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A arte e a vida são elementos que, na maioria das vezes, andam lado a lado no cinema. Os filmes que retratam competições extremas ou a dramaticidade no âmbito trabalhista apresentam uma parcela de força de vontade extraída das pessoas que lutam por conquistas profissionais.

No Dia do Trabalhador, celebrado nesta quarta-feira (1º), o LeiaJá relembra produções cinematográficas que trazem diversos funcionários em histórias emocionantes, em desfechos de tirar o fôlego, que cruzam o caminho da derrota, conquista e dos sonhos.

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George R.R. Martin, o escritor americano e autor da saga que inspirou a famosa e sangrenta série "Game of Thrones", criou uma grande variedade de mundos de fantasia com inspirações que vão da era medieval ao futuro sci-fi.

Graças ao sucesso de seus livros, o escritor de 70 anos, sempre visto de barba branca, gorro, óculos e suspensórios, se transformou em 2016 no 12º autor mais bem pago do mundo, segundo a revista Forbes.

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Fã de história medieval e mitologia, apaixonado pela Guerra das Rosas, vendeu mais de 85 milhões de exemplares de sua saga, traduzida para 47 idiomas.

Sua obra, com dezenas de romances, inclui também ficção científica ("Uma canção para Lya"), fantasia ("The Armageddon Rag"), terror ("Nômades Noturnos") e HQ ("Wild Cards").

George Raymond Richard Martin, filho de um estivador, nasceu em 20 de setembro de 1948 em Bayonne, Nova Jersey.

"Fui criado em uma moradia popular. Éramos pobres [...] nunca viajávamos no verão. Mas os livros me levaram a todo lugar", diz esse leitor voraz em entrevista ao canal americano PBS.

Quando era criança, escrevia histórias de monstros que vendia para os amigos por algumas moedas,e mais tarde histórias de super-heróis para fanzines de sua escola.

Com 13 anos se impressionou com "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien.

"A partir do momento em que Gandalf morre, o suspense se multiplica por mil, porque qualquer um pode morrer".

Estudou jornalismo na Universidade de Northwestern University e foi contra a Guerra do Vietnã.

Em 1972, quando o americano Bobby Fischer se transformou em campeão mundial de xadrez, gerando forte interesse pelo jogo, George R.R. Martin foi contratado para ser juiz de xadrez nos finais de semana, o que deixava "cinco días livres para escrever" e proporcionava dinheiro suficiente para pagar as contas, disse ao jornal The Independent.

- "Um peso enorme" -

Começou a publicar nos anos 1970 com romances curtos e depois trabalhou em roteiros para séries de TV como "Além da Imaginação" e "A Bela e a Fera", sem nunca deixar de escrever.

"Cada vez que apresentava um roteiro, me diziam: 'George, gostamos, mas é cinco vezes nosso orçamento'".

"A batalha, em que coloquei 10.000 pessoas se transformava em um duelo entre o herói e o cara malvado", disse em entrevista à Time.

Após vários projetos para televisão não aprovados, passou a se dedicar apenas à literatura, pensando em "escrever algo tão grande como [sua] imaginação, com todos os personagens que queria, castelos gigantes, dragões, lobos, centenas de anos de história e uma trama realmente complexa.

Ou seja, algo impossível de filmar", contou sobre sua saga "Canção de Gelo e Fogo", que começou em 1991 com a ideia de fosse uma trilogia.

Quando os livros entraram na lista dos mais vendidos e o "Senhor dos Anéis" foi adaptado para o cinema, Hollywood se mostrou interessado.

O autor era contra filmes centrados nos personagens Jon Snow e Daenerys e recusou as propostas de filmes baseados no primeiro livro.

Mas em um encontro em 2006 com os roteiristas David Benioff e D. W. Weiss um entendimento foi alcançado, conduzindo ao lançamento de "Game of Throne" em 2011 pelo canal HBO.

A transmissão da última temporada da série começa em 14 de abril, a partir de elementos que George R.R. Martin deu aos roteiristas "há cinco ou seis anos".

"Mas podem ter acontecido mudanças e acrescentado muitas coisas", reconheceu o autor, que não leu os últimos roteiros, como disse em entrevista à revista Rolling Stone.

Apesar disso, ainda não terminou os dois últimos livros da saga, o que gera impaciência e muitas vezes mal-estar entre os fãs.

"Sou muito consciente de que devo fazer algo grandioso", disse ao jornal The Guardian. "É um peso enorme".

Já está disponível o primeiro episódio da nova temporada do Vem Ser S/A. O programa, comandado pelo Controlador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional, Janguiê Diniz, traz o nome de Chaim Zaher para a primeira entrevista. O empresário é um grande empreendedor no ramo educacional, com foco nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Zaher destaca suas experiências e como prosperou em seus negócios. Com receita de R$ 800 milhões, o grupo educacional do libanês Chaim Zaher tem uma rede com cerca de 50 mil alunos desde o ensino na primeira infância até o ensino médio. Confira a edição:

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O programa é exibido às 20h todas as quartas-feiras pelo YoutubeFacebook e canais do LeiaJa.com. As edições destacam histórias de grandes empreendedores.

Intitulado o ‘país do futebol e do Carnaval’, o Brasil também tem um grande número de lugares assombrados. Mesmo sem figurar as principais listas de locais assustadores do mundo, o país é repleto de contos, narrativas e histórias de ‘arrepiar’.

O LeiaJá fez um roteiro com os locais assombrados do país, para quem deseja se aventurar (e se assustar) e conhecer o Brasil de um outro ângulo. Confira:

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Recife, PE

Considerada por muitos como a capital mais assombrada do Brasil, o Recife tem superlotação no quesito histórias de terror. A capital pernambucana não é só composta de pontes, rios e altos coqueiros, mas também de fantasmas, vultos e assombrações. Um lugar de fácil acesso e que tem uma das histórias mais cruéis e emblemáticas da cidade pode ser encontrada na Rua Nova, Santo Antônio.

A Emparedada, como é conhecida, conta a história de uma jovem que após engravidar teria sido presa, por seu pai, em um cômodo da casa e a porta teria sido coberta com um parede. Conta-se que gemidos e ruídos são ouvidos do cômodo em que a jovem teria sido enterrada viva, além de relatos de móveis e objetos se movendo sozinhos. A narrativa virou livro a foi editada em folhetim no ‘Jornal Pequeno’, entre 1909 e 1912, depois transformada em volume. Especula-se que a história teria sido baseado em um crime real.

 

Mossoró, RN

Na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, no mês de maio e durante as madrugadas, o fantasma de Lampião pode ser visto cavalgando nos limites do município.

É o que acreditam os moradores da região, que creem que Lampião jamais aceitou a derrota na batalha de 1927 e de tempos em tempos faz uma ‘ronda’ pela cidade.

 

Salvador, BA

O Mercado Modelo é famoso em todo Brasil por seu histórico de comércio, com mais de 250 lojas, grande variedade de artigos de artesanato, lembranças e restaurantes, é também conhecido por ser cenário de hórridas narrativas.

De acordo com os lojista do mercado, dentro do local há ‘túneis assombrados’, que formalmente servem de dispensa, mas conta-se que antigamente eram usados como prisão para escravos vindo da África e que, posteriormente, pessoas que entram nos túneis nunca mais foram vistas.

 

Barbacena, MG

Cenário de uma das histórias reais mais cruéis do Brasil. O Hospital Colônia, em Barbacena, Minas Gerais, foi palco para um genocídio que matou 60 mil pessoas entre 1903 e 1980. Nesse período, pessoas que viviam à margem da sociedade como homosexuais, mães solteiras, alcoolistas, mendigos, pessoas sem documentos e doentes eram internadas de forma compulsória.

Sem condições adequadas de sobrevivência, os pacientes eram submetidos às mais variadas formas de tortura. Após reforma antimanicomial, o local passou a abrigar apenas 160 pacientes. Pacientes e funcionários da instituição dizem ouvir choro, gritos e pancadas nas paredes de celas vazias em uma ala desativada há muitos anos.

 

Liberdade, São Paulo

Localizada num dos bairros mais badalados na capital paulista, a Capela da Santa Cruz dos Enforcados, também conhecida como ‘Igreja das Almas’ foi construída no mesmo local em que o cabo Francisco José das Chagas foi enforcado.

Em 1821, Chaguinha, como era conhecido, lutava por igualdade de salários e melhor tratamento aos soldados brasileiros, como punição ele foi enforcado. No entanto, no ato da execução, a corda arrebentou duas vezes, mas isso não impediu a morte do cabo. Desde então, Chaguinha é visto ‘passeando’ no local.

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Uma das primeiras formas de entretenimento de muitas pessoas, quando crianças, as histórias em quadrinhos (ou HQs) são o meio pelo qual muitos autores podem contar suas histórias e passar uma mensagem. Foi com essa linguagem que o jovem autista Lucas Moura Quaresma achou um meio de expressar seus sentimentos e pensamentos para o resto do mundo.

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Diagnosticado com autismo grave aos 3 anos de idade, Lucas sempre foi um aficionado por desenhos animados e começou a desenhar aos 4 anos. Formado em Design de Produtos em 2016, no mesmo ano publicou on-line sua primeira história em quadrinhos, feita com a ajuda e incentivo da mãe Eliane Helena Moura Quaresma, que falava sobre seu medo de cachorro.

A partir daí, ideias para outras histórias surgiram. Percebendo o potencial de Lucas, Eliane e a designer Thayz Magnago se mobilizaram e junto com o Lucas lançaram a primeira história impressa da coleção "Medo De Que?", uma série de HQs voltadas para o público infantil que aborda os mais diversos medos das crianças, sempre com humor, emoção e uma dose de aventura.

Ao falar sobre seus próprios medos, e dos medos que crianças compartilham com ele para serem transformados em histórias, Lucas ajuda as crianças e a si mesmo e também mostra sua visão de mundo. Além da coleção "Medo de Que?", Lucas trabalha fazendo artes para camisetas e na nova coleção de histórias "De Que O Mundo Precisa?", que já tem uma HQ publicada.

A equipe do LeiaJá Pará esteve com Lucas, antes do lançamento da coleção "De Que O Mundo Precisa?", e conversou com a mãe dele, Eliane Quaresma, e com a amiga Thayz Magnago. Veja o vídeo abaixo.

Por Felipe Pinheiro e Breno Mendonça.

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Quadrinhista paraense lança nova coleção de HQs

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A primeira história em quadrinhos publicada no Brasil está fazendo hoje 150 anos: Nhô Quim era o personagem de uma história em dois episódios, que o público conheceu pelas páginas do jornal Vida Fluminense, em 30 de janeiro de 1869. Por isso hoje (30) se comemora o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos. 

De lá para cá, a produção nacional nunca parou. A primeira publicação dedicada exclusivamente aos quadrinhos foi "O Tico-Tico", lançada em 1905. Muitos títulos e personagens brasileiros não são conhecidos do grande público, que tem mais facilidade em se lembrar da "Turma da Mônica" ou do "Menino Maluquinho", mas a verdade é que as revistinhas ou gibis, como também são conhecidas, já existem há bastante tempo. 

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O que não muda é a relação do leitor com os quadrinhos, um hábito de leitura que é quase afetivo e que costuma acompanhar a pessoa até a vida adulta, pois HQ não é coisa só de criança - ao contrário, existem diversas opções para adultos. 

A engenheira ambiental Lais Bariani, 28 anos, começou a ler as revistinhas da Turma da Mônica por incentivo da escola e de sua mãe. O ritmo dinâmico das histórias e as ilustrações a ajudaram a tomar gosto por esse tipo de leitura. Ela aponta também para o modo como os quadrinhos podem abordar assuntos sérios de maneiras sutis, como as historinhas do menino negro Jeremias, da Turma da Mônica. 

