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A Universidade Federal de Lavras (UFLA) aprovou, na última terça-feira (5), o sistema de cotas para pessoas trans, sendo a primeira de Minas Gerais a adotar a proposta. A previsão é de que essas vagas reservadas sejam ofertadas até o segundo semestre de 2024. Como requisito para participar da iniciativa, o candidato deverá ter concluído integralmente o ensino médio em escolas públicas, realizar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), autodeclarar-se como pessoa trans no momento da solicitação da matrícula inicial, por meio de formulário específico disponibilizado no endereço eletrônico da Diretoria de Registro e Controle Acadêmico (DRCA).

Ao ser selecionado, os participantes passarão por uma avaliação interna. A iniciativa surgiu por meio de uma demanda da Clínica de Direitos Humanos do Departamento de Direito da UFLA, que apresentou dados que comprovam a importância das cotas para pessoas trans em uma universidade federal.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou mudanças na Lei de Cotas nesta segunda-feira (13). Modificações serão aplicadas na próxima edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que acontece em janeiro de 2024.

Algumas alterações, segundo o Ministério da Educação (MEC), estão na inscrição no Sisu. Agora, todos os participantes serão classificados na modalidade de ampla concorrência, mesmo se atenderem a critérios de vagas exclusivas para cotas. As reservas de vagas serão observadas depois.

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Anteriormente, o candidato que se encaixava como cotista, concorria apenas nas vagas de cotas, mesmo com pontuação suficiente para ampla concorrência. O MEC defende que, desta forma, “os esforços de todos aqueles que alcançam notas altas são valorizados, sem distinção”.

O valor para o teto da renda familiar dos estudantes também foi redefinido para cota na modalidade socioeconômica. A quantia exigida era de um salário mínimo e meio, em média, por pessoa da família. Agora, o valor deve ser de um salário mínimo, que é, atualmente, R$ 1.320.

Outras modificações contam com a inclusão de estudantes quilombolas como beneficiários das cotas, como acontece atualmente com alunos pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência (PcDs); o estabelecimento de prioridade para os cotistas no recebimento do auxílio estudantil; e a extensão das políticas afirmativas para a pós-graduação.

Com informações da Agência Brasil

A Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu nesta sexta-feira, 6, que o Supremo Tribunal Federal (STF) declare inconstitucionais os trechos da emenda constitucional que anistia partidos políticos pelo descumprimento de cotas para candidaturas de mulheres e negros.

"As conquistas alcançadas em termos de igualdade de gênero e igualdade racial no campo da participação político-eleitoral não podem ser simplesmente desfeitas, enfraquecidas ou tornadas sem efeitos", diz um trecho do parecer da PGR.

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O texto, promulgado em abril de 2022, proíbe sanções de 'qualquer natureza', inclusive devolução de valores, multa ou suspensão do fundo partidário, aos partidos que não cumpriram a cota em eleições passadas.

A procuradora-geral interina Elizeta Maria de Paiva Ramos, que assina o parecer, afirma que a emenda constitucional viola o princípio da igualdade.

"Os arranjos legislativos que, por qualquer modo, impliquem subrepresentação de mulheres e de negros na política para aquém dos patamares já alcançados, (...) significam inadmissível retrocesso em políticas afirmativas voltadas a assegurar isonomia política de gênero e racial em sua dimensão substantiva ou material", argumenta.

A primeira lei que estabeleceu a reserva de recursos do fundo partidário para incentivar a participação feminina foi aprovada em 2009. A PGR afirma que, desde então, o Congresso tentou 'vários arranjos legislativos' para 'anistiar os partidos políticos faltosos'.

O relator da ação é o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, que já abriu mão de decidir monocraticamente e informou que pretende levar a ação para julgamento direto no plenário.

O julgamento pode coincidir com a votação de uma nova Proposta de Emenda à Constituição, em debate da Câmara dos Deputados, para perdoar irregularidades de partidos nas eleições, inclusive o descumprimento das cotas.

O governo Lula pedirá aumento do quantitativo de vagas reservada, por meio de cotas, em concursos públicos. A medida, por meio de Projeto de Lei, deve propor um aumento de 20% ou 30%, sendo metade dessa reserva ocupada por mulheres negras. O PL será enviado ao Congresso Nacional nas próximas semanas.

A proposta é elaborada pelos Ministérios da Igualdade Racial e Gestão e Inovação, além do Ministério da Justiça. O texto estabelece que as cotas valem para cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da “administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União”.

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Atualmente, a porcentagem vigente é de 20%. No entanto, a diretora de ações afirmativas do Ministério da Igualdade Racial, Anna Venturini, aponta que esse percentual provoca um efeito mais baixo do que o esperado. "Vimos que, nos últimos anos da lei de cotas, não conseguimos implementar na forma como gostaríamos por uma série de fatores. Um deles é que tivemos uma oferta de concursos muito baixa. Tivemos uma oferta de concursos menor do que era esperada quando a lei foi aprovada. Um dos motivos foi o teto de gastos", explica.

