoimento tomado por um attorney proffer não isenta o investigado de futuros questionamentos ou investigações. Geralmente, o que se estabelece é que essas informações não serão usadas criminalmente contra eles – mas podem ser usadas, por exemplo, contra outros cidadãos brasileiros.

Houve também um número não divulgado de viagens de delatores aos EUA, além de negociações e oitivas por internet – todas essas modalidades foram sugeridas pela força-tarefa no email vazado.

Especialistas ouvidos pela reportagem destacaram problemas em cooperar com autoridades americanas sem passar pelas vias oficiais.

Falando em tese, o professor Eduardo Pitrez, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande, afirmou que “a cooperação judiciária internacional sempre esteve vinculada ao topo do Poder Judiciário, ao STF e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), ou à diplomacia profissional, porque há elementos muito sensíveis, como a soberania nacional, interesses e disputas internacionais e questões de relacionamentos entre Estados que órgãos do sistema de justiça de menor hierarquia não estão preparados para avaliar”.

“A chamada ‘cooperação direta’ gera uma fragmentação. Com essa fragmentação, qualquer juiz, qualquer procurador ou promotor pode estabelecer relacionamento internacional a partir da agenda anticorrupção. A agenda anticorrupção permite, vamos dizer assim, chegar direto à agenda do governo em questões importantes do país, como, por exemplo, uma empresa petrolífera ou as capacidades competitivas das grandes empresas nacionais”, completa.

A professora de direito penal e econômico na Fundação Getulio Vargas, Heloísa Estellita, lembra que falta uma legislação nacional que regulamente a cooperação internacional. “No Brasil, a cooperação internacional não é regulada por lei e, por isso, há muito abuso.” Ela diz que “o estado de direito estabelece regras para as autoridades atuarem, porque elas atuam nos limites em que o povo autoriza sua ação. Fazer cooperação sem base em lei é trair o pacto democrático”. Ela falou em tese e não analisou os diálogos específicos desta reportagem.

Procurado pela reportagem, o então chefe do DRCI, Ricardo Saadi afirmou: “O contato informal e direto entre as autoridades de diferentes países é permitido e previsto em convenções internacionais. Para esse tipo de contato, não há a necessidade de elaboração de pedido baseado no MLAT”. Ele afirmou que seu email tinha como objetivo “disponibilizar o DRCI para proceder eventual pedido de cooperação jurídica internacional para obtenção de provas pelas autoridades”. E disse ainda não se recordar se houve uma resposta formal ao email.

O procurador da República Vladimir Aras defendeu a legalidade da visita e a não necessidade de autorização do Ministério da Justiça. “O Ministério Público Federal esclarece que os tratados de cooperação internacional em matéria penal, conhecidos por ‘Mutual Legal Assistance Treaties’ (MLAT), não são a única via disponível para a cooperação internacional de cunho criminal”, escreveu em nota, mencionando a : “colaboração voluntária” do investigado, cartas rogatórias e troca de informações policiais. “Ademais, o contato direto entre membros do Ministério Público de diferentes países é uma boa prática internacional, recomendada, por exemplo, desde o ano 2000 pelo Conselho da Europa.”

“As reuniões prévias e o intercâmbio de informações no curso da investigação compreendem a etapa chamada ‘pré-MLAT’. O MP e a Polícia não estão obrigados a revelar ou a reportar esses contatos a qualquer autoridade do Poder Executivo”, afirmou. “Pretender que todos os contatos com procuradores estrangeiros sejam intermediados por um só órgão em Brasília seria como submeter o MP a eventuais vicissitudes do Poder Executivo, o que representaria a perda da autonomia que a Constituição Federal conferiu à instituição, inclusive para investigar crimes praticados por altas autoridades republicanas”. Leia a nota completa.

Procurado pelo The Intercept, o Departamento de Justiça americano afirmou que não iria comentar a reportagem.

O que diz o acordo bilateral

O Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal com os Estados Unidos lista situações em que se deve pedir assistência jurídica (MLAT) através de vias oficiais. Entre elas, a tomada de depoimentos de pessoas, o fornecimento de documentos, registros e bens, transferência de pessoas sob custódia para prestar depoimento e execução de pedidos de busca e apreensão, imobilização e confisco de bens. O artigo 10 prevê justamente o tipo de viagem feita por delatores da Lava Jato aos Estados Unidos.

O acordo prevê também que a presença de autoridades do outro país para depoimento ou produção de prova em seu país, inclusive permitindo que “essas pessoas apresentem perguntas a serem feitas à pessoa que dará o testemunho ou apresentará prova”. Mas não estabelece de que forma essas perguntas devem ser apresentadas ou como o testemunho deve ser tomado.

Prevendo questões problemáticas à soberania nacional, o artigo 3o permite ainda que um dos dois países negue um pedido de assistência jurídica se o atendimento “prejudicar a segurança ou interesses essenciais semelhantes do Estado Requerido”. Ou seja, o Brasil poderia ter se negado a ajudar a investigação dos EUA sobre a Petrobras por ser uma empresa estratégica.

Respostas da Lava-Jato

Procurada pela Pública, a força-tarefa da Lava Jato respondeu por email pedindo que seu posicionamento fosse publicado na íntegra. Seguem as perguntas e respostas:

Segundo os diálogos vazados, o DRCI não aprovou a visita de procuradores americanos e agentes do FBI a Curitiba entre 6 e 9 de outubro de 2015 em reuniões com procuradores de Lava Jato e advogados de delatores. Isso não é ilegal, segundo o acordo bilateral que estabelece que todas as diligências devem ser aprovadas via um MLAT?

Para o intercâmbio de informações entre países, antes da formalização de um pedido formal por meio dos canais oficiais, é altamente recomendável e legal que as autoridades mantenham contatos informais e diretos. A cooperação informal significa que, antes da transmissão de um pedido de cooperação, as autoridades dos países envolvidos devem manter contatos, fazer reuniões, virtuais ou presenciais, discutir estratégias, com o objetivo de intercâmbio de conhecimento sobre as informações a serem pedidas e recebidas. Acordos bilaterais não esgotam as modalidades de cooperação entre países, que podem se dar, inclusive, com base em reciprocidade.