Hoje, Lais gosta de ler HQs sobre o candomblé, que conheceu a partir da obra "Conto dos Orixás", do artista baiano Hugo Canuto. Por ser umbandista, ela se identificou com as histórias. “O mais incrível é levar o místico (religião) para o universo de super-herois, achei que ficou um casamento perfeito”, conta.

O professor de Design Julio Brilha começou a trabalhar com quadrinhos aos 16 anos, pois tinha contato com pessoas que já atuavam no ramo. Logo depois fez faculdade de Desenho Industrial com ênfase em Programação Visual (curso hoje conhecido como Design Gráfico), já pensando em trabalhar com quadrinhos. 

Brilha diz que as HQ norte-americanas são referência no Brasil, mas que “muito do que é publicado no Brasil foi produzido não só Estados Unidos, mas também na América Latina e Europa, sem falar dos quadrinhos japoneses, os mangás, e até mesmo quadrinhos coreanos, os manhwas”.

O professor, que já trabalhou em uma minissérie em cinco edições chamada "Dynamo 5: sins of the father", pela Image Comics, nos Estados Unidos, conta que o modelo de trabalho das editoras americanas é um mercado totalmente concorrido, por ser um mercado global, que trabalha com artistas de todos os continentes. “O ritmo de produção é muito acelerado, já que muitos títulos são lançados semanalmente. Nesse modelo a revista é produzida em equipe. Existe uma equipe de trabalho onde cada um cumpre um papel muito específico. Existe roteirista, que passa o roteiro para um desenhista, que entrega as páginas para um colorista. Todo esse processo é acompanhado por um editor, que é o funcionário da editora que aprova e viabiliza a publicação", explica. 

Confira a seguir cinco sugestões de histórias em quadrinhos para ler e comemorar o Dia Nacional das HQ:

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O paraense Fabrício Ferreira ganhou destaque na internet ao relatar suas vivências em um motel da Região Metropolitana de Belém onde passou grande parte da infância. O jovem resolveu fazer uma thread (sequência de tweets que contam uma história ou fatos curiosos) no Twitter, para relatar acontecimentos trágicos e engraçados e até um caso policial. Não demorou muito para que suas histórias viralizassem, e atingissem grande número de compartilhamentos na rede. 

Criado no espaço do motel que era administrado pela avó, primeiramente, e depois pela mãe, o jovem conta que não acreditou no sucesso da publicação. “Eu achava que não ia dar em nada, que eu ia ficar falando comigo mesmo como eu sempre faço no Twitter, porém quando eu vi 5.000 curtidas eu comecei a rever na memória tentando lembrar o máximo de informação para colocar na thread”, disse Fabrício.

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Um dos tweets que mais viralizou foi sobre o assassinato que o jovem diz que chegou a presenciar. “Eu tinha na minha cabeça tanta coisa que não era para ter colocado. Depois da repercussão, eu tirei porque tem coisa que pode comprometer outras pessoas”, declarou.

Fabrício revela que ainda tem muitas experiências não relatadas e que está pensando em escrever um livro. “Várias pessoas estão me incentivando a escrever um livro e eu estou cogitando esta hipótese. Mesmo não sendo um escritor, acho que dará para entreter o leitor, porque as pessoas se interessam bastante em ler sobre as intimidades e experiências de outras pessoas."

A thread pode ser acessada clicando aqui.

 

 

No ar há 24 anos, "Malhação" sempre foi sinônimo de modernidade. Criada em 1995, a atração da Rede Globo passou por inúmeras mudanças, deixando as azarações da academia de lado para dar espaço a interação nas escolas. Com autores renomados em diferentes fases, entre eles Emanuel Jacobina, Márcia Prates e Ricardo Linhares, a novela teen celebra nesta sexta-feira (4) seis mil episódios exibidos.

Sempre no horário das 17h, "Malhação" está na sua 26ª temporada. Por lá passaram nomes que, hoje, fazem o maior sucesso em produções de TV e cinema, a exemplo de Carolina Dieckmann, André Marques, Danton Mello, Marjorie Estiano, Monique Alfradique, Bianca Rinaldi, entre outros talentos.

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De tantas histórias, as que mais marcaram o público foram o romance de Nanda e Gui em 2001, os conflitos da Vagabanda em 2004, as aventuras protagonizadas pelos atores Rafael Vitti e Isabella Santoni em 2014, e a amizade das Five em 2017, na temporada "Viva a Diferença". Costurando sucessos e repulsa, "Malhação" continua abrindo os caminhos para os atores conquistarem os seus objetivos nos mais diversos segmentos da arte.

— Eles me bateram bastante e me levaram para o Cotel. E lá, quando eu entrei, nem os agentes penitenciários tiveram a sensibilidade de me informar porque eu estava encarcerada. Eu só descobri que era traficante quando procurei um canto para dormir na cela e os outros presos pediram a minha “nota de culpa” e eu entreguei o papel. Nele dizia que eu tinha sido presa em flagrante em posse de R$ 32 e 18 pedras de crack.

Há oito anos, Cleide Gomes*, que nesta reportagem ganhou nome fictício, hoje com 26 anos, era presa e nem imaginava que passaria pelo pior pesadelo da sua vida. Ela trabalhava como profissional do sexo nos principais pontos de prostituição do Recife, sempre migrando. Em uma dessas temporadas, optou por trabalhar no centro da capital pernambucana e o local ficava próximo a pontos chave do tráfico de drogas, além de ser violento. Para que as profissionais se sentissem mais seguras, elas se organizavam e pagavam R$ 50 cada para policiais que faziam a ronda na área ficarem de olho.

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Mas, Cleide relembra que o clima nunca foi tão amistoso com os agentes públicos, eles a revistavam, escolhiam algumas para bater, levavam na cadeia e depois soltavam. Em uma dessas abordagens, uma policial mulher começou a revistar o corpo de Cleide. Ela a apalpava em todos os locais do corpo e quando chegou na região da genitália, descobriu que a profissional do sexo era uma mulher travesti e ficou indignada. “Eles não perguntavam nada, só vinham, começavam a tocar os nossos corpos e a gente era obrigada a aceitar tudo. A policial ficou muito irritada por ter tocado no meu pinto sem saber e começou a me bater, me bateram muito e cortaram o meu cabelo”, relembra Cleide.

Cleide entrou para o mundo da prostituição ainda jovem, não sabia que travesti podia fazer outra coisa". Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Pouco tempo depois do ocorrido, ela tentou firmar um acordo com as outras travestis que trabalhavam na região, de que não iriam mais pagar nenhum centavo aos policiais, já que eles estavam batendo nelas e atrapalhando o desenrolar do local de trabalho das mulheres. “Eu lembro que nem todo mundo concordou, algumas meninas continuaram a pagar aos guardas e a gente dava nelas. Eu ficava revoltada e isso começou a ser percebido por eles, que eu batia de frente e colocava a minha voz sem medo nenhum”, destaca Cleide, admitindo que ir de encontro a voz da polícia para quem é marginalizado é muito perigoso.

Em uma dessas noites, de acordo com Cleide, como ela já estava “marcada” pelos agentes, foi algemada e apanhou muito. Depois, foi levada a central de plantões e logo em seguida presa. Cleide sempre alegou inocência e afirmava rotineiramente que nunca tinha traficado e seu trabalho era outro.

Encarcerada, para ela injustamente, sem direito a nenhuma voz, começou a perder as esperanças no Estado e na Justiça. Passou a encarar a nova realidade como parte de sua rotina e aceitou por algum tempo que seu futuro seria na prisão.

Cleide entrou para o mundo da prostituição ainda jovem, não sabia que travesti podia fazer outra coisa. Ao contar a família que queria viver como travesti foi expulsa de casa e passou a morar na rua com outras colegas. Aos 15 anos, encontrou uma transgênero e se identificou. “Ela me disse que se eu quisesse ser mesmo, meu único trabalho era programa. Eu me vi nela, percebi que isso era eu. Também queria aquela aparência de mulher. Foi aí que comecei a modificar o meu corpo. Tinha acabado o ensino médio e na época fui aprovada no vestibular para cursar enfermagem”, cita.

A família dela nunca a aceitou bem e apesar de seu companheiro na época não ter gostado da sua escolha, teve de conviver com ela. “Ele foi o meu primeiro e único amor. Mas mesmo com o olhar estigmatizado da travesti, eu quis ser”. Trabalhou em Pernambuco, em outros estados e também na Europa. Em uma semana boa e movimentada, Cleide conta que chegava a apurar R$ 15 mil. “Eu confesso que sempre quis sair da vida de fazer programa, mas eu não via outras alternativas. Travesti não podia ter emprego formal. As pessoas eram e ainda são preconceituosas. É só olhar ao redor e contar quantas estão atuando profissionalmente em áreas distintas”. lamenta.

Em 2010, assim que foi presa, ela relata que para sobreviver na prisão, precisava realizar trabalhos tipicamente femininos, na lavagem de roupas, na massagem de outros presos e também se prostituindo para ter onde dormir. Mas, por ela ter o curso técnico de enfermagem, conseguiu certo “privilégio” trabalhando nas enfermarias dos presídios. Foi transferida muitas vezes, sempre que acontecia uma rebelião, a levavam para outro presídio e a colocavam na enfermaria.

Após dois anos presa, Cleide foi transferida para o antigo presídio Aníbal Bruno, hoje transformado no Complexo Prisional do Curado, na Zona Oeste do Recife. Ela e mais duas travestis foram colocadas dentro de uma cela com mais de cem homens. Eram 103 pessoas dividindo um espaço minúsculo, em que não mal cabiam vinte presos. “Quando eu cheguei, o preso mais velho da cela, geralmente é o mais respeitado, me deu a mão, me ofereceu um canto para dormir e consegui até comer. Durante o dia ele foi gentil comigo e me preservou”. Ela detalha ainda que não imaginava que seria estuprada.

“De início, eu não fiquei preocupada quando fui colocada com mais duas travestis para uma cela com cem homens. Eu tinha certa ascensão lá dentro, trabalhava e era de certa forma respeitada, eles me conheciam e não imaginei que fossem me fazer mal. Mas, mesmo assim, pedi aos agentes que não deixassem nós três lá. Não adiantou”, conta. Cleide relembra que a noite se aproximou muito rápido e detento mais velho da cela a segurou pela mão e disse que queria ter relações sexuais.

“Eu não queria. Entrei em uma briga corporal e ele me furou com um pedaço de madeira. Fiquei toda machucada e cedi. Ele me estuprou a noite toda, por vários dias. Ele gostava da minha aparência feminina, era um objeto sexual. Ele me preservava porque me queria só para ele, apesar de outros homens também me estuprarem. As outras meninas também estavam sendo abusadas. Foi um pesadelo e não tinha o que ser feito. Tive que aceitar”.

Cleide relembra que quando retornou à cela após a triagem, apontou o homem que a estuprava todas as noites e foi informada pela enfermeira: “ele é soropositivo”. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Após vários dias de estupro, uma das travestis apresentou uma fissura anal de tanto ter relações com os outros presos e o sangramento de uma levou as três mulheres à sala da enfermaria para realizar uma triagem. Elas denunciaram a situação que acontecia nas noites, dentro da cela. “Estavam trancafiadas por vinte dias sendo molestadas. Eu contei a enfermeira e pedi para que saíssemos daquele local. A gente podia ser transferida. Mas nada foi feito. Mais uma vez. Naquela época não tinha pavilhão específico para LGBTs”.