Candidatos negros aprovados no último concurso público para o cargo de analista legislativo teriam sido prejudicados pelo Senado. De acordo com Ministério Público Federal (MPF), o órgão descumpriu a lei de cotas aplicada em certames, matéria que foi aprovada pela Casa em 2014.

As informações do parecer do MPF foram divulgadas pela Folha de São Paulo nesta quinta-feira (20). O documento pontua que o Senado reduziu o quantitativo de vagas destinadas à ação afirmativa ao colocar candidatos negros, que seriam aprovados independentemente dessa reserva, entre os cotistas. 

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O caso foi levado ao MPF pela Educafro, entidade que luta pela inclusão igualitária de pessoas pretas no ensino superior, e mais quatro canditados do processo seletivo que se sentiram lesados. Segundo o parecer do caso, dos oito negros nomeados, seis aparecem nas quatro primeiras posições e seriam classificados de qualquer maneira, ou seja, independente da reserva de vagas.

Na avaliação do próprio MPF, o Senado errou ao não remover esses participantes das cotas para dar lugar a mais seis candidatos negros. Para o ministério, a condução do certame pelo órgão reduziu o quantitativo de pessoas pretas e pardas aprovadas, assim como limitou o alcance das vagas afirmativas no fucionalismo público. 

A reserva mínima de 3% de vagas para indígenas em concursos direcionados ao ingresso na magistratura brasileira foi aprovada por unanimidade nessa terça-feira (20) pelo Plenário do CNJ, durante a 10ª Sessão Ordinária de 2023 do órgão.

Relator do ato normativo, o conselheiro e procurador regional da República Sidney Madruga avalia que a medida cria um sistema de equidade social, autonomia e autodeterminação, garantindo maior representatividade indígena no Poder Judiciário brasileiro.

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De acordo com o conselheiro, “dos 18 mil juízes em atividade no país, apenas 11 se autodeclararam indígenas”. A informação consta no perfil sociodemográfico dos magistrados e magistradas brasileiros realizado pelo CNJ em 2018.

Para Madruga, a baixa representatividade dos indígenas no Poder Judiciário é muito mais grave que a situação das mulheres e dos pretos e pardos.

“Creio que, daqui a dez ou 15 anos, teremos uma nova fotografia do Judiciário brasileiro, com a presença de magistrados e servidores indígenas em muito maior grau e alcançando status de chefia, inclusive lugares em Tribunais superiores”, afirmou.

O censo demográfico de 2010 registra que existem no Brasil aproximadamente 897 mil indígenas, dos quais cerca de 517 mil vivem em terras oficialmente reconhecidas, distribuídos em cerca de 305 etnias e 274 línguas.

Segundo o conselheiro, os dados demonstram a importância de se implementar políticas públicas “com vistas a combater a histórica exclusão e desigualdade social, econômica e política enfrentada, de forma a contemplar os direitos garantidos constitucionalmente aos indígenas”.

Vagas

“Chegamos à cota de 3% do total de vagas mediante acordo com os demais conselheiros, na esperança de que esse percentual possa atender, sobretudo, regiões com maior número de indígenas, como o Norte e o Centro-Oeste do país, para concursos a partir de dez vagas”, esclareceu o relator.

A nova resolução entra em vigor 60 dias após a sua publicação no Diário de Justiça e não se aplica aos concursos cujos editais tiverem sido divulgados antes de sua vigência.

Na hipótese de não haver candidatos indígenas aprovados em número suficiente para ocupar as vagas reservadas, as remanescentes serão revertidas para a cota étnico racial e, posteriormente, para a vaga reservada para pessoas com deficiência. Na impossibilidade também de preenchimento dessas últimas, as vagas não preenchidas serão revertidas para a ampla concorrência, de acordo com a ordem de classificação dos aprovados.

Da assessoria do MPF, com informações do CNJ

A Universidade de Pernambuco (UPE), através do do Conselho Universitário (CONSUR), aprovou por unanimidade a ampliação do sistema de cotas para ingresso de estudantes oriundos de escolas públicas nos cursos de graduação. Com a mudança, prevista para o processo seletivo de 2024, a universidade estadual reservará 40% das vagas para candidatos egressos do ensino público (municipal, estadual ou federal).

Para ter acesso a essa nova política de cotas, o participante da seletiva precisa ter cursado integral, exclusiva e regularmente, os anos finais do ensino fundamental, ou seja, do 6º ao 9º ano, e todos os anos do ensino médio em escola pública, comprovado no ato da matrícula.

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Esse novo percentual será distribuído da seguinte forma: A1- 20% para estudantes com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário, devendo essa condição ser comprovada no ato da matrícula; A2 - 20% para alunos com qualquer renda per capita, devendo essa condição ser comprovada no ato da matrícula.