Em setembro de 2019, a força-tarefa da Lava Jato afirmou que “diversas autoridades estrangeiras de variados países vieram ao Brasil para a realização de diligências investigatórias, algumas ostensivas, outras sigilosas, conforme interesse dessas autoridades. Sendo um caso ou outro, todas as missões de autoridades estrangeiras no País são precedidas de pedido formal de cooperação e de sua autorização”. No entanto, os diálogos revelam que a missão de outubro de 2015 não foi precedida de pedido formal de cooperação ou de autorização. Por quê?

Não recebemos os dados sobre as visitas, já bastante antigas, nem a fonte da informação referente à força-tarefa. De todo modo, a necessidade de formalização da diligência ocorre quando ela tem cunho probatório (“diligências investigatórias”), destinando-se, por exemplo, a colher depoimentos formais que são enviados via canais oficiais. A informação não engloba, certamente, contatos e conversas entre autoridades, que podem se dar informalmente, por telefone ou pessoalmente. Se assim interpretada, a informação enviada entre aspas está correta. Foi exatamente esse tipo de contato direto que permitiu de modo exitoso o acesso por autoridades brasileiras a documentos bancários fundamentais para denúncias e bloqueios de milhões de dólares fruto de corrupção, desvios e lavagem de dinheiro. Do mesmo modo, o contato entre autoridades estrangeiras e advogados de colaboradores ou colaboradores é plenamente legal, podendo se dar por diversas vias.

Um documento obtido pela reportagem demonstra que os advogados do DOJ vieram a Curitiba para “levantar evidências” sobre o caso da Petrobras. Isso não a qualificaria como uma “diligência”? O que a Lava Jato classificaria como uma viagem “para a realização de diligências investigatórias”?

Diligências investigatórias constituem a produção de provas como a colheita de depoimentos, a realização de buscas e apreensões, a obtenção de documentos de natureza sigilosa ou a obtenção de atos oficiais de Estado. Não tivemos acesso ao suposto documento mencionado na pergunta, nem para verificar sua fidedignidade. Tratando-se de supostas tratativas de 2015, na época provavelmente já existiam pedidos de cooperação brasileiros pendentes de cumprimento no exterior, assim como o interesse das autoridades brasileiras de que as autoridades estrangeiras iniciassem investigações sobre empresas estrangeiras que haviam potencialmente praticados crimes no Brasil e que seriam de difícil alcance pela jurisdição brasileira, o que depois veio a se concretizar. A referência a “caso Petrobras” engloba todos os subcasos da Lava Jato e o intercâmbio com as autoridades norte-americanas, ao longo dos anos, tem se concentrado bastante no tipo de caso mencionado. Essa cooperação direta entre autoridades é reconhecida como boa prática internacional pela Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, pelo GAFI (Grupo de Ação Financeira Internacional), pelo Banco Mundial e pela AGU (Advocacia-Geral da União), dentre outros organismos.

O DRCI enviou um questionamento no dia 7 de abril, quando os americanos já estavam no Brasil, pedindo mais informações. Por que o DRCI não foi informado da presença da delegação americana?

Eventuais reuniões com autoridades alienígenas – e foram dezenas, algumas presenciais e outras virtuais com diversos países -, não necessitam de qualquer formalização via DRCI, mas apenas autorização interna dos respectivos órgãos interessados. Somente é necessário um pedido de cooperação para a produção e transmissão de documentos que serão utilizados no exterior, ou para a realização de outras diligências de cunho investigatório antes mencionadas. Nesses casos, todas as missões foram precedidas de pedido formal de cooperação. O intercâmbio de informações por meio da cooperação informal é, como dito, um procedimento legítimo e pode ser feito antes, durante e após a formalização de um pedido de cooperação internacional, e não o substitui.

Segundo documentos vazados, a Lava Jato pretendia obter do DOJ um compromisso de não-persecução penal para seus delatores. Isso foi obtido? Em caso negativo, por que a força-tarefa continuou a cooperar com o governo americano apesar da ausência deste compromisso?

Foram feitos todos os ajustes necessários para assegurar a preservação do interesse público, com o objetivo de que os colaboradores brasileiros tivessem seus acordos respeitados, como se verificou de fato até hoje.

A Lava Jato orientou os procuradores americanos a entrevistar seus delatores nos Estados Unidos? Por quê?

As autoridades estrangeiras não precisam de autorização brasileira para ouvir, entrevistar ou fazer acordo premiado com cidadãos brasileiros, colaboradores ou não, em seu território. Isso é mais verdade ainda no caso de empresas que fizeram acordos simultâneos em vários países, cujos empregados também buscavam um acordo de colaboração no exterior. O MPF, no entanto, como várias vezes já externou a colaboradores e seus advogados, sempre buscou que os acordos brasileiros fossem respeitados pelas autoridades dos outros países.

O procurador-chefe da Lava Jato Deltan Dallagnol foi questionado diversas vezes pelo SCI sobre a ida de brasileiros para os Estados Unidos prestar depoimento sem MLAT. O procurador apoiou ou aprovou esse expediente formalmente ou informalmente? Por quê?

Vários colaboradores procuraram diretamente autoridades estrangeiras – e não apenas os EUA – para formalizar diretamente acordos de colaboração. Isso foi – e é – incentivado pelo MPF, pois está dentro do escopo do acordo de colaboração firmado no Brasil, com vista a aumentar a proteção do colaborador no estrangeiro. Essa decisão cabe exclusivamente ao colaborador e seu advogado. O MPF não tem o poder legal de impedir que qualquer investigado procure autoridades no exterior para colaborar na investigação de crimes; assim, não tem qualquer ingerência nesses acordos.

Em algum momento a Lava Jato ou seu diretor evitaram compartilhar com o governo federal detalhes sobre a cooperação com os procuradores americanos? Por quê?

O governo federal é um canal para a cooperação e não a autoridade responsável pelo pedido ou cumprimento da cooperação. Assim, o departamento de cooperação internacional do governo federal foi acionado sempre que foi necessário. Não há, contudo, qualquer tipo de dever ou obrigação no sentido de compartilhar toda a investigação. Aliás, a imprensa divulgou recentemente que a força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro investiga o vazamento de informações de cooperação internacional pelo governo federal pretérito. Riscos desse tipo recomendam que informações sobre investigações, especialmente sigilosas, não sejam compartilhadas com outros órgãos de modo desnecessário.