Cleide relembra que quando retornou à cela após a triagem, apontou o homem que a estuprava todas as noites e foi informada pela enfermeira: “ele é soropositivo”. A gestão do presídio nada fez, no entanto. Sem muita informação dos processos que poderiam ser adotados após se expor à prática sexual sem preservativos, o corpo de Cleide começou a enfraquecer alguns meses depois. “Eu não sabia dos métodos que poderiam ser aplicados a mim, como hoje conheço a PEP*. Mas eles existiam. E era obrigação do Estado me proteger. Eles falharam comigo. Os presos continuaram me estuprando e eu não podia me prevenir, achava que era o meu fim”, lamenta.

*PEP – Profilaxia Pós-Exposição – é o uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas após terem tido um possível contato com o vírus HIV em situações como: violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha), acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou em contato direto com material biológico). A PEP deve ser iniciada logo após a exposição de risco, em até 72 horas; e deve ser tomada por 28 dias.

Ainda no ano de 2012, Cleide descobriu que estava infectada pelo HIV e caiu em depressão. Continuou na cela com os mesmos homens até o fim do ano. “Não tive o acompanhamento básico, não conseguia me prevenir, não tive tratamento humanizado e só comecei a tomar a medicação alguns meses depois do diagnóstico sair”, relata. Seu corpo era usado todos os dias. Ela só conseguiu observar um futuro diferente quando conheceu Maria Clara, agente de direitos humanos do Projeto Mercadores de Ilusão, que promove a prevenção, a cidadania, o protagonismo e autonomia dos profissionais do sexo, bem como tem representações em instâncias e espaços de controle social, atuando na promoção dos direitos humanos.

No cárcere, Cleide conheceu Clara e pela primeira vez descobriu que uma travesti também podia trabalhar muito além da prostituição. “O projeto me ajudou muito a conseguir realizar exames e ganhar os medicamentos de forma correta, além de explicar o que eu tinha, como deveria me tratar e trabalhar para eu me aceitar e seguir em frente”, analisa.

Três anos se passaram e quando Cleide já estava desacreditada na inocência, em 2013, conseguiu ser absolvida da pena e foi liberado. Após uma investigação, descobriram a filmagem de uma câmera de segurança de um hotel na rua onde a travesti foi presa em flagrante. As imagens mostravam que os policiais roubaram a bolsa dela e colocaram o dinheiro e a droga para forjar o crime de tráfico. “Assim que fui inocentada, eu comecei a processar o Estado. Fui presa injustamente, fui estuprada e infectada com HIV. Sofri muito”.

Decidida a ganhar a causa, Cleide precisou deixar de lado o processo porque recebeu visitas intimidadoras dos policiais que participaram da sua prisão, já que eles conseguiam o endereço que ela residia com facilidade. Fora da prisão, voltou a morar com seu companheiro de vida e conseguiu um trabalho fixo com carteira assinada, que preferiu não detalhar para não se expor.

No segundo semestre de 2018, ela estava indo visitar o marido no cárcere e enquanto aguardava a liberação do lado de fora do presídio, foi atingida por um tiro no centro do peito. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Oito anos depois, ela conta que parou de trabalhar como profissional do sexo para se preservar porque as pessoas soropositivas precisam de uma vida mais regrada e com mais cuidados. Ainda sente muita dor ao olhar para o passado e converte a revolta de seu corpo em militância na causa LGBT e no movimento Aids, a quem ela considera como único acolhedor nesse processo de descoberta e tratamento. “Eu tive a sorte de conhecer o GTP+, tiveram sensibilidade comigo e com meu corpo, era vista como ser humano”.

Tudo que aconteceu na vida de Cleide gerou muita revolta não só nela, mas também no seu marido, que hoje se encontra preso por cometer assaltos. “O sistema não é justo. Nossas ações muitas vezes liberam o nosso sentimento de raiva, por tudo que passamos”, comenta. No segundo semestre de 2018, ela estava indo visitá-lo no cárcere e enquanto aguardava a liberação do lado de fora do presídio, foi atingida por um tiro no centro do peito. “Eu estava sentada na kombi, esperando dar a hora de ir embora, quando começou um tiroteio. A bala entrou e não saiu”, conta. Ela foi socorrida, internada e conseguiram salvá-la. Ganhou uma cicatriz para se lembrar por toda a vida da posição que ocupa, à margem.

Mas isso não a fez uma pessoa fraca, pelo contrário, foram muitas situações difíceis que teve de enfrentar para estar viva e pronta para ajudar outras pessoas. “Eu aprendi muito sobre tudo, principalmente sobre a importância de se prevenir, de lutar pelos seus direitos e de entender que a vida pode ser tranquilamente vivida por uma pessoa soropositiva, mas o alerta tem que estar ligado a tudo. Porque a gente pode também decair muito rápido, se o tratamento não for seguido à risca”, finaliza.

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Conheça outras histórias de pessoas que convivem com o vírus do HIV clicando nas imagens a seguir:









 

 

 

 

 

 

 

 

De 2007 até junho de 2018, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 247.795 casos de infecção pelo HIV no Brasil. Nesse período, o levantamento aponta um total de 169.932 (68,6%) diagnósticos em homens e 77.812 (31,4%) em mulheres. Embora qualquer um possa ser infectado pelo HIV, estão mais vulneráveis homens que fazem sexo com homens, mulheres trans, trabalhadores sexuais, jovens, pessoas que usam álcool e outras drogas e pessoas privadas de liberdade.

Em 2013, quando tinha 33 anos, o estudante Mauro Santos*, que nesta reportagem ganhou nome fictício, foi diagnosticado com o vírus em um dos exames rotineiros que fazia anualmente. Ele não preferiu se estender ao contar o contexto em que foi infectado, mas relembra que estava em um relacionamento sério com outro homem e que teria se tornado soropositivo através dele, por um descuido no preservativo.

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Mauro reconhece que estava em um grupo de risco, apesar da vivência em movimento social desde o ano de 2002, atuando na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, alertando sobre os perigos da Aids em escolas e ambientes de aprendizado. “Eu não era um completo ignorante. Eu sabia de tudo e aceitei o risco quando me expus ao meu companheiro na época”, diz.

"Ao receber a notícia, a sensação foi de desespero porque é algo que todo mundo está sujeito, mas ninguém quer para si. Eu procurei me recompor porque sabia da importância do meu psicológico para tocar a minha vida e foi o que eu fiz", relembra.

Mauro convive com o HIV há cinco anos e confessa já ter passado por altos e baixos. Ele iniciou seu tratamento no Hospital Correia Picanço, em 2014, para tomar a medicação e lhe foi informado que o melhor horário para se medicar seria à noite por causa dos efeitos colaterais. “A tontura é angustiante e mistura com a depressão, causa um desespero. Tive que fazer de tudo para que a minha mãe não percebesse. Em uma das minhas primeiras quedas, eu me sentia acabado, passei o dia mal. Era o início de tudo, estava me acostumando”, relata.

“Eu não era um completo ignorante. Eu sabia de tudo e aceitei o risco quando me expus ao meu companheiro na época”, diz. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

O estudante decidiu que não contaria a família sobre sua saúde porque tinha medo da reação deles e preferiu viver em silêncio sobre esse assunto. “Até hoje a minha família não sabe, e eu prefiro que seja assim porque é outra cultura, minha mãe já é mais velha e tenho receio dela não aceitar. Só quem sabe são poucos amigos porque precisei desabafar”.

Reconstruir a vida na condição de soropositivo é uma batalha diária porque a sociedade ainda é muito reativa quando se fala em Aids. E Mauro sentiu isso na pele. No último relacionamento que se envolveu, após duas semanas conhecendo melhor a outra pessoa, precisou revelar a sua condição de saúde porque a preocupação com o outro é fundamental para acabar com o HIV de uma vez. “Estava com esse homem e quando contei, o resultado não me surpreendeu. Ele preferiu se afastar e seguimos em frente no caminho oposto”, conta.

Muitas pessoas ainda acham que a doença pode ser transmitida pelo ar, no beijo, ou em um simples abraço. Mas longe dos gestos afetuosos transmitirem algo de ruim.  “O preconceito é algo que eu já sentia por ser gay, mas agora é duplo porque quando alguém fala algo negativo de um soropositivo, eu ouço e me sinto ofendido, mas nem sempre posso falar algo”, afirma.

O tratamento contra o HIV disponível atualmente no Sistema Único de Saúde (SUS) é um coquetel de três medicamentos responsáveis por inibir o máximo possível a reprodução do vírus no corpo, enquanto mantém o sistema imunológico atuante e protege contra infecções oportunistas.

Mauro relata que sabe dos riscos de ficar sem a medicação e condena o sistema de saúde de Pernambuco porque em 2018 foram no mínimo duas semanas com a medicação em falta. “A minha sorte foi que eu nunca deixo meus remédios acabarem, sempre pego antes. Então eu tinha certo estoque, mas muitos amigos me ligaram pedindo, desesperados sem saber o que fazer e a quem recorrer nessas horas”, comenta o estudante, que diz fazer parte de um grupo de WhatsApp para soropositivos trocarem informações e se ajudarem.

Um dos sonhos que ele carrega para diminuir o impacto da doença na sua vida é que criem uma vacina para tomar mensalmente. “Evitaria da gente ter que tomar as medicações todos os dias, vai ser muito melhor”, opina esperançoso.

Uma pesquisa internacional avaliou o efeito de injeções espaçadas de dois antirretrovirais em mais de 200 pacientes. Em dois anos, 87% dos que receberam a dose uma vez ao mês suprimiram o vírus. Mas, para que o estudo possa se expandir e se tornar seguro e efetivo, precisa passar por uma nova fase de pesquisas com um número bem maior de voluntários. Ainda não há expectativa para que seja aplicado ao mercado.

Aos 23 anos uma médica informou que o resultado do seu exame tinha sido reagente e que ele estava com o vírus. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

O profissional do sexo José Carlos* - nesta reportagem ganhou nome fictício -, 27, que trabalho com o corpo desde os 14 anos, lamenta não ter conhecido a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV antes de ser diagnosticado com o vírus. O PrEP é o uso preventivo de medicamentos antes da exposição reduzindo a probabilidade da pessoa se infectar com vírus e pode ser utilizada por grupos de alto risco, gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH); pessoas trans; trabalhadores/as do sexo e parcerias sorodiferentes (quando uma pessoa está infectada pelo HIV e a outra não).

Não deu tempo. Aos 23 anos, uma médica informou que o resultado do seu exame tinha sido reagente e que ele estava com o vírus. José era casado e tinha uma filha. Quando decidiu contar a sua esposa, teve medo de dizer como poderia ter pego porque a prostituição era algo secreto e ela nem desconfiava. “Fui muito irresponsável, falei que tinha pego com alguma mulher porque tinha a traído na rua, mas não tive coragem de revelar a forma que ganhava dinheiro”, esclarece.

A mãe e o pai ficaram em choque, sem entender direito como seria a vida do filho daquele momento em diante, mas José sempre demonstrou tranquilidade porque fez pesquisas, passou a frequentar reuniões no GTP+ e em outras ONGs, e as conversas no ciclo de amigos próximos também o acalmavam. “A minha mãe ainda se preocupa muito comigo, quando saio para beber e perco noites de sono. A gente sabe que não pode exagerar porque a doença chega muito rápido. Mas minha mente sempre foi mais aberta, consigo me acalmar para poder tranquilizar quem está ao meu redor”.

José se considera heterossexual e que o fato de transar com homens em seu trabalho não altera sua sexualidade. “Gosto de mulheres, quero encontrar uma para que eu possa me apaixonar de novo, espero que ela me aceite. Mas, são negócios e mantenho relações sexuais com homens principalmente para sobreviver”. Ele conta que já frequentou saunas gays, cinemas, e pontos de prostituição por muitos anos, mas agora mantém um caso com um pastor de uma igreja evangélica que pediu “exclusividade”.

