O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e a ministra da Corte Cármen Lúcia foram aconselhados por um grupo de sete senadores, na terça-feira, a procurar a cúpula do Exército para saber até que ponto são reais as ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) de não reconhecer o resultado das eleições, caso perca a disputa. Os próprios senadores pretendem conversar com militares, pois se disseram preocupados com riscos à democracia.
A apreensão foi manifestada durante jantar oferecido por Cármen Lúcia, na casa dela, a sete senadores e a Fux. O Estadão apurou que senadores afirmaram aos ministros não ver qualquer relação entre as Forças Armadas e as suspeitas lançadas por Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas e o processo eleitoral. Disseram, ainda, que os generais com quem têm conversado não estão dispostos a "embarcar em uma aventura".
##RECOMENDA##Todos ali observaram, porém, não ter dúvidas de que o presidente tem vontade de "dar um golpe" e criar confusão para questionar o resultado das eleições. Questionado pelos colegas no jantar, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), ex-líder do governo no Senado, teria dito que não se deve subestimar a capacidade do presidente de promover arruaças. A informação foi divulgada pela coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, e confirmada pelo Estadão. Bezerra Coelho negou.
Estavam também presentes os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Kátia Abreu (Progressistas-TO), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Marcelo Castro (MDB-PI) e Eduardo Braga (MDB-AM).
Sob o argumento de que não seria estratégico romper relações com o presidente, senadores observaram, na conversa com Cármen Lúcia e Fux, que o diálogo com o Planalto e com o núcleo militar do governo deveria ser sempre mantido, tanto por ministros do Supremo como por parte do Congresso.
Bolsonaro já disse várias vezes que poderia não reconhecer o resultado das urnas eletrônicas sem voto auditável e, sem provas, questionou a legitimidade da Justiça Eleitoral. Afirmou até mesmo que seu partido, o PL, contratará uma empresa para fazer auditoria privada das eleições. Em mais de um discurso, fez questão de destacar que "só Deus" o tira da cadeira de presidente.
'ARBITRARIEDADE'
Na noite de quinta-feira (2), em transmissão ao vivo pelas redes sociais, Bolsonaro disse que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) toma "medidas arbitrárias" e dirigiu novos ataques à Corte.
"Sabemos que o TSE está tendo medidas arbitrárias contra o estado democrático de direito, ataca a democracia. Não querem transparência do sistema eleitoral", afirmou. "Lamento aqui que o TSE convidou (sic) as Forças Armadas a participar de uma comissão que visa a transparência eleitoral. Depois que as Forças Armadas apresentam as sugestões o TSE - o TSE não, o ministro presidente do TSE - não aceita mais conversar. E diz que tem de ser assim e não discute mais o assunto. Lamentável", completou, numa referência ao ministro Edson Fachin.
Bolsonaro também criticou, mais uma vez, a presença de observadores internacionais convidados pelo TSE para acompanhar as eleições de outubro. "O presidente Fachin se reuniu nesta semana com embaixadores de outros países, dizendo: Quando aparecer o resultado, na tarde de 2 de outubro, seus países reconheçam imediatamente o resultado das eleições. Bastante curioso isso que ele está fazendo. Lamentável o senhor Fachin ter se reunido nesta semana com embaixadores de outros países", disse o presidente na Live.
OBSERVADORES
O convite para que observadores internacionais acompanhem as eleições também foi assunto do jantar na casa de Cármen Lúcia. Ao contrário de Bolsonaro, os senadores presentes àquela reunião elogiaram a iniciativa do TSE. Disseram, ainda, que a atitude trará mais segurança às eleições. Um dos parlamentares disse que "o mundo está de olho" no Brasil.
Este não foi o primeiro encontro entre senadores e ministros do Supremo para abordar a ameaça de ruptura institucional. No dia 11 de maio, Kátia Abreu organizou um jantar com os ministros do STF Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e de outros parlamentares. A ideia é que encontros do tipo ocorram de forma rotineira.