“A questão foi amplamente debatida com representantes da comunidade acadêmica, docentes, estudantes e técnicos, com análise dos impactos para a instituição. A demanda atende parte das reivindicações de diferentes movimentos sociais e da universidade, como uma ação que amplia o acesso ao ensino superior. No entanto, ainda precisamos avançar em questões sobre acessibilidade e inclusão”, destacou a Reitora Profª. Maria do Socorro Cavalcanti.

Seu Adenilton Nicolau, pedreiro de 47 anos, conquistou a internet após ser pré-aprovado no curso de filosofia da Universidade Federal de Goiás (UFG) em primeiro lugar na cota racial. O vídeo de reação de Adenilton viralizou e a celebração da família emocionou os internautas. 

"Nossa, você vai estudar!", celebra a esposa. Em um tom de êxtase, o pedreiro reage à informação que tinha conquistado a vaga: "Melhor pontuação? Isso aqui é a nota do Enem? Nem sabia disso! Meu Deus, não acredito."

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Adenilton seria o primeiro da sua família a ingressar na faculdade. Sua filha Sara Linhares, rapper e artista, foi quem gravou e publicou o vídeo que tem mais de um milhão de visualizações só no Twitter, foi quem fez a inscrição de seu pai no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e escolheu a opção de cota racial.

Adenilton e sua família. Foto: Arquivo Pessoal

"Minhas meninas sonharam para mim um sonho que eu tinha e a Sara me ajudou a realizar. Então quero agradecer a Sara por estar me dando todo o apoio aí e vou iniciar minha jornada agora fazendo filosofia na UFG. Obrigado, galera, por estar me apoiando", diz Adenilton em um segundo vídeo.

O desencanto

Porém, a comemoração não durou muito tempo. Após a pré-aprovação, o goiano foi realizar sua matrícula na universidade e foi impedido. A justificativa foi o ensino, para a cota racial, o vestibulando deve ter feito o ensino médio integralmente na escola pública, o que desclassificou Nicolau, que fez seu EJA em uma escola privada.

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Incapaz de completar seu ensino na escola enquanto criança, Adenilton parou de estudar desde os 13 anos e só foi capaz de terminar o ensino básico pelo EJA (Educação de Jovens e Adultos), que entrou em 2012 sonhando em ter mais oportunidades com o diploma.

"Eu tentei o EJA na pública, mas eu precisava do diploma rápido porque com o diploma do ensino médio eu teria mais oportunidades e queria fazer um curso de mestre de obras. Na particular o EJA era mais rápido, com o horário mais flexível e por conta disso acabei optando por fazer na escola privada", contou Nicolau, em conversa com o LeiaJá.

Em um terceiro vídeo, Adenilton veio a público explicar a situação da sua vaga. O mesmo afirma que sua ficha 18, o certificado que comprova a conclusão do ensino médio, foi negada por ser de ensino privado. Sara Linhares, sua filha que popularizou a história, detalhou que a atendente da UFG chorou ao ter que cancelar a vaga de seu pai.

"Eu tô triste. Estou sorrindo aqui, mas só Deus sabe como eu estou por dentro. Eu quero continuar sendo uma fonte de inspiração, mas eu estou triste por quê? Nós fizemos a inscrição na faculdade na UFG, minha filha usou o sistema de cota racial e usando a nota do Enem que eu fiz também. Eu fui aprovado, só que todo o sistema de cota, você tem que vir de um ensino médio público", explica o pedreiro.

"Quando eu apresentei meu diploma lá para fazer a matrícula, veio de uma escola particular, então foi barrado por isso. Nós não tínhamos nos atentado para esse item que tem que ser de uma escola pública. Então eu passei em todas as etapas, menos nessa, então fui barrado. Por isso eu estou muito triste", continuou.

A família

Em relatos no seu perfil, Sara mencionou que se sentiu culpada pelo que aconteceu com seu pai, mas pediu para que ninguém utilizasse isso de motivo para falar mal de universidades públicas, que apenas está seguindo o que está na lei.

"Não foi erro da universidade, está claro no edital. O erro foi meu, eu matriculei o meu pai em horário de serviço, não lembrei que ele fez uma etapa do EJA dele numa escola particular e o diploma dele foi emitido pela escola particular. Então ele acaba por não se encaixar na cota", reitera a artista.

Foto: Arquivo Pessoal

Duas das filhas de Nicolau declararam que são contra qualquer comentário descredibilizando a universidade pública. Ambas são, inclusive, matriculadas em faculdades públicas e Sara é, especificamente, da UFG. Mariana Musgo, irmã de Sara e Filha de Adenilton, defende a importância das cotas mas também a reflexão sobre elas: 

"A política de cotas é extremamente importante, teve um ingresso enorme [na universidade] de uma população que não teria, mas deveria olhar caso a caso. Meu pai é um pedreiro, tem três filhas, a gente mora na região periférica de Goiânia e ele não tá em paridade de concorrer em ampla concorrência, sabe?"

As irmãs mencionam que a viralização do caso de seu pai teve lado positivo e lado negativo. Apesar de todo apoio e mensagens de incentivo, elas encontraram muito comentário maldoso e de ódio voltado a sua família. Contudo, as coisas boas se destacaram, em especial as oportunidades que apareceram para eles.

