A UNAMA - Universidade da Amazônia, por meio do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura (PPGCLC), promoveu a roda de conversa “Folias, foliões e a festa do Glorioso São Sebastião – Marajó-PA” que faz parte do projeto "Diálogos Batuques com Peixe Frito". O evento ocorreu na tarde da última quarta-feira (18), em Belém.
Durante o encontro, os professores Edgar Chagas Junior, Paulo Nunes e o coordenador da irmandade dos devotos do Glorioso São Sebastião, Albertinho Leão, discutiram a importância da manifestação cultural em Cachoeira do Arari e a dimensão dela pelo Estado do Pará.
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Musicalidade, batuques, ladainhas e muita devoção compõem, há mais de 150 anos, a Festividade do Glorioso São Sebastião, reconhecida como Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Os devotos agradecem ao santo pelas graças alcançadas e também ocorre o levantamento de mastros, com as oferendas.
Segundo Albertinho Leão, a ideia inicial do instituto era fazer o registro da manifestação somente no município de Cachoeira do Arari. O projeto se ampliou por causa do tamanho da celebração em todo o Marajó. "O IPHAN reconheceu que deveria mostrar os bens culturais do povo como manifestação da sua identidade. Seja comida, música, festejo", destacou.
O professor Paulo Nunes, coordenador do grupo de pesquisa “Academia do Peixe Frito", do PPGCLC, encerrou a roda de conversa recitando o poema "Velho Mané Grigório", do romancista e poeta Dalcídio Jurandir, que aborda a fé no santo. Na sequência, o grupo de peregrinação contou as vivências e relatos pessoais com São Sebastião.
O professor Edgar Chagas Junior, coordenador do programa, disse que a vinda dos foliões a Belém marca o início da peregrinação que eles fazem pelo Marajó. “Nós, do PPGCLC, aproveitamos para fazer essa roda de conversa sobre essa manifestação cultural que é tão importante para o calendário religioso, celebrativo e ritualístico aqui da Amazônia”, disse.
Edgar Chagas Junior explicou que o programa possui muitas atividades extensionistas, e realiza debates e mostras. “Tudo é uma celebração, acima de tudo, pautada na produção de um conhecimento que é organizado pelo método científico, mas também pelas vozes, pelas narrativas dessas pessoas que produzem essas manifestações culturais aqui na Amazônia”, enfatizou.
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Além da religiosidade
Albertinho Leão é devoto de São Sebastião desde criança, assim como a família. Para ele, a festividade não é somente uma referência pessoal e vai além da religiosidade. “Representa um importante registro de cultura, de uma identidade cultural, e eu diria que até mesmo economicamente, hoje, é muito importante para o município de Cachoeira do Arari”, afirmou.
O coordenador da Irmandade descreveu a visita à UNAMA como um marco histórico e que já tinha uma relação com algumas pessoas da universidade. “O programa da universidade vai estar contribuindo para a renovação do registro da festividade como patrimônio cultural do Brasil, na elaboração do comitê gestor e do plano de salvaguarda”, disse.
Segundo Albertinho Leão, o reconhecimento do IPHAN coroa a identificação do povo marajoara com o santo considerado o protetor dos vaqueiros. “O IPHAN, através de pesquisa, provou que toda a região tem devoção a São Sebastião. Isso não foi alguém que contou. É um trabalho científico, acadêmico, e que é reconhecido pelo órgão do Governo Federal que trata justamente sobre isso”, ressaltou.
Em junho, será realizada uma celebração da peregrinação, em que estarão juntas todas as famílias que receberam a imagem do santo e os convidados. Albertinho Leão destacou a presença de artistas e parceiros, com muito carimbó, guitarrada e comidas típicas marajoaras.
A educadora e reitora da UNAMA, professora Betânia Fidalgo, falou sobre a integração da academia com a cultura popular e da necessidade de divulgar isso para jovens que, muitas das vezes, não possuem conhecimento da importância da produção cultural na região.
Betânia Fidalgo afirmou que o universo acadêmico precisa intercambiar a cultura popular com a ciência, e que a ciência não está acima do conhecimento popular produzido por comunidades tradicionais da Amazônia. “É a prova de que a academia se curva à ciência, à pesquisa, a esse trabalho da cultura popular, dos saberes diversos que estão colocados aqui. Eu tenho certeza que, hoje, a UNAMA está protegida com o Glorioso São Sebastião”, finalizou.
Por Isabella Cordeiro e Juliana Maia (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).