As imagens do feito chinês ganharam o mundo, demonstrando a destreza e eficiência de engenheiros chineses em meio à epidemia do coronavírus. O hospital Huoshenshan foi construído em tão somente 10 dias.

Centenas de profissionais de toda a China se ocuparam de preparar o terreno onde seria construído um hospital para abrigar habitantes de Wuhan, a cidade de mais de 11 milhões de habitantes em quarentena no centro da epidemia do coronavírus.

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Os trabalhos decorreram em tempo recorde e levaram à inauguração do hospital, de 25 mil m², que abriu suas portas em 3 de fevereiro deste ano. Uma façanha que revela a elevada capacidade de construção chinesa.

Porém, infelizmente na internet circulam imagens demonstrando inúmeros vazamentos de água no hospital, o que reduz fortemente sua capacidade de acolhimento, justamente quando ele é extremamente necessário, revela o canal belga RTBF.

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Em um segundo vídeo é possível observar um corredor do hospital, onde baldes são usados para tentar lidar com os vazamentos. Painéis cobrem o solo e trabalhadores munidos de escadas buscam limitar os desgastes da recente estrutura.

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O gigante asiático luta para disponibilizar a infraestrutura necessária de maneira a abrigar o crescente número de infectados pelo vírus, colocando grande pressão sobre os hospitais das regiões mais afetadas.

Da Sputnik Brasil

O procurador da República Diogo Castor usou seu cargo no Ministério Público Federal no Paraná (MPF-PR) para solicitar que a Polícia Federal investigue boatos que surgiram contra ele. A informação é do site UOL. De acordo com a reportagem, Castor enviou à PF um ofício pedindo a apuração de supostas notícias falsas que o ligam ao vazamento das mensagens que vêm sendo divulgadas pelo site The Intercept Brasil. 

Castor integrou a força-tarefa da Lava Jato até abril deste ano, mas se afastou da equipe para um tratamento de saúde. Segundo as conversas divulgadas pelo Intercept, o procurador deixou o grupo depois de confessar ter pago pela instalação de um outdoor, em Curitiba, enaltecendo a ação da força-tarefa. Diogo Castor teria confessado a autoria para o corregedor-geral do MPF, Oswaldo Barbosa, que acobertou Diogo Castor de Mattos evitando punição. Caso estava sendo investigado pelo Conselho Nacional do Ministério Público. 

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Depois de se afastar da Lava Jato, Castor passou a trabalhar na representação do MPF em Jacarezinho, a 390 km de Curitiba. De lá, conta o site, ele enviou o ofício para a PF investigar as notícias falsas que estariam circulando na internet. 

No documento, ele fala de suspeitas de calúnia e de obstrução de investigação de organização criminosa. Além disso, informa que fake news "apontando o subscritor deste ofício [Castor] como autor do vazamento [das mensagens] teria por finalidade desviar o foco investigativo das autoridades, fazendo surgir a falsa hipótese da inexistência de um hacker". 

Um inquérito foi aberto pela PF, mas segue em sigilo. Tanto a polícia, quanto o MPF e Diogo Castor não quiseram se pronunciar sobre o assunto.

O criminalista Fabio Tofic Simantob, que defende o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, disse, em nota, que o também ex-ministro Antônio Palocci juntou "fatos aleatórios" e criou uma "narrativa falsa" no que diz respeito às acusações de vazamento da taxa Selic para o banqueiro André Esteves.

Tofic argumentou que "nem o Ministério Público Federal caiu na ladainha de Palocci", em alusão à resistência dos procuradores em aceitar a delação do ex-ministro.

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"Palocci fez um admirável feito. Conseguiu juntar fatos aleatórios, sem qualquer relação uns com os outros, para criar uma narrativa falsa mas que fosse capaz de seduzir a polícia, já que nem o MPF caiu na sua ladainha", disse o advogado, em nota.

Mensagens trocadas entre procuradores da Lava Jato, entre 2015 e 2017, apontam que a força-tarefa de Curitiba fez um contato informal com autoridades da Suíça e de Mônaco para obter provas ilegais para prender alvos considerados prioritários: executivos de empreiteiras e ex-diretores da Petrobras; que posteriormente viraram delatores da investigação.

A informação foi publicada, nesta sexta-feira (27), pelo site UOL, a partir das mensagens vazadas para o site The Intercept Brasil por uma fonte anônima.  

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Ainda que alertados sobre a violação das regras, os membros da força-tarefa da Lava Jato conseguiram informações sobre: os então diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque; o então presidente da Transpetro, Sérgio Machado, além de executivos da Odebrecht, entre eles, o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht.

Na reportagem, o UOL observa que especialistas ouvidos apontaram que a obtenção de informações de forma extraoficial podem levar à anulação de processos. 

A Lava Jato, contudo, alega que "a troca de informações de inteligência e a cooperação direta entre autoridades estrangeiras é absolutamente legal e constitui boa prática internacional". E pondera que "nenhum documento foi utilizado judicialmente pela força-tarefa da Lava Jato sem ter sido transmitido pelos canais diplomáticos oficiais".

Com os suíços, conta a matéria, a Lava Jato acessou clandestinamente o sistema Drousys, usado pelo setor de Operações Estruturadas da Odebrecht para controlar o pagamento de propina a autoridades e políticos. Membros da empreiteira, em sigilo, contaram que o fato dos investigadores esconderem cartas nas mangas pesou para que parte dos 78 delatores da Odebrecht decidisse firmar acordo de colaboração premiada.

A troca de mensagens indica ainda que o chefe da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol, usou prova ilícita, obtida junto a autoridades de Mônaco, no pedido de prisão de Renato Duque em março de 2015. E ao ser alertado pelo risco, ele se justificou ao procurador Vladmir Aras: "É natural tomar algumas decisões de risco calculado em grandes investigações".