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O futuro

Conseguir a vaga e perder ela em menos de 48h foi um baque grande, mas não grande o suficiente para fazer Adenilton desistir em nenhum momento. O mesmo, apesar de estar triste, sempre declarou que continuaria na pesquisa de uma universidade para conquistar seu diploma.

"Meu sonho não morre aqui, não vou desistir, tá? Eu vou procurar uma faculdade, que seja particular mesmo para terminar esse curso em nome de Jesus", afirma o goiano.

Assim como milhares de pessoas, alguns famosos também tiveram contato com essa história. O apresentador Luciano Huck compartilhou o caso em seu perfil nas redes sociais e a cantora Lexa entrou em contato direto com a família de Goiás.

A artista mencionou que ficou muito feliz e orgulhosa pela luta e amor de Nicolau pelos estudos e por isso se ofereceu para pagar uma faculdade particular para ele. Adenilton conta que ainda está digerindo essa informação, mas está muito contente com tudo.

Outras faculdades também estão entrando em contato, oferecendo uma vaga nos em seus cursos para que ele consiga realizar seu sonho de ingressar na faculdade, aos 47 anos. Sara acredita que o sonho do seu pai não é um sonho que acabou, mas sim um sonho que começou agora.

Nesta terça-feira (11), o Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, por unanimidade, o ato normativo chamado “Programa Transforma”, que institui a reserva de vagas de emprego no Poder Judiciário para mulheres em situação de violência ou vulnerabilidade social.

O texto determina regras e critérios para a inclusão dessas mulheres nos contratos de prestação de serviços continuados e terceirizados, com o objetivo de atuarem em tribunais e conselhos. Nos contratos que possuam, no mínimo, 25 colaboradores para prestação de serviços contínuos em regime de dedicação exclusiva, haverá reserva de 5% das vagas.

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Além disso, o documento ainda prevê que o Departamentos de Gestão Estratégica e o de Pesquisas Judiciárias do CNJ estabeleçam indicadores relativos à equidade, diversidade e inclusão nesses contratos. Entre eles, estão a promoção da igualdade de oportunidades e de tratamento e a paridade salarial.

Também devem ser estabelecidas práticas de prevenção e de enfrentamento do assédio moral e sexual e atividades nas áreas de saúde e de segurança do trabalho que considerem as diferenças de gênero. As vagas serão direcionadas a mulheres pretas e pardas, em condição de especial vulnerabilidade socioeconômica, egressas do sistema prisional, migrantes e refugiadas, em situação de rua, indígenas, mulheres do campo, assim como para pessoas trans e travestis.

De acordo com relator, a proposta permite aos tribunais que façam as adequações necessárias a partir das suas realidades, de modo que possam escolher as situações mais presentes. As modificações terão prazo de 90 dias para entrar em vigor, permitindo que haja tempo de para a adaptação e cumprimento da norma.

O professor de educação física Alan Teixeira, de 33 anos, participou do concurso público da Secretaria de Educação do Distrito Federal, em 2022, mas foi reprovado no procedimento de heteroidentificação. Teixeira se autodeclarou pardo, mas foi considerado inapto pela banca examinadora, o Instituto Quadrix. O docente utilizou o mesmo recurso no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), em 2007, e foi aprovado.

Em contrapartida, naquela época, Alex Teixeira, irmão gêmeo idêntico de Alan, foi reprovado na UnB após também se autodeclarar pardo. Na época, os estudantes eram avaliados através de fotos anexadas à ficha de inscrição. Devido a repercussão do caso, a instituição alterou o modo de avaliação, e passou a utilizar entrevistas no ano seguinte.

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Segundo o comunicado divulgado pela banca no último domingo (19), os candidatos não qualificados negros pelo procedimento ainda podem concorrer na ampla concorrência, caso tenha obtido notas para classificação e aprovação nas fases anteriores do certame. Alan interpôs recurso contra o resultado preliminar como prevê o edital, mas o resultado final tem divulgação prevista para o dia 28 de março.

A 13ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu liminarmente as inscrições de um concurso para procurador, analista administrativo e médico veterinário da Universidade de São Paulo (USP). A decisão expedida pela juíza Luiza Barros Rozas Verotti foi justificada pela falta de vagas reservadas para pretos, pardos e indígenas no certame. 

A decisão atendeu um pedido da Defensoria Pública de São Paulo. O órgão alega que a universidade não respeitou o modelo de pontuação diferenciada para esses grupos, previsto em leis estaduais e federais. 

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No texto, a magistrada lembrou que a reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas é prevista em lei cuja constitucionalidade já foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal.

"A interpretação teleológica (da lei) se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira e garantir a igualdade material entre os cidadãos, por meio da distribuição mais equitativa de bens sociais e da promoção do reconhecimento da população afrodescendente", escreveu. 

O concurso ofereceu 63 vagas e as inscrições iriam até o dia 31 de março. A remuneração oferecida era de R$ 9.257,99, além de benefícios. 

