A pandemia da Covid-19 tem afetado empresas e trabalhadores em todo o Brasil. A solução encontrada por quem tenta fugir da crise econômica é se reinventar e, até mesmo, apostar em um novo empreendimento. É o caso, por exemplo, do músico José Carlos Pereira, de 32 anos, que viu as contas chegarem, o faturamento cair e as festas, que eram sua fonte de renda no fim do mês, serem canceladas por conta das medidas restritivas contra o vírus.
Para driblar a crise, a saída foi colocar em prática sua ideia de abrir um pequeno negócio. “Quando veio a pandemia, fui impulsionado diretamente para abrir o Piva’s Grill”, diz. A hamburgueria, que funciona como delivery, surgiu em julho do ano passado depois de uma “brincadeira” que deu certo. “Já tinha escolhido os pratos que iria servir, e também os hambúrgueres de parrilla, a carne, o molho, tudo, só faltava o pão. Fiz uma brincadeira com meus amigos. Organizei uma hamburgada e cobrei R$ 10 por hambúrguer com a intenção de vender 20 unidades, acabei vendendo 80. Foi uma loucura, mas deu certo”, conta José Carlos.
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O Piva’s Grill, localizado na Iputinga, Zona Oeste do Recife, está dando bons lucros. De acordo com José Carlos, o novo negócio está crescendo e pode ser melhorado em breve. “A princípio, meus planos é aperfeiçoar o delivery, pois virou uma realidade em Recife. Para se ter um bom serviço de entrega, eu preciso de equipamentos de qualidade, bons funcionários treinados e otimizar tempo. O tempo é a chave do delivery”, afirma.
Depois de melhorar o serviço, o dono da hamburgueria pretende ser criativo e abrir um canal no YouTube para apresentar os pratos que são feitos. Cada prato será provado por um amigo da música convidado. Em seguida, ele pretende abrir a primeira unidade para receber pessoas pós-pandemia. “Vai ser o Piva’s Grill (laje)”, promete.
O Piva’s Grill, criado do desejo e da necessidade do músico de se manter ativo em meio à crise, acompanha as 98,1 mil micro e pequenas empresas que foram abertas em todo o País no primeiro bimestre de 2021. O número, levantado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base em dados da Receita Federal, ainda foi 1,7% abaixo do registrado no mesmo período de 2020.
Na visão de Luiz Nogueira, analista do Sebrae, essa quantidade de negócios abertos está relacionada à necessidade das pessoas de buscarem se reinventar para ter uma renda no fim de mês. “Com a retração da economia e do emprego formal, muitas pessoas passaram a empreender por conta própria, e para poderem atuar no mercado sem restrições, optaram por fazer a formalização do negócio”, explica.
Neste cenário competitivo, inúmeras empresas vêm buscando se reinventar para alcançar o consumidor e manter ativo o negócio. Como exemplo está a loja pernambucana Let it Beat, situada no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, que tem apostado no uso da tecnologia e redes sociais para manter ativa a empresa. Hoje, boa parte do faturamento vem das vendas feitas pelo WhatsApp ou pelo e-commerce.
Let it Beat, situada no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. Foto: Divulgação
A loja de roupas, impactada pela crise, investiu nas redes sociais como ferramenta para se manter próxima aos clientes e captar novos compradores. O empreendimento, além de divulgar novos lançamentos, posta em seu feed no Instagram, que conta com mais de 14 mil seguidores, fotos dos seus clientes reais usando peças de roupas, muitas delas originais e exclusivas.
Cristina Aline, uma das proprietárias da empresa, diz que essa ação ajuda a estreitar laços com possíveis consumidores. “Quando o cliente se vê em uma postagem nossa ele fica feliz, porque se sente valorizado. Além disso, os outros seguidores se sentem representados por essas postagens que buscam trazer pessoas comuns”, afirma, conforme sua assessoria de comunicação.
A Let it Beat também aposta em influenciadoras digitais para alcançar pessoas que tenham um perfil parecido com os dos clientes da loja. De acordo com o analista do Sebrae, muitos empreendedores que estão no processo de colocar em prática uma ideia de negócio, estão buscando identificar oportunidades, principalmente no meio digital. Ela ainda aponta que a crise pode ajudar o empreendedor e as micro e pequenas empresas.“A identificação de uma oportunidade no mercado e a projeção da mesma enquanto negócio será o indicador fundamental para este start”, afirma.
Qual é o melhor momento para abrir um negócio?
Abrir um empreendimento exige muito trabalho. Para alguns brasileiros, pode até ser um risco neste momento. No entanto, o economista do Conselho Regional de Economia de Pernambuco (Corecon), André Morais, aponta que mesmo com a crise econômica causada pela pandemia, o número de empresas abertas no Brasil superam as fechadas.
“As crises podem gerar riscos, mas também geram oportunidades”, diz. Entre iniciar um negócio por oportunidade ou necessidade, o que irá garantir o sucesso e o bom funcionamento é o comprometimento do empreendedor. “Por oportunidade ou por necessidade, o ideal é que o empreendedor tenha um plano de negócios bem definido para minimizar as chances de fracasso. Abrir um negócio exige objetivos claros, capital de abertura, análise de mercado e concorrência, e analisar a viabilidade de tudo que a empresa irá oferecer. Esses são pontos cruciais para que a sua ideia se transforme em um negócio de sucesso”, elenca.
Em um mercado competitivo, o empreendedor tende a enfrentar muitos desafios, o mais importante, segundo o economista, é “estar preparado para tudo”. Pensando nisso, André Morais, em entrevista ao LeiaJá, lista as cinco "dicas de ouro" para quem deseja começar um empreendimento com o pé direito neste período pandêmico. Confira:
1 - Abra um negócio por afinidade: “Primeiramente, você precisa ter amor pelo que faz. Já imaginou dedicar a sua vida a algo que você não gosta de fazer? Não faz sentido”.
2 - Tenha um plano de negócios bem definido: “Ele vai te ajudar a trilhar o que for previamente definido. Mas não precisa ser rígido, o empreendedor pode precisar ajustar ao longo do caminho”.
3 - Controle os gastos do negócio: “Mantenha um controle rígido do seu fluxo de caixa: controle suas receitas e despesas. Em tempos instáveis economicamente, tente, na medida do possível, ser mais conservador com os gastos, mantendo o negócio mais enxuto”.
4 - Tenha uma reserva para emergências: “Tenha sempre uma reserva de emergência: a pandemia nos ensinou que, mais do que nunca, imprevistos acontecem e é preciso estar preparados para eles”.
5 - Seja um empreendedor atualizado sobre o mercado: “Mantenha-se sempre atualizado. Fique de olho na concorrência e nas mudanças do mercado”.