Deltan também chegou a trazer investigadores suíços para Curitiba. “Caros, sigilo total, mesmo internamente. Não comentem nem aqui dentro: Suíços vêm para cá semana que vem. Estarão entre 1 e 4 de dezembro, reunindo-se conosco, no prédio da frente. Nem imprensa nem ninguém externo deve saber. Orlando estará com eles todo tempo, assim como eu (que estarei fora na quarta). Vejam o que precisam da Suíça e fiquem à vontade para irem a qq tempo, ficarem nas reuniões todo o tempo que quiserem", chegou a enviar para os procuradores em mensagem que foi mantida a grafia pela reportagem.

Além disso, o grupo de investigadores também tentaram obter informações sobre familiares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os procuradores dos países do exterior.

Em sua defesa, a Lava Jato sustentou, em nota, que "nenhum documento foi utilizado judicialmente pela força-tarefa Lava Jato sem ter sido transmitido pelos canais diplomáticos oficiais. Somente em situações de urgência, quando expressamente autorizado pelas autoridades estrangeiras, conforme permite a respectiva legislação, pode haver a remessa de dados por meio mais expedito e sua utilização judicial para fins cautelares".

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) se posicionou nesta quarta-feira (11) por meio de uma carta oficial sobre uma matéria divulgada pela Folha de S. Paulo, que afirma que a operação Lava Jato está mirando campanhas e núcleo de confiança da petista.

A ex-presidente pontuou que “vazamentos seletivos e “ilações mal intencionadas” da operação” objetivam aumentar a pressão sobre ela e intimá-la com suspeitas e tentativas de ofender sua imagem.

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“Vale lembrar que apenas 6 dias antes das eleições de 2018, a Lava Jato utilizou-se desse mesmo artifício a fim de interferir nas eleições, com graves consequências para o país. É estranho e distorcido apontar que as últimas duas operações da força tarefa atingiram o ‘núcleo de confiança’ da ex-presidenta Dilma Rousseff, como noticia a Folha de S.Paulo”, diz o comunicado.

Dilma ainda falou sobre a delação premiada de Antonio Paloci, que, segundo ela, é “mentiroso contumaz que prestou depoimento e jamais apresentou provas de envolvimento de Dilma com corrupção ou mal feitos. A fragilidade das denúncias não serviu nem mesmo ao Ministério Público a aceitar a delação do senhor Palocci”.

“É curioso que a ofensiva da Lava Jato contra Dilma Rousseff ocorra no momento em que procuradores da República e o ex-juiz Sérgio Moro estão sob suspeita, desmascarados pelo The Intercept Brasil e demais veículos de imprensa que revelaram as manipulações e distorções feitas a respeito da gravação ilegal entre a então presidenta e o ex-presidente Lula”, complementa o comunicado.

A nota da ex-presidente não deixou de fazer menções aos vazamentos feitos pelo site The Intercept, do jornalista Glenn Greenwald. “As revelações feitas até agora pela Vaza Jato mostram um verdadeiro conluio armado para esconder informações do STF, contribuindo para o Golpe de 2016 e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, diz.

“A intimidação não vai funcionar. Dilma Rousseff continuará lutando para desmascarar essa imensa farsa construída com o suporte da Lava Jato, reiterando as denúncias de que foi vítima de uma trama armada para derrubá-la da Presidência da República, prender Lula, impedindo-o de disputar as eleições de 2018, abrindo caminho para a chegada do candidato da extrema-direita ao Palácio do Planalto. Desde então, a democracia está sob o fogo cruzado dos amigos da ditadura, da tortura e das milícias”, finaliza.

Novas mensagens vazadas nesta quarta-feira (11) apontam que o Ministério Público Federal (MPF) solicitou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, autorizasse uma ação contra a filha do empresário Raul Schmidt,  Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe, para que, por meio dela, a polícia encontrasse o paradeiro dele. 

Mesmo sendo titular de contas no exterior que receberam propinas, Nathalie não era suspeita de executar crimes. Já Raul Schmidt é apontado como operador de propinas de ex-dirigentes da Petrobras. O empresário foi preso na 25ª fase da investigação, em março de 2016 em Lisboa, mas liberado para responder ao processo em prisão domiciliar. O Brasil chegou a pedir a extradição dele, mas a defesa impetrou diversos recursos.

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As informações foram publicadas pelo site The Intercept Brasil, que vem desde junho divulgando conversas trocadas por procuradores da Lava Jato através do aplicativo Telegram. 

A investida do MPF, de acordo com a matéria, aconteceu em fevereiro de 2018. A ação, disse o procurador Diogo Castor de Mattos em um trecho de uma conversa com os colegas, buscava criar um "elemento de pressão" no empresário.

No primeiro pedido, Sergio Moro negou. "Apesar dos argumentos do MPF, não há provas muito claras de que Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe tinha ciência de que os valores tinham origem ilícita e/ou eram fruto de atos de corrupção", despachou o então juiz. 

Três meses depois, contudo, o pedido de busca e apreensão contra Nathalie para tentar capturar Schmidt foi apresentado novamente, sem nenhuma mudança e foi acatado por Moro. A operação prendeu o passaporte dela, mas no mesmo dia, segundo a reportagem, Raul Schmidt conseguiu extinguir seu processo de extradição em Portugal. Até o momento, o Brasil não conseguiu trazer Schmidt de volta para o país. 

Ao Intercept, o MPF afirmou, por nota, que "os procuradores da força-tarefa Lava Jato formulam pedidos cautelares ou denúncias apenas quando estão presentes os requisitos legais", além disso ressalta que "Nathalie Schmidt foi beneficiária de contas secretas que receberam milhões de dólares ilícitos no exterior, podendo estar sujeita, por tais condutas, a sanções criminais". O ministro Sergio Moro não comentou o caso. 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, afirmou que não pretende concorrer a nenhum cargo político. Em entrevista na noite dessa quarta-feira (28), Moro disse que sua missão no país é técnica e não política. 

"Eu não tenho nem o perfil. Vim para uma missão técnica e estou focado no meu trabalho como ministro. O candidato para 2022 será o presidente Jair Bolsonaro. É impróprio pensar algo diferente", disse em entrevista à GloboNews. 

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Esta não é a primeira vez que o ministro pontua não ter a intenção de disputar algum cargo público, contudo, rumores de bastidores apontam que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem se aproximado de Moro visando uma futura parceria para 2022, quando o tucano pretende concorrer à Presidência da República. Já foi ventilado o nome do ministro do presidente Jair Bolsonaro (PSL) como eventual vice de Doria. 

