Músico versátil, poeta excepcional, uma artista sem medo de experimentar novos caminhos e sonoridades, sempre com propriedade e sucesso. Siba é esteticamente inquieto: começou sua caminhada com a banda Mestre Ambrósio, que mesclava diferentes influências sonoras e estéticas de folguedos populares como o cavalo-marinho.
Após um longo período de pesquisa e inserção no mundo dos cantadores de maracatu rural da Mata Norte de Pernambuco, criou a Fuloresta, com a qual lançou dois discos bastante elogiados; em 2012, Siba novamente se reinventa e lança o disco Avante. Mais pop, o álbum agradou e fez do ano passado um momento especial na carreira do músico, conquistando novos públicos e ampliando ainda mais seu repertório musical, poético e estético.
##RECOMENDA##
Entrando em 2013 com todo o gás, Siba conversou com o LeiaJá e falou da expectativa para o ano que acaba de se iniciar.
2012 foi um ano muito bom para você, que traçou novos rumos para a carreira e teve um retorno muito bom com o disco Avante. Qual a perspectiva para este novo ano?
Foi um ano em que fizemos quarenta shows, o que por si só já é um dado bem concreto e joga uma perspectiva para que este seja igualmente bom. O disco sai agora em março o disco na Europa, na Inglaterra, e tem turnê na Europa e Estados Unidos em junho e julho. Junto a isso tem o edital da Natura, que vão ser nove apresentações no Brasil, já está um ano desenhado. Fora uma demanda normal de agenda que, baseado no que já foi, a gente espera um ano bem melhor.
Você deu guinadas durante a carreira e costuma mergulhar bastante no que faz. Já está começando a surgir a vontade de um novo projeto, já está compondo algo novo?
Neste ano o disco ainda é prioridade, mas já estou começando a juntar fragmentos e pensando numa nova coisa que ainda não sei falar muito bem como vai ser, porque entre as várias possibilidades que eu vou imaginando até uma coisa possível leva a um caminho que eu nunca sei o tempo. Pode demorar alguns anos ainda, não sei dizer, mas o fato é que eu já estou começando a abrir um espaço. O show está ficando mais maduro, acho que depois do carnaval dou uma finalizada no processo de construção do show mesmo e aí começa a abrir um espaço mental para começar a juntar os fragmentos que eu venho reunindo.
Você está sempre compondo, sempre criando, ou precisa mesmo dar uma parada e interiorizar aquilo para que saia de uma vez?
Sempre compondo é difícil, porque exige um tipo de concentração, de relação com o tempo que é difícil de obter quando você está nessa demanda de fazer girar uma coisa, um trabalho. O que eu faço é registrar muito fragmento o tempo inteiro, tem essa expectativa, essa cobrança em ser criativo, ler o que está se passando ao redor e com você mesmo. Eu vou colecionando fragmentos de ideias, fragmentos musicais, ideias para um possível texto. Acaba que disso sai uma coisa mais concreta. Chega uma hora em que eu tenho quem focar nisso e priorizar, se não, não sai.
Até a algum tempo, um músico tinha que ser quase um herói para conseguir seu sustento. Como anda a profissionalização da música? O músico autoral, criador, está conseguindo viabilizar seu trabalho?
Eu venho desse tempo né cara. Quando escolhi fazer o que faço era uma opção de risco muito grande. As distâncias eram muito grandes. Você tinha ou o artista que tinha uma gravadora, ou nada, todo o resto era um nada. E no meio do caminho tinha ser professor, era uma opção muito radical naquele momento. Hoje já se tem até um senso comum que entende a música como realmente mais uma profissão, então se andou para uma coisa muito melhor sem dúvida alguma. Eu não tenho saudade nenhuma do tempo do meu começo, não quero voltar para aquilo.
Você está morando em São Paulo, depois de viver em Nazaré da Mata, quando criou a Fuloresta. O Avante já é um disco mais urbano. Você acha que estar na maior metrópole do Brasil pode influenciar sua poética ou sua sonoridade?
Tem porque pra mim é tudo muito ligado: onde estou, meu trabalho. Mas, ao mesmo tempo, não é uma relação direta, não é um caminho tão reto, é mais subjetivo. Claro que estar em São Paulo dita uma série de coisas que acabam interferindo, mas não é tão direto assim. Até porque eu me sinto muito ligado ainda a tanta coisa de Nazaré e da Mata Norte de Pernambuco. Saí de lá, mas continuo tão ligado e ainda faz tanto parte de mim aquilo ali. E tem uma saudade de um tipo de foco, de energia que eu tinha quando tava lá. De alguma forma tenho que retomar, inventar um jeito de retomar com mais intensidade alguma coisa dali que se mantém latente. Estar em São Paulo não me impediu de estar ligado antes mesmo de ir para lá e não vai me impedir agora.