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O Ministério Público do Trabalho (MPT) no Rio Grande do Sul oficializou na última quinta-feira (9) um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton. As empresas contratavam os serviços terceirizados da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, que foi denunciada e flagrada, no dia 22 de fevereiro, mantendo trabalhadores em condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves, no interior do estado sulista.

O TAC assinado pelas vinícolas possui 21 obrigações de fazer e não fazer, e o não cumprimento de qualquer uma das cláusulas pode acarretar em multa de R$ 300 mil, cumulativo a cada constatação.

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Segundo o termo, algumas das obrigações das empresas é a fiscalização e monitoramento de toda a cadeia de produção. O MPT estabeleceu que as vinícolas devem “zelar pela obediência de princípios éticos ao contratar trabalhadores diretamente ou de forma terceirizada: abster-se de participar ou praticar aliciamento, de manter ou admitir trabalhadores por meios contrários à legislação do trabalho, de utilizar os serviços de empresas de recrutamento inidôneas.”. 

O TAC ainda obriga as empresas a garantir e fiscalizar as áreas de alojamentos, vivência e fornecimento de alimentação.

Desde o início dos processos jurídicos, o MPT já garantiu o pagamento de indenização de R$ 7 milhões, por parte das vinícolas, além de outros R$ 1,1 milhão pagos pela empresa terceirizada, que cometia as violações de direitos humanos. 

O proprietário da empresa, Pedro Augusto Oliveira de Santana, além de outras pessoas envolvidas no caso, tiveram seus bens bloqueados pelo juiz Silvionei do Carmo, titular da 2ª Vara do Trabalho de Bento Gonçalves.

O Projeto de Lei 734/23 classifica como hediondo o crime de exploração de trabalho análogo à escravidão. A proposta, que tramita na Câmara dos Deputados, altera a Lei dos Crimes Hediondos. De acordo com o Código Penal, o termo hediondo é utilizado para classificar crimes que, por sua natureza, causam repulsa da sociedade, como o homicídio, a tortura e o estupro.

Os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia, graça, indulto e fiança, com cumprimento de pena incialmente em regime fechado. O projeto classifica como hediondo reduzir alguém à condição análoga à de escravo, submetendo-o a trabalhos forçados, à jornada exaustiva, a condições degradantes de trabalho ou restringindo sua locomoção.

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“São inúmeros relatos de trabalhadores em condições de trabalho que remetem a uma escravidão contemporânea, visando o lucro, não somente pela mão-de-obra, mas também ao uso e ao desprezo dos seres humanos”, observa a autora, deputada Amanda Gentil (PP-MA).  Tramitação A proposta ainda será despachada para as comissões da Casa.

*Da Agência Câmara de Notícias

 Por meio de nota publicada em seu site oficial, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves atribuiu às políticas sociais de redução das desigualdades a responsabilidade pela escravidão. Divulgado no dia 25 de fevereiro, o texto se refere aos mais de 200 trabalhadores resgatados no município, localizado na serra gaúcha, em situação análoga à escravidão. Essas pessoas prestavam serviço para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton.

No posicionamento, os empresários dizem que suas associadas são inocentes e que desconheciam irregularidades na atuação da empresa prestadora de serviço, responsável por reunir a mão de obra. Em operação conjunta, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e agentes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) descobriram que os trabalhadores eram forçados a trabalhar 15 horas por dia, sem direito a pausas, comendo alimentos estragados e superfaturados, com o objetivo de manter as pessoas permanentemente endividadas.

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Quem reclamasse das condições de trabalho era punido com choques elétricos, ameaças e borrifadas de spray de pimenta. Apesar dos chocantes relatos de violência dados pelos trabalhadores resgatados, os empresários preferiram centrar sua nota na crítica a uma suposta “larga parcela da população com plenas condições produtivas” que sobrevive através “de um sistema assistencialista”.

Leia a nota na íntegra:

“Na condição de entidade fomentadora e defensora do desenvolvimento sustentável, ético e responsável dos negócios e empreendimentos econômicos, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves vem acompanhando com atenção o andamento das investigações acerca de denúncias de práticas análogas à escravidão no município. É necessário que as autoridades competentes cumpram seu papel fiscalizador e punitivo para com os responsáveis por tais práticas inaceitáveis.

Da mesma forma, é fundamental resguardar a idoneidade do setor vinícola, importantíssima força econômica de toda microrregião. É de entendimento comum que as vinícolas envolvidas no caso desconheciam as práticas da empresa prestadora do serviço sob investigação e jamais seriam coniventes com tal situação. São, todas elas, sabidamente, empresas com fundamental participação na comunidade e reconhecidas pela preocupação com o bem-estar de seus colaboradores/cooperativados por oferecerem muito boas condições de trabalho, inclusive igualmente estendidas a seus funcionários terceirizados. A elas, o CIC-BG reforça seu apoio e coloca-se à disposição para contribuir com a busca por soluções de melhoria na contratação do trabalho temporário e terceirizado.

Situações como esta, infelizmente, estão também relacionadas a um problema que há muito tempo vem sendo enfatizado e trabalhado pelo CIC-BG e Poder Público local: a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema. Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.

É tempo de trabalhar em projetos e iniciativas que permitam suprir de forma adequada a carência de mão de obra, oferecendo às empresas de toda microrregião condições de pleno desenvolvimento dentro de seus já conceituados modelos de trabalho ético, responsável e sustentável".

Os trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra do RS, começaram a voltar para casa na noite da sexta-feira (24). Dos 207 resgatados, 194 voltaram para a Bahia, estado de origem. Outros quatro baianos optaram por permanecer no RS. Nove são gaúchos e já voltaram para os municípios de origem: Montenegro, Carazinho, Portão, Rio Grande e Marau. As idades dos resgatados varia entre 18 e 57 anos. 

Os quatro ônibus que levaram os baianos para casa foram escoltados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) até a saída do RS. “Está sendo maravilhoso [voltar para casa] porque a gente está vivendo num mundo de escravidão aqui, naquela empresa. E a gente, todos nós, vamos reencontrar a nossa família. Todos nós estamos alegres para ver a nossa família. Passamos praticamente num lugar onde era uma prisão. Bem animados por chegar na nossa terra”, disse um trabalhador à reportagem do RBS TV. 

