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O mercado de trabalho, cada vez mais concorrido, exige profissionais qualificados, com ampla experiência e produtivos. O desemprego é uma preocupação presente em todas as faixas etárias. Entretanto, para aqueles com idade acima dos 50 anos, o medo de ficar de fora é ainda maior com a pandemia da covid-19.
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De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 27 de maio, a taxa de desocupação subiu para 14,7% no primeiro trimestre de 2021. No Pará, ela teve uma alta de 2,1 pontos percentuais, se comparada ao último trimestre de 2020.
No Brasil, em comparação aos três últimos meses do ano de 2020, a taxa de desocupação de pessoas entre 40 a 59 anos subiu de 9,0% para 9,7% em janeiro, fevereiro e março de 2021. Já a taxa de desocupação daqueles que possuem 60 anos ou mais, aumentou de 5,0% para 5,7% no primeiro trimestre desse ano.
Mestre em Economia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e professor da UNAMA - Universidade da Amazônia, João Cláudio Arroyo aponta que o principal fator para o desemprego de pessoas nessa faixa etária durante a pandemia é a redução de oportunidades de trabalho em função da queda do consumo interno. Ele também cita outras razões, como a política de aperto na renda da população com a Reforma da Previdência e a diminuição do poder de compra do salário mínimo.
“Sem consumo, menos investimentos, menos emprego. O segundo fator é o preconceito do mercado que prioriza a contratação dos jovens com experiência, mais dispostos a qualquer remuneração. Além da cultura de não valorização da experiência e do conhecimento”, observa.
A falta de pessoas mais velhas no mercado de trabalho causa impactos na economia. Segundo Arroyo, trabalhadores com mais experiência e conhecimento tendem a ter melhor produtividade. “Se seu nível salarial for acima, também ajuda a economia, aquecendo consumo. Salário não é só custo, é também receita”, explica.
A procura por empregos nessa idade pode ser ainda mais difícil, e muito se deve ao preconceito que algumas pessoas têm de enfrentar. “A maior barreira é a ideia de que juventude é sinônimo de produtividade. Nem sempre. Cada caso é um caso”, afirma Arroyo.
O economista fala sobre a importância da oferta de vagas para pessoas mais velhas e de mantê-las empregadas. “São pessoas que tendem a ser mais estáveis e a ter maior número de dependentes. O desemprego nesta faixa etária afeta as famílias e desagrega a sociedade”, diz.
A Reforma da Previdência não deixa de ser outro agravante. De acordo com João Cláudio Arroyo, ela também é a responsável pelo aumento de dificuldades de acesso ao que deveria ser um direito. “Sem este amparo, além da desagregação familiar, há redução da renda disponível e com isso menos consumo, menos investimentos, menos empregos para todas as faixas de idade”, complementa.
O economista afirma que, para driblar o preconceito que existe em torno de pessoas mais velhas e para combater a exclusão desse grupo, é preciso uma campanha pela valorização da experiência e do conhecimento. “Segundo, seria possível estabelecer política de incentivos para as empresas que não discriminem esta faixa etária”, acrescenta.
Saúde em perigo
O desemprego é responsável por afetar a saúde mental e emocional das pessoas, independentemente da idade. Entretanto, no caso de pessoas mais velhas, a perda da autonomia financeira, somada às comorbidades físicas, gera angústia existencial no senso de importância no mundo e para a família, como explica o psicólogo Glauber Paiva Reis, que está cursando especialização em Gerontologia pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.
Glauber também comenta outros aspectos que podem causar impactos no psicológico dos que pertencem a esse grupo. “A perda de algumas capacidades físicas e cognitivas por falta dos estímulos cotidianos no trabalho, e afastamento do ciclo social rotineiro”, acrescenta.
O psicólogo afirma que o desemprego afeta diretamente a pessoa idosa, pois ainda é comum em vários círculos sociais que essa pessoa seja a provedora de si e também da família dela. Ele explica que estar empregado possibilita, além das conexões sociais, sentimento de pertencimento e de autonomia. “A falta disso eventualmente pode vir a desencadear casos de depressão, rebaixamento da autoestima, sentimento de insatisfação com a vida e dificuldades de relacionamento familiar”, destaca.
Ao ser questionado por que ainda há um estigma relacionado ao envelhecimento, o psicólogo responde que a causa disso se dá por fatores históricos e que esses estereótipos são reforçados até hoje, associando saúde à juventude e doenças à velhice. “Somado também a questões estéticas e da moda, que não adaptam o padrão de beleza, assim como não reconhecem adequadamente fatores de reconhecimento de potenciais exercidos na velhice”, aponta Glauber.