Mas, apesar disso, continua trabalhando com programa quando aparece alguma oportunidade. “É um trabalho que não tem crise, não abala, quem quer sexo vai procurar isso, eles pagam para isso. Quem me conhece, me procura porque gosta de mim. Mas sei que ficando velho, vou perder clientes e essa é a tendência, os mais novos são mais procurados”.

Mesmo sendo portador do HIV, ele diz que leva uma vida tranquila, saudável e sempre que vai fazer sexo, faz o uso da camisinha. Com os medicamentos que fazem parte do coquetel, as perspectivas de vida para soropositivos estão cada vez melhor. Pior mesmo é o preconceito que só aumenta. “O desconhecimento é muito grande, tenho medo de nunca conseguir casar de novo. É um assunto que parece um monstro para tantas pessoas e é tão simples de ser entendido. A gente sofre demais, mas não me entrego”, admite.

Para ele, os casos de HIV entre jovens aumentaram porque falta conscientização, principalmente nas periferias, em que o acesso a educação sexual é mais precário. “Muitas pessoas se drogam, precisam trabalhar com o corpo, e estão vulneráveis. O estado precisa intervir urgente e criar novas medidas mais eficazes para essa molecada ter mais conhecimento”, opina.

José não se arrepende de ter entrado na prostituição para se manter e por consequência ser infectado, mas sente mágoa de seu passado e presente e gostaria de largar o sexo por dinheiro de uma vez por todas. “Quero ter um trabalho como qualquer outro, uma vida mais digna, me cuidar mais. Só que nem tudo é tão simples assim, o dinheiro fácil é atrativo, mas da mesma forma que ele vem com facilidade, vai embora também”, analisa.

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— No velório do meu companheiro, a família dele jogou cal em seu corpo, lacrou o caixão com madeira e prego e pediu que ninguém tocasse nele porque tinha morrido com Aids.

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Emocionado ao relembrar um dos momentos mais difíceis de sua trajetória, Wladimir Reis, 58, hoje se tornou coordenador do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), fundado em 2000 por pessoas com HIV e seus familiares.

Na década de 1990, Wladimir Reis e o seu companheiro trabalhavam na mesma empresa no Porto de Suape, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, em uma indústria náutica. Ele relembra que Alberto, seu namorado, era homossexual, mas havia casado com uma mulher porque ela tinha engravidado e eles precisavam manter a aparência para a sociedade. Longe dos holofotes, os dois eram só amores. Alberto gostava de se cuidar, era vaidoso, andava sempre com os cabelos arrumados e as unhas cortadas, se recorda Wladimir, em tom de saudosismo.

Em 1994, em três semanas, ele percebeu que Alberto estava mudado, com o físico abalado, sem se cuidar e o aspecto de doente. “Ele dizia que não estava legal, mas não sabia o que estava acontecendo. Eu também não tinha ideia do que estava por vir”, relembra. Poucos dias depois de perceber a mudança, ele recebeu a ligação da esposa de Alberto e foi informado de que ele estava passando mal. “Eu ainda me lembro, consegui um carro com a minha chefe na época, ela também me ajudou a marcar uma consulta em uma clínica no centro do Recife. Fui buscá-lo na casa dele o fomos direto para o consultório do médico”.

Alberto já não se locomovia, estava fraco. Quando o doutor fez a radiografia, apontou que o quadro de saúde era de pneumonia, mas que não era grave e que ele podia ir para casa. “Era uma sexta-feira e o médico me disse para levá-lo ao Otávio de Freitas na segunda-feira, e lá poderiam conseguir interná-lo, mas que ele ficaria bem”, destaca Wladimir.

E o procedimento que o médico informou foi seguido. Wladimir levou Alberto de volta à casa de sua família e teve que realizar uma viagem a trabalho para o interior de Pernambuco. Na segunda-feira, logo pela manhã, recebeu a ligação fatídica. A esposa de Alberto informava que ele faleceu a caminho do hospital. “Ele tinha uns 40 anos, era jovem e não teve tempo de chegar à unidade médica. Eu não acreditei porque foi tudo muito rápido. Fiquei desolado”, assume.

Na terça-feira, no retorno para o Recife para participar do velório de seu companheiro, Wladimir teve o primeiro contato com o preconceito contra Aids. Caixão lacrado, olhares desconfiados, ninguém podia chegar perto ou pelo menos essa era a orientação repassada pelos próprios familiares do falecido. “Ele morreu com Aids, não toquem”, diziam. Aquele dia foi marcante na trajetória de luta e resistência de Wladimir. “Considero o primeiro impacto com a doença. Eu não conhecia muito, só lia pelos jornais quando se falava da epidemia na Europa, não se falava disso no Brasil, a gente sabia muito pouco”, aponta.

Com a pouca informação da época, ele acrescenta que não tinha o menor preconceito com o corpo de seu amado, diferente da maioria das pessoas que passou pelo velório para prestar condolências aos familiares. “Ele não merecia isso, era trabalhador, tinha um bom emprego, dava uma boa condição financeira para a família, mas todos os desprezavam naquele momento de tristeza”, garante o coordenador do GTP+.

Passado os dias, Wladimir precisou retomar a vida e voltou a trabalhar em Suape. Mas logo percebeu que o futuro seria diferente, os olhares desconfiados não tinham sido enterrados junto ao corpo velado de Alberto. Eles permaneceram e permanecem até hoje. No trabalho, foi questionado por seus colegas se poderiam comer ao seu lado ou dar um simples abraço ou aperto de mão.

“Conheci outras pessoas com HIV e ela sofriam igual. Vi muitas delas subir no Hospital das Clínicas e pular. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

“A sociedade começou a me matar aos poucos. Decidi ir ao Hospital das Clínicas e lá fui acolhido e me descobri HIV. Até a pessoa que tirava o meu sangue era um psicólogo e me tranquilizava. Ele sabia como era difícil estar com o vírus dentro de uma sociedade discriminatória. Foi aí eu criei forças para lutar e dar continuidade a minha vida e continuar escutando se eu podia comer no mesmo prato, tomar água no mesmo copo”, alega.

A Aids só começou a ser diagnosticada em 1981, pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, que anunciou a descoberta de uma infecção que afetava cinco homossexuais americanos. Eram os primeiros casos identificados de Aids, doença que se transformou no mal do século XX. No Brasil, os primeiros casos foram identificados em 1982.

Em contato com outras pessoas soropositivas, Wladimir passou a perceber que o preconceito não era só com ele. “Conheci outras pessoas com HIV e ela sofriam igual. Vi muitas delas subir no Hospital das Clínicas e pular. O peso é muito grande porque a gente vive em uma sociedade que não valoriza princípios e valores”, aponta.

Ao longo da década de 1990, os anos foram difíceis. Com o diagnóstico oficial de que era soropositivo, as pessoas começaram a ir embora de sua vida. Amigos que saíam para tomar cerveja, para ir à boate, foram sumindo. Todo mundo foi embora, não fosse pelo apoio dos avós, ele destaca que não sabe se teria suportado a dor.

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“Eu antes participava de uma instituição em que a gente se encontrava uma vez por semana em hospitais e na outra semana quatro, cinco tinham morrido. As pessoas diziam que iam se matar, logo que se descobriam positivas porque o afeto se perdia e não tinham esperanças”, relembra. Com a chegada do AZT, primeiro antiviral, nos anos 1990, as vítimas ganharam uma nova perspectiva de futuro.

Nessa época, Wladimir destaca que a Aids também começou a atingir os pobres, porque antes era algo propagado em classes mais ricas. “Daí, então, a comunidade começa a se organizar para enfrentar a epidemia junto a nova população que estava sendo acometida com o vírus. A gente montou um grupo de teatro porque era fácil de levar a mensagem com a arte cênica e interagir com diferentes classes sociais”, afirma.

Eles foram convidados para se apresentar em diversos locais na Região Metropolitana do Recife e no interior do Estado. “Nos deparamos com situações de mulheres que não podiam mais vender doces e salgados porque ninguém mais comprava já que elas tinham HIV. Pessoas proibidas de andar nos coletivos e nos carros de saúde dos municípios. Começamos a nos organizar”.

Em 2000, com o apoio de colegas, fundou o Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), uma das primeiras ONGs a oferecer ajuda especializada em tratar o vírus no Nordeste. Wladimir lembra que uma instituição alemã apoiou a estruturação da ONG, doando equipamentos e verba para custos de aluguel.

O foco do atendimento ainda hoje é nos profissionais do sexo e pessoas vivendo com HIV em situação de vulnerabilidade social. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

A instituição atende jovens, homossexuais, bissexuais, mulheres travestis, mulheres transexuais, mulheres cisgênero, pessoas vivendo com HIV/Aids, profissionais do sexo, priorizando pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Nos últimos anos, no entanto, Wladimir afirma que o apoio internacional diminuiu bastante e eles dependem da abertura de editais municipais e estaduais para captar recursos para projetos no intuito de conseguir se manter. A sede do GTP+ fica no centro da capital pernambucana e atualmente se encontra com nove aluguéis atrasados, bem como a estrutura do primeiro andar está danificada. “Eu sinto que esse público marginalizado só é do interesse dos nossos políticos na época da eleição e não para construir políticas públicas de saúde, de educação”, lamenta. Mundialmente, existem agora mais de 17 milhões pessoas que vivem com HIV e com acesso a medicamentos antirretrovirais.

“A gente procura realizar eventos, promover o nosso bazar, pedir ajudar as entidades, mas está cada vez mais difícil. Atendemos pessoas aqui vulneráveis, que não tem nem passagem, nem dinheiro para se alimentar. O mundo diz que quer acabar com a Aids até 2030, mas da forma que as coisas andam, acho muito difícil. Não somos prioridade”, alerta Wladimir. Acabar com a epidemia de AIDS até 2030 é uma parte central dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. No Brasil, entre 2007 e 2016, foram registrados 136.945 novos casos de infecção por HIV.

De acordo com a gerente do programa estadual de IST/Aids e hepatites virais, Camila Dantas, da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a gestão busca sempre dialogar com as ONGs e reconhece o trabalho dessas instituições na rotina de quem precisa desse acolhimento. Atualmente, Camilla aponta que apesar das denúncias no inicio deste ano, não há falta de medicamentos na rede estadual de distribuição.

Em Pernambuco, são 37 unidades especializadas na assistência à portadores de HIV/Aids que dispõem de equipe multiprofissional e oferecem o tratamento retroviral. "Aqui em Pernambuco a gente vem trabalhando bastante para uma detecção precoce do HIV. Porque se diagnosticado precocemente, a pessoa pode iniciar o quanto antes o tratamento e essa terapia retroviral no intuito de evitar que o quadro evolua para a Aids. Nossa inteção é que ela consiga alcançar a carga viral indetectável e passe a não transmitir o HIV".

Ainda de acordo com a SES, a PrEP está presente em todo o estado de Pernambuco nos hospitais de assistência especializada de HIV. "Atuamos na prevenção combinada, não só pensando no uso do preservativo, mas sim em uma série de estratégias que possam fortalecer esse diálogo, observando o estilo de vida de cada pessoa. Além do preservativo, temos a PEP e a PrEP para pessoas que se expõem bastante. Um equipe multiprofissional do estado analisa a melhor estratégia dependendo dos casos e da vulnerabilidade de cada pessoa. Outros pontos que a gente procura trabalhar é na quebra do preconceito. As pessoas podem viver com o HIV e não morrer com Aids. É preciso perder esse medo", afirma Camilla.

Sobre os altos índices no estado, a gerente do programa estadual de IST/Aids e hepatites virais alega que é preciso conversar ainda mais sobre sexualidade nas escolas. "A gente procura trabalhar com professores para que eles acolham esses alunos e sejam receptivos aos questionamentos desses estudantes", aponta. Ela destaca que a gestão estadual tem um projeto para 2019 de trabalhar diretamente com as gerências regionais de educação em todo o estado para fortalecer o diálogo entre professores e alunos. "Estamos desenhando o projeto de prevenção das infecções as escolas e a ideia é que ele saia do papel o quanto antes", conclui.

