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O início do futebol no Brasil, ainda no final do século XIX, foi marcado pelo racismo. De origem etilista e praticada exclusivamente por brancos, nasceu como uma clara tentativa de segregação racial. Em Pernambuco, alguns nomes chegaram para quebrar paradigmas e ajudar a reescrever as páginas da história do esporte mais popular entre os brasileiros.

No Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro em virtude da morte de Zumbi dos Palmares, o LeiaJá relembra alguns baluartes antirracistas em solos e gramados pernambucanos. 

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Lacraia: o pioneiro

O Santa Cruz tem contribuição essencial na inserção do negro em nosso estado. Quando nasceu, trouxe consigo um manifesto contra o racismo. Fundador do clube em 1914, Teófilo Baptista Bacelar de Carvalho, mais conhecido como "Lacraia", aparece na primeira foto oficial do Santa, destoando da maioria esmagadora de brancos.

A reportagem ouviu Gil Batista Bacelar Neto, bisneto de Lacraia, o primeiro negro a jogar por aqui. Ele nunca viu o bisavô atuar, mas ouvia as histórias do pai, Gil Batista Bacelar Filho, e, além de herdar a paixão pelo Mais Querido, se orgulha de sentir correr nas veias um DNA tão importante para a causa.

“Eu costumo dizer que sou um branco de alma preta. Vários dos meus antepassados são de cor negra, não só Lacraia. Na nossa família nunca houve nenhum tipo de distinção, todo mundo trata todos como iguais. Afinal, a cor não interfere nem no caráter nem no potencial da pessoa”, disse Gil.

Vale lembrar que, inicialmente, o Santa tinha um uniforme preto com listras brancas em homenagem a Lacraia. O clube só passou a ser tricolor após perder um sorteio contra o Flamengo-PE, que também era alvinegro, já que segundo o regulamento da extinta Liga Sportiva Pernambucana, o Estadual não poderia ter dois times com a mesma tonalidade. Depois de jogador, Lacraia ainda comandou o Santa como técnico.

Seu maior arrependimento foi não ter comparecido para assinar a ata de fundação por estar prestando vestibular no dia 3 de fevereiro de 1914. Ali, além de um grito por igualdade racial, nascia a alcunha "Time do Povo". Já como ex-jogador, ele foi gerente por décadas de um dos maiores bancos do país.

"Meu pai foi homenageado com uma placa no ano do Centenário do Santa (2014). Foi um dia que ele ficou bastante orgulhoso. Ele me falava muito de Lacraia, do pouco tempo que conviveu com ele. Já meu avô, Gil Baptista Bacelar, o viu jogando ", disse o bisneto.

Gil Baptista Bacelar Filho recebe homenagem no centenário do Santa (Arquivo Pessoal)

Não existe nenhum registro oficial sobre a data do óbito de Lacraia, assim como nenhum familiar vivo para dizer. No entanto, informações não oficiais dão conta que ele faleceu no início da década de 1960.

Nilson: o quebrador de barreiras

Nilson Corrêa foi um dos poucos goleiros negros a ter destaque no Brasil até os anos 2000. Nascido em Vitória-ES, ele marcou época defendendo a meta do Santa Cruz, clube no qual ficou até 2004. Neste mesmo ano, se mudou do Arruda para os Aflitos, sendo campeão pernambucano pelo Náutico, derrotando a própria Cobra Coral na decisão. Desde 2019, o ex-goleiro virou treinador de futebol - seu último clube foi o Aymorés-MG.

“Existia a máxima de que goleiro negro não ia vingar no futebol, mas eu e o Dida (campeão do Mundo pelo Brasil em 2002, no Penta), mostramos que isso não passa de um preconceito. Teve também o Barbosa, goleiro da Copa de 1950. Mas na minha época, duvido que chegue em 10 ou 15% do número de goleiros que eram de cor negra”, relatou Nilson ao LeiaJá.

Para contarmos bem a história de Nilson é preciso voltar a 2000. Jogando pelo Santa, era vítima constante de injúria racial nos Aflitos, com o torcedor ecoando sons alusivos a um macaco. Em janeiro deste ano, foi publicada a Lei 14.532/2023, que equipara a injúria ao crime de racismo, podendo culminar em reclusão de dois a cinco anos, de cunho imprescritível e inafiançável.

Perguntado pela reportagem sobre o que mudou de lá para cá, Nilson fez um desabafo. “Cara, sinceramente...pouca coisa mudou. A diferença é que já há alguns anos, existe o advento da internet, então as coisas se reverberam. E eu também acredito que muitas pessoas vão pelo 'politicamente correto'. Diz que é antirracista nas redes sociais, mas se ver um negro, atravessa a rua. Se for um negro sendo pego pela polícia, fala 'Olha aí! Só podia ser preto’”, disparou.

Outros nomes

Além de Lacraia e Nilson, outros jogadores marcaram época na luta por equidade racial no futebol pernambucano. Um deles é José Roque Paes, ou simplesmente Traçaia. Mato-grossense de Cuiabá, Traçaia é até o hoje o maior artilheiro da história do Sport, com 202 gols marcados. Dentre esses tentos, foram 10 hatt-tricks e duas partidas em que o craque marcou quatro gols - Sport 10 x 0 Auto Esporte em 1955, e Sport 7 x 1 Íbis em 1959.

O artilheiro defendeu o Rubro-negro entre 1955 e 1963. Logo em seu primeiro ano na Praça da Bandeira, ergueu o título do Cinquentenário, sob o comando do lendário técnico Gentil Cardoso. Neste campeonato, sagrou-se o maior goleador, empilhando 22 bolas nas redes adversárias. Ao todo, Traçaia foi pentacampeão estadual (1955, 1956, 1958, 1961 e 1962).

Traçaia, maior artilheiro da história do Sport (Arquivo)

No Náutico, outro negro que destruiu dogmas foi o jamaicano Alan Cole, amigo íntimo de Robert Nesta Marley, o Bob Marley, um dos maiores nomes da música em todos os tempos. Marley, inclusive, era fanático por futebol e chegou a atuar de forma amadora no país da América Central. Lembrando que o Timbu foi o time mais “resistente” do Trio de Ferro a aceitar negros como atletas. 

No Santa Cruz, outros baluartes deixaram suas marcas. Na década de 1970, o pernambucano Ramon, nascido em Tracunhaém, se tornou o artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1973, superando Leivinha, do Palmeiras, e Mirandinha, do São Paulo, ambos com 20. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, fez 18.

Ramon no gramado onde iniciou sua carreira, o Arruda (Divulgação/SCFC)

Ramon deu seus primeiros dribles com a bola na Usina Trapiche, enquanto se dividia entre cortar cana de açúcar e alimentar o sonho de um dia se tornar jogador de futebol. Depois de deixar o Mais Querido, passou por clubes como Internacional, Vasco, Goiás e Ceará, até pendurar as chuteiras, em 1985. Alguns tricolores que podem ser lembrados são Zé do Carmo e Luiz Fumanchu, entre tantos outros.

Após a Prefeitura de Curitiba divulgar, em suas redes sociais, um vídeo de uma festa do Mês da Consciência Negra, realizada pela gestão municipal na última quarta-feira (15), internautas estão apontando falta de pessoas pretas nas apresentações do evento.

Nas imagens, é possível observar artesantos da cultura afro-brasileira, doces com desenhos de pessoas negras e bonecos representando alguns orixás. No entanto, no palco do evento, os cantores e os músicos que aparecem tocando tambores, são pessoas brancas. Isso está sendo o motivo para as duras críticas nos comentários e compartilhamentos da publicação.