O psicólogo aponta algumas medidas para enfrentar a discriminação, como a inclusão adequada de pessoas com mais idade no mercado de trabalho, mudança do paradigma estético e também a participação política e comunitária dos idosos em relação às mudanças estruturais que venham a beneficiar a qualidade de vida urbana e rural deles.
Glauber também fala sobre a importância de desmistificar a pessoa idosa como "ultrapassada ou doente" e considera esse um grande avanço para a contribuição social. Além disso, ele afirma que unir jovens, adultos e idosos no mercado de trabalho seria um posicionamento relevante. “Esta união levaria um perspectiva de soma de experiência em momentos diferentes da vida. Desconstruindo olhares e deixando de lado exclusão e preconceito”, conclui.
Especialista sem emprego
Alonso Carvalho dos Santos, 51 anos, é formado em Administração, especialista em Gestão com Pessoas pelo Centro Universitário do Pará (Cesupa) e está sem emprego desde janeiro desse ano.
A pandemia foi responsável pelo fechamento de diversos estabelecimentos e no restaurante onde Alonso trabalhava, em Belém, não foi diferente. Ele conta que durante o segundo lockdown decretado pelo Governo do Estado, em março de 2021, o local não conseguiu se manter e precisou fechar as portas não muito tempo após demissão dele.
Alonso descreve a frustração por perder o trabalho e a tensão por ter que enfrentar os desafios diários do mercado, por natureza já competitivo. “Vem uma situação dessas e pelo que está se vendo na CPI da Covid (Comissão Parlamentar de Inquérito), ela poderia ter sido evitada. A segunda onda poderia ter sido bem menor, então é frustrante e desmotivador. Você fica sem chão”, ele diz.
O administrador fala sobre as dificuldades de arranjar trabalho após os 50 e expõe que isso acontece porque as empresas costumam achar que aquela pessoa tem vícios, que já não tem motivação, capacidade física e de saúde para encarar o dia a dia. Ou seja, a tendência é dar prioridade a pessoas novas, que podem ser moldadas por essas empresas.
Alonso acrescenta que as vagas que aparecem são bem especificas e que a competição é muito grande. “As empresas querem pessoas entre 25 e 35 anos. Antes disso você não tem experiência, depois disso você está cheio de vícios. É muito complicado arranjar emprego fora dessa faixa etária”, afirma.
O administrador ainda chama atenção para a necessidade de o país entender que a população está envelhecendo. Em contrapartida, hoje em dia, observa, as famílias têm menos filhos e isso significa menos pessoas com carteira assinada para manter a previdência e a aposentadoria dos demais.
“O mercado está muito mais exigente, a pessoa tem que buscar uma qualificação maior, existem muitos empregos informais, então com o envelhecimento da população não tem jeito. A pessoa tem que se aposentar com mais idade, tem que trabalhar por mais tempo, tem que cuidar mais da saúde”, complementa Alonso.
Ele ainda afirma que por uma questão de sobrevivência do Brasil, as pessoas mais idosas precisam trabalhar. “Isso eu entendo ser uma função direta do governo. Os Estados Unidos, outros países da Europa estão chamando os mais velhos de volta para o mercado de trabalho porque está faltando mão de obra. Possibilidade de trabalhar existe, o que falta é mudar a mentalidade das empresas”, salienta.
Em relação às alternativas diante desse cenário, Alonso cita o empreendedorismo. Ele explica que não é um caminho fácil, já que nem todo mundo que tem esse perfil, mas que é preciso buscar as ferramentas existentes, buscar trabalhar e sustentar a família. Além disso, o administrador critica a falta de oportunidades de trabalho e de planos para manter o emprego dos mais velhos.
“Repito, se o país está envelhecendo e as famílias têm menos filhos, aonde nós vamos chegar? É muito triste e frustrante chegar aos 50 anos de idade, olhar para frente e não ter esperança. Não tem mais sonhos, por que com o que você sonha nessa idade? Você começa a contar o tempo para se aposentar? Cada vez mais você vai se aposentar mais velho, então é se aposentar e morrer?”, questiona.
Alonso pondera sobre as dificuldades que são acentuadas para quem tem mais idade e que não teve as melhores oportunidades de ensino e de formação no nível superior. “Para quem estudou, ainda tem capacidade de disputar o mercado de trabalho. E o que não estudou? É mais complicado ainda.”
O administrador aborda a cultura do desrespeito aos mais velhos que existe no país e que, consequentemente, acaba sendo levada para dentro das empresas. “No início da pandemia, diziam: 'Ah, está matando idosos? Então tranquilo. O idoso já viveu, já fez o que tinha que fazer, idoso não tem direito'. E a área da saúde? O que ela dá para o idoso? Cultura só muda com educação. Se não tem educação, não tem cultura e aí é mais complexo ainda”, conclui.
Por Isabella Cordeiro.