Discursos afirmando que o Brasil necessita de mudanças foram os queridinhos dos postulantes à presidência da República durante a campanha eleitoral do primeiro turno. Diante das jornadas de julho, quando muitos brasileiros saíram às ruas demonstrando insatisfação com os problemas que assolavam o país, os candidatos aos cargos políticos no pleito deste ano aproveitaram a oportunidade para utilizar o tema como mote de campanha.
Durante os debates, essa questão foi amplamente defendida pelos postulantes à presidência da República. E nesse segundo turno, no embate entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), alguns partidos e candidatos quiseram manter o discurso coerente e optaram pelo apoio ao tucano, pois como atual presidente, a imagem de Dilma tende a ser associada às dificuldades enfrentadas pelo Brasil. As legendas PPS e PSC foram algumas das que rapidamente se posicionaram oficialmente como aliadas de Aécio. O pastor Everaldo Cabral (PSC), que também disputava a cadeira no Palácio do Planalto, declarou que o tucano tem propostas que se aproximam com as apresentadas por ele e o julga como melhor opção para o Brasil. O Partido Verde (PV), que tinha Eduardo Jorge como candidato, também se posicionou a favor de Aécio. “É claro que nós temos nossas diferenças, mas entendemos que é hora de marcar o nosso interesse pela alternância de poder no Brasil”, declarou José Luiz Penna, presidente do PV.
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Em contrapartida, a quarta colocada na disputa presidencial, Luciana Genro (PSOL), não declarou abertamente aliança com o PT, mas desaconselhou o voto em Aécio Neves. “Aécio simboliza o retrocesso ao neoliberalismo puro e Dilma é o continuísmo conservador, uma esquerda que não tem mais coragem de defender as bandeiras que sempre defendeu. Vamos liberar nossos filiados tanto para o voto branco, voto nulo, quanto para o voto em Dilma. Não estamos aconselhando voto nenhum, estamos apenas desaconselhando o voto em Aécio”, declarou a psolista, ressaltando que a postura do partido é a neutralidade e que permanecerá na linha de oposição, independente do presidente eleito.
O PSB era a legenda mais cobiçada pelos presidenciáveis, pois representa um contingente superior de votos, já que Marina Silva, disputou a presidência do partido e conquistou, aproximadamente, 22 milhões de votos, ocupando a 3º colocação no pleito. Mesmo com o apelo emocional do ex-presidente Lula, a executiva nacional do partido resolveu firmar parceria com Aécio Neves, na última quarta-feira. Momentos antes da reunião que decidiu o apoio ao candidato do PSDB, o postulante a vice-presidência pela coligação Unidos pelo Brasil, Beto Albuquerque, ressaltou que o PT investiu em ofensas para ‘derrubar’ a campanha do PSB. “Ver defeitos nos outros é um costume do PT. Sua conduta na campanha no primeiro turno foi uma conduta lacerdista de esquerda, que só soube nos ofender, mentir e nos caluniar desde o início”, pontuou.
Já Marina Silva, não declarou apoio formal ao PSDB, mas continua pregando o discurso de mudança. Em nome da Rede, o deputado Walter Feldman afirmou que não há um consenso sobre o apoio aos partidos, mas a única certeza é que a aliança com Dilma Rousseff não irá existir, por representar risco a democracia. “Há setores da Rede que entendem que a polarização entre PT e PSDB que há no Brasil é prejudicial e ainda devemos manter a proposta de não apoiar nenhum membro dessa polarização. Mas a maioria acredita que votar em Aécio significa uma parcela da mudança. Portanto, acreditamos que a mudança significa voto em Aécio, nulo ou branco”, ressaltou Feldman. Mas a decisão oficial de Marina só deve sair após o posicionamento do candidato tucano sobre os pontos programáticos apresentados pela coligação Unidos pelo Brasil.
Pesquisas
A primeira pesquisa eleitoral após a formação do segundo turno apresentou vantagem de Aécio Neves. A amostra divulgada pelo Instituto Paraná Pesquisa aponta que o tucano conquistaria 54% dos votos válidos, enquanto a presidente Dilma aparece com 46 pontos percentuais. A análise do Instituto Veritá, realizada no mesmo período, entre os dias 6 e 8 de outubro, apresenta um resultado semelhante. O PSDB soma 54,2% e o PT 45,2%.
De acordo com o analista político Maurício Romão, os resultados refletem a estagnação do quociente de Dilma Rousseff no primeiro turno. “De fato, as últimas 10 pesquisas do primeiro turno indicaram que Dilma tinha chegado à reta final do pleito com um teto de 40% de manifestações de voto. Das 10 pesquisas finais do primeiro turno, em oito as intenções de voto da petista cravaram o mesmo número: 40%. Os números totais da pesquisa do Instituto Paraná no segundo turno, dada a vantagem elástica para o oposicionista, mostram que a presidente tem pouco espaço para garimpar votos no conjunto dos brancos, nulos e indecisos, e que só pode evoluir mesmo, a ponto de equilibrar a peleja, retirando votos do tucano”, pontuou.
Segundo o analista, o pleito de 2014 quebrou paradigmas, pois com base em disputas presidenciais anteriores o candidato que terminou o primeiro turno na frente, permanece na mesma posição nas primeiras análises de intenções de votos. Nesta eleição houve uma virada, onde o opositor supera o líder do primeiro turno.
Apesar de Aécio neves ter conquistado um maior número de partidos aliados, Maurício Romão atribui o resultado da pesquisa a insatisfação popular, em relação ao atual governo. “Se no primeiro turno Dilma conquistou 41,59% dos votos válidos, quer dizer que 58,41% dos eleitores não querem manter a presidente no poder. Então o percentual de votos conquistado pelos demais candidatos acabou migrando para Aécio. Os apoios formalizam o que tem sido concretizado nas pesquisas”, informou.
Mas Romão ainda considera prematuro avaliar o cenário final do pleito e defende que para a presidente conseguir virar o quadro precisa pleitear os votos dos eleitores que se mostraram favoráveis a Aécio e não apenas os indecisos. Segundo o analista, o PT pode utilizar o tempo de guia para, além de apresentar as propostas, desconstruir a imagem do tucano.