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"Esqueceram de convidar os negros", escreveu uma seguidora. "Branco ganhando dinheiro à custas da cultura negra. Nenhuma novidade por aqui", criticou outra internauta.

Já outros seguidores observaram que na parte de trás do palco das apresentações, existem imagens de caravelas portuguesas e de um homem negro amarrado pelos braços. Internautas interpretaram a ilustração como se referindo a uma pessoa escravizada sendo açoitada. Mesmo com a repercussão, a Prefeitura de Curitiba ainda não se manifestou sobre o assunto.

 

Uma pastelaria localizada no município de Campo Bom, no Rio Grande do Sul, denunciou nas redes sociais um caso de racismo cometido por uma pessoa que fez um pedido no estabelecimento, na última terça-feira (14). Na nota da comanda, a cliente enviou uma “observação”, pedindo que a comida fosse entregue especificamente por uma pessoa branca. 

“Última vez veio um motoboy negro peço a gentileza que mande um branco não gosto de pessoas assim encostando na minha comida”, diz a observação completa enviada ao estabelecimento. O “motoboy” citado na mensagem é Gabriel Fernandes da Cunha, dono do local, e que realiza entregas nos dias de maior movimento. 

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Reprodução 

A mensagem chegou na conversa entre a pastelaria e a cliente, que recebeu como resposta o cancelamento do pedido, feito pela proprietária, Daniela Rodrigues, esposa de Gabriel. “Como é a história? Pois seu pedido será cancelado imediatamente e irei fazer uma denúncia contra seu perfil! Faça o favor de não comprar mais na minha loja pois não quero pessoas assim comprando aqui! Esse motoboy negro é o dono da empresa!”, respondeu. 

Reprodução 

A pessoa que enviou a mensagem racista foi denunciada na plataforma de entregas e um boletim de ocorrência foi registrado pelos donos da lanchonete. A franqueadora do estabelecimento publicou, nas redes sociais da rede, uma nota de repúdio ao acontecido, e defendeu o trabalho de todas as pessoas. “Agradecemos a todas as pessoas que estão apoiando a injusta agressão racial sofrida pelos franqueados de Campo Bom, demonstrando que nosso trabalho vale a pena, pois existem muito mais pessoas de bem neste mundo”, se lê na publicação. 

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O novo estudo "Pele Alvo: Bala Não Erra o Negro", elaborado pela Rede de Observatórios de Segurança, um projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), mostrou que, em quatro das maiores cidades do Grande Recife, apenas pessoas negras foram mortas pelas forças policiais em 2022. O resultado se repetiu por dois anos seguidos, sendo o mesmo também em 2021. Os municípios com a totalidade de pessoas pretas ou pardas mortas pela polícia foram Recife, com 11 mortos; Igarassu, com sete mortos; Olinda, com seis mortos; e Cabo de Santo Agostinho, com cinco mortes. 

Ainda de acordo com a pesquisa, em Pernambuco a proporção de negros entre as vítimas de operações policiais foi de 89,66%. No total, 91 pernambucanos foram mortos durante alguma intervenção do Estado. Destes, 87 tiveram cor e raça declaradas, e 78 foram identificados como negros (89,65%). Pessoas negras são 65,1% da população de Pernambuco. No estado, além da maioria de vítimas negras, os jovens de 12 a 29 anos representam 67,03% dos casos. 

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O estudo do Cesec divulgado nesta quinta-feira (16) utilizou estatísticas fornecidas pelas polícias do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI). As informações foram cruzadas com os dados de cor e raça divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados levam em consideração a autodeclaração populacional, admitida pelo IBGE, e que enxerga como população negra pessoas declaradas pretas ou pardas.  

“É perceptível o quanto a violência toma uma nova forma ao chegar na juventude. Marginalizados e sem direitos e acessos básicos, corpos negros nas periferias são alvos de execuções brutais pela polícia, tendo o racismo como motor para esses eventos de violência. O descaso é ainda maior quando os casos acontecem no interior do estado, pois ainda existe uma enorme falta de assistência e políticas públicas voltadas para essas regiões. É como se não existissem”, diz Edna Jatobá, coordenadora do Observatório de Segurança de Pernambuco. “Seja na capital ou nas demais cidades, a dinâmica do racismo tem historicamente estigmatizado corpos negros, majoritariamente jovens, sobretudo nas ações realizadas pelas polícias”, completa.  

Brasil 

O número de pessoas mortas pela polícia em apenas oito estados brasileiros chegou a 4.219 em 2022. Desse total, 2.700 foram considerados negros (pretos ou pardos) pelas autoridades policiais, ou seja, 65,7% do total. Se considerados apenas aqueles com cor/raça informada (3.171), a proporção de negros chega a 87,4%.  

 

O número de pessoas mortas pela polícia em apenas oito estados brasileiros chegou a 4.219 em 2022. Desse total, 2.700 foram considerados negros (pretos ou pardos) pelas autoridades policiais, ou seja, 65,7% do total. Se considerados apenas aqueles com cor/raça informada (3.171), a proporção de negros chega a 87,4%. 

Os dados são do estudo Pele Alvo: a Bala não Erra o Negro, realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), e divulgado nesta quinta-feira (16), com base em estatísticas fornecidas pelas polícias do Rio de Janeiro, de São Paulo, da Bahia, de Pernambuco e do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI).

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Dos oito estados, apenas o Maranhão não informou a cor/raça de qualquer um dos mortos. Já nos estados do Ceará e Pará, há um grande número de mortos sem identificação de cor/raça: 69,7% e 66,2% do total, respectivamente. 

Os dados mostram que a polícia baiana foi a mais letal no ano passado, com 1.465 mortos (1.183 tinham cor/raça informada). Desse total, 1.121 eram negros, ou seja, 94,8% daqueles com cor/raça informada, bem acima da parcela de negros na população total do estado (80,8%), segundo a pesquisa, feita com base em dados do Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE). 

Aliás, isso ocorre em todos os sete estados que informaram a cor/raça de parte das vítimas. No Pará, por exemplo, 93,9% dos mortos com cor e raça identificadas eram negros, enquanto o percentual de negros na população é de 80,5%, de acordo com o estudo. 

Os demais estados apresentaram as seguintes proporções de mortes de negros entre aqueles com cor/raça informada e percentuais de negros na população: Pernambuco (89,7% e 65,1%, respectivamente), Rio de Janeiro (87% e 54,4%), Piauí (88,2% e 79,3%), Ceará (80,43% e 71,7%) e São Paulo (63,9% e 40,3%). 

Racismo

“Os negros são a grande parcela dos mortos pelos policiais. Quando se comparam essas cifras com o perfil da população, vê-se que tem muito mais negros entre os mortos pela polícia do que existe na população. Esse fator é facilmente explicado pelo racismo estrutural e pela anuência que a sociedade tem em relação à violência que é praticada contra o povo negro”, diz o coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Pablo Nunes. 

Nunes também destaca que há falta de preocupação em registrar a cor e raça dos mortos pela polícia em estados como Maranhão, Ceará e Pará. “A dificuldade de ser transparente com esses dados também revela outra face do racismo, que é a face de não ser tratado com a devida preocupação que deveria. Se a gente não tem dados para demonstrar o problema, a gente ‘não tem’ o problema e, se ‘não há’ problema, políticas públicas não precisam ser desenhadas.”