Vazamentos

Na entrevista, Moro reforçou sua postura diante dos vazamentos de conversas trocadas entre procuradores e ele que vêm baseando reportagens de diversos veículos, a partir de uma parceria com o site The Intercept Brasil, que recebeu o conteúdo. 

"Eu acho que essas mensagens do Intercept já não têm muito reflexo. O que aconteceu foi... Primeiro: é um hackeamento criminoso, foi obtido por meios criminosos. Não há prova de autenticidade. E foi divulgado com sensacionalismo, faltou pegar um tambor para divulgar essas mensagens. As provas estão lá, as mensagens não revelam nada. Além de não ser demonstrada autenticidade, não demonstra nenhuma fraude ou algo errado neste processo", disse Moro. 

As mensagens sugerem que o ex-juiz teria orientado testemunhas da Lava Jato, pedido o adiantamento de petições de procurações e reclamar da falta de operações. 

Líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) usou o Twitter, nesta terça-feira (27), para criticar a atitude de procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que compõem a força-tarefa da Lava Jato e outras frentes de investigação diante das perdas familiares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a morte da sua esposa Marisa Letícia, em 2017. 

O senador chamou os procuradores de “lixo humano” após analisar as mensagens atribuídas a nomes como Deltan Dallagnol, Luara Tessler e Antônio Carlos Welter publicadas em reportagem do UOL desta terça, sobre a morte de Marisa, além de comentários que seriam de autoria dos procuradores Orlando Martello, Januário Paludo e Monique Cheker.

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“Que tipo de gente é esse? Como pode faltar a procuradores da República o mínimo de respeito à dignidade humana? Que vergonha!”, expressou Humberto. “Que lixo humano o Ministério Público Federal tem abrigado... O comportamento contra Lula foi hediondo. As condenações precisam ser anuladas”, escreveu logo em seguida.

De acordo com reportagem do UOL, a partir de mensagens recebidas pelo site The Intercept Brasil, os procuradores ironizaram a morte da esposa do ex-presidente, o luto dele e divergiram quanto aos pedidos de Lula, quando já estava preso, para ir ao enterro do irmão, Genival Inácio da Silva, e do neto, Arthur Araújo Lula da Silva. 

Uma nova leva de conversas vazadas pelo The Intercept Brasil no início da tarde desta terça-feira (12), em publicações no Twitter e transmissão ao vivo no Youtube, aponta que o procurador Deltan Dallagnol comemorou a derrota do senador Renan Calheiros (MDB) na disputa pela Presidência do Senado em fevereiro deste ano. 

As mensagens publicadas pelo site mostram que, no grupo do Telegram chamado "filhos do Januario 3", Deltan e os procuradores Athayde Ribeiro Costa, Roberson Pozzebon, Diego Castor de Mattos e Jerusa Viecili conversaram sobre o assunto.  

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"Renan vai por a culpa no Deltan", comenta Athayde Costa no dia 2 de fevereiro. Depois ele completa: "Renan 5 votos que lavada". E o chefe da Lava Jato em Curitiba responde: "Ele não vai me dar essa moral".  

"Agora se Renan perder, e tivermos essa virada histórica, é graças à nossa equipe e a muitos brasileiros corajosos que tomaram postura, como o Mude que começou o abaixo assinado quando a própria TI recusou entrar neste assunto (e depois voltou atrás e entrou recentemente", acrescenta Deltan Dallagnol. 

Logo depois, Dallagnol observa: "nunca vi um acompanhamento tão acirrado da escolha do presidente do Congresso. O Brasil está mudando."

O Instituto Mude, inclusive, é o mesmo movimento que o procurador, de acordo com outras conversas vazadas, teria se utilizado para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF). 

Já em uma conversa privada, ao mesmo tempo de acordo com o The Intercept, o procurador Vladimir Aras parabeniza Deltan e diz que o ministro da Justiça, Sergio Moro, ficou feliz com a derrota do senador. "Parabéns. Você ajudou a derrubar Renan e o enfraquecimento de Bandeira no CNMP vem de quebra", diz Aras ao colega. "Nós todos Vlad. Era a coisa certa a fazer. Valeu!", responde Deltan. E Aras, em seguida, afirma: “Parabéns, Moro ficou feliz. Falei com ele também.”

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A afirmativa de que Renan poderia culpar Deltan Dallagnol pela derrota se deu pelo movimento do procurador chefe da Lava Jato em Curitiba em defesa de um abaixo-assinado que pedia votação aberta na eleição para presidente do Senado. Em janeiro, o emedebista chegou a trocar acusações com Deltan nas redes sociais. 

“Deltan Dallagnol continua a proferir palavras débeis, vazias, a julgar sem isenção e com interesse político, como um ser possuído”, escreveu no Twitter, Renan Calheiros, na época. 

A postura de Dallagnol rendeu, inclusive, uma representação de Renan contra o procurador no Conselho Nacional do Ministério Público acusando-o de quebra de decoro e exercício irregular de atividade político-partidária.

Novos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil, nesta segunda-feira (12), sugerem que o procurador chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, usou movimentos políticos como porta-vozes de causas de ele defendia. 

De acordo com a reportagem, as conversas vazadas apontam que Dallagnol se movimentou, através do Vem Pra Rua e do Instituto Mude - Chega de Corrupção, para tentar influenciar na escolha do novo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) logo após a morte do ministro Teori Zavascki. 

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As mensagens atribuídas a Deltan, mostram que logo após a derrota na votação do projeto das dez medidas contra a corrupção na Câmara dos Deputados, o procurador buscou usar os grupos para pressionar o STF a rejeitar os nomes dos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e do atual presidente da Corte, Dias Toffoli, para a relatoria das ações da operação. 

Ao relatar para o líder do Mude, Fabio Alex Oliveira, uma conversa que havia tido com um integrante de outro movimento político, no dia seguinte à morte de Zavascki, Deltan disse: “De início, agradeci o apio [apoio] do movimento etc. 1. Falei que não posso posicionar a FT [força-tarefa] publicamente, mesmo em off, quanto a Ministros que seriam bons, pq [porque] podemos queimar em vez de ajudar”. 

