As ideias contrárias de alguns líderes do PSB, principalmente em Pernambuco, onde foi demonstrada insatisfação e até a surpresa dos militantes do PPS, entre outros motivos, oficializaram de vez, a suspensão da fusão das duas siglas. Em entrevista divulgada no site do PSB, o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira confirma a decisão e aproveita para demonstrar o anseio dos socialistas disputarem as eleições municipais de 2016 em 17 capitais brasileiras.
De acordo com Siqueira, um dos motivos foram algumas restrições impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Ambas as instituições partidárias estão reavaliando a possibilidade de fusão, em função de circunstâncias próprias à dinâmica política. Pelo lado do PSB, um primeiro ponto que foi discutido, e que impacta de forma decisiva a agenda que se imaginou inicialmente, está relacionado a uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, que prevê que a fusão não cria um novo partido”, confirmou.
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Detalhando a normativa, o líder nacional pontuou que o PSB poderia se prejudicar com a fusão. “Tal apreciação do Tribunal cria um problema relevante, porque estabeleceria uma janela de trinta dias na qual se admitiria que parlamentares eleitos em certames proporcionais deixassem as agremiações partidárias sem perda de mandato, não possibilitando movimento no sentido contrário, ou seja, o ingresso de membros no PSB que viria a resultar da fusão. Aqueles que nos apresentaram essa tese observaram que o PSB se sujeitaria a uma espécie de “ataque especulativo” no período de trinta dias, o que poderia tornar incerta uma das vantagens da fusão, que se relaciona ao crescimento de nossa bancada”, destrinchou.
Ainda justificando a suspensão da junção, Siqueira relacionou a decisão com algumas decisões sobre a reforma política e deixou claro que o assunto pode ser retomado em 2017. “Outro evento que tem grande incidência sobre a agenda da fusão está relacionado de forma direta ao andamento da reforma política no Congresso Nacional. Como todos sabem, o fim das coligações proporcionais, que era dado por certo, não se viabilizou. Desse modo, PSB e PPS podem unir esforços com vistas às próximas eleições e amadurecer a ideia de fusão em 2017”, sugeriu, pontuando também os congressos partidários. “Há, por fim, um terceiro elemento que se deve considerar. O tempo em que se imaginou processar a fusão, com congressos partidários previstos para 20/06 próximo, foi de fato pequeno para permitir a organização dos partidos em nível estadual. Ainda que houvesse uma maioria de estados em que existia consenso quanto àquilo que seria o cenário resultante da fusão, essa não era uma situação unânime. Como o cenário criado pela reversão da tese de fim das coligações proporcionais nos faculta um outro horizonte de tempo, não haveria porque incorrer em tensões desnecessárias no âmbito estadual”, esclareceu.
Questionado sobre a possível descaracterização do PSB caso se funda ao PPS, o socialista rebateu a especulação. “Eu particularmente vejo nesse raciocínio uma de duas possibilidades, ou seja, ignorância ou má fé. Abordando inicialmente a primeira alternativa, todos aqueles que conhecem elementarmente a história política do Brasil sabem que tanto PSB, quanto o Partido Comunista Brasileiro, que veio a transformar-se no Partido Popular Socialista – PPS, têm um enorme histórico de lutas, ao longo de toda a história republicana, em prol do das causas populares e de transformações sociais”, defendeu, citando a trajetória política de ambas as instituições.
Outro assunto abordado pelo presidente do PSB foram às denúncias feitas pelo ex-governador Eduardo Campos em relação a um movimento pendular da política, em que se alternam PT e PSDB. “O Governador Eduardo Campos tinha uma leitura muito apurada do Brasil e da conjuntura política mundial. Ainda que não tivesse tido tempo para teorizar suas percepções, sua prática política é inequívoca. Nesse sentido, a ruptura com o Governo da presidente Dilma é cristalina e representou a compreensão de que o projeto popular que o PT liderou havia sido capturado pelas forças conservadoras”, relembrou, comentando ainda sobre a disputa eleitoral de 2014. “Eduardo Campos se preparava para ser uma alternativa a essa alternância conservadora que estabeleceram entre si PSDB e PT, alinhando-se efetivamente com as causas populares, porque sabia que na lógica bipartidária as diferenças, ainda que existentes, não eram suficientes para promover transformações sociais que se adequassem minimamente às expectativas e anseios populares”, analisou.
Defendendo a atuação do PSB e do PPS e alegando estarem na proa de um movimento de vanguarda na esquerda brasileira, o socialista garantiu que o PSB não tem medo de perder o poder. “Como nós do PSB não temos medo de perder o poder – porque nosso partido não é pensado para se perpetuar no poder, aos moldes das filiações ideológicas de partido único, ou desse bipartidarismo hegemônico – estamos dispostos a perseguir novos alvos políticos, experimentar novos arranjos, desde que esses tenham por referência os interesses populares”, frisou reforçando em seguida que às criticas feitas sobre a fusão com o PPS são equivocadas e desalinhadas.
Carlos Siqueira garantiu que a possível junção das duas siglas não trouxe problemas e que às críticas foram amistosas. “Bem ao contrário, como Presidente do PSB, fiquei extremamente feliz ao ver que aqueles que se opuseram à tese da fusão o tenham feito com lisura e de forma extremamente amistosa, sempre com o propósito de contribuir para com o debate interno. Essa forma de conduzir as coisas demonstra não apenas nossa maturidade para discutir questões internas com amplas repercussões para o Brasil, como também evidencia uma preocupação salutar com a unidade partidária”, avaliou.
Visando ampliar as lideranças municipais com as eleições de 2016, o presidente nacional revelou que uma das estratégias do partido é lançar candidaturas em várias capitais brasileiras. “Como uma indicação preliminar do que vem à frente, posso adiantar que o primeiro grande desafio que nos propusemos foi o de consolidar a expectativa muito favorável que temos, em relação às eleições municipais. Nesse sentido, vamos ter candidaturas competitivas nas três principais capitais do País – Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo –, o mesmo ocorrendo em Recife, Fortaleza, Curitiba, Aracaju, João Pessoa, Porto Velho, São Luiz, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá, Palmas, Macapá, Manaus, além de Campinas - SP, cidade à qual atribuo uma importância similar à de capital estadual”, adiantou Siqueira.