Na visão de Wladimir, a válvula de escape para sair desse labirinto da falta de apoio governamental e do alto índice de infecção no Estado é apostar no apoio coletivo e na sensibilização da sociedade civil. Ele assume que não há uma receita pronta para conseguir alcançar esses objetivos. “Talvez um caminho seja a quebra do preconceito, a humanização das pessoas soropositivas. Traçar um caminho em que o mundo se torne mais humano e habitável para os corpos diferentes. Enquanto isso, resistimos todos os dias, bravamente, lutando para viver”, finaliza.

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Há 30 anos, em 1⁰ de dezembro é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. A data foi instituída em 1987 pela Assembleia Mundial de Saúde e Organização das Nações Unidas (ONU), para buscar mais solidariedade a quem foi infectado pelo HIV/Aids. A Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é causada pelo vírus do HIV e acomete o sistema imunológico. De 1980 a junho de 2018, foram identificados 926.742 casos da doença no Brasil. O país tem registrado, anualmente, uma média de 40 mil novos diagnósticos de Aids nos últimos cinco anos. Apesar disso, houve uma redução de 16% no número de detecções nos últimos seis anos.

De acordo com o Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2017, quando analisada a taxa de mortalidade nos estados, Pernambuco tem números acima da média nacional, que foi de 4,8 óbitos por 100 mil habitantes, e também lidera os casos no Nordeste, tendo uma taxa de óbitos entre soropositivos de 5,6. Dados divulgados pelo Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP)+ apontam que no Estado, uma média de duas pessoas morrem por dia com a doença e a cada seis horas uma contrai o vírus.

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A pernambucana Maria da Silva*, que nesta reportagem ganhou nome fictício, se tornou parte dessas estatísticas assustadoras; há 22 anos precisou criar uma rotina e foi informada de que seria para a vida toda. Todos os dias, todas as manhãs, ela se levanta, pega um copo de água e coloca goela adentro três comprimidos responsáveis por manter o seu corpo funcionando bem. “Eles me dão anos de vida e mais tempo com os meus filhos”, garante a diarista, que aos 18 anos foi diagnosticada como portadora do vírus HIV, oito dias após ter dado a luz a um de seus oito filhos.

Aos 40 anos, a recifense sente que já viveu dez décadas e renasceu várias vezes. Ganhou chances de resistir aos problemas que enfrenta por ter o vírus. Se viu no limite entre a vida e a morte ainda jovem, deitada na cama de um hospital habitado por estranhos, sem a presença dos parentes ao seu redor. Perdeu as contas de quantas vezes precisou ser socorrida, caiu doente e tudo se repetiu. O semblante de Maria na década de 1990, na época da descoberta, era esmorecido. “Fui abandonada pela minha mãe e a família. Achavam que eu estava com a pior doença do mundo, não tive apoio. Colocavam água quente no meu lençol como se eu fosse uma indigente”, lamenta.

Aos 40 anos, a recifense sente que já viveu dez décadas e renasceu várias vezes. Ganhou chances de resistir aos problemas que enfrenta por ter o vírus. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

A vida de Maria nunca foi fácil, mas os percalços aumentaram quando aos nove anos, a mãe se separou de seu pai e ele a abandonou com 15 filhos para criar. Era maria e mais 14 irmãos que vagavam nas periferias do Recife procurando o que comer. Desde então, passaram muitos padrastos e todos molestavam ela e as suas irmãs. “Passei pouco tempo com minha mãe na infância porque vivia fugindo de casa, não gostava deles, era abusada. Fui muito danada e sempre fugia de casa, não aceitava aquilo”, relembra.

Não restaram tantas escolhas senão ir morar na rua. Arrumava confusões, se escondia, foi levada para a Fundação do Bem Estar do Menor, na época a Febem, atual Funase e aos 14 anos saiu de lá após uma rebelião. “Prometi a deus e a mim de que nunca mais cairia naquele lugar. Só queria estar ali porque tinha alimentação e um dormitório. A rua era muito violenta, mas não queria estar encarcerada, eu tinha vontade de viver”, detalha.

Maria vagava pelo Recife, teve filhos, engravidou de novo, se mudou para o Rio de Janeiro e foi morar em um colégio interno para grávidas. Por lá, passou três anos, não se recorda bem o tempo, mas nunca se acostumou com a estadio dos cariocas. Eram rudes, preconceituosos e não havia emprego por lá. No Recife, precisou se prostituir nas esquinas para alimentar seus filhos porque era uma forma de conseguir um trocado com o corpo.

Grávida de cinco meses de uma das filhas, ela foi orientada a fazer um exame de HIV pelo seu histórico de vida sem muitos cuidados, principalmente nas relações sexuais. Mas, na época, o exame demorava para ser entregue pelo serviço público e foi liberado quando ela já estava amamentando a pequena há oito dias.

Foram meses de espera e o resultado positivo trouxe espanto por Maria não saber do que se tratava o vírus, perigo e o medo do futuro. “Ainda me lembro, os médicos me orientaram a parar imediatamente de amamentar a minha filha e por um milagre divino ela não foi infectada pela doença. Considero isso um livramento porque pelo leite eu poderia ter passado algo que odeio ter para a minha filha, sem culpa alguma nisso”. Ela não sabe com quem pode ter pego a doença, mas admite que a vida desregulada e sem cuidado tem poucos caminhos possíveis, sendo um deles esse.

Pouco tempo depois, Maria passou a tomar a medicação e desde então não pode esquecer nenhum dia dos remédios, com quem tem uma relação de ódio e amor. “Sei da importância dos comprimidos, mas as vezes passamos por muita humilhação, sabe? Eles têm um efeito colateral muito forte e causam enjoos e tontura”, conta. Ela se refere ao período em que ainda trabalhava fazendo faxinas na casa de algumas pessoas, mas sempre que tomava a medicação, passava mal e precisava largar mais cedo. “Eles ficavam desconfiados e sempre descobriam do HIV de alguma forma. E aí, eu me sentia presa na doença porque mais uma vez era mandada embora, humilhada”.

Na comunidade onde vive, o assunto ainda é um tabu. Maria é mulher negra, moradora de periferia, pobre e portadora do HIV. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

São 22 anos convivendo com o preconceito ao seu redor, alimentando a esperança de que um dia a cura será viabilizada para todos, sem a interferência da indústria farmacêutica. Maria encara a vida como uma batalha a cada dia, ao acordar agradece pela vida e por ter filhos companheiros ao seu lado. “Eles nunca me abandonaram. Tenho muito orgulho disso e sempre procuro explicar que eles também precisam se proteger ao ter relações sexuais. O mundo é difícil e tem muita maldade”.

Na comunidade onde vive, o assunto ainda é um tabu. Maria é mulher negra, moradora de periferia, pobre e portadora do HIV. Ela mora em uma casa de um só vão e logo na entrada, onde fica a cozinha, já conseguimos enxergar o quarto, bicicletas no teto, panelas penduradas nos canos e fios expostos. As paredes laterais são coladas com as dos vizinhos e a espessura que as divide é pequena. Por isso, a família evita falar alto sobre Aids, HIV e medicações para os outros moradores do beco não descobrirem a doença. “Sei que eles desconfiam, mas eu tenho medo de retaliações, de rejeição, assim como aconteceu com a minha família quando eu era jovem. Prefiro me preservar”, explica.

Após ser diagnosticada com HIV, Maria da Silva nunca conseguiu um emprego formal. O sonho de ser auxiliar de cozinha, no entanto, ainda é vivo e ela pretende batalhar para conseguir um espaço em algum restaurante da cidade. Recentemente, ela fez um curso com duração de seis meses para se especializar na área, voltou a estudar e está aprendendo a ler e escrever em um colégio do bairro. “Já sei escrever até meu nome”, revela. Mas, na última tentativa em uma cozinha, foi informada de que por conta de sua aparência não seria aceita. “Meus dentes estão todos quebrados, tenho muitas bolhas no braço, também. Mas é tudo por causa do HIV, da diabetes e das sequelas que fiquei das vezes que quase morri nos hospitais”.

Ter as portas abertas de algum empreendimento realizaria um dos sonhos de Maria para poder dar uma melhor condição de vida aos filhos e netos. Hoje ela consegue se manter com o benefício que conseguiu do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), um salário mínimo e com o auxílio de ONGs que ajudam pessoas positivas em Pernambuco. “Tem época que a medicação falta no Estado e a gente fica aqui doido. Aí como conhecemos muitos amigos que também se tratam, pegamos emprestado porque a gente não pode ficar sem. Meu corpo estoura, a minha imunidade fica muito baixa, pego doenças oportunistas como a pneumonia e minha vida não segue”.

Nascida de sete meses, ela avalia que é impaciente e após sofrer tanto na vida, perdeu um pouco a fé na empatia das pessoas ao seu redor. “Hoje em dia eu nem tento mais explicar que Aids e HIV não são bichos, são completamente controlados por remédios. Ninguém quer saber, prefiro me resguardar porque a vida me tornou essa pessoa dura, não tenho mais paciência”.

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Entre a correria da cidade e a rotina cheia de obrigações, pequenas estruturas de metal abrigam o fruto da renda de quem encontrara no trabalho informal a oportunidade de vencer as dificuldades da vida. Espalhados pelos centros urbanos e bairros residenciais, os fiteiros tornaram-se espaços que guardam memórias e resistem ao tempo.

Alocado em parada de ônibus próxima à Praça do Derby, região central do Recife, o comerciante Manoel Severino, de 59 anos, encara diariamente uma caminhada de 4 km para chegar ao local de trabalho. De pés inchados, encostado em uma cadeira sem conforto, aguarda a chegada de clientes. Os produtos comercializados são comuns: doces; salgados, biscoitos e chocolates. Das populares "miudezas", tira a renda necessária para pagar o aluguel. “Do pouco que ganho sustento a minha vida. Dá para ir levando. Já estou acostumado com essa rotina. Chego no Derby às 8h30 e só fecho às 20h30. Sou um dos últimos a sair. Gosto de chegar em casa tarde e já vou dormir”, conta.

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Natural de Cumaru, Agreste de Pernambuco, Manoel não tem família na capital. Depois de ser desligado de uma empresa, foi às ruas trabalhar. Ao total, são 18 anos como ambulante. “Comecei com uma tábua. Depois de muito tempo, conquistei um fiteiro. Ajudou muito a me firmar. Antes era maior o meu fiteiro, tinha luz e conseguia vender mais coisas. Mas a prefeitura resolveu padronizar e perdemos espaço”, relembra. Manoel frisa que antes do sistema de BRT, que corta o Centro do Recife desde 2014, ser inaugurado o movimento era maior. Hoje, depois da retirada de algumas linhas e o aumento de ambulantes informais dentro dos ônibus, as vendas diminuíram.

Seu Manoel acomoda-se em uma cadeira de plástico para encarar as mais de 10 horas diárias de trabalho - Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

“Ser ambulante é uma resistência. Temos que lutar para conquistar nosso espaço. Vivemos diariamente uma jornada de trabalho que ultrapassa as horas ‘comuns’ das empresas. Trabalhar para si exige muita preocupação e dedicação. Já me acostumei com tudo isso. Estou levando aos poucos. A idade avançou, mas não é desculpa para não vir trabalhar”, explica Manoel. O comerciante não tem substitutos. Se fica doente, o fiteiro não abre.