“Falei os 4 que seriam ruins, ‘que Toff [Dias Toffoli], Lewa [Ricardo Lewandowski] , Gilm [Gilmar Mendes] e Marco Aur [Marco Aurélio]”, acrescentou o procurador. 

Dias após, em 24 de janeiro, o Mude pediu ao procurador uma “orientação sobre quem seria ideal pra assumir a posição do Teori”. A co-fundadora do grupo Patricia Fehrmann explicou que “tem muita gente perguntando o q fazer. O VPR é um desses”, referindo-se ao Vem Pra Rua. O procurador declinou. “Não podemos nos posicionar. Queimamos a pessoa rsrsrs”. 

Apesar da recusa, em fevereiro, segundo o site, Deltan conversa sobre suas preferências com a procuradora Anna Carolina Resende. Veja a conversa:

1 de fevereiro de 2017 – Chat privado

Anna Carolina Resende – 12:11:18 – Deltan, fale com Barroso

Resende – 12:11:37 – insista para ele ir pra 2 Turma

Deltan Dallagnol – 12:18:07 – Há infos novas? E Fachin?

Dallagnol – 12:18:11 – Ele seria ótimo

Resende – 13:54:21 – Vai ser definido hj

Resende – 13:54:33 – Fachin não eh ruim mas não eh bom como Barroso

Resende – 13:54:44 – Mas nunca se sabe quem será sorteado

Resende – 13:56:40 – Barroso tinha q entrar nessa briga. Ele não tem rabo preso. Eh uma oportunidade dele mostrar o trabalho dele. Os outros ministros devem ter ciúmes dele, pq sabem que ele brilharia na LJ. Ele tem que ser forte e corajoso. Ele pode pedir p ir p 2 turma e ninguém pode impedi-lo. Vão achar ruim mas paciência, ele teria feito a parte dele

Dallagnol – 14:11:37 – Ele ficou alijado de todo processo. Ninguém consultou ele em nenhum momento. Há poréns na visão dele em ir, mas insisti com um pedido final. É possível, mas improvável.

Dallagnol – 14:30:16 – Mas sua mensagem foi ótima, Caroll

Dallagnol – 14:30:24 – Por favor não comente isso com ninguém

Dallagnol – 14:30:25 – Please

Dallagnol – 14:30:29 – Ele pediu reserva

Resende – 14:30:31 – clarooo, nem se preocupe

Resende – 14:30:45 – só lhe pedi para falar novamente com ele porque isso está sendo decidido hoje

Dallagnol – 14:30:52 – Foi o tom do meu último peido

Resende – 14:31:18 – vamos rezar para Deus fazer o melhor

Resende – 14:32:22 – mas nosso mentalização aqui é toda em Barroso

No mesmo dia, de acordo com o The Intercept, Dallagnol voltou a falar com Patrícia Fehrmann e disse que “seria bom se os movimentos replicassem o post do Luis Flavio Gomes”. A publicação atacava Mendes, Lewandowski e Toffoli e afirmava que “comprovar-se-á que o diabo também pode vestir toga” se a relatoria da Lava Jato caísse com um dos três. O Mude seguiu a recomendação e logo compartilhou o texto do jurista. 

O sorteado para relatar a Lava Jato no STF foi o ministro Edson Fachin. A escolha do relator não foi a única vez que Deltan buscou usar apoios sem “parecer pressão” ao STF. 

Ele também se colocou a favor da prisão em segunda instância, propondo a necessidade de pressionar o então novo ministro do STF, Alexandre de Moraes, a mudar de opinião a partir da atuação dos movimentos. Ele chegou a conversar sobre o assunto com a procuradora Thaméa Danelon. 

A ela, descreve o site, Deltan também sugeriu que a população fosse instigada a criar abaixo-assinados favoráveis a medida, já que juízes e procuradores também já estavam fazendo um. 

“Se Vc topar, vou te pedir pra ser laranja em outra coisa que estou articulando kkkk”, disse Deltan a Danelon que assentiu e o chefe da Lava Jato continuou: “Um abaixo assinado da população, mas isso tb nao pode sair de nós… o Observatório vai fazer. Mas não comenta com ng, mesmo depois. Tenho que ficar na sombra e aderir lá pelo segundo dia. No primeiro, ia pedir pra Vc divulgar nos grupos. Daí o pessoal automaticamente vai postar etc”.

O Ministério Público Federal do Paraná, através da assessoria de imprensa, disse que “é lícito aos procuradores da República interagir com entidades e movimentos da sociedade civil e estimular a causa de combate à corrupção”. E, apesar disso, reforçou que não reconhecia a legitimidade dos diálogos. 

o Instituto Mude, por sua vez, informou que “o contato com o coordenador da maior operação de combate à corrupção já realizada no Brasil é natural” e que ele “iniciou-se a partir do conhecimento da proposta das dez medidas contra a corrupção”. E alegou que as ações do movimento não são pautadas por indivíduos ou entidades. 

O Vem Pra Rua se recusou a comentar o conteúdo das mensagens e informou que “na campanha a favor das 10 Medidas Contra a Corrupção buscou parcerias de outros movimentos, entidades e pessoas alinhadas com seus ideais, mantendo sempre sua autonomia”.

Chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol usou a Rede Sustentabilidade como uma espécie da laranja para propor uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro Gilmar Mendes. É o que sugerem as mensagens divulgadas pelo site UOL, a partir das conversas obtidas pelo site The Intercept Brasil. 

De acordo com a reportagem, o acordo envolveu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e resultou na apresentação de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no STF visando impedir que Gilmar soltasse presos em processos que ele não fosse o juiz da causa.  

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As articulações de Dallagnol foram relatadas nas conversas com outros procuradores no Telegram a partir de 9 de outubro de 2018, no dia 11 a Rede protocolou a ADPF. Deltan usou a Rede porque ele, constitucionalmente, não pode atuar em causas que ultrapassem a primeira instância da Justiça Federal. Apenas a procuradora-geral Raquel Dodge tem atribuição para atuar junto ao STF. 

Além de Dodge, partidos políticos, o presidente da República, as mesas diretoras da Câmara e do Senado, os governadores, as Assembleias legislativas e a Ordem dos Advogados do Brasil podem apresentar ADPFs no Supremo. 