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Acordo 

Foi firmado pelo Ministério Público do Trabalho um acordo entre a empresa e os trabalhadores ainda na noite da sexta-feira (24). Cada trabalhador recebeu, por enquanto, R$ 500 para fazer a viagem. O valor total da indenização deverá ser pago até a próxima terça-feira (28), por depósito bancário. 

O MPT informou que está estabelecido um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que o empresário responsável deverá apresentar a comprovação dos pagamentos sob pena de ajuizamento de ação civil pública por danos morais coletivos, além de multa correspondente a 30% do valor devido. 

Até então, o cálculo total das verbas rescisórias ultrapassa R$ 1 milhão. Além disso, o custo do transporte dos trabalhadores de volta para casa também ficou sob responsabilidade da empresa. 

O Termo diz que os valores desembolsados pela empresa contratante não quitam os contratos de trabalho e nem importam em renúncia de direitos individuais trabalhistas, que poderão ser reclamados pelos trabalhadores. 

“Os próximos passos serão acompanhar o integral pagamento dos valores devidos aos trabalhadores, estabelecer obrigações para prevenir novas ocorrências com relação a esse grupo de empresas intermediadoras. Com relação às empresas tomadoras, é preciso garantir reparação coletiva e medidas de prevenção. Já foram instaurados procedimentos investigativos contra as três vinícolas já identificadas”, disse a procuradora Ana Lucia Stumpf González.

O responsável pela empresa, Pedro Augusto de Oliveira Santana, de 45 anos, natural de Valente, na Bahia, chegou a ser preso, mas responderá pelo crime em liberdade, já que pagou a fiança no valor de R$ 40 mil.

Através de nota, o advogado Rafael Dornelles da Silva disse que a empregadora Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda. e seus administradores esclarecem que os graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho serão esclarecidos no tempo oportuno, no decorrer do processo judicial.

 

*Nota da redação: O nome empresarial anteriormente divulgado de forma equivocada – Fênix Serviços de Apoio Administrativo Ltda. – diz respeito à pessoa jurídica diversa, inscrita no CNPJ sob o nº 12.076.587/0001-00, com sede em Caxias do Sul/RS, SEM NENHUMA RELAÇÃO COM A INVESTIGADA.

De acordo com os dados divulgados, no Pará 92 trabalhadores foram encontrados em condição análoga à de trabalho escravo, o que o coloca no 7º lugar do ranking encabeçado por Minas Gerais, onde 1.070 pessoas foram encontradas nessa condição. Em 2021, o Pará ocupou o 4º lugar no número de trabalhadores resgatados.

Desde sua recriação, em 2020, o Grupo Móvel de Fiscalização Regional tem intensificado sua atuação, contribuindo significativamente para o enfrentamento do trabalho análogo ao de escravo. Ao todo, em 2022, foram organizadas regionalmente 11 forças-tarefas com alvos localizados principalmente no sudeste e sudoeste paraense.

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Entre os municípios com propriedades fiscalizadas estão: Abaetetuba, Água Azul do Norte, Altamira, Anapu, Baião, Belém, Brasil Novo, Cachoeira do Arari, Capitão Poço, Concórdia do Pará, Irituia, Juruti, Itupiranga, Marabá, Medicilândia, Moju, Novo Progresso, Ourilândia do Norte, Paragominas, Rondon do Pará, Salvaterra, Santa Maria das Barreiras, Santana do Araguaia, Santa Bárbara, São Félix do Xingu, São Geraldo do Araguaia, Senador José Porfírio, Tucuruí, Uruará e Vitória do Xingu.

As forças-tarefas são um importante instrumento de garantia de direitos. Em alguns empreendimentos não houve resgate, mas foram encontradas irregularidades relativas ao meio ambiente de trabalho, as quais foram devidamente sanadas. Mais de 320 trabalhadores foram beneficiados com a regularização trabalhista.

Para a procuradora Claudia Colucci Resende, que atua na Coordenadoria de Combate ao Trabalho Escravo (Conaete), “as fiscalizações também possuem um importante caráter pedagógico, no sentido de demonstrar que o Estado está presente, mesmo nas regiões mais inacessíveis do país”. Em 2022, o Ministério Público do Trabalho recebeu 1.973 denúnacias de trabalho análogo à escravidão no país.

Ao todo, o órgão ingressou com 126 ações civis públicas contra empregadores pela prática e firmou 351 Termos de Ajuste de Conduta (TACs). No Pará, foram recebidas 116 denúncias, firmados 20 TACs e apresentadas 5 ações civis públicas ao Judiciário.

Um dos grandes desafios da luta contra o trabalho escravo é o pós-resgate. O que acontece com esses trabalhadores depois que são retirados da situação de trabalho em condição análoga à de escravo e recebem as verbas devidas? A procuradora do Trabalho Silvia Silva, coordenadora regional da Conaete, explica que o MPT tem atuado não só através de fiscalizações nos grupos móveis nacionais como regionais, mas também na execução de projetos de capacitação da rede de atendimento às vítimas do trabalho escravo e do tráfico de pessoas. "A atuação tem se dado por meio da realização de eventos nos municípios que concentram maior número de casos de trabalhadores resgatados na região ou com maior número de trabalhadores neles arregimentados e resgatados em outros estados da federação”, diz a procuradora.

Ela conta que o intuito é capacitar profissionais da Rede de Atendimento sobre os marcos conceituais da escravidão contemporânea, a estruturação de políticas públicas, a formulação de estratégias para a prevenção, o combate e  o atendimento às vítimas e  seus familiares no contexto do trabalho escravo e  do tráfico de pessoas, bem como enfatizar a importância de direcionamento do trabalhador resgatado e de sua família para programas sociais, Previdência Social, atendimento à  saúde, educação e apoio à inclusão no trabalho digno. 

