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Em um julgamento histórico, os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votaram na madrugada desta sexta-feira (4) para permitir uma eventual reeleição dos atuais presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O entendimento foi acompanhado pelo ministro Ricardo Lewandowski na manhã desta sexta-feira, 4. Na prática, os votos abrem caminho para que Maia e Alcolumbre concorram à reeleição em fevereiro de 2021, quando está marcada a eleição da cúpula do Congresso. Maia nega ser candidato a disputar mais dois anos à frente da Casa.

Relator da ação do PTB que discute a controvérsia, Gilmar Mendes escreveu um longo voto de 64 páginas, em que entende que os membros do Congresso podem até discutir o tema e deliberar sobre o assunto internamente, desde que observado em qualquer caso, o limite de uma única reeleição ou recondução sucessiva ao mesmo cargo.

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No entanto, para Gilmar Mendes a regra de permitir apenas uma reeleição deve valer apenas a partir de agora, por conta do princípio da "anualidade" - para o ministro, não se pode mudar as regras do jogo faltando menos de um ano para o pleito. Dessa forma, o voto do relator permite que Maia (que já está no terceiro mandato consecutivo à frente da Câmara) dispute mais dois anos no comando da Casa.

"O tema foi posto, e cabe ao Tribunal decidir. Decidiremos, entretanto, acerca da constitucionalidade de dispositivos regimentais que tratam sobre a composição da mesa das Casas do Congresso Nacional. Não decidiremos acerca de quem vai compor a próxima mesa: para tanto é preciso de votos no Parlamento, e não no plenário deste Supremo Tribunal Federal. Na eleição de Mesa do Poder Legislativo, é a maioria parlamentar que define quem ‘fala pela Casa’, não um acórdão", escreveu Gilmar Mendes.

O Supremo iniciou nesta sexta-feira o julgamento sobre a controvérsia no plenário virtual da Corte, uma ferramenta que permite a análise de casos pelos magistrados longe dos holofotes da TV Justiça - e dos olhos da opinião pública. Na plataforma, os ministros apenas depositam seus votos no sistema eletrônico, sem discussões ou troca de ideias entre si.

Terceiro ministro a votar em plena madrugada, Nunes Marques votou contra uma eventual candidatura de Maia à reeleição. Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Supremo, o ministro novato concordou com Toffoli, Alexandre e Gilmar no sentido de que só pode ser permitida uma única recondução, mas concluiu que esse entendimento deve valer já agora. Ou seja, o voto de Nunes Marques proíbe que Maia comande a Câmara por mais dois anos - mas autoriza a campanha à reeleição de Alcolumbre, já que o senador ainda está no primeiro mandato.

"Se o presidente da República pode ser reeleito uma única vez - corolário do princípio democrático e republicano - por simetria e dever de integridade, este mesmo limite deve ser aplicado aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal", escreveu Nunes Marques em seu voto.

Transparência

O julgamento está previsto para acabar no dia 14 de dezembro, mas pode ser interrompido a qualquer momento caso algum integrante da Corte peça vista (mais tempo para análise) ou destaque. Ainda faltam ser computados oito votos.

No caso de destaque, o julgamento não apenas seria interrompido, como acabaria retirado do plenário virtual - e teria de retornar no plenário "físico", nas tradicionais sessões plenárias do STF, agora realizadas por videoconferência. É isso o que pediram o PTB (autor da ação) e outros três partidos: PP, Podemos e Rede Sustentabilidade.

PP, Podemos e Rede querem que a ação seja julgada no plenário "físico", "com a maior transparência, publicidade, participação social e escrutínio público possíveis". Na avaliação de integrantes da Corte ouvidos pela reportagem, as maiores chances de o Supremo abrir caminho para uma eventual candidatura à reeleição de Maia e Alcolumbre estão no plenário virtual, e não no plenário físico. Isso porque, nas sessões transmitidas ao vivo, os magistrados poderiam mudar o voto sob pressão da opinião pública.