De acordo com o edital, o campus de Ribeirão Preto era o segundo colocado em número de vagas no concurso ficando atrás apenas da capital São Paulo. O campus de Ribeirão Preto tinha sete vagas a serem preenchidas, já o de São Paulo tinha 41 oportunidades dos 69 totais.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, defendeu um "outro projeto de País" com maior acesso das políticas públicas e visibilidade da população negra . "Nos comprometemos aqui com a revogação dos atos que não reflitam a missão do Ministério da Igualdade Racial e com a promoção de políticas concretas.

"Trabalharemos nos próximos quatro anos para fortalecer a Lei de Cotas e ampliar a presença de jovens negros e pobres nas universidades públicas", disse Anielle, durante sua cerimônia de posse, realizada no Palácio do Planalto com presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Entre as medidas, a ministra citou que buscará "aumentar a visibilidade" e a presença de servidores negros e negras em cargos de decisão da administração pública. "Relançaremos junto a ministérios parceiros o plano juventude negra viva, que promoverá ações que visem a redução da letalidade contra a juventude negra brasileira e a ampliação de oportunidades para jovens de nosso país. Avançaremos em uma articulação interministerial pelo fortalecimento da política nacional de saúde integral da população negra", afirmou.

A ministra garantiu ainda a retomada de programas que levem direitos para também as comunidades quilombolas e ciganas. "Incidindo para a regularização fundiária, a infraestrutura, a inclusão produtiva e o desenvolvimento local com direitos e cidadania para estes povos. Será, também, a partir da maior estruturação e fortalecimento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial que iremos realizar ações que busquem a equidade racial em diálogo com todos os municípios, estados e órgãos da União", acrescentou, mencionando que são medidas para "recuperar o que foi destruído e fortalecer e ampliar o legado de várias gerações".

Anielle pediu também a colaboração dos outros ministérios para reconstruir "um novo Brasil" coletivamente. "O compromisso com a Igualdade Racial no Brasil não pode ser o compromisso apenas deste Ministério", defendeu.

 Para comemorar o mês dedicado a Consciência Negra, a Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco irá realizar, na próxima quarta-feira (30), às 14h, um evento para debater sobre Cotas Raciais no Ensino Universitário como Meio Regulatório de Inclusão Social.

O evento, que será realizado na Plenária da OAB-PE, contará com palestras ministradas pela presidente da Comissão de Educação Jurícia, Emília Queiroz, pela presidente da Comissão de Igualdade Racial, Débora Gonçalves, e pela presidente da Comissão de Relações Estudantis, Ste Vilela.

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No final do mês de agosto, a Lei de Cotas completa dez anos e o Fantástico realizou uma reportagem especial sobre o assunto. O economista e ex-BBB Gil do Vigor relembrou a sua entrada na Universidade Federal de Pernambuco, em 2016.

- Eu me formei pela Universidade Federal de Pernambuco, em economia e fui cotista, com muito orgulho, começou.

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Gil então relembrou do seu primeiro dia na faculdade:

- Eu cheguei na universidade 6h. As aulas, seriam 7h30, então cheguei às 6h, que estava extremamente ansioso. (...) Eu não me sentia parte daquilo, eu não achava que eu conseguiria conviver com aquelas pessoas, mas, ao mesmo tempo, eu não permiti que esse sentimento tomasse conta de mim.

Neste mês, Gil embarcou para os Estados Unidos para fazer o seu doutorado na universidade da Califórnia, em Davis:

- Eu preciso acreditar em mim, o quanto a gente tem que falar para as pessoas, para os jovens, que entram na universidade, que são pobres, que são pretos, que passam vários tipos de discriminação dentro da universidade, tanto privada quanto pública, que ele merece estar ali, que ele é bom.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aprovou a adoção obrigatória de cotas em todos os cursos de pós-graduação stricto sensu. A decisão foi tomada hoje (15). Todos os processos de seleção para o mestrado e o doutorado deverão ofertar vagas específicas para pessoas pretas, pardas, indígenas e com deficiência nos seus processos de seleção. 

A decisão atende uma reivindicação da Associação dos Pós-Graduandos (APG). A entidade vinha realizando uma campanha chamando atenção para a importância de medida e organizou um manifesto online que recebeu mais de 600 assinaturas.

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"As políticas de ações afirmativas no Brasil são destinadas à reparação das desigualdades educacionais, fruto de processos discriminatórios estruturais de nossa sociedade, tais como o racismo, a transfobia e o capacitismo. As universidades como espaços educacionais por excelência, protagonistas na produção de políticas públicas, devem aliar suas políticas de desenvolvimento científico e tecnológico ao desenvolvimento social e à inclusão", dizia o texto.

A adoção das cotas foi decidida por unanimidade pelo Conselho de Ensino para Graduados (CEPG), órgão composto por docentes, representantes de estudantes e de servidores técnico-administrativos da UFRJ. Foi aprovada resolução que fixa em pelo menos 20% as vagas para pessoas pretas, pardas e indígenas e 5% para pessoas com deficiência. Os cursos podem, a partir de estudos técnicos, estabelecer percentuais superiores.

