Exaustão emocional, despersonalização e insatisfação intensa com o trabalho são alguns sintomas ligados à síndrome de burnout, que desde 1º de janeiro de 2022 passou a ser considerada doença ocupacional. Nem sempre o diagnóstico é fácil. Muitas vezes, os sintomas são confundidos com depressão ou ansiedade. Por isso, é necessário a opinião de um especialista.
"[a síndrome de burnout] é produzida a partir da relação entre a subjetividade da pessoa e os fatores estressores recorrentes do ambiente laboral, além de também ser atravessado pelas construções culturais estabelecidas coletivamente sobre a temática laboral", explica a psicóloga Bianca Barbosa Fonsêca.
##RECOMENDA##
Sem conhecimento do burnout, a jornalista Marta* só tomou conhecimento do diagnóstico durante uma sessão de terapia. "Eu já estava com a síndrome há algum tempo e não sabia. Ao descobrir, já estava com os sintomas mais acentuados como: exaustão física e mental, sentia muita dor na cabeça e na nuca, insônia, desânimo, sentimentos de fracasso, insegurança, derrota e incompetência, dificuldade para me concentrar e pensamentos negativos", relatou à reportagem.
Com sintomas mais atenuados, a jornalista, além do tratamento terapêutico, procurou tratamento psiquiátrico e iniciou também o medicamentoso para sanar os sintomas. "Também procurei tratamento espiritual e tive que me afastar do trabalho para me tratar", ressalta.
Os reflexos da síndrome ainda marcam o vida pessoal e profissional de Marta*. Ao LeiaJá, ela aponta que tem dificuldade de concentração, ansiedade e dificuldade de se readaptar ao ambiente de trabalho, onde tenha que atuar sob pressão. “ Tenho muito receio de passar por tudo isso novamente e, por isso, inconscientemente, tenho me sabotado. Acredito na minha capacidade e competência na atuação como profissional de comunicação, mas sempre me cobro muito. Tudo que faço acho que tem que ter a aprovação e aval de uma ou duas pessoas, mesmo que eu não enxergue nenhum defeito ou falha”, expõe.
O ambiente de trabalho
Levar essa questão, provocada, muitas vezes, pelo ambiente corporativo até os gestores nem sempre é uma tarefa fácil. Falar sobre saúde mental, para alguns trabalhadores, gera medo, vergonha e receio de uma possível demissão.
“A saúde mental ainda é um tema tabu em muitas organizações, mas creio que, para mudar, a honestidade deve vir em primeiro lugar. O colaborador precisa se sentir confortável em ser honesto. E isso vem com a construção de um ambiente de trabalho bom e saudável”, aponta Gabriel Kessler, CGO da Diolog.
O medo, de acordo com Bianca Fonsêca, é um meio de analisar a situação e entender a melhor forma como se dará o diálogo entre o trabalhador e o gestor. "Após esse momento, poderá se entender singularmente como o profissional melhor pode movimentar-se para buscar o suporte necessário", salienta.
Questionados sobre a responsabilidade da empresa diante de colaboradores diagnosticados com síndrome de burnout, os especialista reforçam que os trabalhadores e trabalhadores devem ser priorizados pelas instituições e, esta última, responsabilizar-se ofertando suporte e mudança.
"Os colaboradores devem ser a prioridade das organizações. Tendo isso em consideração, é fundamental entender quais as razões que levaram esse colaborador a ter uma síndrome como o burnout (...) muitos dos trabalhadores tem de pagar condução, por horas, para chegar ao trabalho, podem ter problemas familiares, dificuldades externas, algum tipo de transtorno no ambiente laboral pode ser a gota d'água para que o cansaço e o estresse se transformem em burnout. É fundamental, nesse contexto, que as empresas façam uma análise concreta da situação de cada colaborador e não uma análise transversal", argumenta Kessler.
Na análise da psicóloga, também se faz necessário responsabilizar a esfera política e coletiva "para perceber que o burnout é uma das expressões subjetivas em resposta às práticas neoliberais estabelecidas como a forma hegemônica de organização do trabalho".
Diante do diagnóstico, qual deve ser a postura da empresa?
Com o diagnóstico de síndrome de burnout e o diálogo estebelecido com a liderança da empresa é esperado, como aponta Bianca Fonsêca , que os primeiro cuidados adotados sejam o apoio institucionalizado à saúde do colaborador pelo tempo que for necessário, como também, "a criação de um projeto de reestruturação das normas e cultura da empresa para a prevenção e redução de danos ligados ao burnout".
O CGO da Diolog pontua, como estratégia a ser adotada pelo ambiente corporativo: "afastamento temporário, acompanhar o colaborador de perto, oferecer tratamento profissional, reavaliar atividades, entre outros".
Em caso de afastamento das atividade laborais, o trabalhador deve ser mantido no quadro de funcionários, ou seja, a demissão não deve ser cogitada. "Esse é um momento crucial para a empresa mostrar que apoia o colaborador em todos os momentos, inclusive nos mais delicados", alerta Gabriel Kessler.