Em conjunto com a Comissão Estadual de Erradicação ao Trabalho Escravo (COETRAE/PA), o Ministério Público do Trabalho participou em Belém, no dia 27, de uma ação de conscientização sobre a escravidão contemporânea. A iniciativa ocorreu no Terminal Rodoviário da capital paraense.

Com informaçõe da assessoria do MPT.

 

O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, se desculpou, em nome do governo do país, pelo papel do Estado durante o período da escravidão local, que perdurou de 1621 a 1873. "A escravidão foi um crime de lesa humanidade", afirmou o líder do Executivo, em discurso no Arquivo Nacional, em Haia, nesta segunda-feira (19).

Rutte destacou que o sistema infringiu "sofrimentos indescritíveis" e, por causa disso, a escravidão deve ser reconhecida e condenada "nos termos mais claros". "Durante séculos, o Estado holandês e seus representantes permitiram, fomentaram, mantiveram e se beneficiaram da escravidão. Pessoas se tornaram mercadorias, exploradas e abusadas", lamentou o premiê. "Hoje, em nome do governo holandês, peço desculpas pela ação do Estado holandês no passado", completou.

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O primeiro-ministro holandês também admitiu que, durante muito tempo, ele próprio pensou que "não é possível assumir a responsabilidade de maneira significativa", por algo ocorrido no passado e de que não se foi testemunha em pessoa. Hoje, ele considera uma ideia equivocada, porque os "séculos de opressão e exploração" ainda afetam a sociedade atual. O discurso na íntegra foi compartilhado em sua página oficial no Twitter.

O comércio legal de escravos terminou em 1814, mas seguiu nas colônias holandesas até 1873. "Mais de 600 mil mulheres e crianças africanas escravizadas foram enviadas ao continente americano em condições espantosas, por holandeses traficantes de escravos. Foram separados de suas famílias, desumanizados, transportados e tratados como gado", disse Rutte.

Tudo acontecia sob a autoridade governamental da Companhia das Índias Ocidentais, enquanto que, na Ásia, de 600 mil a 1 milhão de pessoas foram traficadas dentro das áreas controladas pela Companhia Holandesa das Índias Orientais, entre os séculos XVII e XIX. "Os números são absurdos. O sofrimento humano por trás disso é ainda mais inimaginável. São incontáveis as histórias e testemunhos de sobreviventes que provam como a crueldade e a arbitrariedade não tinham limites no sistema escravista", disse o premiê.

A Holanda desempenhou um papel fundamental no comércio transatlântico de escravos. Embora a escravidão fosse proibida no país, era legal - e crucial para as plantações lucrativas - em colônias holandesas como Brasil, Indonésia e Suriname. Mesmo depois que a escravidão foi abolida nas colônias, os escravos foram obrigados a continuar trabalhando nas plantações por mais uma década para minimizar as perdas para os proprietários de escravos.

As desculpas do governo pela escravidão são raras. Em 2018, a Dinamarca pediu desculpas a Gana pelo papel dos dinamarqueses no comércio transatlântico de escravos. Durante uma visita ao Congo neste verão, o rei da Bélgica expressou seu "mais profundo pesar por essas feridas do passado", mas não chegou a se desculpar.

"Acho que todos os países com passado colonial estão passando por esse processo agora, e eu não diria que a Holanda está à frente", disse Pepijn Brandon, professor de história econômica e social global da Universidade Livre de Amsterdã, que estudou a escravidão atlântica do século XVIII para a economia holandesa. "Até alguns anos atrás, havia um silêncio profundo na Holanda sobre seu passado escravocrata", complementou.

Ele acrescentou que também houve uma reação às desculpas, principalmente entre os holandeses brancos. "Uma minoria de holandeses brancos acha que desculpas são necessárias", disse ele. O governo holandês anunciou a criação de um fundo de 200 milhões de euros para aumentar a "conscientização, envolvimento e acompanhamento" sobre o papel do país na escravidão. Também propôs criar um comitê de memória independente.

Manifestação polêmica

A preparação para o pedido de desculpas de Rutte foi polêmica, com vários grupos de descendentes dizendo que o governo não os havia consultado e que a ocasião carecia de qualquer significado. Armand Zunder, presidente da Comissão Nacional de Reparações do Suriname, disse que o discurso não foi longe o suficiente. "O que faltou completamente neste discurso é responsabilidade e prestação de contas", disse ele, enfatizando a necessidade de reparações.

O pedido veio após décadas de apelos de organizações que representam descendentes de escravos, que também lamentaram o fato deste ocorrer em uma data que não tem significado especial no país. Ativistas queriam que o gesto acontecesse em 1º de julho, na comemoração da abolição formal da escravidão no Suriname e nas Antilhas Holandesas, em 1963, embora ainda tenha ocorrido trabalho forçado por mais dez anos em plantações.

O dia 1º de julho marca 150 anos desde o fim da escravidão nas colônias holandesas, e no próximo ano foi declarado um ano nacional de lembrança. Parte do motivo pelo qual o pedido de desculpas aconteceu na segunda-feira, disse Rutte, foi porque ele queria fazê-lo antes do início das comemorações oficiais.

Neste mês, seis organizações surinamesas da Holanda esperavam adiar o pedido de desculpas até aquela data, mas um juiz negou o pedido. "Sabemos que não há um momento certo para todos", disse Rutte. "Não existem as palavras certas para todos ou o lugar certo para todos." Ele também reconheceu que a preparação para o pedido de desculpas "poderia ter sido melhor". Mas, disse ele, "não deixe que isso seja motivo para não fazer nada"

Também houve críticas pela falta de envolvimento das comunidades escravizadas tanto no processo, como no conteúdo do discurso de Rutte. O premiê garantiu que a intenção dele não é "apagar essas páginas com algumas desculpas" e que o gesto é "uma vírgula, não um ponto final" no assunto. (Com agências internacionais).

Com vida e carreira polêmicas, o ex-boxeador Mike Tyson criticou a produção da série "Mike: Além de Tyson", baseada em sua biografia. Por meio de seu perfil no Instagram, o campeão dos pesos-pesados afirmou não estar envolvido e nem ter sido compensado financeiramente pelo projeto, liderado pelo canal de streaming Hulu. Além disso, acusou a produtora de se utilizar e "roubar sua história de vida".