A resolução estabelece ainda que os processos seletivos devem reforçar a pontuação das mulheres em situação de parentalidade (mães que tiveram filhos por adoção ou gestação nos últimos cinco anos). As notas de seus currículos deverão ser multiplicadas por um fator de correção entre 1,05 e 1,2. Outro dispositivo fixa que estudantes em situação de hipossuficiência econômica devem ser priorizados na distribuição de bolsas.

"São muitos avanços em relação ao que já ocorria na UFRJ. Outra conquista muito importante foi a criação das comissões de heteroidentificação para as pessoas pretas e pardas. É um processo que já ocorre na graduação e nos concursos públicos da universidade e agora também ocorrerá na pós-graduação", diz Jorge Marçal, doutorando no curso de Educação da UFRJ e secretário-geral da APG.

A APG defendia ainda a garantia obrigatória de vagas para pessoas trans e quilombolas. A resolução deixou essa medida como algo opcional e os cursos poderão adotá-la, desde que condicionada à realização de estudos técnicos. A discussão sobre a obrigatoriedade foi remetida para o Conselho Universitário, órgão deliberativo máximo da UFRJ. Não há prazo para que a pauta seja apreciada. 

Diferente da graduação, não existe uma lei federal sobre ações afirmativas na pós-graduação. Sem nenhuma legislação impositiva, as regras variam de curso para curso e muitos deles não possuem nenhum tipo de reserva de vagas. Segundo um relatório interno da UFRJ, em 2020, apenas 55 dos 132 programas de pós-graduação possuíam algum tipo de cotas. As ações afirmativas eram mais comuns nos cursos de ciências humanas e raras em cursos de ciências exatas.

Com a decisão, a UFRJ se junta a outras universidades federais que já adotam a medida há mais tempo. A reserva de vagas em cursos de mestrado e doutorado também já é realidade nas universidades federais da Bahia (UFBA), do Espírito Santo (UFES), do Piauí (UFPI), de Mato Grosso (UFMT), de Alagoas (UFAL), de Minas Gerais (UFMG), entre outras.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) anunciou a realização de uma audiência pública, agendada para o dia 14 de junho, com a finalidade de debater sobre o cumprimento das cotas destinadas a pessoas com deficiência (PcD) dentro do setor aeroportuário. De acordo com o ministro do órgão, Cláudio Brandão, a pauta é tratada em dois processos de relatoria, que buscam reunir informações pertinentes à instrução e andamento da proposta.

Ainda de acordo com o ministro, o objetivo principal da reunião é encontrar uma solução inclusiva, que leve em consideração, principalmente, o bem-estar das pessoas com deficiências (PcDs). Além de figuras públicas, a audiência será aberta para o público que estiver interessado, sendo realizada às 9h da manhã, de forma presencial e on-line, por meio do link que será disponibilizado para quem se cadastrar neste formulário até o dia 25 de maio.

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Além da participação, o evento abrirá espaço para quem desejar contribuir com discussões e considerações sobre a cota para PcDs. Para isso, será preciso informar o interesse em ser expositor e seguir a orientação de envio do material em caso de apresentação. Além do Ministério do Trabalho, também estarão presentes representantes do Ministério do Trabalho e Previdência, da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e secretarias estaduais e municipais, entre outras entidades.

   Em discussão para a criação de uma nova liga no futebol brasileiro, os clubes da Série B fizeram uma contra proposta aos seis poderosos que já aceitaram os termos colocados na mesa. Sport e Náutico publicaram notas e explicaram o que motivou a ampliação do embate. 

No foco central do debate a questão das divisões das cotas, que segundo diz o comunicado, segue igual ao que é praticado atualmente. “Os termos aceitos em São Paulo por outros 6 clubes perpetuam o abismo que existe hoje, ao manterem a parte igualitária das receitas em 40%, enquanto nos campeonatos mais bem sucedidos este percentual pode chegar a 68% somando todos os direitos domésticos, internacionais e de marketing, caso da Premier League, por exemplo”. 

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Não é aceitável que haja clubes ganhando 6 vezes mais do que outros, enquanto nas melhores Ligas do mundo essa diferença não ultrapassa 3,5 vezes”, continua parte do comunicado. Uma nova reunião deve ser marcada entre os 40 clubes das Séries A e B.

Um homem, que não teve a identidade revelada, utilizou a Sala de Atendimento ao Cidadão, do Ministério Público Federal (MPF), para questionar a legalidade da reserva de vagas para pessoas trans na seleção 2022 para o mestrado interdisciplinar em estudos latino-americano da Universidade Integração Latino-Americana (Unila), localizada no Paraná.

Diante da contestação, o MPT se manifestou, em duas instâncias, favorável à iniciativa. Ao analisar o caso, a procuradora da República, Indira Bolsoni Pinheiro, sentenciou que caberia arquivamento. O entendimento foi homologado, no dia 26 de abril, durante sessão de julgamento realizada pelo Núcleo de Apoio Operacional à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, na 4ª Região.

