Candidato à presidência da Câmara Federal, Júlio Delgado (PSB-MG) está percorrendo o Brasil para reforçar e conquistar alianças políticas e partidárias, até o 1° de fevereiro, dia de eleição na Casa. Mesmo sem agenda para visitar os correligionários, em Pernambuco, o deputado federal concedeu entrevista exclusiva para a equipe do Portal LeiaJá, durante esta semana.
Entre os assuntos abordados, o parlamentar destacou as estratégias da campanha; falou sobre o incidente aéreo que sofreu em Porto Alegre, o qual lembrou Eduardo Campos; negou apoio a Chinaglia e afirmou que não cogita a possibilidade de não concorrer à liderança no segundo turno.
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Evitando falar dos opositores, o candidato, que concorre à mesa diretora, com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), enfatizou que o seu partido é o único que defende a 'independência verdadeira'. Até o momento, Delgado conta com o apoio do PSDB, PPS, PDB e PV, o que resulta na expectativa de 106 votos, dos 513 parlamentares da Casa.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
LeiaJá (LJ): Além dos possíveis 106 votos, dos partidos que o apoiam, quais as expectativas para o primeiro e segundo turno?
Júlio Delgado (PSB-RJ): O nosso bloco dá essa estimativa. Entretanto, trabalhamos com a realidade da perspectiva, como todos os outros candidatos. Dessa forma, a expectativa é de que possamos abrir caminhos em outros partidos e de outros blocos também. Vale ressaltar que os concorrentes não pensam que terão, apenas, os votos dos partidos que os apoiam. Afinal, nenhum isoladamente faz a maioria. Então, estamos contabilizando os votos necessários para que cheguemos ao segundo turno. E já no segundo turno, esperamos contar com o apoio daqueles que ficarem.
LJ: Sobre o segundo turno, Arlindo Chinaglia (PT-SP) afirmou que o deputado o apoiaria, caso o PSB não ganhe. Foi feito algum acordo entre os parlamentares?
JD: Não existe nada fechado! O meu acordo são com os partidos que me apoiam o PSDB, PPS, PDB, PV. Sendo assim, o nosso acordo é construir, com a diferenciação feita pela candidatura, para chegarmos ao segundo turno e vencer as eleições. Sem contar que eu não trabalho com a hipótese de não estar no segundo turno, porque estou sentindo uma adesão muito grande dos deputados de todas as correntes e partidos. Temos o objetivo de reafirmar uma posição de independência real e verdadeira do legislativo com os demais poderes.
LJ: O candidato considera que a ‘independência’ atual é inverídica?
JD: Não! Eu digo isso porque se você observar o discurso dos candidatos, você vai perceber que todos eles falam de independência do parlamento, - com exceção dos partidos que polarizam o PT, nos últimos 12 anos, que são o PMDB e o PT -, mas que o presidente e o vice possuem cargos no Governo. O PSB, verdadeiramente, não detém cargo no Governo por decisão da executiva, que não pleiteia e rejeita quem ocupa cargo em nome do partido. Tendo em vista essa perspectiva, o PSB teria condições reais de conversar de forma clara e com independência. Até porque nós a praticamos.
LJ: Como a ‘independência’ seria posta em prática na Câmara?
JD: A independência da gente é voltada para pautas importantes para o País. Tendo em vista, principalmente, as ‘promessas’ realizadas durante a campanha - para conquistar voto -, e que não foram cumpridas, como por exemplo, os últimos ajustes trabalhistas e previdenciários; o aumento dos impostos, que compromete mais uma vez a classe média; sobre combustível, cosméticos e as operações de crédito para pessoa física. A independência é de poder apoiar aquilo que é positivo, mas rejeitar aquilo que não for do anseio da população.
LJ: Qual será o posicionamento do deputado, como presidente, em relação às CPIs?
JD: Tivemos manifestações contínuas e claras de problemas com a Petrobras. E recentemente o procurador geral da República disse que, possivelmente, surgirão mais escândalos de corrupção. Dessa forma precisamos investigar de forma mais enérgica, para que os culpados sejam punidos e para que o Brasil seja ressarcido, de acordo com os prejuízos acarretados.