Com quase duas décadas no mesmo ponto, ele já construiu uma relação afetiva com vizinhos de fiteiro e clientes. Conhecido pelo nome, a sua figura é marcante para quem passa pelo centro da cidade. “Eu gosto muito do que faço. Não é o ideal, mas estou satisfeito. Espero só o dia em que eu me aposente para voltar à minha terra e ficar com minha família. Preciso manter algo aqui. Com essa idade, não tem empresa que contrate. Então, só esperar em Jesus”, fala. Da simplicidade e fé, deixa uma lição: “o pouco com Deus é muito. Muito sem Deus é nada”.

Ao redor de Seu Manoel, outros 16 fiteiros abrigam histórias de resistência. Charles Barbosa, de 43 anos, cresceu e viu as modificações de perto. Herdou o ofício de comerciante da mãe - que durante 27 anos trabalhou no espaço no qual atua hoje. “Comecei desde cedo. Aos 12 anos ajudava minha mãe aqui no centro. Vi de perto a sua luta em conquistar um espaço para trabalhar. Temos o nosso fiteiro com muito suor”, explica. Ele lembra que antes eram cerca de 30 companheiros de trabalho, mas alega que foram perdendo espaço com as modificações feitas pela gestão da cidade.

Da família, ele é o único que mantém a função da mãe. Charles explica que a necessidade o colocou nessa prática. “Tentei estudar e entrar em faculdade, mas com família, precisamos correr atrás. Tenho três filhos e não posso parar. As contas não esperam. Me sinto feliz em ter esse espaço, enquanto muitos estão desempregados. Dou valor ao que conquistamos”, explica. Ainda segundo o comerciante, o ponto fixo impede a locomoção e implica que o cliente vá até ele ou esteja de passagem por ali.

Charles detalha que a rotina de vendas é exaustiva. “São mais de 13h de trabalho por dia. Chega a ser monótono. Acordo às 3h20, arrumo as coisas e venho trabalhar. Às vezes não tenho energia, mas é preciso seguir em alguns casos até doente”, conta. Entre as maiores dificuldades está manter um ritmo de vendas suficiente para quitar as despesas mensais.

Com o olhar criativo, foi necessário investir em outros produtos, como perfumes, desodorantes e cafezinho para diversificar a oferta. “Além do básico, como pipoca e salgadinho, precisei colocar algumas coisas diferentes. Trabalho agora em cima da quantidade. O movimento caiu muito depois do crescimento de ambulantes nas ruas, sem fiteiros”, detalha. Ele conta que chega a jogar produtos fora quando passam do prazo de validade e não foram vendidos.

Charles oferece diferentes produtos para complementar a renda final de lucro mensal - Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Quando questionado sobre o futuro, Charles ressalta que não há muito do que esperar. Não faz muitos planos e mantém a esperança e gratidão por ter um espaço. “Apesar de tudo, trabalho para mim. Não preciso bater ponto, mas para o mês valer a pena depende de mim também. O ruim é o calor e fadiga enfrentada diariamente. Mas não sei muito o que esperar do amanhã. Só saúde para continuar a jornada”, salienta.

Presença firme também nos pontos turísticos da cidade

Ainda na região central da capital, o Bairro do Recife é famoso pela arquitetura e ruas históricas. Atualmente, conta com vida noturna oriunda de festas populares e grande movimentação diurna vinda de empresas de diversas áreas. Vinda de uma família de comerciantes, há mais de 40 anos Tereza e seu esposo mantêm um fiteiro na Avenida Marquês de Olinda. Simpática, de riso fácil e cheia de clientes, a comerciante divide com o marido os turnos no estabelecimento.

Juntos viram as mudanças sociais e estéticas do bairro do Recife. Tereza relembra que logo quando montaram o negócio o centro não era bem frequentado por mulheres. “No íncio, eu trazia para meu esposo o almoço e logo voltava para casa. Não podia se ver mulheres aqui que se remetia à antiga fama do bairro [de área de prostituição]. Isso fez com que eu não o ajudasse durante anos. Hoje, com as coisas diferentes eu venho todos os dias no  período da manhã para o fiteiro”, explica. O seu companheiro atende durante a tarde.

Dona Tereza trabalha como comerciante em fiteiros há mais de 40 anos junto com o seu mario. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

O casal é um dos mais antigos da rua. Com os anos de comércio conquistaram casa, carro e educação para os três filhos - hoje, já formados. Tereza fala orgulhosa do período em que deixava o fiteiro aberto sob sua tutela durante todo o dia. O avanço na idade, somando seus 61 anos, diminuiu o fluxo de atendimento. A função foi adquirida através do gosto do esposo, que vem de família de comerciantes. “Ele já tinha essa relação forte com vendas e acabei conquistando. Meu filho também tem mercadinho. É algo que passou de pai para filho”, expõe.

A vontade de conquistar algo próprio aflorou a paixão do casal em montar o negócio. “Não tínhamos outra escolha. Essa foi o que escolhemos. Estamos até hoje. Depois de tantas histórias, poderia até escrever um livro sobre meu fiteiro”, brinca. Tereza não se engana. Ela relembra de uma fase em que o negócio faliu devido a problemas pessoais. Mas, graças ao desenho de um leão, pintado na lataria do fiteiro, um grupo de artistas decidiu comprar a estrutura já enferrujada. “Eu não sei o que eles viram na lata velha que estava. Mas eles ficaram loucos pelo desenho. Fizeram de tudo para comprar. Vendemos. O meu fiteiro foi parar em São Paulo, em exposição. Tenho até hoje as fotos de recordação e livro”, relembra.

Com o dinheiro da venda, compraram um novo e recomeçaram o negócio. Mas, segundo Tereza, o movimento não é a mesma coisa de antes. Com a queda nas vendas, a renda também diminuiu. Saudosista, ela lembra dos tempos em que o fiteiro era um sucesso: ‘Durante esses anos aqui conseguimos viver muita coisa. Era algo muito bom. Meu esposo trocava dólar, tinham muitos navios, turistas, fizemos muitos amigos ‘gringos’”. Mesmo com as dificuldades enfrentadas no dia a dia, Tereza garante que não fecha o fiteiro: “Só saio daqui com uma ordem. Quero deixar isso para meus filhos. Tá no sangue”.

Ela destaca que depois da longa jornada não espera mudar de rumos. A equipe de reportagem do LeiaJá visitou o fiteiro do casal. Esse é o terceiro, o menor de todos - que, de acordo com ela, foi graças ao reajuste implicado pela prefeitura; assista:

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A relação afetuosa entre os clientes e a vendedora proporciona uma conexão para além das dificuldades do dia. “Acordamos cedo. Faço o café. Venho e sigo. A cada venda é uma nova amizade feita. É muito bom trabalhar com o público. Me conhecem pelo nome, me sinto famosa. Em outro emprego não conseguiria, só se fosse atriz”, brinca. Tereza espera que os filhos continuem o negócio dela e diz que, para evitar o ócio, esse é o momento de continuar com o negócio.

Biblioteca Jardim do Conhecimento no Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB), Complexo do Curado. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Em 2016, aos 57 anos, o auxiliar jurídico Antônio Rodrigues Cruz deu um passo para trás no que considera um dos maiores sonhos que alimentou por toda a vida. Concluir a graduação e se tornar um advogado. Entre algumas tentativas frustradas e outras mais proveitosas de ingressar e permanecer no curso superior de direito, Antônio culpa a falta de estabilidade financeira para bancar uma faculdade até o fim e lamenta as poucas oportunidades para quem não nasceu em berço de ouro no Brasil. Em 2018, dois anos após ser preso e passar a integrar o sistema prisional de Pernambuco, que hoje totaliza 32.335 detentos para apenas 11.812 vagas, o pernambucano encontrou um oásis particular no cárcere. Reeducando do Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB), que integra o Complexo Prisional do Curado, no Recife, Antônio procura se desvincular do ambiente da prisão, muitas vezes hostil, através da leitura contínua.

Preso por um crime que preferiu não revelar, o auxiliar jurídico, que também já trabalhou como motorista e gerente de armazém, apenas citou que a pouca estrutura familiar na base de sua educação foi a principal razão que o levou ao cárcere. Antônio Cruz conheceu o livro “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, na biblioteca Jardim do Conhecimento, dentro do presídio. O clássico da literatura brasileira ocupa o topo do ranking pessoal elaborado pelo detento como a principal obra literária que leu para participar do projeto de remição da pena pela leitura, em que presos podem reduzir o tempo da pena lendo e escrevendo resenhas e resumos literários nas penitenciárias. O detento já participou doze vezes do programa, mas foi nas palavras de Machado de Assis que a mente se viu longe das grades que o separam do externo. Defensor ferrenho de Capitu, personagem da trama literária a quem ele alega ser inocente das acusações de traição feitas pelo marido, o detento demonstra certa identificação com o caso. Também se considera injustiçado por alegações infundadas e garante que não deveria estar preso.

 Antônio Cruz conheceu o livro “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, na biblioteca Jardim do Conhecimento, dentro do presídio. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

“A nossa justiça tem o olho aberto para quem tem dinheiro e pode pagar bons advogados para fazer a defesa. Se qualquer pessoa olhar os meus autos, há muitas contradições processuais. Mas como os nossos gestores trabalham visando o lucro financeiro, não atentam para isso. Me sinto impotente diante dessa situação e a leitura me acalma. É como uma terapia”, reflete Antônio, que deve cumprir sua pena até 2021. A possibilidade de diminuir o tempo preso por meio da leitura surgiu como a oportunidade dos sonhos para o auxiliar jurídico. 

Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou uma portaria que autorizava juízes a diminuir penas dos presidiários que escrevam sobre os livros que leem. De acordo com a Recomendação nº 44 do CNJ, deve ser estimulada a remição pela leitura como forma de atividade complementar. Para isso, há necessidade de elaboração de um projeto por parte da autoridade penitenciária estadual ou federal visando a remição pela leitura, assegurando, entre outros critérios, que a participação do preso seja voluntária e que exista um acervo de livros dentro da unidade penitenciária.

Em Pernambuco, o projeto foi implementado no dia 19 de outubro de 2016, inicialmente nas três unidades prisionais do Complexo do Curado, na zona oeste do Recife: presídios Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (Pjallb), Marcelo Francisco de Araújo (Pamfa) e Frei Damião de Bozzano (PFDB). Diferente do estipulado pela legislação nacional, no estado, a portaria 082 de 10 de outubro de 2017 aumentou os dias de remição de quatro para sete, por obra lida e resenha produzida.

O preso deve ter o prazo de 22 a 30 dias para a leitura de uma obra, apresentando ao final do período uma resenha ou um resumo literário a respeito do assunto. O documento deverá ser avaliado pela comissão da Secretaria Estadual de Educação e pode ser aprovado ou não. Caso o detento seja reprovado, ele ainda pode fazer uma recuperação e ganha uma nova chance. O limite da leitura pelo projeto são de doze obras por ano.

“A nossa justiça tem o olho aberto para quem tem dinheiro e pode pagar bons advogados para fazer a defesa". Foto: Rafael bandeira/LeiaJáImagens

De linguajar mais rebuscado, falas pausadas e vestes formais, Antônio herdou muitas características do ambiente corporativo e jurídico que trabalhou durante anos. “Tenho esse tom mais sério e me preocupo com a minha fala constantemente. Gosto de ler as gramáticas, também”. Fez questão de manter a personalidade dentro do presídio, respeitando os limites estabelecidos pela gestão. Conseguiu um trabalho e atualmente “mora” em um dos pavilhões na igreja do PJALLB, local que ele considera mais tranquilo para dormir por ser mais longe do tumulto das celas superlotadas. Pai de quatro filhos, Antônio se orgulha ao dizer que todos foram bem criados e estão emancipados. “Eu já não tenho muitas responsabilidades lá fora, além dos meus sonhos que pretendo realizar”, conta.