Tyson compara a série produzida com o passado escravocrata dos Estados Unidos. "Não seja enganado pelo Hulu. Não aprovo a história deles sobre a minha vida. Não estamos em 1822, é 2022. Eles roubaram a minha história de vida e não me pagaram. Para os executivos do Hulu, eu sou só um negro que eles podem vender num leilão de escravos", desabafa.

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Com quase 350 mil curtidas, Tyson recebeu o apoio de colegas e amigos em sua manifestação contra a Hulu. O ator Jamie Foxx e o lutador de MMA Francis Ngannou foram alguns que comentaram na publicação, em apoio ao ex-pugilista.

No Twitter, Tyson também se pronunciou contra a produção da série. "O Hulu roubou minha história. Eles são Golias e eu sou Davi. Cabeças vão rolar por isso. O modelo de roubar direitos de vida de celebridades é notoriamente ganancioso", afirmou. Essa não é a primeira vez que o ex-lutador se manifesta em relação à produção da minissérie. Em 2021, quando foi anunciada pela Hulu, ele a categorizou como "apropriação cultural indébita".

No início deste mês, o produtor executivo Steven Rogers ("Eu, Tonya") e a produtora Karin Gist afirmaram que a intenção da série não é retratar Tyson como herói ou vilão. "Queríamos contar uma história imparcial e fazer com que o público decida o que sente", disse Karin. Estrelado por Trevante Rhodes, a minissérie estreia na plataforma Hulu, nos EUA, no dia 25. No Brasil, o lançamento ocorre de forma simultânea, na plataforma de streaming Star+.

Tyson é ex-campeão mundial dos pesos pesados, conquistado o título aos 20 anos e permanecendo invicto de 1987 a 1990. Em sua vida pessoal, foi condenado a seis anos de prisão por agressão sexual, cumprindo metade da pena antes de receber a liberdade condicional.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) de Pernambuco anunciou, nesta quinta-feira (28), o resgate de uma mulher de 49 anos em situação análoga à escravidão. O resgate ocorreu no dia 18 de julho, em Caruaru, Agreste de Pernambuco.

A vítima, que não teve o nome divulgado, foi entregue aos 10 anos de idade pela própria mãe para a família onde era mantida em situação de escravidão. Segundo o MPT, desde a infância ela cuidava dos dois filhos deficientes da dona da casa, além de ser responsável pelos afazeres domésticos, sem nunca ter sido remunerada pelos serviços.

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A mulher também nunca teve direito a férias, além de não ter frequentado a escola e não poder sair da residência sem alguém da família.

O ministério firmou Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com a família empregadora, que pagou um valor de R$ 123.720 referente à verba rescisória da empregada doméstica e aos danos morais individuais. A trabalhadora também recebeu três parcelas do Seguro-Desemprego do Trabalhador Resgatado.

A ação de combate ao trabalho escravo, que teve início no dia 4 de julho deste ano, já resgatou 337 trabalhadores nas cinco regiões do país e arrecadou R$ 3,8 milhões em verbas salariais e rescisórias. Cerca de 50 equipes de fiscalização estiveram diretamente envolvidas nas inspeções realizadas em 22 estados e no Distrito Federal.

“As pessoas estão cada vez mais atentas ao trabalho escravo doméstico. As empregadas domésticas mantidas em situações análogas à escravidão refletem o perfil da típica mucama da época da escravidão oficial. São pessoas que não têm o traço da violência física, estão inseridas no núcleo familiar, mas nunca receberam salário”, explicou a procuradora do Trabalho e coordenadora regional de combate a erradicação do trabalho escravo e enfrentamento ao tráfico de pessoas (Conaete), Débora Tito.

Como identificar o trabalho escravo

Existem várias formas de identificar o trabalho escravo doméstico. Jornada de trabalho exaustivas, a qualquer hora do dia ou da noite, sem direito a folgas ou pagamento de hora extra; oferta de moradia em cômodo com péssimas condições de higiene e conforto; restringir alimentação ou acesso a serviços públicos e de assistência à saúde; proibir saída do ambiente de trabalho em função de dívidas, com retenção de documentos; e não receber salário ou ter acesso a direitos por ser considerada “da família” são alguns indícios.

No dia 4 de agosto, a Fundação Joaquim Nabuco receberá o escritor e jornalista Laurentino Gomes. Como parte das ações da Fundaj sobre o Bicentenário da Independência do Brasil, Laurentino vai realizar a palestra A Escravidão e o seu Legado no Brasil de Hoje, aproveitando sua passagem para também lançar o terceiro volume da série de livros Escravidão.

Durante o evento, o vencedor do Prêmio Jabuti irá abordar no debate o término do momento colonial do país com a continuidade da estrutura econômica e social escravocrata. O último volume da obra de Laurentino, que tem o subtítulo da Independência do Brasil à Lei Áurea, levanta essa questão.

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O novo trabalho de Laurentino Gomes conta com ensaios dos historiadores Heloisa Murgel Starling, Jean Marcelo Carvalho França e Jurandir Malerba. Com mais de 500 páginas, o exemplar lançado neste ano consta as últimas sete décadas do período escravista do Brasil.

Serviço

Palestra A Escravidão e o seu Legado no Brasil de Hoje, com Laurentino Gomes

4 de agosto | 17h

Auditório Benício Dias/Cinema da Fundação, Campus Gilberto Freyre, em Casa Forte

Entrada gratuita

O Ministério Público Federal denunciou à Justiça Federal em Rondônia um pastor e um casal por redução de 19 trabalhadores à condição análoga à de escravo na extração de castanhas em terras bolivianas. De acordo com a Procuradoria, os acusados - Dione Chaves Sousa, Maria Irismar Lago de Lima e Sidnei Joaquim da Silva - aliciavam pessoas em situação de rua e as obrigavam a trabalhar 12 horas por dia, sem pausas.