LJ: Sobre o incidente durante o voo para Porto Alegre, o que ocorreu de fato?
JD: Eu saí de Belo Horizonte com destino a Porto Alegre. Chegando próximo do aeroporto, a aeronave teve um problema no sistema de freio, o Flap direito não abriu, acarretando um problema no reverso do motor esquerdo, além do problema no sistema de frenagem. Entretanto, o piloto foi prudente, nos comunicou, refez os cálculos e nós tivemos que descer na base aérea de Canoas sobre risco de um eventual acidente maior. Quando chegamos lá tinha ambulâncias, Corpo de Bombeiros. Graças a Deus, ficamos protegidos e continuamos com a nossa batalha de fazer campanha usando as malhas aéreas das companhias.
LJ: No momento do incidente, o deputado recordou do acidente que suscitou a morte de Eduardo Campos?
JD: Quando fomos informados do problema no sistema de freio e da possibilidade de refazer o pouso, lembramos sim! Recordamos que perdemos a nossa maior liderança e referência, durante uma campanha. Foi em um acidente desses, buscando também modificar o Brasil e não desistir dele, e ter a coragem de enfrentar. Afirmo com convicção que tivemos sorte de não ter acontecido nada grave e reforçamos as orações, no sentido de continuar nossa caminhada.
LJ: O incidente o fez estar mais próximo da sociedade e dos problemas dela?
JD: As pessoas pensam que somos diferentes, mas somos seres normais. Estamos sujeitos a imprevistos. Utilizamos os mesmos serviços, com os horários doidos e atrasos irresponsáveis. Isso serve para que possamos investigar e ficar atento quanto à apuração. O povo pensa que deputado anda de jatinho, mas não é! Nós somos a regra, andamos na malha aérea, a exceção é quem utiliza jatinho, e eu quero fazer com que o parlamento se aproxime da sociedade.
LJ: O deputado considera que o Parlamento é respeitado e é visto com igualdade pelos demais poderes?
JD: A verdade é que se você fizer uma avaliação do meu mandato e dos colegas de Pernambuco, o nosso mandado, individualmente, é bem avaliado. Quando você faz o levantamento e avalia o coletivo do parlamento, ele é mal avaliado porque está distante da sociedade. O Parlamento não articula com a sociedade, ele está sempre voltado para pautas ‘pra dentro’ e decididas por poucos. Temos que vencer essa história virar o parlamento para a sociedade, olhar para a sociedade. Os deputados novos que chegam trazem esse sentimento.
LJ: Quais serão as estratégias para estar mais próximo da sociedade?
JD: Primeiro, votar ao que interessa para a sociedade, como a reforma política, o Pacto Federativo, renegociar as dívidas dos estados, discutir com o Governo a prática educadora e dividir as responsabilidades, do Governo, dos estados e dos municípios. E o parlamento deve participar disso, porque somos a representação clara do povo brasileiro, no poder legislativo. Temos que melhorar essas condições de sobrevivência e de sustentação dos municípios e dos estados do Brasil. Não queremos transformar a eleição à presidência da Câmara em um terceiro turno. A eleição já acabou! Temos que governar com o que existe e tocar o País, cada um com a sua responsabilidade, mas com os poderes instituídos para que cada um exerça o seu papel.
LJ: Independente de estar na liderança da Câmara, qual será o posicionamento do PSB a partir de fevereiro?
JD: O PSB tem responsabilidades em algumas questões. Na nossa campanha alertamos sobre necessidade de fazer ajustes trabalhistas, que foi negado por quem ganhou, e agora reconheceu a necessidade de fazê-los. Reforçamos que estávamos no início de uma crise energética por falta de planejamento, do aumento de combustível e nós vamos continuar apurando e denunciando esses casos, tentando, via parlamento, contribuir para que não atenue essa situação, principalmente, com o consumidor. Resumindo, o PSB vai ter uma posição de independência, em relação com o Governo e isso foi uma posição da executiva nacional, independente da candidatura. Inclusive de recursar possíveis cargos do atual governo.