Usuários russos do Instagram sentiam tristeza e resignação neste domingo (13) antes do bloqueio da popular rede social, agora que o poder russo tenta controlar rigorosamente as informações sobre o conflito na Ucrânia.
"Como vou passar o tempo? O que vou fazer? Todo mundo está no Instagram...", disse Ekaterina Makarova, uma trabalhadora de logística de 28 anos que mora em São Petersburgo.
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"Talvez eu vá para o VKontakte ou Telegram, se eles não estiverem bloqueados", acrescentou ela, referindo-se ao equivalente russo do Facebook e ao aplicativo de mensagens criptografadas amplamente usado na Rússia.
As autoridades anunciaram na sexta-feira que dificultarão o acesso ao Instagram na Rússia a partir da meia-noite local (18h de Brasília), acusando a rede social de espalhar um discurso de ódio aos russos em meio a uma ofensiva militar na Ucrânia.
A gigante americana Meta, proprietária do Instagram, assim como do Facebook e do WhatsApp, anunciou na quinta-feira que aplicaria exceções às suas regras de conduta sobre incitação à violência ao não censurar mensagens hostis aos militares e líderes russos.
Sites com acesso "restrito" na Rússia tornaram-se praticamente inacessíveis sem o uso de uma rede privada virtual (VPN). Esse já é o caso do Facebook e do Twitter.
Em vez de um bloqueio imediato, o regulador de telecomunicações Roskomnadzor deu ao Instagram dois dias para tornar mais fácil para os usuários moverem seu conteúdo para outras plataformas.
Desde o anúncio, o pânico se espalhou entre os usuários mais assíduos.
O vídeo de uma digital influencer russa chorando por causa do bloqueio se tornou viral e alguns internautas a acusam de indecência ao considerar o que está acontecendo na Ucrânia.
"Vá para Kharkiv, o Instagram ainda funciona lá", disse ironicamente um internauta, citando a segunda maior cidade da Ucrânia, cercada por forças russas, e na iminência de sofrer intensos combates.
Karina Nigaï, uma blogueira seguida por três milhões de pessoas no Instagram, compara sua tristeza ao luto.
"Estou em estado de choque e a resignação ainda está longe", escreveu ela, embora direcione seus seguidores para as contas VKontakte e Telegram.
"Viveremos sem isso!"
Assim como no resto do mundo, o Instagram é uma plataforma muito popular na Rússia entre os jovens, que compartilham fotos e vídeos compulsivamente por ali.
"Há blogueiros que ganham dinheiro" no Instagram, e o bloqueio "não é bom para eles", disse Anastassia Malova, uma estudante de 23 anos. Mas "isso não me afeta muito".
Como ela, alguns usuários parecem tranquilos. "Se eles fecharem, deixem que façam e eu irei para o Telegram!", disseAlexeï Garkucha, um pintor de 41 anos.
"Viveremos sem isso!", afirmou Nikolaï Ermenko, engenheiro de 45 anos.
Victoria Lilova, uma professora de 29 anos, disse que não vai sofrer "pessoalmente", mas "se sente triste pelas instituições de caridade, porque elas ganham muito dinheiro com o Instagram".
Alexandra Mitroshina, influenciadora que tem mais de 2,4 milhões de seguidores no Instagram, se preocupa “com pequenas e médias empresas cujos negócios estão relacionados ao Instagram”.
Para a promoção de roupas, móveis ou cursos de idiomas, entre outras atividades, o Instagram é uma ferramenta de vendas on-line crucial para muitas empresas russas.
O mesmo vale para os artistas, que dependem de sua visibilidade nesta plataforma na Rússia e no exterior para conseguir clientes.
O bloqueio também afetará os movimentos de contestação. O Instagram é uma das redes sociais mais utilizadas pelo opositor preso Alexei Navalny, cuja equipe espalha suas mensagens por lá.