As cenas da prisão do ex-presidente da Câmara e ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, ontem, em Natal, refletem muito bem o momento de baixa da classe política brasileira: conduzido de sua casa para o carro da Polícia Federal em meio aos gritos dos populares de “ladrão, ladrão, ladrão”. Quem imaginaria que um dia o Brasil, País da impunidade, teria, em menos de um ano, uma presidente cassada e dos ex-presidentes do Legislativo presos.
Antes de Henrique, a Polícia Federal já havia prendido o também ex-presidente Eduardo Cunha, objeto de outra ação e investigação da Lava Jato, ontem. Cunha e Henrique são irmãos siameses da corrupção, da ladroagem do dinheiro público. Portanto, não poderiam ter outro destino que não a punição, a punição máxima na forma da lei, marcada pela prisão.
No Brasil que se passa a limpo agora o que se via antes era cadeia ser destino apenas de ladrão de galinha, negro e prostituta. Mas tudo mudou e é possível até ver um ex-presidente da Câmara ser levado ao xilindró vaiado e enxotado de palavrões livremente pelo povo. Henrique é acusado de práticas dos crimes de corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro. Com base nos depoimentos da Odebrecht, a acusação é de que ele e o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) receberam propinas de contratos das obras da Arena das Dunas, estádio em Natal construído para a Copa do Mundo.
Na verdade, cadeia é pouco como punição para esses tipos de políticos. Político corrupto deve ter todo o seu patrimônio confiscado e, se este não cobrir o rombo que causou, deve ser obrigado a trabalhar para pagar a dívida (se for preciso, que a Constituição seja modificada para permitir esse tipo de pena). Não é todo político, evidentemente, que está inserido neste contexto.
Mas 90% dos políticos, como os que estão tendo como destino ver o xilindró, dão aos 10% restantes uma péssima reputação. Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves são políticos que envergonham a Nação, a mentira, legitimada pela vontade de um povo que cometeu um tremendo equívoco. Tinha razão o ex-governador Leonel Brizola quando afirmou: “Estou pensando em criar um vergonhódromo para políticos sem-vergonha, que ao verem a chance de chegar ao poder esquecem os compromissos com o povo”.
MAIS PRAZO– O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin autorizou, ontem, o presidente Michel Temer a responder até a próxima sexta-feira, às 17h, às perguntas da Polícia Federal sobre as delações da JBS. Na decisão, Fachin considerou que a prorrogação do prazo, que venceria nesta terça, não prejudicaria as investigações sobre o presidente. "Em análise pautada pelo princípio da razoabilidade, compreendo possível deferir o pleito, especialmente considerando o número de perguntas formuladas, bem como o fato de que, em princípio, não adviria prejuízo à investigação a postergação do prazo anteriormente assinalado", escreveu o ministro do STF.
Sem derrotas no Congresso – Na busca por reformas, o presidente Temer obteve, ontem, mais uma vitória no Congresso: depois de mais de oito horas de sessão, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, por 14 votos a 11, o relatório de Ricardo Ferraço (PSDB-ES) sobre a reforma trabalhista, favorável ao projeto. Após aprovarem o texto-base, os senadores rejeitaram todas as sugestões de alteração ao texto original. Com a aprovação, o texto segue para análise das comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado antes de ir à votação em plenário.
O destino de Fachin– O ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu levar ao plenário da Corte um pedido do governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), para que ele deixe a relatoria da delação da JBS. Ainda não há data para análise do pedido. Com isso, caberá aos 11 ministros da Corte definir se Fachin continua como relator dos inquéritos ligados à colaboração de sete executivos da JBS no âmbito da Operação Lava Jato. No pedido ao Supremo, o tucano Reinaldo Azambuja alega que o caso não tem ligação com os desvios na Petrobras e, portanto, com a Lava Jato.
Debandada tucana?– Após barrar um posicionamento do PSDB paulista que poderia pressionar a legenda tucana pelo desembarque do governo Michel Temer (PMDB), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), negou que defenda a permanência do partido no governo federal. Em entrevista após participar de um congresso tecnológico da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), na capital paulista, Alckmin afirmou, ontem, que defende que o PSDB tenha uma decisão única nacionalmente e que priorize as reformas, não necessariamente a permanência no governo federal com cargos. Ele reforçou a defesa de que é preciso aguardar o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Revelação da bancada– Uma das gratas surpresas da bancada pernambucana na Câmara Federal é o jovem Fernando Monteiro (PP), com marcante atuação no Governo Federal em causas relevantes para o Estado. Sempre que cumpre agenda em Brasília é a Fernando que o governador Paulo Câmara recorre para destravar projetos de interesse do Estado nos Ministérios. Sobrinho do ministro José Múcio Monteiro, do Tribunal de Contas da União, Fernando, além de ser extremamente influente, não se desgruda das suas bases políticas no Estado, cumprindo agenda praticamente todos os fins de semana na Zona da Mata, Agreste e Sertão.
CURTAS
VAQUEJADA– Articulador da aprovação no Congresso da PEC que reconhece a vaquejada como patrimônio cultural brasileiro, o líder da Oposição no Senado, Humberto Costa (PT), participou, ontem, da promulgação da matéria no plenário da Casa. Segundo ele, a proposta deverá ser regulamentada por uma lei que assegura o bem-estar dos animais utilizados nos eventos.
LANÇAMENTO– Lanço, hoje, a partir das 19 horas, no Boteco da quadra 406 Sul, em Brasília, o meu livro Histórias de Repórter, já lançado no Recife. Aproveito para agradecer a todos os que estão empenhados no sucesso do evento, desde o meu amigo Aristeu Plácido Júnior, nosso embaixador na corte, aos jornalistas amigos que me abriram espaço para divulgação.
Perguntar não ofende: Qual vai ser o próximo político a ver o sol nascer quadrado?