Ao todo, o detento já conseguiu diminuir da sua pena 84 dias com a leitura dos livros e a posterior entrega do material necessário, mas garante não se importar com a quantidade de dias que ganhou para sair da prisão mais rápido. Antônio é um apaixonado pela literatura e participa do projeto pelo prazer do estudo. “Eu tenho aprendido muito desde que cheguei aqui, gosto de analisar as pessoas e entendo que é um lugar que precisa da minha presença aqui. Apoio muitas pessoas aqui, homens que não têm família, não possuem um material de higiene”, detalha Antônio, que faz uma pausa na conversa e chora. Ele relembra o caso de um jovem preso e se emociona. “Um rapaz me contou que não tinha pai e nem mãe, e a última notícia da família recebeu quando a tia veio visitar ele e trouxe o atestado de óbito do genitor. Eu senti o peso nas palavras dele, justamente porque aqui sou conhecido por muitos como um pai. Dou amparo aos que não têm nada”, diz.

Quem observa o Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros do lado de fora pouco entende sobre como é a rotina dentro da unidade prisional. No pátio, os detentos concessionados, que exercem atividades laborais, organizam a horta e trabalham nas obras de forma organizada. Cada pavilhão é separado por muretas e grades. No varal, roupas são estendidas para aproveitar a luz do dia, já que no sistema prisional de Pernambuco os presos não andam fardados. 

Nas paredes, versículos da bíblia e mensagens religiosas são pintadas como forma de conforto pela situação em que se encontram. Tudo é muito bem gradeado e protegido pelos agentes penitenciários, exceto pelo local da aposta na ressocialização. É na biblioteca Jardim do Conhecimento que o cenário se transforma. Paredes brancas e limpas, estantes repletas de literatura, cadeiras e mesas em bom estado, janelas e ar fresco. São mais de 3 mil exemplares a disposição dos que tiverem interesse pela leitura. Desses, apenas 428 estão aptos e liberados para o projeto da remição pela leitura. O funcionamento do local tem início às 7h20, pausa para o intervalo do almoço e segue até 16h30.

Responsável por organizar os livros e o cadastro dos detentos para participar do projeto, Moacir Marcelo, 43, é concessionado. Entrou no presídio em abril de 2018 após ser acusado de receptação por desviar medicamentos do SUS. Para ele, sua prisão foi uma aberração jurídica, assim como para muitos outros que negam os motivos que levou a Justiça a encarcerá-los.  

Com previsão de deixar a prisão no fim do ano de 2018, após cumprir parte da pena, o detento diz que ociosidade nunca foi seu forte e por isso buscou a oportunidade de trabalhar na biblioteca. “Aqui é muito divertido e dinâmico, as pessoas pensam que as bibliotecas são locais de marasmo, mas no presídio a conotação é diferente. A movimentação é grande porque serve como um escape do ócio dos pavilhões”, comenta. Ele elenca que as obras mais escolhidas pelo presos são romances e ficções por serem mais simples de fazer o resumo ou a resenha. No PJALLB são 2.900 detentos alojados e de acordo com dados da Secretaria de Ressocialização e da Secretaria de Educação de Pernambuco já passaram pelo projeto 998 detentos, mas só 618 foram aprovados.

São mais de 3 mil exemplares a disposição dos que tiverem interesse pela leitura. Desses, apenas 428 estão aptos e liberados para o projeto da remição pela leitura. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

O vendedor ambulante Mauricio Guedes, 25, sempre trabalhou no comércio informal pelas ruas do Centro do Recife. Vendia CDs, DVDs e estava acostumado com a movimentação constante das pessoas. Sentiu bastante a diferença do ambiente no Complexo do Curado. Se viu isolado e gradeado, pela segunda vez, quando foi preso em janeiro de 2016. Ele cometeu assaltos e após ser preso em flagrante, foi condenado a sete anos e nove meses no regime fechado. A primeira passagem de Mauricio pelo sistema prisional foi aos 20 anos e passou um ano e dois meses. Ele conta que a mente fraca e a falta de oportunidades na sociedade o levaram ao mundo do crime.

Da segunda vez, quase três anos no cárcere, ele opta pelas oportunidades da ressocialização. “Diferente da primeira vez que fui preso, não pensava assim”, lamenta. Participou da remição por 14 vezes e reprovou as três primeiras por não estar habituado com a leitura. Cursou até a oitava série e largou os estudos para trabalhar ainda muito novo. Apaixonado pelo centro, ele gostou de ler o livro Marco Zero, que conta a história do ponto turístico do recife, mas dispensa livros de poemas por ser mais difícil para resumir. “Estou procurando a minha melhora, não quero ficar com coisas erradas dentro do sistema, tento sempre ajudar os colegas e motivar os outros detentos. O caminho é esse, não quero mais essa vida do crime não”, avalia. Ele conta que aguarda os momentos de silêncio no pavilhão para fazer a leitura dos livros e é possível anotar em um papel algumas ideias para ajudar no dia da prova. Atualmente, Mauricio está detido no Presídio Marcelo Francisco de Araújo (Pamfa), que dos 1.400 detentos já passaram 307 pela remição da leitura.

Mauricio avalia que apesar do barulho e de alguns tumultos, consegue praticar a leitura diariamente. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Foi na biblioteca do PJALLB que Solon Henrique, 43, descobriu o verdadeiro significado de seu nome, o qual ele acredita ser único no presídio. Durante as leituras do projeto da remição, o detento escolheu o clássico 1808, de Laurentino Gomes, por ter interesse na história do Brasil. Nas últimas páginas da obra, se surpreendeu ao ver pela primeira vez uma árvore genealógica e descobriu seu nome acentuado, Sólon, foi um dos principais legisladores e juristas gregos. Ficou orgulhoso e até escreveu sobre isso. Decidiu participar do projeto de remição porque ele já costumava ler no presídio e quando descobriu que poderia diminuir a pena, ficou interessado no projeto. Já conseguiu livrar cerca de três meses no cárcere a aguarda ansiosamente a liberdade.

Solon foi detido no dia 2 de novembro de 2008 por diversos roubos. Condenado e 38 de prisão, em novembro de 2018 completa uma década atrás das grades e longe da família. Quando jovem, ele ingressou na Marinha e foi militar por alguns anos. Mas, quando deixou a carreira marinheiro, se viciou em drogas e se envolveu em diversos assaltos. Quando estava em Fortaleza, no Ceará, chegou a ser preso uma primeira vez pelos crimes e foi solto pouco tempo depois. Passou por muitas dificuldades para conseguir um trabalho porque como ex-presidiário o preconceito da sociedade ainda é grande e as oportunidades são poucas. “Eu só queria um motivo para voltar a vida do crime e assim o fiz”, conta.

Já no Recife, Solon foi detido pela segunda vez e não consegue explicar porque entrou para o mundo do crime. Filho mãe médica e pai empresário, o ex-militar conta que vivia bem e estudava, mas as drogas e o caminho mais fácil foram tentadores. “Ao seu preso pela segunda vez, a minha vida mudou drasticamente porque eu ficava pensando no meu desvio de conduta o tempo todo, tentando entender o que me levou a estar encarcerado”, relembra. Apesar de ser cético quanto as reais intenções do governo ao aderir projetos de ressocialização dentro do cárcere, Solon se tornou otimista. Acredita no potencial dos presos e de quem deseja mudar de vida. Diferente de muitos, não se considera inocente dos fatos que o levaram presos e assume todos. “Errei e vou me redimir”, afirma o preso. “Escuto muito dos detentos que estão revoltados com a vida que vão sair pior daqui de dentro. O governo até dá oportunidade, mas é preciso correr atrás se não o sistema só prova que você nao vale nada, é mercadoria”, aponta.

No presídio por quase uma década, Solon faz uma avaliação de quem era e de quem se tornou e entende que a melhora depende de cada um. “Sei que o que me colocou aqui foram as minhas atitudes. Uma escolha imbecil que fiz. Sempre me achei melhor do que todo mundo, mas o sistema aqui é muito louco. Se você não se colocar, as pessoas te atropelam. Aprendi que não sou melhor do que ninguém aqui, mas me considero diferente. Eu sou culpado pelas coisas que fiz sim e procuro agora renovar a minha vida e ter um futuro diferente, ir na faculdade e conseguir um trabalho. Tenho minhas metas claras e aproveito todas as oportunidades dentro do cárcere. Quero mudar a minha vida, tenho vergonha do que fiz, mas preciso lidar com isso. Hoje posso dizer que estou no meu melhor momento”, avalia.

Solon participa todos os meses do projeto da remição pela leitura. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Antes da prisão, Orlando, 36, só conheceu a literatura por obrigação. Sempre lia quando tinha alguma prova, mas nunca tinha experimentado um livro pelo simples prazer da leitura. Ele tinha a vida muito corrida e era dono de uma empresa bem sucedida em Pernambuco. Mas, em 2015, a crise bateu na porta do negócio de Orlando e ele alega que sua fonte de renda quebrou. Um sonho antigo, Orlando decidiu apostar na carreira de piloto de avião e começou o curso no ramo da aviação. Tinha uma vida bem estrutura, com família e estabilidade, mas uma oportunidade de ganhar dinheiro fez com que ele optasse por praticar um delito.

Foi preso por tráfico de drogas e condenado a cinco anos e dez meses. "Eu tava iniciando minha carreira como piloto e recebi uma proposta de transportar a droga e ganhar um bom dinheiro. Logo na primeira tentativa tudo deu errado e considero isso um livramento", garantiu o piloto, preso no Pamfa. Agora, habituado a leitura, Orlando diz que abre livros por interesse em reduzir sua pena e também pela necessidade de melhorar a mente.

"Foi um choque muito grande ser preso porque eu estava acostumado com a vida muito boa. Aqui é tudo diferente e é preciso estar de olhos abertos. Ninguém é melhor do que ninguém no cárcere. É preciso aproveitar as oportunidades de ressocialização porque esse é o momento de se recuperar e voltar à sociedade. Leio hoje por mim e pelos meus filhos. Sei que educação é base de tudo e agora me preocupo muito mais com isso do que antes", analisa o piloto de avião. Segundo o Ministério da Justiça, 60% da população carcerária brasileira não concluiu ou não cursou o Ensino Fundamental.

"Leio hoje por mim e pelos meus filhos. Sei que educação é base de tudo e agora me preocupo muito mais com isso do que antes". Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Nas mãos, ele segura o livro que tem lido atualmente e diz gostar bastante do desenrolar da história. "A Cabana", de William P. Young, versa sobre um homem que vive atormentado após perder a sua filha mais nova, cujo corpo nunca foi encontrado. Anos depois da tragédia, ele recebe um chamado misterioso para retornar a esse local, onde ele vai receber uma lição de vida. Livros com histórias de superação, auto-ajuda e mais espirituais são as escolhas favoritas dos detentos. A reportagem do LeiaJá tentou ter acesso as resenhas produzidas pelos detentos, mas de acordo com as normas da Seres e da Secretaria de Educação do estado, os documentos são confidenciais e não podem ser acessados por terceiros.

De maneira geral, as penitenciárias apresentam arquitetura de ambiente hostil, cinzento e frio, com trancas, apertadas celas e a sensação de estar sendo punido por toda a sociedade, já que transgrediram as normas de condutas sociais. A ideia de que os presidiários merecem sofrer para se redimir dos delitos já era criticada pelo pensador Michael Foucault, em seu livro Vigiar e Punir. Todos os dias, anônimos tentar reescrever suas histórias, corrigir seus erros e mostrar que a vida do outro lado das grades importa e pode ser ressocializada através da educação. "Eu hoje espero alçar novos voos quando sair daqui e progredir de regime. Todos estamos aptos a errar, mas se arrepender e corrigir os nossos erros depende de nós", concluiu Orlando, que sonha em voar de novo.

