Sebastião Pereira Duque tem 62 anos. Para os amigos e principalmente entre as crianças, ele é conhecido como “Titio”. Nascido em um sítio do município alagoano de Água Branca, Seu Sebastião vive em Olinda desde 1973.
Ele já vendeu sorvete vestido de palhaço (atividade que lhe rendeu o apelido de “magrelo fantasiado”) e hoje trabalha como catador de material reciclável no mangue. Apesar de todas as dificuldades e privações de uma vida com poucos recursos financeiros e vários desafios, como a morte de três dos seus dez filhos, Sebastião se preocupou com o próximo. Há 34 anos, fundou a Escola Nova Esperança, na segunda etapa de Rio Doce, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife.
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A motivação para criação da escola veio quando ele percebeu a dificuldade de famílias da região, que não tinham com quem deixar as crianças no horário de trabalho, uma vez que as creches eram muito distantes e as escolas municipais só aceitam estudantes a partir dos seis anos de idade. “O ensino é onde está nossa luz, nosso caminho. Eu só penso no futuro das crianças, que Deus ilumine o caminho delas como até hoje, mesmo com todas as dificuldades, está iluminando o meu”, explica Seu Sebastião.
Hoje, são atendidas 97 crianças dos dois aos cinco anos de idade na escola que funciona em uma construção que apesar de muito simples, como o próprio Seu Sebastião, é sólida, feita de cimento e tijolos, com duas salas de aula e espaço para recreação. No entanto, nem sempre foi assim: tudo começou em um terreno vazio, passou para um galpão e atualmente, com a colaboração da população que leva doações, a sede da escola foi erguida. “O que eu tenho a dizer que a gente trabalhe olhando o próximo, com as possibilidades que a gente tem”, diz o fundador da escola.
Perguntado se tem vontade de retomar os estudos, Seu Sebastião explica que não pretende voltar a estudar porque poderia fazer algum curso e arrumar um emprego, mas não se acostuma a regimes de trabalho formais. “Não tenho interesse de ser empregado, desde 1979 que eu trabalho pela minha conta e acho que Deus vai me dar até o dia que ele quiser, que seja pela minha conta mesmo. Não vou me acostumar a ser um funcionário de alguém, eu sou um funcionário do povo, de todos”, relata.
As famílias dos alunos pagam apenas uma taxa de R$ 30 que é utilizada para fornecer uma ajuda de custo a quatro professoras voluntárias da escola, que atendem a quatro turmas de até 25 alunos. Os demais custos ficam a cargo de Seu Sebastião. “Eu só tenho o que eu construí com luta minha do dia-a-dia. Aqui, para botar um tijolo eu pago, botar um reboco, tudo eu pago com o que eu tiro do meu trabalho com a minha reciclagem”, conta ele.
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Construção de casas
“Não satisfeito” com a oferta de educação infantil que supre uma necessidade da população onde o poder público não fornece esse serviço, Seu Sebastião foi além do ensino, preocupando-se também com a qualidade de vida, segurança e bem-estar das crianças da escola e de suas famílias. O projeto “1 kg de cimento e 1 tijolo é minha casa” é desenvolvido pelo “construtor da esperança”, como Seu Sebastião também se intitula, há cerca de três anos. Ele arrecada doações de material de construção (portas, janelas, cimento, tijolos, areia, etc.) para erguer casas a baixo custo para pessoas carentes da segunda etapa de Rio Doce.
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Questionado sobre qual é a parte mais complicada de manter os dois projetos (escola e construção de casas) funcionando, Seu Sebastião explica que precisar pedir e contar com a solidariedade das pessoas é o maior desafio. “A maior dificuldade é pedir, Deus me abriu os canais e hoje o povo está me ajudando. A gente recebe doações, faz as casas e o morador dá uma cesta básica para o pedreiro que constrói. Eu pego só na matéria prima para a gente produzir, para ninguém dizer que eu estou comendo dinheiro, quem me fiscaliza é quem está me ajudando, tudo é notificado e comprado com nota fiscal”, afirma ele.
A escola e o projeto de construção de casas sobrevivem com recursos de Seu Sebastião e de caridade. Quem quiser pode contribuir levando qualquer tipo de doação até a Escola Nova Esperança, que fica na Rua cinco, segunda etapa de Rio Doce, em Olinda.
"Aqui é a casa que recebe tudo, que a gente precisa de tudo, é a base, o eixo. Areia, cimento, telha, cesta básica, fralda. Traz uma garrafa pet, um ventilador velho, que tá quebrado na sua casa, não vá pensar que é lixo, não é, de tudo a gente recebe, tira um pouco, tem um futuro", diz o trabalhador.
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