À Dione e Maria, a Procuradoria ainda imputa suposto tráfico de pessoas e de drogas. A denúncia narra que a primeira era integrante do Comando Vermelho, 'com envolvimento em diversos crimes como tentativa de homicídios, furtos e ameaças'. Já Sidnei, é apontado como arrendatário de terras dos castanhais, e teria auxiliado no aliciamento de pessoas em Porto Velho, ainda cedendo seu veículo para o transporte de alguns dos trabalhadores.

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"Trata-se de uma bizarra prática de um crime em si mesmo repugnante. Os acusados praticamente sequestraram vários moradores de rua em Porto Velho, levaram todos para a Bolívia e lá os mantiveram sob condições degradantes. Não bastasse, ainda cobraram valores absurdos por coisas essenciais (comida inclusive) e ainda forneceram drogas a todos", indicou o procurador da República Reginaldo Trindade, autor da denúncia apresentada na esteira da Operação Finis Messi, deflagrada em novembro de 2021.

De acordo com o Ministério Público Federal, o inquérito indicou que os três denunciados realizaram o transporte das vítimas, de Rondônia até a Bolívia, e lá as obrigavam 'a exercer jornada de trabalho exaustiva, com média de 12 horas diárias sem interrupções, descanso ou pausa para alimentação'. O trabalho era realizado independentemente das condições climáticas do local, diz a Procuradoria.

O órgão indica que os castanhais estão situados em região de floresta inóspita, acessível apenas por barco ou voadeira (canoa com motor). Considerando que os meios de transporte pertenciam a Dione Sousa e Maria Irismar, os procuradores indicam que o controle da saída do local era 'dominado' pelos denunciados.

A alimentação das vítimas era limitada a duas refeições, uma pela manhã e outra ao fim da jornada de trabalho, o valor da refeição era cobrado, aumentando a dívida das vítimas com os supostos empregadores.

"Se os trabalhadores desejassem adquirir outros produtos, deviam comprar do casal, que cobrava preços abusivos. Para se ter uma ideia dos abusos, segundo as vítimas, uma garrafa de cachaça custava R$ 600 e uma pasta de dente, R$ 100. Além disso, as vítimas eram impedidas de adquirir 'bens das poucas embarcações que passavam pelo local'", narra o MPF.

A Procuradoria ainda aponta que Dione Chaves e Maria Irismar vendiam drogas ilícitas aos trabalhadores. Depoimentos colhidos no âmbito do inquérito indicaram que os 'entorpecentes eram fornecidos diariamente e de modo forçado'.

COM A PALAVRA, OS DENUNCIADOS

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com os acusados, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

Em evento para anunciar os primeiros contratados do Médicos pelo Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta segunda-feira (18), que 80% dos salários dos médicos cubanos do Mais Médicos iam para Fidel Castro, ex-presidente cubano. Bolsonaro também comparou o trabalho no programa à escravidão, além de ter afirmado que Fidel foi para "um lugar bastante quente", após a sua morte, em 2016.

“Esse era o programa no passado, o Mais Médicos, do PT. Um serviço que escravizava os nossos irmãos cubanos e não atendia a população. Não sabiam absolutamente nada de medicina. Nada. E a gente sabe, muitas vezes, as pessoas humildes é só você tratar bem a pessoa ela já fica satisfeita”, afirmou o presidente. O programa Médicos pelo Brasil, anunciado em 2019, é uma "substituição" feita por Bolsonaro do programa Mais Médicos. 

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Na ocasião, o presidente falou, ainda, que os médicos cubanos tinham que seguir ordens para manter os familiares seguros. “Seus familiares ficavam em Cuba e se eles não cumprissem aquilo determinado os seus familiares lá sofriam. E o apoio do PT e lamentavelmente da base do governo foi praticamente unânime para que ficassem aqui como se escravos fossem".

Contratações

O programa Médicos Pelo Brasil, lançado em 2019, só anunciou os primeiros médicos contratados nesta segunda-feira (18). O Ministério da Saúde informou que são 529 profissionais espalhados por todo o Brasil foram contratados, e que a expectativa é de que 1.700 sejam convocados até o fim de abril.

Foram 16.357 inscritos no primeiro concurso da atual gestão, e 8.518 selecionados. O resultado do certame foi homologado no dia 5 de abril. 

Ao ser questionado sobre os mais de 900 dias para as primeiras contratações, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, justificou que a prioridade número um foi "atender a questão da Covid-19".

O Ministério Público do Trabalho entrou com ação civil pública contra pessoas de uma mesma família de Santos (SP) por submeterem uma mulher negra de 89 anos a trabalho análogo à escravidão desde os anos 1970, por cerca de 50 anos. A Procuradoria requereu à Justiça que reconheça a submissão da vítima à situação de trabalho análogo ao escravo, com a condenação do grupo ao pagamento de indenização de R$ 1 milhão por danos morais coletivos. O MPT pediu o bloqueio de bens da família, para garantir o pagamento dos valores, e diz que o montante será revertido a programas específicos de combate ao trabalho escravo.

A Procuradoria tomou conhecimento do caso em 2021, por meio da 2ª Vara do Trabalho de Santos, após denúncia de maus tratos feita à Delegacia de Proteção às Pessoas Idosas. Hoje, após investigação, a senhora está sob cuidados de seus parentes e recebe, por ordem da Justiça do Trabalho, pensão mensal no valor de um salário mínimo. Também foi determinado que a família acusada custeie o plano de saúde da vítima.

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"A dita escravidão contemporânea tem cor, raça, e no caso do trabalho doméstico, gênero. São as mulheres negras, em sua maioria nordestinas, vítimas de uma vulnerabilidade social extrema que aceitam o trabalho doméstico, muitas vezes em troca apenas de comida e moradia", alerta o procurador do MPT Rodrigo Lestrade Pedroso, apontando ainda os "ares de crueldade criminosa" do caso.

As informações forma divulgadas pela Procuradoria nesta segunda-feira, 4. O MPT não divulgou a íntegra da ação para preservar a identidade da vítima. O caso corre sob segredo de Justiça.