Em setembro de 2018, os membros da Lava Jato estavam insatisfeitos com Gilmar Mendes. Naquele mês, ele decidiu, por ofício, soltar nomes como o do então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). 

Em mensagem enviada no dia 9 de outubro daquele ano, Dallagnol diz: "Resumo da reunião de hoje: Gilmar provavelmente vai expandir decisões da Integração pra Piloto. Melhor solução alcançada: ADPF da Rede para preservar juiz natural".E, horas depois, acrescenta: Randolfe super topou. Ia passar para Daniel, assessor jurídico, já ir minutando. falará hoje com 2 porta-vozes da Rede para encaminhamento, que não depende só dele". 

No dia seguinte, outro membro da força-tarefa, Diogo Castor, avisa: "mandei a sugestão da ADPF pro assessor do Randolfe". 

Em 11 de outubro, às 13h58 - antes que a imprensa ou Randolfe noticiasse, Deltan comunica aos procuradores: "Hoje protocolada ADPF da rede contra GM [Gilmar Mendes]", relatou em um dos tópicos sobre uma reunião que havia realizado.

Ao STF, o partido argumenta que a ação é necessária "para impedir que o referido Ministro Gilmar Mendes continue a conceder liminares para beneficiar presos de modo absolutamente revel à liturgia do processo penal, convertendo-se numa espécie de 'Supervisor-Geral' das prisões cautelares levadas a termo em operações de combate à corrupção no Brasil".

No mesmo dia, às 17h56, Paulo Roberto Galvão envia a notícia do site Antagonista sobre a ação da Rede no STF contra Gilmar e Dallagnol diz que precisam saber para qual ministro foi distribuída a relatoria do caso. Outro procurador responde que ação foi para a ministra Cármen Lúcia e o procurador Athayde Ribeiro Costa dispara: "frouxa". Dallagnol completa: "ela é amiga da esposa de GM". Em novembro, Cármen Lúcia negou seguimento à ADPF da Rede, arquivando a ação.

Em resposta ao UOL, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que não reconhecia a autenticidade das mensagens e pontuou que elas foram obtidas de forma criminosa. 

Já Randolfe e a Rede Sustentabilidade, em nota conjunta, disseram que “no caso em apreço, a ação citada foi ajuizada após o Ministro Gilmar Mendes ter concedido habeas corpus de ofício a Beto Richa e outros 'ilustres' investigados, burlando as regras de sorteio de relatoria do STF e se convertendo numa espécie de 'Liberador-Geral da República'. Repudiamos essa decisão, que causou enorme embaraço ao Tribunal, por convicção de que ela reflete uma postura de leniência com corruptos poderosos e não um compromisso autêntico com o devido processo legal: o ajuizamento da ADPF nº 545 se deu exclusivamente por este motivo". O senador e o partido ainda destacaram possuir uma "postura intransigente" em relação à corrupção.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou que é "impressionante quantidade de gente que está eufórica com os hackeadores” que são suspeitos de acessar contas de celulares de autoridades, entre elas o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

Em palestra na noite dessa sexta-feira (2), em São José dos Campos (SP), Barroso também afirmou que era preciso estar atento à agenda brasileira que, na ótica dele, foi "sequestrada por criminosos".  

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Para o ministro, nos vazamentos "há mais fofocas do que casos relevantes, apesar do esforço de se maximizar os fatos". 

Desde 9 de junho, o site The Intercept Brasil publica reportagens com trechos de conversas entre Moro e integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, como o procurador Deltan Dallagnol. O site disse ter recebido as informações de uma fonte confiável. Walter Delgatti Neto, um dos presos na Operação Spoofing, disse ter entregue os dados para o jornalista Glenn Greenwald, responsável pelo Intercept, que não confirmou e disse que preservaria a identidade da fonte.

Barroso disse também que "apesar de todo estardalhaço que está sendo feito, nada encobre o fato de que a Petrobras foi devastada pela corrupção”. “Não importa o que saia nas gravações", disse o ministro. "É difícil entender a euforia que tomou muitos setores da sociedade diante dessa fofocada produzida por criminosos", acrescentou.

A fala do ministro repercutiu na internet e fez com que o nome dele ficasse entre os mais falados no Twitter, por exemplo. 

Mensagens trocadas por procuradores da força-tarefa da Lava Jato sugerem que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, tinha dúvidas sobre as provas apresentadas pelo ex-ministro Antonio Palocci para embasar a delação premiada que fechou com a Polícia Federal. No acordo, Palocci acusou os ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, de cometerem crimes de corrupção. 

De acordo com novas mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil, a partir de reportagem do jornal Folha de São Paulo, uma conversa dos procuradores no dia 25 de setembro de 2018 ressalta o fato. 

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"Russo comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista", disse o procurador Paulo Roberto Galvão, fazendo menção ao ex-juiz pelo apelido e ligando os petistas à Omertà, código de mafiosos italianos.

"Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele", chegou a reforçar a procuradora Laura Tessler. "O melhor é que [Palocci] fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja ", acrescentou Antônio Carlos Welter. 

A Polícia Federal coletou o depoimento de Palocci em abril de 2018. Nele, o ex-ministro disse que Lula autorizou o loteamento da Petrobras por partidos e que seu governo sabia que eles recebiam propinas de estatais como a Odebrecht. Além disso, ele ponderou que as campanhas de Dilma em 2010 e 2014 tiveram caixa dois e foram R$ 1,4 bilhão, o triplo do que foi prestado contas no Tribunal Superior Eleitoral.

No dia 1º de outubro, dias antes das eleições de 2018, Sérgio Moro quebrou o sigilo do depoimento e divulgou as falas de Palocci. A conduta, de acordo com a reportagem, foi questionada no Conselho Nacional de Justiça, mas Moro disse que "não deve o juiz atuar como guardião de segredos sombrios de agentes políticos suspeitos de corrupção". E acrescentou: "retardar a publicidade do depoimento para depois das eleições poder ser considerado tão inapropriado como a sua divulgação". 

Ainda de acordo com a matéria, antes desse acordo homologado, em setembro de 2017, Antônio Carlos Welter era o principal interlocutor da força-tarefa com os defensores do ex-ministro. Na ocasião, o procurador disse que os anexos precisavam ser melhorados e, quatro meses depois, chegaram a desistir da colaboração de Palocci.