O estudo mostrou ainda que, neste ano, a Bahia ultrapassou o Rio no total de óbitos (1.465 contra 1.330). Em terceiro lugar, aparece Pernambuco, com 631 mortes. “Isso significa um cenário de degradação das forças policiais baianas e um processo de falta de políticas públicas de ação do governo estadual para lidar com essa questão, elencando-a como prioridade e estabelecendo metas e indicadores de redução dessa letalidade por parte das forças policiais”, afirma Nunes.

Segundo a Rede de Observatórios, a quarta edição do estudo demonstra o crescente nível da letalidade policial contra pessoas negras. “Em quatro anos de estudo, mais uma vez, o número de negros mortos pela violência policial representa a imensa maioria. E a constância desse número, ano a ano, ressalta a estrutura violenta e racista na atuação desses agentes de segurança nos estados, sem apontar qualquer perspectiva de real mudança de cenário”, afirma Silvia Ramos, pesquisadora da rede. 

Segundo ela, é preciso entender esse fenômeno como uma questão política e social. “As mortes em ação também trazem prejuízos às próprias corporações que as produzem. Precisamos alocar recursos que garantam uma política pública que efetivamente traga segurança para toda a população”, completa. 

Posicionamentos

A Secretaria de Segurança de São Paulo informou, por meio de nota, que as abordagens da Polícia Militar obedecem a parâmetros técnicos disciplinados por lei, que criou a Divisão de Cidadania e Dignidade Humana e que seus protocolos de abordagem foram revisados. Além disso, oferece cursos para aperfeiçoar seu trabalho – nos cursos de formação, os agentes estudam ações antirracistas.   

Uma comissão analisa todas as ocorrências por intervenção policial e se dedica a ajustar procedimentos. A Polícia Civil paulista busca “estabelecer diretrizes e parâmetros objetivos, racionais e legais, sem qualquer tipo de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, origem, onde o policial civil, no desempenho da sua atividade”. 

A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) informa que, de janeiro a outubro de 2023, o estado alcançou redução de 22% nas mortes por intervenção de agentes do Estado, se comparado ao mesmo período de 2022, quando foram registrados, respectivamente,  440 e 569 casos em todo o Pará. A Segup ressalta que as ocorrências são registradas no Sistema Integrado de Segurança Pública pela Polícia Civil e que o campo “raça/cor” não é de preenchimento obrigatório, sendo a informação de natureza declaratória por parte de parentes ou da vítima no momento do registro.

Na Bahia, a Secretaria da Segurança Pública ressalta que as ações policiais são pautadas dentro da legalidade e que qualquer ocorrência que fuja dessa premissa é rigorosamente apurada e todas as medidas legais são adotadas. A secretaria informa que investe constantemente na capacitação dos efetivos e também em novas tecnologias, buscando sempre a redução da letalidade e a preservação da vida.

Para tanto, foi criado um grupo de trabalho voltado para a discussão e criação de políticas que auxiliem na redução da letalidade policial, promovendo uma análise mais aprofundada das informações provenientes dessas ocorrências, como o perfil das pessoas envolvidas, contextualização e região, entre outros dados que possam colaborar para a redução desses índices. A secretaria destaca ainda que a maioria dos acionamentos  policiais se dá a partir dos chamados via 190 (Centro Integrado de Comunicações) e 181 (Disque Denúncia), além das operações para cumprimentos de mandados determinados pela Justiça.

No Rio de Janeiro, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, em todos os cursos de formação e aperfeiçoamento de praças e oficiais, a corporação insere nas grades curriculares como prioridade absoluta disciplinas como direitos humanos, ética, direito constitucional e leis especiais. A questão racial perpassa, de forma muito incisiva, por todas essas doutrinas na formação dos quadros da corporação.

De acordo com a assessoria, internamente, a Polícia Militar do Rio de Janeiro tem feito a sua parte para enfrentar o desafio do racismo estrutural ao longo de mais de dois séculos. Foi a primeira corporação a oferecer a pretos uma carreira de Estado, e hoje mais de 40% do seu efetivo é composto por afrodescendentes.

A instituição orgulha-se também de seu pioneirismo em ter pretos nos postos de comando. O coronel PM negro Carlos Magno Nazareth Cerqueira comandou a corporação durante duas gestões, nas décadas de 1980 e 1990, tornando-se uma referência filosófica para toda a tropa, ao introduzir os conceitos de polícia cidadã e polícia de proximidade. No decorrer dos últimos 40 anos, outros oficiais negros ocuparam o cargo máximo da corporação.

A Agência Brasil entrou em contato com as polícias dos outros estados e aguarda os posicionamentos.

Uma investigação coordenada pela Polícia Civil do Estado do Amapá indiciou, na última segunda-feira (13), um adolescente de 17 anos por fazer apologia ao nazismo, racismo e por compartilhar mensagens xenofóbicas e LGBTfóbicas em um grupo de mensagens. O jovem foi identificado após a embaixada americana verificar alguns brasileiros praticando crimes transnacionais na Internet.

Segundo a Delegacia Especializada na Investigação de Atos Infracionais (Deiai), o adolescente classificava o grupo como o “mais perigoso da internet". Além disso, ele venerava o líder nazista Adolf Hitler e elogiava o holocausto.

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A operação, que localizou o brasileiro, iniciou quando as mensagens criminosas foram identificadas e encaminhadas pelo Homeland Security Investigations (HSI) da embaixada americana no Brasil à Polícia Civil. A instituição norte-americana é um "braço" investigativo de segurança interna dos Estados Unidos.

Aos policiais, o adolescente confessou ser um dos autores de algumas postagens. Já os outros brasileiros envolvidos nas práticas criminosas, deverão ser investigados pela Polícia dos seus estados.

No mês que marca a Consciência Negra, o RioMar Recife e o Instituto JCPM de Compromisso Social promovem a 2ª Expo Preta RioMar, mostra autoral que evidencia, celebra e difunde a cultura negra e o afroempreendedorismo. O evento ocorre entre os próximos dias 17 e 19 de novembro, reunindo produtos, serviços, artes visuais, música e painéis de conteúdo, para incentivar a sociedade a refletir sobre representatividade e igualdade racial.

Reconhecida e premiada já no seu primeiro ano, a Expo Preta RioMar chega à segunda edição ainda mais potente. Todas as demais atividades oferecidas de sexta a domingo no Piso L3 do RioMar Recife são gratuitas.

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A programação diversificada traz como novidades da edição de 2023 um desfile de moda comandado pelo estilista senegalês Lassana Mangassouba e o Espaço Literatura Preta, ocupado por escritoras, educadoras, contadoras de histórias e empreendedoras sociais recifenses, como Jaqueline Fraga, autora de "Negra Sou", finalista do prêmio Jabuti.

Haverá, ainda, uma área dedicada às crianças e adolescentes, com jogos online da startup pernambucana Mangrove Game Studio. ​

Outro destaque é o painel mediado pelo jornalista Pedro Lins com Tia Má, atriz, comunicadora, escritora, ativista e comediante que faz crítica com humor sobre questões como racismo, xenofobia, gordofobia, relacionamento, sexualidade e autoestima no seu stand up "Tia Má Com a Língua Solta" e em programas de televisão.

"A Expo Preta RioMar é um movimento que reflete o compromisso do Grupo JCPM com a inclusão econômica e a valorização da cultura negra em todas as suas nuances", destaca a diretora de Desenvolvimento Social e Relações Institucionais do Grupo JCPM, Lucia Pontes. 