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A decisão do colegiado foi amparada pela Constituição Federal que estabelece "a política de ações afirmativas para a sobrelevação de desigualdades incrustadas na sociedade brasileira, definida pelo racismo institucional, pela desigualdade, pela não recognição de direitos a minorias e grupos vulneráveis, sejam tais grupos as mulheres, os indígenas, os pretos, os pardos, as pessoas com deficiência, os transgêneros, os quilombolas, as comunidades tradicionais ou qualquer outra minoria vulnerável".

lém disso, o Ministério Público Federal ressaltou que a política de reserva de vagas para pessoas trans é uma iniciativa justificada pela alta vulnerabilidade e "estigmatização a que essa parcela da população está sujeita".

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou à Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que a matrícula do candidato Valdiney Veloso Gouveia, não seja efetivada pelo sistema de cotas. Valdiney, foi aprovado no curso de Engenharia de Produção, na instituição em que é reitor.

Ele possui duas graduações, sendo uma em universidade particular e outra em unidade privada. Além de mestrado, doutorado e pós-doutorado.  

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O MPF considerou a notícia de um candidato de 17 anos, estudante de escola pública do estado da Bahia, que afirmou se sentir prejudicado em consequência da aprovação do reitor como cotista no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2022.  

O ministério solicitou ao reitor que se abstivesse, por ato próprio, de realizar a sua matrícula, o que não foi aceito.  

A Lei 12.7114 prevê a igualdade de oportunidades de acesso ao ensino público superior. Para o MPF, há violação dessa norma quando um candidato que já tem duas formações acadêmicas busca um terceiro curso superior, em detrimento de candidatos que não possuem nenhuma graduação.

O MPF considera, ainda, que o sistema de cotas visa efetivar a igualdade de maneira ampla, não se limitando a mera igualdade formal. Considera, também, que o princípio da moralidade diz respeito à noção de obediência às regras da boa administração, aos princípios da justiça e da equidade, à ideia comum de honestidade, à ética, à boa-fé e à lealdade. 

A recomendação destaca, ainda, que a moralidade é requisito de validade do ato administrativo, sendo que a conduta imoral, à semelhança da conduta ilegal, também pode trazer como consequência a invalidade do respectivo ato, que pode ser decretada pela própria administração (autotutela) ou pelo Poder Judiciário. 

O MPF reforça que o desvio de finalidade pode acarretar, dentro do microssistema da tutela coletiva, a nulidade do ato, nos termos do artigo 2º, alínea “d”, da Lei 4.717/1965 (ação popular).

Reitor teve nomeação cercada de polêmica

O presidente Jair Bolsonaro nomeou, em novembro de 2020, Valdiney Veloso Gouveia (Reitor) e Liana Filgueira Albuquerque (vice-reitora) da chapa 3 “Orgulho de ser UFPB”, que ficaram em 3º lugar no pleito.

A chapa, no entanto, teve uma votação inexpressiva na consulta eleitoral da UFPB, perdendo em todos os segmentos, docente, técnicos administrativo e estudantes; obteve um total de zero voto no Consuni (Conselho Universitário), e só entrou na lista Tríplice à custa de uma liminar. A chapa de Terezinha/Mônica obteve 47 votos e a chapa Isac/Regina, 45 votos no Consuni.

Por lei, é prerrogativa do presidente da República definir os nomeados para o cargo de Reitor das Universidades Federais a partir da lista tríplice encaminhada pelas instituições.

Valdiney teve 106.496 votos, contra 964.518 e 920.013 das duas chapas adversárias.

A Lei nº 12.711, mais conhecida como Lei de Cotas, completa dez anos da sua aprovação em 2022, momento que precisará passar por uma revisão, já que se trata de uma política pública temporária. Apesar de o programa ter promovido significativo avanço na democratização do acesso à universidade por grupos historicamente desfavorecidos, ainda há certa incerteza sobre sua continuação.

De forma mais detalhada, a Lei de Cotas prevê que as instituições federais de educação do país reservem 50% das vagas para estudantes que concluíram o ensino médio em escola pública, dentre as quais metade deve ser destinada para estudantes com renda familiar de até 1,5 salário mínimo.

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Sendo assim, a reserva de vagas por raça é realizada conforme o quantitativo de pessoas pretas, pardas e indígenas, habitantes no estado em que a universidade está localizada, de acordo com os dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o estudante Túlio Batista, de 24 anos, que ingressou em história na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) por meio do sistema de cotas raciais, a lei foi um divisor de águas na sua vida e na da sua família. “Antes, o máximo que alguém da periferia poderia almejar era concluir o ensino médio. Meus pais, por exemplo, só chegaram até o ensino fundamental e meus irmãos ao médio. Eu fui o primeiro da família a cursar o ensino superior”, explica.