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Curtir as férias de julho requer uma atenção cuidadosa ao traçar um roteiro em família. Neste sábado (7), a partir das 10h, o Museu do Estado de Pernambuco vai abrir suas portas para uma diversão diferente. O grupo 'As Trovadoras', encabeçado por Camila Puntel, Bruna Peixoto e Adélia Flô, inicia uma série de apresentações mensais e gratuitas com o projeto "Contos e Encantos no Museu".

Até dezembro, através do "Cardápio Cultural", as artistas levam para o MEPE muita contação de histórias, canções e poesias, além de proporcionarem ao público uma viagem entre a arte e literatura. "Nós queremos levar para as crianças a ideia de que o museu é um espaço de troca, descoberta, produção de sentido, criação, espaços de memória, de história, de vida”, explica Camila.

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Excepcionalmente este mês, o projeto terá mais uma apresentação. Na estreia, o encontro será marcado por brincadeiras que fizeram sucesso no passado, como cantigas de roda e jogos de rua. Um tradutor de Libras estará disponível para quem for ao museu no sábado. Já no dia 15, o tema será voltado para a sustentabilidade e cuidados com a natureza. "A porta está aberta para todo o público”, completa Bruna Peixoto.

Escolas que desejarem levar os alunos podem agendar pelo telefone (81) 99518-5212. 

Serviço

Cardápio Cultura - As Trovadoras

7 de julho (sábado) | 10h

15 de julho (domingo) |10h

5 de agosto (domingo) |10h

2 de setembro (domingo) |10h

7 de outubro (domingo) |10h 

18 de novembro (domingo) |10h

2 de dezembro | 10h

Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, 960, Graças)

Gratuito

Ela tinha acabado de descarregar em Taubaté, no Vale do Paraíba, na manhã de segunda-feira, quando a greve dos caminhoneiros começou a parar o transporte na Via Dutra, impedindo a volta para São Paulo. Três dias depois de os bloqueios travarem o abastecimento no País, na fria noite de quinta-feira, a caminhoneira Roseli Mota, de 48 anos, se ocupava como voluntária servindo o jantar para cerca de 250 grevistas acampados no trevo de acesso da Via Dutra a Santa Isabel, a 61 quilômetros da capital.

"Eu apoio o movimento. Alguém tem de fazer alguma coisa", afirmou Roseli, diante de uma panela com sopa de mandioca fervente e ao lado de uma travessa de macarrão com molho de calabresa picada. "Vim aqui no acampamento para ajudar o pessoal", disse ela, paulista, mãe de quatro filhos, habituada a rodar pelas estradas brasileiras, atividade que comemora nas redes sociais.

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No começo daquela noite, o acampamento dos caminhoneiros no km 186 mantinha a rodovia aberta aos carros desde que não fossem veículos de transporte de cargas. Sem os caminhões rodando, o movimento na pista da Dutra era tranquilo e moradores da cidade ofereciam doações de mantimentos e até locais para banhos aos colegas de Roseli.

O vereador Luiz Caesa (PR), comerciante de construção civil de Santa Isabel, que tem uma frota de dez caminhões, disse que estava no local para dar apoio aos motoristas parados. "Não é uma questão só deles", afirmou o vereador, argumentando que foi caminhoneiro por 20 anos. "É uma questão do País." A região de Santa Isabel é fonte de extração de areia e pedras.

O vereador Gabriel da Água (PRB), que tem restaurante na cidade, a cerca de 5 quilômetros do acampamento, também foi ao local prestar solidariedade. Levou um caminhão-pipa para abastecer o pessoal com água. "Viemos dar nosso apoio", disse ele no começo da noite. O vereador planejava colocar seu pessoal na limpeza da pista na manhã seguinte.

Filha de caminhoneiro e moradora da cidade, a balconista Elaine Oliveira, 37 anos, também doava seu tempo aos grevistas. E contou que o apoio tem sido oferecido por moradores até de municípios vizinhos, como "o pessoal da Florestan Fernandes", a Escola Nacional Florestan Fernandes, de Guararema, conhecido local de formação da militância do PT. "Eles trouxeram arroz carreteiro."

'Rodízio'

Segundo um caminhoneiro, porém, a ordem era manter um rodízio no apoio ao local. Ele disse que o movimento "não tem partido" e mostrou a área argumentando que não havia cartazes ou bandeiras. Mas, durante a noite, carros com bandeirolas do Brasil circularam pelo local e acampados e simpatizantes da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL) defendiam, em rodas de bate-papo, uma "intervenção militar" no governo.

Para o motorista autônomo Anderson Barbosa, 39 anos, 21 deles na profissão, os gastos com o diesel tornaram o trabalho inviável. "Já tirei R$ 1,5 mil por semana. Agora tiro R$ 700", comparou. Morador de Sorocaba, explicou que estava indo carregar em Caçapava e acabou na manifestação.

A luz da "cozinha improvisada", mantida por um gerador emprestado pelo vereador da água, já havia apagado às 20h40, quando o caminhoneiro Gleison Fernando, 26 anos, subiu para dormir no seu Scania amarela, rebaixado, comprado em novembro pela Flaitte Neves Logística, empresa criada para ele pela família.

Com 30 toneladas de adubo, Fernando disse que o frete do transporte daquela carga seria de R$ 3 mil para percorrer 680 quilômetros. "Está difícil", reclamou. E contou que paga uma prestação de R$ 6,5 mil mensais e que o bruto bebe diesel como água: faz 3,2 km com um litro de combustível. E que, para ficar bem no gosto do dono, recebeu uma "carroceria de R$ 26 mil".

Perto da meia-noite, o policial aposentado Eduardo Soares, motorista que havia quatro dias estava no acampamento, ligou o motor para não "perder bateria". De frente para a Dutra, sem ninguém a impedir sua saída do acampamento, ele contou que já havia sido autorizado pelo dono da carga a retornar com o produto. Mas que ficaria enquanto o protesto durasse.

Na carroceria, pacotes de sementes de girassol e alpiste, que iriam a quatro pontos de entrega no Rio. "Mas já está tudo perdido", disse. E reclamou do baixo faturamento com o frete pelo custo do combustível, das taxas de pedágio e até da aferição de rádio-amador e tacógrafo, aparelho que mede velocidade.

Perecíveis

Na parte alta do trevo de Santa Isabel, passaram a noite estacionados também um caminhão carregado com camarão e outro com carnes. "Esses aí, já era", resumiu um dos líderes do movimento, apontando os caminhões com perecíveis.

Uma carga dos Correios também aguardava no acampamento gramado à margem da Dutra. Um funcionário da empresa, que rendeu um colega à meia-noite, contou que havia mais dois caminhões presos nos protestos, um em Jacareí, outro em Mogi. "O caminhão de Jacareí é de Sedex", explicou, dizendo que o serviço de entrega rápida estava atrasado. "Era carga para entregar segunda-feira, antes da 10h."

Já era madrugada de sexta-feira, com a temperatura caindo, a lua brilhando no céu e os motoristas recolhidos às cabines quando um dos líderes do protesto, identificado como Betão, se aquecia numa fogueira. Foi então que um motorista, responsável por uma carga de alface, que dizia estar havia dois dias no local, quis saber com quem poderia falar para seguir viagem.

Ao encontrar Betão, alegou que tinha filho pequeno em casa, em Itapecerica, que a carga estava para ser perdida e que não conseguia dormir no caminhão. "É possível liberar?", questionou o motorista que se identificou como Fabiano. Ao lado do fogo, ouviu um não. "Deixa o caminhão aí e volta de ônibus", respondeu o chefe do protesto. "O carro fica." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Instagram está se preparando para permitir que os usuários adicionem músicas às suas histórias, segundo informações do site TechCrunch. O recurso funcionaria com uma espécie de adesivo musical colocado na postagem a ser compartilhada. A funcionalidade permitiria a busca por canções específicas de grandes artistas, graças a acordos de licenciamento com as principais gravadoras.

Segundo o TechCrunch, as músicas poderão ser pesquisadas a partir de guias divididas por filtros como tendências ou gêneros. Quando os seguidores tocarem no adesivo musical, eles vão poder ouvir um trecho da canção escolhida pelo usuário.

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Recentemente, o Facebook fechou um acordo com gravadoras para permitir o uso de canções em seus serviços, e o Instagram é uma das redes sociais da companhia. O recurso por enquanto está apenas em fase de testes e não há previsão de quando ele vai ser liberado para todos os usuários do Instagram.

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Um evento inédito na capital paraense teve início no domingo (4), no Boulevard Shopping. Trata-se do Festival de Contadores de Histórias, iniciativa de incentivo à leitura e que pretende, também, valorizar a tradição oral entre crianças, adolescentes, jovens e adultos, por intermédio das narrativas. As atividades terão prosseguimento nos próximos três domingos, dias 11; 18 e 25 de março.

No primeiro dia, domingo, foram contadas as histórias "O patinho Feio" e "A Cigarra e a Formiga". No segundo dia, 11 de março, será apresentada a narrativa da pequena menina curiosa "Cachinhos Dourados", além de "O Ratinho Convencido". No dia 18, é a vez de "Os Três Porquinhos" e "O Alfaiate Valente". Já no dia 25, será contada a história "A Tartaruga e a Lebre", além de "O Leão e o Ratinho". “Nosso objetivo é, além de oferecer o melhor do entretenimento, integrar as pessoas em um ambiente lúdico e de aprendizagem”, diz a gerente de marketing do Boulevard, Glenda Abdon.

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Pensar em atividades que estimulem o imaginário e, sobretudo, a leitura é importante durante toda a vida. “Estimular o poder da leitura e despertar a vontade de descobertas, a partir da literatura, é de suma importância porque as crianças crescerão acostumadas em um ambiente que não será estranho”, afirma o mestre em arte, João Carlos Cunha.

Serviço

O 1º Festival Contadores de Histórias ocorrerá em quatro domingos, no Boulevard Shopping: 4; 11; 18 e 25 de março, sempre das 16h às 18h. A entrada é gratuita.

Da assessoria do evento.

As histórias e memórias dos moradores de Olinda foram reunidas no livro 'Olinda Patrimônio Cotidiano - Memória Coletiva de Seus Moradores'. Pessoas que residem nos bairros de Amaro Branco, Amparo, Bonsucesso, Carmo, Guadalupe e Varadouro falam da relação com a cidade Patrimônio Cultural da Humanidade.

A obra será lançada no próximo sábado (28), às 16h, na Biblioteca Pública de Olinda. Além do material impresso, foram produzidas 180 entrevistas em vídeo, 40 programas de rádio, exposição fotográfica e documentário. ‘Olinda Patrimônio Cotidiano - Memória Coletiva de Seus Moradores' apresenta histórias pitorescas de personalidades do município. Todo o conteúdo do projeto está disponibilizado gratuitamente pela internet.

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Um projeto de lei tem o objetivo de regulamentar a profissão de contador de histórias. A proposta, de autoria da deputada Erika Kokay (PT-DF), foi aprovada na Câmara dos Deputados pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

Segundo informações da Agência Câmara de Notícias, a proposta também recebeu parecer favorável da relatora, a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG). “A tradição oral é uma das formas reconhecidas de se preservar e valorizar os nossos costumes”, destacou a relatora, conforme informações da Agência. 

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O projeto diz que são considerados contadores de histórias “os profissionais que atuam em comunidades onde a oralidade exerce papel fundamental na preservação e transmissão do saber e das manifestações da cultura popular”. De acordo com a proposta, os trabalhadores deverão promover a valorização do patrimônio cultural e imaterial brasileiro, além de democratizar o acesso aos bens culturais imateriais, entre outras atividades.

A proposta já tramita em caráter de conclusão. Ela ainda receberá análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, cuja data ainda não está definida.

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