A gerente de Marketing do RioMar Recife, Denielly Halinski, também ressalta a relevância da mostra. “Estamos felizes em promover a 2ª edição da Expo Preta RioMar em parceria com o IJCPM. Trata-se de um projeto autoral que reúne negócios, cultura e conteúdo em um só evento. De forma democrática e inclusiva, a mostra valoriza as iniciativas de afroempreendedorismo originadas no Pina e Brasília Teimosa, contemplando este ano também outros territórios do Recife. O evento está consolidada e já integra o calendário anual do RioMar Recife”, pontua.

A partir de painéis de conteúdo, oficinas, mostra de artes visuais e apresentações culturais de classificação livre, a programação da 2ª Expo Preta RioMar abraça todas as pessoas. "Trata-se de uma iniciativa de enorme valor agregado para promover a reflexão sobre os desafios enfrentados na construção de uma sociedade sustentável. Tudo isso construído de forma coletiva, inclusiva e plural", ressalta a gerente de Sustentabilidade do Grupo JCPM, Thayara Paschoal. 

O envolvimento das pessoas afroempreendedoras em todas as etapas do projeto é um dos princípios norteadores da Expo Preta RioMar desde a sua concepção. Conteúdos, atrações artísticas, expografia e programação em geral são formatados através da escuta e do reconhecimento da riqueza da cultura negra em todas as suas nuances.

"O evento ecoa a voz e as experiências das comunidades, de onde surgiu o anseio de pautar o tema do enfrentamento à desigualdade racial, para marcar o Mês da Consciência Negra. O engajamento do público geral nessa discussão  produz um efeito multiplicador, essencial ao fomento de uma cultura inclusiva", salienta a gestora de Diversidade e Inclusão do Grupo JCPM, Juliana Martorelli.  

*Da assessoria 

O ex-jogador e apresentador José Ferreira Neto, mais conhecido como Neto, da Band, foi condenado em primeira instância a pagar uma indenização por danos morais no valor de R$ 500 mil ao treinador Jorge Sampaoli, ex-Flamengo. A informação foi confirmada ao Estadão pela defesa do técnico argentino, que foi acusado de racismo durante a exibição do programa "Baita Amigos", no dia 17 de abril deste ano, e "Os Donos da Bola", no dia 18 do mesmo mês. O caso corre na 1ª Vara da Justiça de São Paulo e cabe recurso.

Sampaoli havia entrado com uma ação cível, em junho, exigindo uma retratação pública de Neto pelas falas proferidas nos programas. Como não ocorreu, decidiu entrar também com um pedido criminal. O Grupo Bandeirantes também entrou como polo passivo na ação. Nenhuma das partes respondeu às ações na Justiça, de acordo com a defesa do treinador argentino. A reportagem entrou em contato com a Band, mas ainda não obteve resposta até a publicação da matéria.

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O valor de R$ 500 mil é, segundo a defesa, "simbólico", e foi calculado com base nos ganhos que a emissora tem com anúncios ao longo de sua grade. As ofensas a Sampaoli duraram, de acordo com advogado de acusação, cerca de dez minutos, somados os tempos dos dois programas.

Na esfera criminal, que corre na primeira 1ª Vara Criminal de São Paulo, a juíza Aparecida Angélica Correia definiu o prazo de 15 dias para que a defesa reúna as expressões e declarações consideradas ofensivas, por parte do apresentador, para a análise da Justiça. Neste âmbito, apenas o apresentador é processado, por calúnia e difamação.

NETO X SAMPAOLI: RELEMBRE O CASO

No dia 17 de abril, Neto comentou sobre a passagem do técnico pelo Santos, em 2019. Segundo o apresentador, Sampaoli foi racista com um funcionário do clube. "Um cara que trata mal o Arzul, que é negro... E que é igual a mim, que é igual a você e que é um ser humano incrível... Esse cara, o Jorge Sampaoli, fazia o Arzul ficar fora do vestiário. Ele fez muitas pessoas contratadas antes dele perderem o emprego. Esse cara é nojento", afirmou Neto.

Em outro momento, Neto chegou a dizer que seria uma vergonha o Flamengo escolher Sampaoli para substituir Vítor Pereira no comando técnico. "Vocês não dão moral para as pessoas que são do próprio País, aí vocês dão moral para um cara como esse, que muitas vezes tratou as pessoas de uma maneira tão racista, de uma maneira tão hipócrita...", disse Neto, durante o programa "Baita Amigos".

"Esse baixinho aí. Esse idiota aí. Isso aí é uma vergonha, pinto pequeno, não sabe nada de bola. É uma vergonha o Flamengo contratar um cara desse", afirmou, no programa da Band.

O art. 144 do Código Penal, utilizado para a intimação de Neto, cita que "se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo." É neste artigo que se baseia a defesa do treinador flamenguista. "Esse procedimento serve, para trazer ao conhecimento do poder Judiciário, que houve um possível delito contra a honra", explica Raphael Feitosa Fisori, ao Estadão.

Sampaoli chegou ao Flamengo em abril deste ano, após demissão de Vítor Pereira. Antes do time rubro-negro, passou pelo Santos, em 2019 - trabalho citado por Neto -, e Atlético-MG, entre 2020 e 2021, únicas equipes que treinou no Brasil.

Um torcedor do Crystal Palace que fez gestos racistas contra o sul-coreano Heung-Min Son, do Tottenhamm, foi banido por três anos de estádios de futebol. O caso ocorreu no Tottenham Hotspur Stadium, em partida vencida por 1 a 0 pelo time da casa, em maio, quando imagens da arquibancada captadas pela transmissão televisiva mostraram o homem, identificado como Robert Garland, puxando os olhos para ofender o atacante, que estava sendo substituído e viu o gesto, por isso comunicou à arbitragem.

De acordo com Serviço de Procuradoria da Coroa Britânica (CPS, na sigla em inglês), em seu depoimento, Son disse não ter feito "nada para ser alvo deste horrível comportamento racista e discriminatório". Garland, de 44 anos, foi detido e acusado de "crime de ordem pública com agravamento racial".

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Após declarar-se culpado, o homem foi condenado a 60 horas de trabalho comunitário e recebeu uma multa de pouco mais de mil libras, mas o clube teve o apoio da Polícia Metropolitana e da Unidade de Policiamento do Futebol do Reino Unido, para pedir um recurso, que resultou na punição mais dura, com o banimento do torcedor.

"Agradecemos à Polícia pela cooperação no assunto. Gostaríamos de reiterar que o Clube não tolera qualquer tipo de discriminação e procurará sempre que sejam tomadas as medidas mais enérgicas possíveis contra os responsáveis", disse o Tottenham em comunicado divulgado nesta quarta-feira.

A nova decisão faz com que Garland não possa entrar em nenhum estádio durante partidas de futebol regulamentadas durante três anos, período no qual também terá de entregar seu passaporte sempre que o Crystal Palace tiver compromissos internacionais.

"Este caso mostra que crimes de ódio no futebol não serão tolerados. As ações de Garland foram justamente condenadas nas redes sociais e apelamos a todos os torcedores que continuem denunciando qualquer forma de comportamento discriminatório contra jogadores ou torcedores à polícia ou aos comissários, para que possamos levar casos como este ao tribunal", disse Kevin Christie, principal promotor esportivo do CPS.

Antes absolvido em uma investigação de racismo, o ex-assessor especial para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro (PL), Filipe Martins, voltou a ser investigado pela realização de um gesto típico de supremacistas brancos, durante uma sessão no Senado Federal, em 2021. A decisão de derrubar a absolvição foi do desembargador Ney Bello. De acordo com o magistrado, há “fortes indícios” de que Martins é apologista de símbolos racistas da extrema-direita. A informação é do g1. 

