O presidente Evo Morales derrotou o opositor Carlos Mesa no primeiro turno das eleições realizadas no domingo na Bolívia, segundo resultados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) divulgados nesta quinta-feira (24), após a apuração de 99,81% dos votos.
De acordo com o site do TSE, Morales obteve 47,06% dos votos, contra 36,52% para Mesa, o que garante sua reeleição. Os números incluem os votos válidos dos eleitores na Bolívia e dos bolivianos disseminados em 33 países do mundo.
Morales já tinha se declarado vencedor das eleições em entrevista coletiva, mas admitiu a possibilidade de disputar um segundo turno, caso o resultado final do TSE assim o determinasse, o que finalmente não ocorreu.
O resultado confirmado pelo TSE já era seriamente questionado por diversos setores bolivianos, que paralisaram várias cidades do país. Uma aliança opositora formada em torno de Carlos Mesa exige a convocação "imediata" de um segundo turno eleitoral.
A chamada Coordenação de Defesa da Democracia também convocou os cidadãos e outras lideranças "a se somar" à causa e manter a mobilização pacífica "até se conseguir o respeito à vontade popular".
O grupo é integrado pelo governador de Santa Cruz, Rubén Costas, o candidato de direita Óscar Ortiz, o empresário Samuel Doria Medina, líder de Unidade Nacional (UN, centro-direita), Fernando Camacho, executivo do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, da direita radical, o ex-presidentes Jorge Quiroga (direita) e Waldo Albarracín, líder da plataforma civil Conade (centro esquerda).
As denúncias de fraude surgiram após um primeiro resultado do sistema de apuração rápida (TREP), sobre 84% dos votos, que indicava um segundo turno entre Morales e Mesa. Após a divulgação destes números, o sistema foi paralisado durante várias horas e retornou indicando uma vitória direta do presidente.
Na quarta, os observadores eleitorais da OEA defenderam a realização de um segundo turno diante das diversas irregularidades no processo.
"Devido ao contexto e às problemáticas evidenciadas neste processo eleitoral, continuaria sendo uma opção melhor convocar um segundo turno", disse o diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, Gerardo Icaza.
- Pressão internacional -
Também nesta quinta, Brasil, Estados Unidos, Argentina e Colômbia defenderam a realização de um segundo turno caso a OEA não consiga ratificar os resultados da votação de domingo passado.
No caso da Missão de Observação Eleitoral da OEA "não estar em condições de verificar os resultados do primeiro turno, apelamos ao governo da Bolívia a restaurar a credibilidade de seu sistema eleitoral através da convocação de um segundo turno eleitoral", destaca um comunicado conjunto.
Os quatro países declararam que estão "profundamente preocupados com as anomalias" nas eleições de 20 de outubro, e destacaram que o segundo turno deve ser "livre, justo e transparente".
"Argentina, Brasil, Colômbia e Estados Unidos, junto à comunidade democrática internacional, só reconhecerão resultados que reflitam realmente a vontade do povo boliviano".
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse que a Bolívia deve aguardar a conclusão de uma auditoria do bloco para declarar os resultados, e destacou que foi o próprio Morales que solicitou - por telefone - a verificação do processo.
Almagro acrescentou que a secretaria-geral da OEA concordou com o pedido na terça-feira, depois que o chanceler boliviano, Diego Pary, emitiu uma solicitação para "verificar a transparência e legitimidade" do processo.
"A secretaria-geral entende que, se o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) convida essa organização a realizar trabalhos para verificar a legitimidade desses resultados, esses resultados não deverão ser considerados legítimos até que o processo de auditoria solicitado seja concluído", afirmou Almagro.
União Europeia (UE) e OEA defendem um segundo turno para restabelecer a confiança no processo eleitoral.
"A União Europeia compartilha plenamente da avaliação da OEA no sentido de que as autoridades bolivianas deveriam concluir o processo de contagem em curso e que a melhor opção seria realizar um segundo turno para restabelecer a confiança e assegurar o respeito pleno à escolha democrática do povo boliviano", declarou em um comunicado a porta-voz da diplomacia europeia, Maja Kocijancic, distribuído em La Paz.
Bruxelas lembrou que o informe preliminar da missão eleitoral da OEA identificou "falhas importantes no processo".