Ofensiva

Na última terça-feira, líderes do Centrão lançaram numa ofensiva para barrar a possibilidade de o Supremo abrir caminho para uma eventual reeleição de Maia e Alcolumbre. Intitulado "Carta à Nação Brasileira e ao Supremo Tribunal Federal", o documento foi preparado pelo Progressistas do deputado federal Arthur Lira (AL), um dos pré-candidatos à eleição na Câmara.

Principal adversário do grupo comandado por Maia, Lira é o chefe do Centrão e tem hoje o apoio do presidente Jair Bolsonaro para a sucessão na Câmara.

Conforme informou o Estadão nesta quinta-feira, Lira esteve à frente de um esquema milionário de "rachadinha" quando integrou a Assembleia Legislativa de Alagoas, segundo acusação do Ministério Público Federal. Documentos até então sigilosos obtidos pela reportagem indicam desvio, entre 2001 e 2007, de R$ 254 milhões dos cofres públicos. Somente o líder do Centrão movimentou R$ 9,5 milhões em sua conta. As informações estão em uma ação penal que Lira ainda responde na Justiça estadual. Ele já foi condenado pelo caso na esfera cível.

Alerta

Um dos temores dentro do STF com a sucessão na Câmara e no Senado é o de que nomes mais imprevisíveis e automaticamente alinhados a Jair Bolsonaro assumam o comando das duas Casas, o que poderia resultar em retaliações contra o Poder Judiciário, como a abertura da CPI da Lava Toga e até mesmo a votação de pedidos de impeachment de ministros do tribunal. Até agora, Alcolumbre tem resistido à pressão de senadores da ala "lavajatista".

Integrantes do Supremo também avaliam que deixar com os próprios parlamentares a palavra final sobre a reeleição na Câmara e no Senado pouparia a Corte do desgaste político de interferir numa questão interna, com potencial de criar novo desgaste na já tumultuada relação entre Judiciário e Legislativo.

O próprio discurso do presidente do STF, ministro Luiz Fux, ao assumir o comando do tribunal, no dia 10 de setembro, deixou nas entrelinhas sua disposição de não intervir no assunto.

"Alguns grupos de poder que não desejam arcar com as consequências de suas próprias decisões acabam por permitir a transferência voluntária e prematura de conflitos de natureza política para o Poder Judiciário, instando os juízes a plasmarem provimentos judiciais sobre temas que demandam debate em outras arenas", observou Fux na ocasião.

O Itaú Unibanco venderá 5% de suas ações na XP, dando início ao processo de saída da maior plataforma de investimento do País, três anos após ter feito a compra de fatia da companhia e em meio a um fim de casamento conturbado.

Com a oferta, o maior banco privado da América Latina embolsará mais do que R$ 5 bilhões pela fatia (cerca de US$ 1 bilhão). A XP decidiu aproveitar e lançará novas ações na operação, por meio da qual injetará cerca de US$ 340 milhões em seu caixa, mais de R$ 1,5 bilhão. A oferta, que ocorre nesta semana, será na bolsa americana Nasdaq, onde a XP é listada há praticamente um ano.

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Mesmo após essa oferta de ações (follow on), o Itaú seguirá acionista, ao menos por um tempo. No entanto, essa será uma situação passageira. O conselho do Itaú aprovou na semana passada que o restante da sua participação na XP, correspondente a 41,05% da companhia, será segregada para uma nova empresa, que foi batizada de NewCo.

A ideia era que essa companhia teria suas ações listadas na B3 e, assim, elas seriam distribuídas aos acionistas do banco, mas a XP já anunciou que está em estudo fazer a fusão da NewCo com a XP, de forma a facilitar a vida do investidor, que passaria a ter participação direta na companhia. De qualquer forma, cada acionista do banco definirá se seguirá com a XP, ao passo que o Itaú deixará de ser um sócio. A Itaúsa, por exemplo, já disse que se manterá acionista da maior plataforma de investimento do País. Esse processo deverá ser concretizado no início do ano que vem.