“O que temos são indícios. Fortes indícios, diria eu. Por serem fortes indícios, não é cabível a manutenção da absolvição sumária do apelado", afirmou o desembargador. Agora, o processo prosseguirá na primeira instância. O caso aconteceu ainda durante a gestão Bolsonaro. À época, a 11ª Vara Criminal do Distrito Federal encerrou o processo por entender que o fato narrado na denúncia do Ministério Público não constituía crime. 

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O gesto foi feito numa sessão remota do Senado, no dia 24 de março de 2021. Filipe acompanhava o então Ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que acompanharia uma reunião sobre a Covid-19. O símbolo, apropriado por grupos extremistas, é feito com união dos dedos polegar e indicador, mantidos abertos e esticados os dedos médio, anular e mínimo, de forma a caracterizar a formação das letras “WP”, como sigla para o lema racista White Power (“Poder Branco”). O Senador Randolfe Rodrigues identificou o gesto e alertou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. A Polícia do Senado Federal abriu inquérito. 

Em sua defesa, Filipe alegou que estava ajeitando a lapela de seu paletó. A perícia do Senado desmentiu a versão. “Trata-se de pessoa que entende de política e é conhecedor das suas simbologias específicas, incluindo aquelas que enaltecem torturadores, fascistas e racistas. E utiliza essa simbologia de forma reiterada", disse a perícia à época. 

Em seu voto, o magistrado passa a relatar os casos em que Filipe fez uso destas simbologias: "Quando o então Deputado Federal Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República no segundo turno das eleições de 2018, o apelado [Filipe] postou no Twitter: “Está decretada a nova Cruzada. Deus vult!”. O voto ainda cita outros dois exemplos de uso de expressões da extrema direita: Filipe usou um lema da ditadura de Francisco Franco, na Espanha, ao felicitar Carlos Bolsonaro pelo seu aniversário: "¡ya hemos pasao!" (“já passamos!”). 

Em agosto de 2020, Filipe postou a frase em latim "Oderint dum metuant", que significa “Que odeiem, desde que temam”. Essa frase é do poeta romano Lúcio Ácio, mas foi apropriada na década de 1990 pelo grupo neonazista alemão Combat 18. 

O jornal espanhol "Superdeporte", de Valência, voltou a atacar Vinícius Júnior sob o argumento de que ele está prejudicando a imagem do time da cidade. Desta vez, o ataque veio após o brasileiro do Real Madrid ser agraciado com O Prêmio Sócrates, durante a cerimônia da Bola de Ouro, em razão dos serviços prestados à sociedade pelo Instituto Vini Jr., projeto voltado à educação de crianças. Assim como no início de outubro, quando questionou o depoimento dado pelo atacante depois de ofensas racistas proferidas contra ele por torcedores valencianos no Estádio Mestalla, o periódico estampou sua capa chamando Vini de mentiroso.

"Muito fartos do Pinóquio. O show de Vinicius e suas mentiras continuam prejudicando injustamente a imagem do Valencia e de todos os seus torcedores", diz a manchete do "Superdeporte" desta quarta-feira, acompanhada de uma foto do jogador discursando depois de receber o prêmio, enquanto o telão, atrás, mostra o momento em que ele denunciava atos racistas praticados por torcedores do Valência. A exibição de tal imagem durante a premiação é o motivo da revolta do jornal e também do próprio clube valenciano, que reclamou em nota oficial.

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"O Valência lamenta o uso, na cerimônia da Bola de Ouro, da nossa imagem e de sua associação a comportamentos isolados que o clube perseguiu de forma urgente, aplicando a punição mais severa aos envolvidos. Reiteramos nossa conduto mais absoluta contra o racismo, mas também pedimos respeito à nossa o torcida e ao nosso clube", diz o texto.

Há quatro semanas, o clube e o jornal questionaram o depoimento de Vini Jr sobre os ataques racistas sofridos no Mestalla, pois entendem que o jogador generalizou a torcida com a pecha de racista e defendem que o Valencia agiu para combater o ato - três torcedores foram identificados e banidos do estádio. Na ocasião, a capa do "Superdeporte" também foi publicada com a manchete chamando o brasileiro de Pinóquio.

No novo ataque, nesta quarta-feira, a postura do periódico foi ainda mais radical, tanto que a primeira página de seu site, na parte da manhã, trazia três textos em destaque criticando Vini, sob os títulos "Chega de injustiças com Mestalla e Valência", "Prêmio Pinóquio pela ausência de valores" e "Os valores de Vinícius não merecem prêmios"

"O trabalho social e humanitário e o projeto educativo do futebolista do Real Madrid no seu país são louváveis, mas se há um jogador de futebol que não encarna com precisão os valores sociais do esporte, é Vinícius", diz um dos textos, assinado por André Garcia. "Nesta quarta-feira não faltarão jornais madrilenhos ou brasileiros de plantão que mais uma vez chamarão nossa primeira página de indizível", escreveu o colunista Rafa Marina. "Infelizmente, sempre continuará a haver quem justifique a caça às bruxas com base em mentiras contra o Valencia a cidade".

DISCURSO ANTIRACISTA NA PREMIAÇÃO

ao receber o prêmio na segunda-feira, Vini Jr foi elogiado pelo lendário ex-atacante Didier Drogba, mestre de cerimônia da premiação. Exaltado pelo marfinense justamente em razão de sua luta contra o racismo, o brasileiro falou que está cansado de falar sobre o tema, mas que entende que não pode abandonar a pauta.

"Estou preparado para sempre poder falar quando for necessário. Eu vim lutar elas crianças, espero que todos os jogadores possam nos ajudar. É muito triste eu ter que falar sempre sobre o racismo. Eu gosto de falar sobre futebol, é muito triste, mas quero pedir a força para seguir na luta. Que as crianças que venham a seguir, sofram menos", afirmou.

Em seguida, Drogba reforçou seu apoio ao jogador e pediu punições mais severas para atos racistas. "Você não está sozinho, estamos com você. A gente espera uma solução há muito tempo. Esperamos ações dos governos para acabar com o racismo não só no futebol, mas na sociedade".

O brasileiro Vinícius Júnior, que atualmente defende o Real Madrid, ganhou o Prêmio Sócrates nesta segunda-feira (30), na Premiação da Bola de 2023, em Paris. A honraria veio em virtude do trabalho social do Instituto Vini Jr e sua luta contra o racismo.

Fundada em julho de 2021, a instituição tem a missão de oferecer estudo através da tecnologia para jovens negros. A linguagem do projeto é focada no esporte.

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"Fico muito feliz por poder ajudar essas crianças, que tanto precisam. É um sonho para mim estar aqui (na premiação), com todos esses jogadores tão importantes na história do futebol", iniciou o craque.

"Estou preparado para levantar a causa do racismo sempre. Vou lutar por eles, espero que os jogadores possam ajudar. É muito triste falar sobre racismo, eu gosto de futebol. As crianças que vão vir, possam sofrer cada vez menos com isso", completou.

Já a revista France Football, responsável direta pela premiação, enalteceu o projeto através das redes sociais.

"Enquanto o Brasil enfrenta fortes desigualdades sociais, que se manifestam no acesso à educação de qualidade para todos, o Instituto Vini. Jr. propõe soluções pedagógicas inovadoras para atuar neste grande problema. Além disso, as ações do Instituto Vini. Jr. miram reduzir o abismo digital no sistema público de ensino brasileiro, um abismo que se acentuou durante a pandemia de COVID-19", destacou.