De acordo com o MPT, a mulher de 89 anos trabalhava como empregada doméstica na casa situada no litoral paulista, mas nunca recebeu salário, era impedida de sair de casa sozinha e sofria abusos físicos e verbais por parte da "empregadora" e de suas filhas.

A vítima narrou à Justiça que, que época em que começou a trabalhar na casa da família, havia perdido sua carteira de identidade, sendo que os "empregadores" prometeram que a ajudariam a providenciar uma nova - o que não ocorreu. A família ainda impedia a mulher de guardar valores e de sair para solicitar novas vias de seus documentos.

De acordo com a Procuradoria, a anciã chegava a implorar que a deixassem procurar sues familiares, as os "empregadores" respondiam que, se ela buscasse seus parentes, perderia para sempre o abrigo e alimentação que recebia ali.

A ação trabalhista indica que as duas filhas da idosa resgatada a procuraram durante as cinco décadas, sem saber se a mãe estava viva ou morta. Uma delas faleceu antes do reencontro. A outra desenvolveu "graves problemas psicológicos por conta do abalo com o desaparecimento da mãe e hoje precisa de cuidados especiais", relata o MPT.

"Com os anos, a situação de saúde de (***) piorou e a violência física e psicológica se intensificou. As filhas da patroa proferiam xingamentos e humilhações constantes aos gritos contra ambas as idosas. (***) relatou após seu resgate ter sofrido também agressões físicas com 'tapas e socos'. Em uma dessas ocasiões, uma vizinha de apartamento resolveu denunciar o caso em 2020 à Delegacia de Proteção às Pessoas Idosas, para onde enviou gravação das agressões verbais em que se ouvia uma das filhas gritando: '(…) essa sua empregada vagabunda; essa cretina, demônia (…)'", narrou a Procuradoria.

Na ação civil pública contra a família, a Procuradoria do Trabalho explica que a "ex-empregadora" da vítima faleceu em 2021, assim como duas de suas três filhas. O MPT defende que toda a família se beneficiou da "situação degradante" da idosa, "já que também administravam a casa e lhe davam ordens diretas, aproveitando-se do fato de que havia alguém para cuidar da mãe em tempo integral, sem custo algum".

Nessa linha, a Procuradoria pediu o bloqueio de bens de todos os familiares, inclusive os inventários das falecidas. O procurador Rodrigo Lestrade Pedroso destaca que o fato de os réus não morarem no local onde a vítima prestava os serviços não afasta o vínculo empregatício, uma vez que o trabalho era destinado ao núcleo familiar.

  A cidade de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, proibiu homenagens a ditadores e escravocratas em monumentos e vias públicas da cidade. A lei 6.193/2021 foi sancionada pelo prefeito da cidade, professor Lupércio (Solidariedade) em dezembro do ano passado e é de autoria do vereador Vinicius Castello (PT).

Com isso, fica proibido atribuir a prédios, rodovias, repartições públicas e bens de qualquer natureza pertencentes ou sob a gestão da Administração Pública Municipal direta ou indireta, nome da pessoa que esteja ligada ao exercício da prática escravista e que conste no Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade de que trata a Lei federal nº 12.528/2011 como responsável por violações de direitos.

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A Prefeitura de Olinda destaca que todos os casos denunciados serão avaliados individualmente, "visando garantir a reparação histórica e necessária ao povo negro brasileiro e as vítimas do Golpe Militar de 64". O Executivo municipal salienta que está realizando o levantamento dos equipamentos públicos como também aguardando denúncias vindas da sociedade para começar as mudanças.

Três pessoas de uma mesma família foram condenadas a 2 anos e 8 meses de prisão por manterem uma trabalhadora em condições semelhantes à escravidão em São Paulo (SP), ao menos de 2014 a 2020.

Esta é uma das primeiras sentenças da Justiça Federal que reconhece a ocorrência desse tipo de crime em âmbito doméstico, no qual relações de confiança estabelecidas ao longo de anos muitas vezes impedem que as próprias vítimas percebam as violações a que são submetidas.

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A empregada prestou serviços domésticos em troca de moradia, sem receber salários regulares e vivendo em condições degradantes nas casas dos réus. Os pagamentos eram esporádicos e em valores baixos. Frequentemente, a trabalhadora recorria à ajuda de conhecidos para conseguir alimentos e outros itens de primeira necessidade. A alguns, ela chegou a confidenciar o desejo de abandonar o convívio com os empregadores, mas lamentava que a falta de dinheiro a impedisse de se mudar.

A sentença da Justiça Federal em São Paulo destaca que o caso é um claro exemplo de escravidão moderna, em que as condições humilhantes de vida e trabalho das vítimas são suficientes para a condenação de seus empregadores à pena prevista no artigo 149 do Código Penal.

O texto ressalta que a ocorrência do crime não requer a presença de circunstâncias clássicas e históricas da escravidão, como a privação da liberdade de locomoção do trabalhador. Instalações precárias de moradia e retenção de salários, por exemplo, bastam para caracterizar o delito.

“A vítima foi tratada como objeto, não como pessoa humana, na medida em que não recebeu as mínimas condições condizentes para o exercício de sua atividade laborativa como empregada doméstica. Os réus aproveitaram-se do fato de a vítima ser uma pessoa simples, como ficou evidenciado, para obterem vantagem em detrimento de um semelhante”, diz trecho da sentença.

A sentença estabeleceu o regime semiaberto para o cumprimento inicial das penas de prisão. Os réus poderão recorrer em liberdade.

Condenação histórica

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a decisão é um marco para a consideração de casos desse tipo na esfera penal.

Facilmente identificável em atividades econômicas como a construção civil ou a agricultura, a redução de trabalhadores a condições análogas à escravidão por vezes se dilui na rotina de ambientes domésticos, marcados por estreitas relações pessoais entre patrões e empregados e a criação de laços afetivos. Assim, é comum que os abusos sejam cometidos por longos períodos sem que as autoridades tomem conhecimento dos fatos e possam investigar, processar e punir os envolvidos.

