Após o PDT defender a obsessão do presidente Jair Bolsonaro pelo voto impresso em 2022, o deputado federal Túlio Gadêlha criticou a falta de democracia interna no seu partido e o comportamento do pré-candidato à Presidência, Ciro Gomes. Na visão do pernambucano, o representante da sigla na disputa ao Planalto erra ao atacar o ex-presidente Lula (PT).
Diante do comportamento eleitoral precipitado de Ciro, o parlamentar acredita que o nome do PDT ao comando do Executivo sequer vai figurar o segundo turno.
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"Ciro tem que criticar Bolsonaro e parar de atacar Lula. Ciro não vai conquistar os votos de Bolsonaro", comentou em entrevista à Folha de S. Paulo.
"Acho que os bolsonaristas arrependidos não são suficientes para levá-lo ao segundo turno. O bolsonarismo ainda é muito forte no país e há muitos defensores do governo, por incrível que pareça. E acreditar em um segundo turno entre Lula e Ciro é viver uma ilusão", considerou Túlio, que destaca a necessidade de unificar o campo progressista contra a ideologia de extrema-direita. Por isso, indica que Ciro dialogue com outros partidos.
Ele lembra da alta rejeição do PT e sugere uma parceria nos moldes argentinos, quando a ex-presidente Cristina Kirchner concorreu como vice. "Parece mais uma disputa de vaidade do que qualquer outra coisa", pontua. "Temos uma oportunidade de tirar de uma vez por todas o bolsonarismo, mas a fratura do campo progressista pode dar mais quatro anos de governo para Bolsonaro", acrescenta.
Para o congressista, a chapa ideal seria composta "por Lula e Ciro, ou por Ciro e Lula". Ele ainda questiona: "qual outro candidato hoje no cenário nacional enfrentaria essa aliança com chances reais de vencer?".
Embora considere a candidatura de Ciro 'legitima e necessária", e peça mais abertura do cearense, Túlio lembra que compor a chapa com partidos da direita ou do Centrão compromete o discurso e a própria história do PDT, avaliado como “um partido que defendeu os mais pobres, os excluídos, os marginalizados, os povos indígenas, os quilombolas”.
"No momento em que mais o país precisa de estadistas para vencer esta crise, vemos as nossas maiores referências entrarem em conflito. Isso tem me preocupado e me afastado desses projetos. Até o Brizola, para usar uma referência do PDT, dizia que o campo progressista dividido é escada para a direita conservadora subir. E é isso que está acontecendo", afirmou.
O PDT antidemocrático aos olhos de Gadêlha
No PDT desde 2007 e eleito em 2018, o deputado expôs o racha interno da legenda durante a pré-campanha à Prefeitura do Recife em 2020. Na ocasião, a direção do partido optou por fortalecer a candidatura de João Campos (PSB) com a vice Isabella de Roldão (PDT), às vésperas da disputa.
No entanto, Túlio já havia anunciado sua participação majoritária no pleito e, após o revés, passou a defender a campanha de Marília Arraes (PT). Desde o episódio, ele que não fala com o presidente do PDT, Carlos Lupi, nem com o próprio Ciro Gomes, revelou.
"O PDT tem um problema grava que há muitos anos tentamos sanar, que é a falta de democracia interna. Em grande parte dos estados existem comissões provisórias nas direções partidárias. Aqui em Pernambuco, a gente vive uma comissão provisória há 27 anos", comentou ao criticar a falta de um diretório eleito e filiados ativos nas decisões internas.
Mesmo na bronca com o partido, o que pode dificultar sua possível reeleição, Gadêlha não excluiu a possibilidade de migrar de sigla e ainda avalia concorrer em 2022. "Não sei se terei fôlego e saúde mental para aguentar mais quatro anos de Bolsonaro", assume.