Os outros concorrentes eram a Fundação Alex Morgan, da jogadora Alex Morgan, dos Estados Unidos; A Academia Oshoala, da jogadora nigeriana Asisat Oshoala; a Fundação Antonio Rüdiger, do zagueiro do Real Madrid; e a Força-Tarefa “Child Food Poverty”, do atacante Marcos Rashford, do Manchester United.

Vini Jr. foi vítima de racismo mais uma vez na Espanha. O atacante do Real Madrid recebeu ofensas racistas vindas de torcedores do Barcelona, no Estádio Olímpico Lluís Companys, em Barcelona, neste sábado (28), em partida válida pelo Campeonato Espanhol. Um vídeo flagrou torcedores do time catalão gritando insultos contra o brasileiro. Há uma semana, um torcedor do Sevilla fez gestos racistas contra o atacante.

No vídeo, é possível ouvir o torcedor dizer a palavra "mono" (macaco, em espanhol) repetidas vezes. O registro foi feito pelo jornalista Victor Boni, do jornal Marca, da Espanha. Segundo Boni, o staff de Vini Jr. está em contato com a La Liga para identificar o torcedor. Na semana passada, o torcedor do Sevilla que imitou um macaco em direção ao atacante foi identificado pelo clube, que o expulsou do estádio Ramón Sánchez Pizjuán.

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O Barcelona se pronunciou algumas horas depois de a partida ser encerrada. Em nota, o clube diz defender os "valores do futebol, como o respeito pelos rivais" e promete "investigar qualquer insulto racista que por ter ocorrido nesta tarde durante o jogo contra o Real Madrid". A LaLiga também emitiu um comunicado. Segundo a nota, a liga trabalha para identificar as pessoas que profeririam insultos racistas e vai "como sempre, apresentar queixa pertinente".

Nesta semana, Mikel Camps, membro da diretoria do Barcelona, postou no X, antigo Twitter, um comentário contra Vini Jr. O porta-voz adjunto da diretoria da equipe catalã referia-se ao duelo do Real Madrid contra o Braga, pela Champions League. "Não é racismo, ele merece um tapa por ser palhaço e folgado. O que representam essas pedaladas desnecessárias e sem sentido no meio de campo?", postou Camps, que apagou a publicação pouco tempo depois.

LEI E INTERRUPÇÃO DE PARTIDAS

Vinícius Júnior virou nome de lei no Rio de Janeiro. A Lei 10.053/23 institui a Política Estadual Vini Jr de Combate ao Racismo nos Estádios e nas Arenas Esportivas do Estado. De acordo com o texto, qualquer cidadão poderá informar condutas racistas a qualquer autoridade presente no estádio. A denúncia deverá ser encaminhada à organização do evento, à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e às autoridades.

Em maio, quando Vini Jr. sofreu racismo contra o Valencia, o Ministério do Interior do país também determinou que as forças de segurança podem interromper partidas e até mesmo esvaziar um estádio quando houver casos de racismo e xenofobia. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, também defendeu a interrupção de jogos em casos de racismo.

A população negra brasileira tem os piores indicadores relativos a emprego, renda, educação e participação política quando comparada ao grupo de pessoas brancas. Apresenta também índices desfavoráveis relacionados à vitimização pela violência. Quando são avaliadas as condições de saúde, mais uma vez os negros ficam em posição desvantajosa, com piores incidências de determinados males e doenças. 

Dados do boletim Saúde da População Negra, apresentado na segunda-feira (23) pelos ministérios da Saúde e da Igualdade Racial, confirmam que questões como mortalidade materna, acesso a exames pré-natais e doenças infectocontagiosas se mostram mais severas na população negra.

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No Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra, celebrado em 27 de outubro, a Agência Brasil traz a avalição de especialistas que dedicam esforços profissionais e acadêmicos para a promoção da saúde deste grupo, que representa mais da metade da população do país. De acordo com o IBGE, 56% dos brasileiros se reconhecem como negros – somatório de pessoas pretas e pardas. 

Do nascimento à morte 

Uma explicação para os dados considerados preocupantes é o racismo. Segundo Andrêa Ferreira, pesquisadora da Associação de Pesquisa Iyaleta, há várias evidências que colocam o racismo como "determinante social estrutural que condiciona a vida da população negra". Para ela, o preconceito acompanha essa população desde antes do nascimento até a forma pela qual morre. 

"Quando a gente olha os dados de mortalidade materna, a gente sabe que as taxas são maiores entre as mulheres negras. Quando a gente olha a mortalidade por causas externas, por exemplo, que inclui acidentes e por arma de fogo, ela se concentra na população negra. Então, o racismo faz todo esse percurso de interferir na possibilidade de nascer, crescer e viver", afirma a pesquisadora que também faz parte do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia.  

"O racismo condiciona a vida das pessoas negras em todas as suas fases, desde a possibilidade de terem um parto adequado, de nascerem vivas até a forma como morrem". 

Na avaliação da Andrêa, uma vez que a pessoa negra consegue romper barreiras que a afastam do serviço de saúde, começa outro problema. "Você tem um tratamento desigual quando a gente compara as pessoas brancas e as negras. Você tem o viés racial implícito, o preconceito e as discriminações pautando a forma como as pessoas negras são tratadas". A pesquisadora considera que essa forma de racismo prejudica a forma de acolhimento, tratamento, oferta de exames e, consequentemente, o diagnóstico de doenças. 

"Temos estudos que mostram como o racismo em suas manifestações retarda, por exemplo, o diagnóstico da sífilis gestacional no Brasil", cita.  

O estudo do Ministério da Saúde revela que 70% das crianças com sífilis congênita - transmitida para a criança durante a gestação - são filhas de mães negras. 

Para Andrêa, a pandemia de covid-19 foi uma prova de como o racismo atua como determinante social. "A pandemia foi clara em mostrar como o racismo estava ali, determinando quem seriam as pessoas que precisaram sair do isolamento social para trabalhar, que moravam em casas densamente povoadas, sem acesso à água e saneamento. Eram as pessoas negras", avalia. 

Racismo em todas as partes 

Lúcia Xavier é fundadora da organização não governamental (ONG) Criola, defensora dos direitos humanos de mulheres negras. Ela concorda que um dos fatores que fazem com que negros tenham piores índices de questões relativas à saúde se dá por uma forma de racismo no atendimento de saúde. Para ela, há “um conjunto de procedimentos feitos de forma inadequada”.  

"[A pessoa negra] recebe menos informação do que precisa. É atendida com rapidez quando precisa de um pouco mais de tempo para explicar, para reconhecer os problemas. As queixas não são admitidas como legítimas. Se ela acaba perdendo sua consulta, volta para o fim da fila de espera". 

Uma outra face do acolhimento e tratamento inadequados é, na avaliação de Lúcia, que a pessoa acaba sendo responsabilizada pelos problemas.  

“Qualquer agravo que ocorra, o primeiro responsável é ela. Se ela se infectou com dengue, é porque ela não cuidou da água parada. Se ela pegou covid-19, é porque não utilizou os mecanismos de proteção necessários para cuidar da sua saúde”, exemplifica.  

“Doença de negro” 

No país em que mais de 60% das mortes por aids são de negros – índice que era de 52% em 2011, Lúcia aponta que as doenças infectocontagiosas são também consequência dessa discriminação que acontece durante o que deveria ser um acolhimento.  

“As doenças infectocontagiosas são resultado das condições sociais e pioram porque o sistema não é capaz de olhar essa situação sem discriminar. Quando se trata de doenças sexualmente transmissíveis ou tuberculose ou agravos dessa natureza, sempre se responsabiliza o sujeito pelo fato de ele ter contraído aquele agravo”.  