Uma operação de combate ao trabalho escravo, realizada no período 11 a 20 de outubro de 2021, resgatou 15 trabalhadores da fazenda Tauarizinho, situada entre o município de Capanema e Vila Santa Luzia, no nordeste do Pará. A ação foi integrada por equipes do Ministério Público do Trabalho PA-AP (MPT) e Auditoria Fiscal do Trabalho (do Ministério do Trabalho e Previdência).

Os 15 trabalhadores estavam expostos à situação degradante de trabalho e atuavam no processo de colheita na lavoura de feijão. Nenhum deles possuía contrato de trabalho registrado. Todos estavam alojados em uma única casa com instalações precárias e sem condições de habitabilidade, infestada de ninhos de vespas. No local, não havia cadeiras e mesas para a realização de refeições, tampouco onde guardar e conservar alimentos, geladeira ou camas, além de banheiro sem condições de uso. 

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Nas frentes de trabalho, não era fornecido equipamento de proteção individual – EPI. Alguns trabalhadores laboravam de sandália ou com seu próprio calçado rasgado e inadequado. Eles também não poderiam consumir o feijão que plantavam. Submetidos a condições de insegurança alimentar e hídrica, compravam “fiado” arroz nas tabernas dos vilarejos em que suas famílias residem para ser pago no retorno de meses na fazenda, durante a safra.

Diante da gravidade da situação, foi realizado o resgate dos trabalhadores e feita a rescisão indireta do contrato de trabalho com a retirada imediata do local, além do pagamento das verbas rescisórias e de todos os direitos trabalhistas devidos. Eles também receberam indenização por dano moral individual, estipulada pelo Ministério Público do Trabalho em Termo de Ajuste de Conduta (TAC), assinado pelo empregador, e seguro-desemprego, que receberão pelo período de três meses.

Também segundo o TAC, o empregador se compromete, entre outras coisas, a efetuar o pagamento de salários no prazo legal; admitir e manter empregado com o respectivo registro; disponibilizar água potável, inclusive nas frentes de trabalho; fornecer gratuitamente EPIs; disponibilizar, nas frentes de trabalho, instalações sanitárias, fixas ou móveis; disponibilizar alojamento em acordo com a NR-31 (Norma Regulamentadora); e equipar estabelecimento rural com material de primeiros socorros. Ainda de acordo com o Termo de Ajuste de Conduta, o dono da fazenda deve abster-se de recrutar trabalhadores para o trabalho em outra localidade do território nacional mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia, ou sem assegurar o retorno deles ao local de origem.

Da assessoria do MPT.

O papa Francisco criticou nesta quarta-feira (8) a condição das mulheres em relação aos homens, ao mencionar durante a audiência geral uma "escravidão" das mulheres, "que não têm as mesma oportunidades que os homens".

"Quantas vezes ouvimos expressões de desprezo às mulheres. Quantas vezes ouvimos 'mas não faça nada, é um assunto de mulher'", declarou o papa em seu discurso.

"Os homens e as mulheres têm, no entanto, a mesma dignidade, mas há na história, e ainda hoje, uma escravidão da mulher. As mulheres não têm as mesmas oportunidades que os homens", concluiu Francisco em seu comentário sobre a igualdade diante de Deus de todos os batizados na Igreja Católica.

Três líderes religiosos foram presos no último dia 23, em Maringá, no norte do Paraná, acusados de explorar trabalho infantil escravo. Dentre eles, o pastor bolsonarista Gerdal Costa da Silva, presidente da Igreja das Nações da Poderosa Mão de Deus, a esposa, bispa Seuma Costa, e o filho, Gerdal Junior. A família é suspeita de ter explorado o trabalho de ao menos cinco crianças e adolescentes na venda de pizzas produzidas pela igreja. A sede do templo onde também eram realizadas as tarefas análogas à escravidão está localizada no bairro de Jardim Alvorada.

Segundo depoimento exposto pelo site Maringá News, na última terça-feira (27), os adolescentes disseram que eram atraídos para vender pizza em igrejas da cidade e municípios vizinhos para o pastor, que alegava que a ação seria uma obra divina e que o dinheiro seria para o tratamento de pessoas com câncer.

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De acordo com a Polícia Civil, além das crianças e adolescentes que vendiam pizza, uma das vítimas, de 13 anos, foi tirada dos pais para trabalhar como empregada doméstica na casa do apóstolo. Ao tentarem resgatar os filhos, os pais eram ameaçados pelo pastor com uma pistola nove milímetros, que foi apreendida pela polícia.

“Fui lá como voluntária porque eu me sensibilizei com a história. Como voluntária da obra de Deus, eu fui lá, carregar, vender pizza. Eu só conseguia carregar cinco pizzas, eles me fizeram carregar dez”, relatou uma adolescente vítima à reportagem, acrescentando que os acusados diziam que ela era “fraca” e a humilhavam com trechos da bíblia “pra me fazer sentir incapaz”. Segundo a adolescente, os pastores agrediam e humilhavam um outro menino, chamando-o de “porco” e “imundo”.

Discurso bolsonarista repercute nas redes

O autoproclamado apóstolo Gerdal Costa fez um duro sermão no dia 24 de outubro de 2018, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, na defesa do então candidato Jair Bolsonaro e induziu os fieis ao voto no conservador, alegando que Bolsonaro iria “por ordem na casa”. De maneira cenográfica, Gerdal diz que “um homem pode salvar você, mas um ladrão pode levar o Brasil pro lado errado, ou pode virar uma Cuba”.

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A doméstica Madalena Gordiano diz que nunca esteve tão feliz. Ela, que se tornou símbolo da luta contra o trabalho escravo no Brasil, fechou há três dias um acordo com a família que a manteve por 38 anos em condições análogas à escravidão em sua residência, em Patos de Minas, região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais.

Pelo acerto, Madalena já recebeu um apartamento, avaliado entre R$ 400 mil e R$ 600 mil, e um carro, no valor de R$ 70 mil, bens que pertenciam à família que é ré num processo aberto pelo Ministério Público do Trabalho no ano passado. O acordo prevê mais R$ 20 mil para pagamento de impostos dos bens em questão.

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Assim como Madalena, seus advogados, voluntários da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), consideraram o acordo satisfatório - apesar de terem reivindicado R$ 2,2 milhões.

