Como de costume, Uilder César de Lima levou o filho, de 10 anos, para o Colégio Boa Viagem (CBV), unidade Jaqueira, na Zona Norte do Recife, na última quarta-feira (23). Quando o menino, que é aluno do 4º do ensino fundamental, chegou da escola, entretanto, Uilder tomou um susto. O garoto estava cheio de hematomas e mal conseguia andar.
"Ele sentia dores na bexiga, dores no abdômen, nos braços, pernas e, até mesmo, no ânus. Porque empurraram ele, bateram bastante nele e tudo isso porque ele falou que essas crianças estavam jogando futebol com uma tampinha de garrafa, o que não é permitido pela escola”, disse Uilder, que é dirigente do Psol e da Intersindical, em entrevista ao LeiaJá.
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À reportagem, ele conta que os estudantes cercaram o filho e iniciaram as agressões. “Dois amigos dele viram, correram para interferir. No meio do caminho para casa, meu filho relata o que aconteceu para a mãe desses amiguinhos, que o traz para casa”, ele explica. De acordo com Uilder, ele e a mãe dos amigos do filho mantêm uma dinâmica de mobilidade com as crianças. “Ela achou uma aberração, ficou chocada. Ela retornou à escola, falou de fato com a coordenação e informou até que eu tinha levado meu filho para a emergência”, complementa o pai da vítima.
Segundo ele, o CBV Jaqueira não enviou mensagem ou ligou para informar o caso ou prestar esclarecimentos à família. O contato só foi feito após a tia do menino ter relatado tudo por telefone para uma funcionária da escola no dia do ocorrido.
Uilder aponta que a situação na instituição não é novidade, no entanto, chegou “ao extremo”.
“Meu filho tem TDHA, a gente tem até o laudo, e sabemos que ele tem autismo, porém ainda em trâmite com esse laudo. Quanto a isso, a escola tem ciência. Meu filho sofre bullying constantemente. O último episódio não tem nem duas semanas. Ele queria um All Star e a gente foi lá e comprou para ele. Quando meu filho chegou na escola, as crianças começaram a dizer que o tênis era falso, fizeram uma rodinha e começaram a pisar no sapato dele”, relembra.
Uilder afirma que outros casos envolvendo o filho ocorreram no colégio, mas sempre foram diminuídos. “A gente já teve diversas reuniões com coordenador, diretor, psicóloga e, até mesmo, com a professora. E sempre aquela coisa de amenizar, de abafar, de criança, 'vamos solucionar' e as coisas se agravando. Então chegou um momento em que a escola não assegurou a integridade física, nem moral ou psicológica do meu filho. Um colégio renomado, de referência, por sinal, será que as câmeras não viram [a agressão]? Cadê a obrigação do colégio?”
O pai do estudante registrou um boletim de ocorrência e a criança foi submetida a exames no Instituto de Medicina Legal [IML], que constataram hematomas em algumas partes do corpo. “Meu filho desde ontem que não dorme, não quer ir mais à escola, porque, além da agressão física, ele foi ameaçado por essas crianças. Chegou ao ponto de eu estar com o meu filho tarde da noite no IML para fazer exame de corpo de delito. Vou ter que voltar para a delegacia hoje [quinta-feira] e, depois, ao Conselho Tutelar”, lamenta.
Boletim de ocorrência registrado por Uilder na última quarta-feira. Foto: Arquivo pessoal.
Hematomas estão em algumas partes do corpo da criança. Foto: Arquivo pessoal
Hematomas estão em algumas partes do corpo da criança. Foto: Arquivo pessoal
O pai do menino acrescenta que cogita entrar com uma ação contra o CBV Jaqueira. "Já estou com um escritório, por sinal, para entrar com uma intimação contra o colégio. Porque a gente sempre avisou, alertávamos em reunião, conversou diversas vezes e chegou a uma forma bem complicada ontem. Só eu sei o que estou passando depois de tudo isso que aconteceu ontem", expõe.
Após a agressão, a criança não deseja voltar à escola. "Quando ele lembra dos dois melhores amigos, ele quer retomar [à escola] porque não quer ficar longe deles, que são amigos que o entendem, sabem da situação dele, defendem. Há coisas que ele não contou para a gente, mas um dos amigos contou. Acho que, por causa de tanta coisa acontecendo, ele [o filho] fica constrangido de falar para a gente".
O que diz o CBV
"O Colégio CBV - unidade Jaqueira - esclarece que, no dia de ontem, 23/08, ocorreu uma situação que não compactuamos: alguns alunos do Ensino Fundamental Anos Iniciais estavam jogando futebol e houve desentendimento entre as crianças.
O colégio está em contato com as famílias de todos os meninos que participaram do incidente, prestando suporte e tomando providências pedagógicas e disciplinares."