A fundadora da organização Criola identifica que, por causa da alta incidência, algumas doenças acabam ficando marcadas como sendo “doenças de negros”.

“Muitas das doenças que a população negra enfrenta passam a ser compreendidas, praticamente, como uma doença marcada por essa experiência de ser negro, quer seja a pressão alta, a mortalidade materna, quer seja a tuberculose, por exemplo”. 

Lúcia Xavier acredita que há uma forma de racismo quando se tratam também de condições genéticas, como no caso da doença falciforme, que afeta mais pessoas negras.  

“O modo de atender, de cuidar, de preservar essa vida anda lentamente. Não é trabalhado com tanta avidez, com tanta capacidade para atender esse grupo. A doença falciforme é também muito simbólica em termos do racismo institucional”. 

Barreiras à universalização 

A pesquisadora Ionara Magalhães de Souza, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), também aponta o elemento racismo como um dos fatores que responsáveis pelos indicadores desfavoráveis da saúde da população negra.

“Branquitude, racismo e, consequentemente, as profundas iniquidades sociais que produzem barragens políticas e estruturais que dificultam a universalidade do acesso à saúde respondem pela interdição da população negra no acesso aos direitos e fundamentam o nosso fazer saúde”, diz a integrante do grupo de trabalho Racismo e Saúde, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). 

As consequências, segundo ela, são “impactos negativos na qualidade da assistência, prevenção, diagnóstico (geralmente tardio), dificuldade de tratamento e acesso à informação e comunicação, incidindo nos piores desfechos em saúde”. 

Ionara defende que uma política para a saúde da população negra produza dados e indicadores de saúde sob perspectiva étnico-racial. Além disso, entende que é preciso “investir em instrumentos metodológicos de avaliação da qualidade da atenção à saúde da população negra e desenvolver práticas antirracistas, antidiscriminatórias e equânimes nas relações e cotidiano das instituições”. 

Fator renda 

Além do racismo, como apontaram as especialistas, questões sociais relacionadas a renda são outra barreira para o acompanhamento da saúde da população negra. Sandra da Silva  de 51 anos, trabalha como banhista em um estabelecimento de banho e tosa. Moradora de Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio de Janeiro, ela trabalha também à noite, como ajudante de cozinha.  

Com o tempo sempre corrido, precisa buscar alternativas para fazer exames como mamografia e preventivos ginecológicos. Sem plano de saúde, este ano ela conseguiu fazer os exames em uma das unidades móveis do Sesc Saúde Mulher, que presta atendimento de graça a mulheres de 50 e 69 anos, faixa etária em que há maior propensão ao câncer de mama. 

“Quando eu não consigo pelo serviço público, eu me esforço para juntar o valor e conseguir fazer. Foi importante [ter conseguido pelo Sesc Saúde Mulher] pela questão de disponibilidade de horário e custo”, diz.  

Com os exames em mãos, há ainda a dificuldade de marcar um médico no sistema público. “As consultas são marcadas, mas o prazo de espera é de um a dois meses”, explica. “Se eu não conseguir marcar um ginecologista no público, vou precisar ir a uma consulta particular para não perder a validade dos exames”, completa. 

Políticas públicas 

Durante a divulgação do boletim epidemiológico Saúde da População Negra, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, enfatizou que combater o racismo é a agenda do desenvolvimento sustentável, da equidade. “Essa pauta deve ser uma perspectiva e não um tema isolado, para que todas as ações do Ministério da Saúde, do Mais Médicos ao Complexo Econômico-Industrial da Saúde, a dimensão étnico-racial seja, de fato, vista como determinante social da saúde". 

O Ministério da Igualdade Racial informou à Agência Brasil que “está em articulação para fortalecer a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”.  

“Dentre os compromissos assumidos pela política, cabe destacar o aprimoramento do registro do quesito raça/cor nos sistemas de informação do Sistema Único de Saúde, da atenção prestada, inclusive enfrentando o racismo institucional e adequando a assistência aos problemas de saúde mais prevalentes na população negra, que incluem, dentre outros, a anemia falciforme, diabetes mellitus, hipertensão arterial, deficiência de glicose-6-fosfato e as doenças infecciosas”, afirmou em nota.  

Uma mulher foi presa em flagrante neste sábado (21) em Niterói, no Rio de Janeiro, após furtar uma loja e cometer racismo contra o segurança do estabelecimento. O caso foi filmado e compartilhado nas redes sociais.

As imagens divulgadas mostram a mulher falando para o segurança: “é macaco”; ela não para com as ofensas e chega a dizer: “vai voltar pra senzala”.

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Ela não se intimida por estar sendo filmada. O segurança do estabelecimento ainda alerta que o crime de racismo é inafiançável. Além de ofensas racistas, ela ainda proferiu palavras homofobicas para a pessoa que tava filmando, chamando de “viado”.

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Os agentes do Segurança Presente foram acionados, porém também foram alvo de ofensas. A mulher foi detida pelos crimes de injúria racial, furto e desacato, e foi encaminhada para 76ª DP. Segundo o Segurança Presente, a acusada já tem outros antecedentes criminais, por furto, desacato e lesão corporal. Segundo a polícia civil a mulher será encaminhada para o sistema penitenciário.

Vinícius Júnior não vai parar de lutar contra o racismo, mas acredita que suas ações terão pouca efetividade se não houver apoio constante de personalidades expressivas, seja do futebol ou de outras áreas da sociedade. Em entrevista ao jornal francês L'Équipe, o jogador do Real Madrid, que está defendendo a seleção brasileira nas Eliminatórias, falou sobre as injúrias sofridas na Espanha, pediu maior combatividade aos seus aliados e criticou entidades como a Fifa, a Uefa e La Liga. "Se eu enfrentar o racismo sozinho, o sistema vai me esmagar", diz o brasileiro.

O veículo mostra Vini Jr. como uma das grandes promessas do futebol mundial, aos 23 anos, ainda que o jovem não tenha entrado na lista dos melhores do mundo, e aborda, principalmente, os ataques racistas sofridos por ele.

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"Quando estamos todos juntos, quando pessoas importantes abordam o assunto, como o presidente do Brasil (Lula), como o presidente da Uefa (Aleksander Ceferin), como Kylian (Mbappé), como Neymar, grandes jogadores, como Rio Ferdinand, que sempre me escreve e está comigo nessa luta, isso necessariamente tem mais peso", contou Vini Jr. Porém, ele lamenta que o apoio se esvai: "Assim que acaba, não falam mais com você".

Na última semana, Vini Jr. depôs à Justiça espanhola sobre o caso de racismo sofrido no Estádio de Mestalla, casa do Valencia, no dia 21 de maio, em partida válida pelo Campeonato Espanhol. O brasileiro manteve o que já havia dito em outras ocasiões e confirmou ter sido vítimas de ofensas racistas por torcedores espalhados em diferentes setores do Mestalla. O Valencia, porém, contesta Vini Jr.

O clube alega, em nota, que é deve-se ser "escrupulosamente preciso e responsável neste tipo de manifestações" e defende que "os torcedores do Valencia não podem ser classificados como racistas". Ao final do comunicado, é pedida uma manifestação pública do brasileiro sobre o depoimento.

O Valencia chegou a ser punido pelo Comitê de Competições da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) em razão dos ataques racistas a Vinícius Júnior. O setor "Mario Kempes" do Estádio Mestalla, onde ocorreu a maior parte das ofensas ao brasileiro, ficou sem receber torcedores por cinco partidas. Houve ainda multa de 45 mil euros, cerca de R$ 241 mil. À época, a direção da equipe espanhola classificou como "injusta" as punições. Além disso, o clube acusou Rodrygo, também do Real Madrid, de mentir sobre o caso.