Madalena, no entanto, disse ao Estadão que não vai ficar com os bens. Ela pretende vendê-los para construir ou comprar uma casa, ainda não sabe bem. A vítima pretende seguir morando em Uberaba, onde atualmente mora com uma assistente social. "Vou vender o apartamento. Não vou morar lá não, porque tenho muita recordação ruim. Mas vou ter de entrar, olhar. Agora é meu, né?

As lembranças ela ainda não consegue apagar. "Eles me maltratavam muito, não me deixavam fazer nada. Eu queria ir na missa e não podia, ou tinha de voltar depressa. Me davam muita bronca", lembra.

Esse sofrimento, porém, ficou para trás. Quando atendeu ao telefonema da reportagem, primeiro disse que não poderia falar porque estava indo para a academia. Mas logo começou a contar como tem sido a nova vida e a relação ainda recente com a liberdade. "Fui para a praia, entrei no mar, fizeram uma festinha de aniversário para mim, pequena, por causa da pandemia. Estou de cabelo novo", contou ela, rindo. "Estou feliz demais".

Também está muito contente por ter voltado a estudar, está aprendendo Português e Matemática, e falou sobre o futuro. Trabalhar de doméstica, nunca mais. "Eu quero é estudar, virar enfermeira, ajudar a atender as pessoas", sonha. E passear. Depois de conhecer o mar de Paraty, o próximo destino será a cidade maravilhosa. "O Rio é muito lindo, quero ir lá."

Sobre a família que a mantinha como escrava, ela diz que nunca mais se encontrou com eles. "Nem quero. De vez em quando eles aparecem em audiência, custaram a fazer o acordo, o advogado deles não aceitava nada. Ele também não", disse, referindo-se ao professor Dalton Cesar Milagres Rigueira, que está sendo processado junto com a mulher, Valdirene Rigueira. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Rigueira.

Madalena Gordiano foi resgatada pelo MPT e Polícia Federal em Patos de Minas em 27 de novembro de 2020. A doméstica morava na casa dos patrões, não tinha registro em carteira, nem salário mínimo garantido ou descanso semanal remunerado.

"Não foi um acordo fácil. As audiências foram muito longas. Reivindicamos tudo o que ela tinha direito, que somava esses R$ 2 milhões, mas o acordo foi muito bem-vindo, ela queria resolver isso", conta a advogada Márcia Leonora Santos Régis Orlandini, professora de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da UFU e coordenadora da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da universidade.

"Todos os advogados que atuaram no caso são voluntários. Foi um esforço muito grande. Por mais que se tenha indignação, foi muito rápido o acordo, foram sete meses", afirma Márcia Orlandini. Segundo ela, o MPT fez uma devassa no patrimônio da família e não foram encontrados outros bens além dos citados no acordo.

A advogada também disse que um acordo foi fechado com cinco bancos onde os acusados fizeram empréstimos consignados em nome de Madalena, no valor estimado de R$ 50 mil. Todos os empréstimos serão cancelados.

A prefeita de Amsterdã pediu desculpas nesta quinta-feira (1º) pelo papel desempenhado por este município no passado colonial e no comércio de escravos, que trouxe riqueza e prosperidade à capital holandesa.

“Em nome do município, peço desculpas pela participação ativa da prefeitura de Amsterdã no sistema colonial de comércio mundial de escravos”, disse Femke Halsema.

Na Holanda, como em outros países europeus, a controvérsia sobre o passado colonial e a escravidão ressurgiu após a popularização do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos.

“É hora de integrar a enorme injustiça da escravidão colonial na identidade de nossa cidade”, continuou Halsema durante um discurso em uma comemoração da abolição da escravidão (1º de julho de 1863) no Suriname e nas ilhas do caribenhas do reino.

No auge de seu império colonial, as Províncias Unidas - agora Holanda - tinham sete colônias no Caribe, incluindo o Suriname e a ilha de Curaçao, assim como na África do Sul, e no que hoje é a Indonésia, um reduto do século 17 da Companhia das Índias Orientais.

“A província da Holanda, da qual Amsterdã fazia parte, era “um ator importante no comércio e na exploração de escravos”, disse Halsema, acrescentando que no século 18 “40% do crescimento econômico era resultado da escravidão”.

“E em Amsterdã quase todo mundo ganhava dinheiro graças à colônia do Suriname. O conselho da cidade, que era coproprietário e co-administrador daquela colônia, era o primeiro”, disse.

A capital holandesa é a primeira cidade do país a se desculpar. Rotterdam, Utrecht e Haia, que também estão investigando o assunto, poderão fazer o mesmo em breve.

Em nível nacional, a Holanda não se desculpou formalmente por seu papel no comércio de escravos.

De acordo com o primeiro-ministro que está deixando o cargo, Mark Rutte, aqueles dias foram há muito tempo e um debate sobre um pedido de desculpas apenas reacenderia as tensões.

Uma mulher de 48 anos, que trabalhava como empregada doméstica, foi resgatada em condições análogas à escravidão em uma chácara no município de Águas Lindas de Goiás-GO. Ela não recebia salário há cinco anos.

A Auditoria-Fiscal do Trabalho realizou o resgate em 26 de abril, mas o resultado foi divulgado apenas nesta quinta-feira (13), data que marca os 133 anos da assinatura da Lei Áurea, que determinou a abolição da escravidão no país.

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Segundo os fiscais, a vítima contou que os patrões prometeram uma parte do terreno como remuneração. Ela recebia doações de vizinhos para se alimentar.

No local, não havia instalação de energia elétrica. Por conta disso, a empregada fazia ligações clandestinas com a rede dos vizinhos. Ela vivia com a família no local.

A empregadora responsável foi notificada a regularizar os contratos de trabalho e pagar todos os direitos trabalhistas do período. O valor total foi de R$ 22,2 mil.

Ela assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no qual se comprometeu a conceder 30 dias de prazo para a família se mudar da chácara onde os serviços eram prestados. A trabalhadora resgatada deve receber o seguro-desemprego e uma indenização por dano moral de R$ 2,7 mil.

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