Em relação às propostas de revogação dessa política, o estudante se mostra firmemente contrário. “Precisamos ter em vista que as cotas existem devido às desigualdades sociais, econômicas e raciais que foram reproduzidas através do racismo estrutural, do capitalismo, entre outros. Essas desigualdades não foram sanadas e se as cotas raciais acabarem, a educação superior voltará a ser destinada a poucos”, afirma.

Além do aumento de pessoas não brancas nas universidades, Túlio destaca outro ponto muito importante, que é a descentralização dos estudos acadêmicos do viés europeu, já que com a presença de estudantes diversos em sala de aula, os professores e o corpo acadêmico com um todo precisaram rever quais conteúdos são transmitidos.

“A medida que negros, indígenas e pobres entram na universidade eles levam com eles debates pertinentes aos seus grupos. Dessa forma, a academia passou nesses últimos anos por questionamentos de suas bases, seus autores e suas percepções. A discussão sobre raça, etnia, gênero, sexualidade tem ganhado mais força e essa força também tem relação com o ingresso desses estudantes. Assim, as cotas mudam além da vida individual, mas também o coletivo”, conclui o estudante.

Discussão sobre igualdade

Um dos principais argumentos que divide opiniões a respeito da lei de cotas é sobre o princípio da igualdade entre todos os brasileiros, estabelecido na Constituição de 1988, que nega a promoção de qualquer diferença por meio de “raça” ou “cor”. Essa premissa é usada pela deputada, Dayane Pimentel (PSL-BA), que propôs a  PL 1.531/19, buscando extinguir o critério racial da Lei de Cotas.

Em entrevista concedida Senado Federal, na internet, ela explica sua posição: “Se os brasileiros devem ser tratados com igualdade jurídica, pretos, pardos e indígenas não deveriam ser destinatários de políticas públicas que criam, artificialmente, divisões entre brasileiros, com potencialidade de criar indevidamente conflitos sociais desnecessários.”

A deputada sugere, então, que sejam mantidas apenas as cotas para pessoas com deficiência e candidatos de baixa renda. Além dela, outros deputados, como Kim Kataguiri (DEM-SP), com o projeto de lei  PL 4125/2021, demonstram-se contrários à política, de forma que diante da revisão que ocorre neste ano, abrem-se caminhos para uma possível revogação da lei.

Na oposição desse pensamento, a professora de antropologia da UFPE, Elisa Pankararu, que pertencente à etnia indígena, abordou, em entrevista ao LeiaJá, uma releitura histórica para trazer os argumentos que baseiam a política de cotas:

“Precisamos buscar fatores históricos. Desde 1500, os povos indígenas que foram banidos de seus territórios sagrados, os irmãos negros, que foram trazidos da África para a escravização, vão constituindo uma história marcada pela desigualdade e pelo afastamento de direitos que deveriam ser para todos. Se criou um sistema que beneficia uma classe e exclui essas comunidades tradicionais.”

A professora citou que o incentivo ou a crítica a Lei de Cotas Raciais vai depender do lugar social de quem fala: “O sistema de cotas não irá promover desigualdade, do contrário, irá romper com essa estrutura que viola direitos, então é importante observar de onde vem essa fala, quem é que diz que cotas raciais promove desigualdades e avaliar quais interesses políticos, econômicos essas pessoas sustentam.”

De acordo com o Censo da Educação Superior, entre 2010 e 2017 houve um aumento de 842% de alunos indígenas em cursos de ensino superior. Já em relação a estudantes negros e pardos, o levantamento do IBGE informa que entre 2010 e 2019 o crescimento foi de 400% nas universidades.

Para Elisa Pankararu, a cota vem para corrigir a desigualdade, e se não corrigir, ao  menos dar a oportunidade para que as pessoas historicamente e estruturalmente desfavorecidas possam ter acesso a uma educação de qualidade, o que é uma etapa indispensável para a mudança do quadro de desigualdade social ao qual o Brasil se encontra.

“Se houvesse uma estrutura onde a igualdade fosse ao menos equilibrada, então não seria necessário o sistema de cotas, o que não é, não há equidade. Aplicar a política de cotas tem um resposta visível no incentivo para que pessoas não brancas e de baixa renda possam sonhar em ter carreiras, profissões e trilhar uma trajetória de conquistas", conclui a professora

Futuros debates

Esse momento de revisão da lei abre um debate entre parlamentares de diversas posições políticas, Como a Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, que desenvolveu um relatório para solicitar que a revisão seja adiada em 50 anos. Enquanto isso, críticos à ação afirmativa alegam sua contradição em relação ao princípio da isonomia, de que todos devem ser iguais diante da lei.

Para Renato Monteiro Athias, mestre em etnologia e coordenador no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade da UFPE, é preciso que as universidades e alunos se engajem no assunto:

“Acredito que a experiência da UFPE já permite a afirmação da necessidade de ter essas políticas afirmativas bem desenvolvidas no âmbito das universidades e que sobretudo as populações étnicas, possam entender a necessidade de se colocar e se pronunciar diante dessas revisões", finaliza.

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