LEI E INTERRUPÇÃO DE PARTIDAS POR RACISMO

Vinícius Júnior virou nome de lei no Rio de Janeiro: a Lei 10.053/23 institui a Política Estadual Vini Jr de Combate ao Racismo nos Estádios e nas Arenas Esportivas do Estado. De acordo com o texto, qualquer cidadão poderá informar condutas racistas a qualquer autoridade presente no estádio. A denúncia deverá ser encaminhada à organização do evento, à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e às autoridades.

Na época das injúrias na Espanha, o Ministério do Interior do país também determinou que as forças de segurança podem interromper partidas e até mesmo esvaziar um estádio quando houver casos de racismo e xenofobia. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, também defendeu a interrupção de jogos em casos de racismo.

O deputado estadual do Paraná, Renato Freitas (PT), denunciou ter sido alvo de racismo, nessa segunda-feira (9), durante uma sessão na Assembleia Legislativa. Enquanto discursava na tribuna da Casa, uma mulher que estava na galeria gritou: 'vai tirar piolho desse cabelo', fazendo referência ao black power mantido pelo parlamentar.

No momento, Freitas falava sobre religiosos que exploram os fiéis. "Os hipócritas religiosos que lotam essa Casa, que foram os mesmos que crucificaram Cristo", disse o deputado. A galeria da Assembleia estava ocupada por diversos evangélicos que protestavam contra a legalização do aborto, foi aí que a mulher disparou a frase mandando o deputado tirar piolho do cabelo. Ele também foi vaiado pelos presentes. 

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O presidente da Casa, Ademar Traiano (PSD), chegou a pedir que a população não interrompesse mais o deputado. Mas cinco minutos depois, os dois discutiram no plenário porque Freitas argumentou solicitando mais tempo de fala.

No Instagram, o deputado fez um relato do momento e voltou a criticar o presidente da Assembleia. Veja:

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O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) vai julgar nesta quarta-feira recurso do ex-piloto Nelson Piquet em ação na qual foi condenado por racismo em primeira instância. Em março deste ano, o tricampeão mundial de Fórmula 1 foi condenado a pagar indenização de R$ 5 milhões a entidades de direitos humanos e LGBT+ por ter chamado o piloto Lewis Hamilton de "neguinho".

O recurso será analisado pela 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do DF. Nele, a defesa de Piquet tentará reverter a decisão inicial, do juiz Pedro Matos de Arruda, da 20ª Vara Cível de Brasília. Trata-se da segunda tentativa de Piquet de mudar a condenação inicial. Na primeira, em maio, os advogados apresentaram embargos contra a primeira decisão, mas não tiveram sucesso. Os pedidos foram rejeitados pela juíza Thaissa de Moura Guimarães.

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Piquet foi flagrado usando um termo racista para se referir a Hamilton em vídeo de 2021 que circulou nas redes sociais e ganhou repercussão somente no ano passado. É possível ouvir o ex-piloto chamando o heptacampeão de "neguinho" ao comentar um acidente envolvendo o inglês e Max Verstappen - namorado de sua filha, Kelly Piquet - durante o GP da Inglaterra de F-1.

"O neguinho meteu o carro e não deixou (o Verstappen desviar). O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro se f****. Fez uma p*** sacanagem", criticou Piquet, em entrevista ao jornalista Ricardo Oliveira, na época.

Piquet também usou termos homofóbicos para falar sobre o ex-piloto Keke Rosberg e o seu filho Nico. "O Keke? Era uma b****. Não tinha valor nenhum. É que nem o filho dele (Nico). Ganhou um campeonato. O neguinho (Hamilton) devia estar dando mais o c* naquela época e estava meio ruim", disse Piquet.

A ação contra Piquet foi movida pela Educafro (responsável por promover a inclusão de negros nas universidades públicas e particulares), o Centro Santo Dias (órgão de defesa dos direitos humanos), a Aliança Nacional LGBTI+ e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas. As entidades citam "reparação de dano moral coletivo e dano social infligidos à população negra, à comunidade LGBTQIA+ e ao povo brasileiro de modo geral" para justificar o processo.

Inicialmente, as entidades pediam R$ 10 milhões na ação. O magistrado alegou o fato de Piquet ter feito doações para a campanha de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022, no valor de R$ 501 mil. Como a Lei nº 9.504/97, da Justiça Eleitoral, limita as doações e contribuições a campanhas eleitorais a 10% dos rendimentos brutos, o juiz considerou que Piquet teria arrecadado em 2021 mais de R$ 5 milhões.

O Internacional enfrentou o Fluminense nesta quarta-feira (4) pela semifinal da Libertadores e foi eliminado pelo time Tricolor, por 2 a 1 nos últimos minutos, em casa. Depois da derrota do Colorado, o principal nome do time, Enner Valencia foi alvo de racismo nas redes sociais por parte de alguns torcedores, após o seu desempenho durante a partida.

Valencia viu a classificação de virada nos últimos minutos do time carioca, após desperdiçar chances claras de gol que poderiam decidir a classificação. O atacante - que perdeu duas chances claras quando o Inter ganhava por 1 a 0 - foi colocado como o principal culpado pela derrota do Colorado, mas as críticas viraram ofensas criminosas contra o equatoriano.

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Confira alguns prints dos xingamentos racistas no X:

O Internacional ainda não se posicionou sobre os ataques.

 

O Valencia veio a público nesta quinta-feira para criticar o brasileiro Vinicius Júnior e exigir uma retratação pública por parte do atacante do Real Madrid, após o depoimento do jogador à Justiça da Espanha no caso de racismo sofrido no estádio da equipe espanhola, no dia 21 de maio, em partida válida pelo Campeonato Espanhol.

Segundo veículos de informação locais, o brasileiro alegou ter sido vítima de ofensas racistas por torcedores espalhados por diferentes setores do Mestalla, versão que é contestada pelo clube.

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"O clube tem plena consciência da gravidade deste assunto. O racismo não tem lugar no futebol nem na sociedade, mas não pode ser combatido com falácias ou mentiras infundadas. Esta questão exige o envolvimento de todos e o Valencia CF entende que deve ser escrupulosamente preciso e responsável neste tipo de manifestações", disse o Valencia, em comunicado.

"Os adeptos do Valencia não podem ser classificados como racistas e o Valencia CF exige que Vinicius Jr. retifique publicamente a sua alegada declaração desta manhã", completa o comunicado.

O Valencia chegou a ser punido pelo Comitê de Competições da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) em razão dos ataques racistas a Vinicius Júnior. O setor "Mario Kempes" do estádio Mestalla, onde ocorreu a maior parte das ofensas ao brasileiro, ficou sem receber torcedores por cinco partidas. Houve ainda multa de 45 mil euros, cerca de R$ 241 mil. À época, a direção da equipe espanhola classificou como "injusta" as punições.

Vini Jr. se deslocou até um tribunal de Madri, onde mora, para participar da transmissão ao vivo em que fez o depoimento à Justiça. Apesar da forte presença da imprensa no local, o jogador preferiu não dar declarações públicas aos jornalistas nem antes e nem depois do seu depoimento.

De acordo com a imprensa espanhola, Vini Jr. teria reiterado que se sentiu ofendido pelos gritos da torcida do Valencia naquela partida e que os ataques dos torcedores locais se deviam "a cor de sua pele".

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