"Como os anexos estão sem elementos de corroboração suficientes, decidimos romper as negociações", comunicou Welter ao seu colega José Alfredo de Paula e Silva, do gabinete da procuradora-geral Raquel Dodge. "Ótimo", respondeu Alfredo. 

Tempo depois a Polícia Federal fechou um novo acordo em três meses. O chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, de acordo com a reportagem, questionou o acordo. "Ainda que as decisões sejam favoráveis [para a PF fechar acordos], a simples incerteza criada pelos nossos recursos, nesta e nas próximas oportunidades, é um instrumento a favor de consolidar a posição do MPF como a mais vantajosa com que se negociar mesmo depois da decisão do STF", escreveu no aplicativo de mensagens.

Em resposta ao jornal, o Ministério da Justiça e a força-tarefa da Lava Jato defenderam a legitimidade do acordo. Além disso, pontuaram que não reconheciam como verídicas as mensagens divulgadas pela reportagem. Já a Polícia Federal declarou que não se posicionava sobre investigações em curso e o advogado de Palocci declarou que o conteúdo “não modifica ou invalida a colaboração do ex-ministro”.

O site Metrópoles publicou nesta sexta (26) uma longa entrevista com o fundador do The Intercept, Glenn Greenwald. O jornalista afirmou que "os materiais mais bombásticos" dos diálogos entre procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro ainda não foram publicados. Ele ainda afirmou que vem sendo ameaçado de morte constantemente e que considera a série de reportagens atual mais perigosa que as revelações do caso Snowden.

Questionado pelo Metrópoles, Greenwald revelou que novas matérias do seu site sobre os diálogos vazados vão revelar informações ainda mais importantes do que as que já foram ao ar. "Eu tenho certeza, porque eu conheço o material que estamos trabalhando, que os materiais mais bombásticos e importantes ainda não foram publicados, mas serão em breve. Tem muitas revelações graves. Essas seis semanas que começamos a publicar foram muito pouco tempo para um acervo deste tamanho. Então, com certeza, vai ter muito mais revelações muito graves no futuro", afirmou.

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Apesar de ter revelado que recebeu as conversas de uma pessoa que hackeou os celulares de autoridades, Gleen não confirmou se as pessoas presas pela Operação Spoofing, da Polícia Federal, são as suas fontes. "No passado, nós reportamos com materiais fornecidos por fontes que também foram presas. Nós não sabemos se os caras que eles prenderam eram nossas fontes, e obviamente não vamos comentar nada sobre isso. Mas, se eles são ou não, não tem nenhuma consequência para nossa reportagem, que está continuando", disse o jornalista.

Glenn Greenwald falou também sobre as ameaças que vem recebendo e da "perseguição" do Ministro da Justiça Sérgio Moro. "Estamos recebendo o tempo todo ameaças de morte bem detalhadas, bem sérias. Não é o tipo de ameça que se recebe todo dia quando você é figura pública: 'Oh, espero que você morra' ou 'Vou te matar', mas com muitos detalhes, com dados pessoais", falou. "Sergio Moro está usando a linguagem para criminalizar nosso jornalismo. Sempre nos chama de “os aliados dos hackers”, criando essa teoria que participamos do crime. Ele está fazendo isso de propósito. Isso é uma ameaça grave quando está vindo do ministro da Justiça, que tem o poder para investigar, espionar, monitorar, processar", completou.

Entre outras coisas - a entrevista completa você vê no Metrópoles - Gleen ainda fez questão de confirmar que não houve nenhum tipo de pagamento pelas conversas vazadas que chegaram ao The Intercept. "Obviamente não pagamos nada. Até mesmo o suspeito, que a PF prendeu ontem e acusou de ser nossa fonte – e nós não estamos confirmando – mesmo no depoimento dele, ele confirmou o que estamos falando o tempo todo. Que a fonte passou a informação de forma anônima, sendo que, antes disso, nunca falou comigo e que a informação foi obtida sem qualquer pagamento, sem nada. Simplesmente passaram a informação e recebemos. É o que temos sempre falado", ressaltou.

Jornalista responsável pelo The Intercept Brasil,  Glenn Greenwald usou o Twitter para comentar a prisão dos quatro suspeitos de integrarem uma organização criminosa que teria invadido o celular do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. As prisões foram efetuadas pela Polícia Federal nessa terça-feira (23). 

Greenwald questionou a agilidade para encontrar os supostos hackeres diante da falta de respostas sobre a localização de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL), investigado por movimentações atípicas nas contas bancárias pessoais e apontado como uma espécie de laranja da família do senador quando ele ainda era deputado estadual do Rio de Janeiro. 

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“Não é interessante que a PF tenha supostamente encontrado um grupo do que Moro alegou serem hackers altamente sofisticados tão rapidamente, mas ninguém consegue encontrar Queiroz?”, indagou Glenn Greenwald na rede social. 

O The Intercept Brasil foi o veículo que iniciou, no dia 9 de junho, as divulgações de mensagens trocadas pelo ministro Sérgio Moro e membros da força-tarefa da Lava Jato, como o procurador Deltan Dallagnol, que indicam interferências do ex-juiz no andamento das investigações do escândalo de corrupção. 

Moro alega que as mensagens foram obtidas através de ataques hacker. A PF, contudo, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não há inquérito policial instaurado para apurar a conduta do jornalista Glenn Greenwald.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, se manifestou em sua conta pessoal no Twitter sobre os novos vazamentos de conversas entre ele e o chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, reveladas pelo site The Intercept Brasil em parceria com o jornalista Reinaldo Azevedo, da Band News.

Moro disse que é um "grande defensor da liberdade de imprensa", mas que "a campanha contra a Lava Jato e a favor da corrupção está beirando o ridículo". O ex-juiz ainda desafiou a equipe de reportagem, dizendo: "se houver algo autêntico, publiquem por gentileza".

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Na sequência do primeiro post, Moro publicou uma tabela com dados nacionais de segurança pública do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública do Ministério da Justiça, que mostra uma redução nos principais crimes em todo País no primeiro semestre deste ano. O ministro compartilhou a tabela com a legenda: "abaixo uma notícia de verdade".

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