A XP vale na Nasdaq mais do que R$ 100 bilhões, ou cerca de US$ 22,6 bilhões. Quando o Itaú fez seu investimento, avaliou a companhia em R$ 12 bilhões.

A despedida do Itaú do capital da XP ocorre pouco tempo após um embate público entre as empresas, depois de uma campanha publicitária lançada em horário nobre na TV aberta. O Itaú criticou o modelo de remuneração dos agentes autônomos, profissionais que ajudaram a XP a crescer. A briga ficou acirrada, pois a XP não mediu esforços para responder seu sócio, de forma pública. A XP usa como um "mantra" que seu principal concorrente são os grandes bancos, onde estão concentrados grande parte dos investimentos dos brasileiros.

Essa será a terceira oferta de ações da XP em menos de um ano. Depois do IPO em dezembro do ano passado, a companhia fez uma oferta que também marcou a saída de um antigo sócio, o fundo de private equity General Atlantic. São coordenadores da oferta a própria XP, ao lado do Itaú BBA, Morgan Stanley e JP Morgan.

Contra-ataque

Na última sexta-feira (27), o Itaú anunciou que colocaria as pessoas físicas no foco do negócio para buscar mais crescimento de sua plataforma de investimento e para blindar seus clientes investidores da concorrência. A postura mais agressiva já era esperada com o anúncio de seu desinvestimento da XP, feito mês passado. Agora terá um novo modelo de assessoria de investimento, no qual pretende ser mais próximo do varejo por meio de especialistas, com o claro objetivo de que seus clientes direcionem seus recursos que estão investidos hoje em outras plataformas para dentro do banco.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), reeleito nesse domingo (29), deu um tom nacional ao seu primeiro discurso após o anúncio do resultado oficial. Ao lado do governador João Doria (PSDB) e lideranças do seu partido, fez críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro, disse que as urnas derrotaram o "obscurantismo e o negacionismo" e que São Paulo um voto "a favor da ciência".

"As urnas falaram e a democracia está viva. São Paulo mostra que faltam poucos dias para o obscurantismo e negacionismo. São Paulo disse sim à ciência e à moderação", disse Covas, que se declarou um "filho da democracia". "É possível fazer política sem ódio, falando a verdade".

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O tucano evitou dizer, de forma clara, que fará oposição a Bolsonaro e também não defendeu abertamente a criação de uma frente de partidos contra o governo federal para as eleições de 2022, como pregam aliados, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a ex-prefeita Marta Suplicy.

Quando questionado sobre sua posição em relação ao presidente, Covas desconversou. "Nunca construí nada contra ninguém. Sou á favor do Brasil". Durante seu discurso, o prefeito disse que, em 2018, alguns analista previam o "fim do PSDB". Há dois anos, o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, teve cinco milhões de votos e ficou em quarto lugar na disputa vencida por Bolsonaro. "É muito cedo para prever 2022, mas se o grande derrotado de 2018 foi o centro, o grande derrotado de 2020 foi o radicalismo."

O tucano fez, ainda, uma homenagem ao vice eleito, Ricardo Nunes (MDB). "Quero fazer um agradecimento especial ao meu vice Ricardo Nunes. Que sofreu muito nessa campanha. A partir de 1.° de janeiro vamos mostrar qual a nossa visão de mundo". Durante toda a campanha, adversários tentaram atingir Covas por meio do seu vice, citado em uma investigação de irregularidades no aluguel de creches, que ele nega, e por causa de um boletim de ocorrência por violência doméstica registrado pela mulher dele em 2011. Segundo Covas, seu vice vai fazer "clínica geral e cuidar de tudo um pouco".

Com a fala pausada que virou sua marca, Covas pregou união. "São Paulo não quer divisões, não quer o confronto. É possível fazer política sem ódio. Vamos governar para todos. A partir de amanhã não existe mais distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo."

Diretório

A chegada de Covas ao diretório estadual do PSDB, no Jardins, foi marcada pela aglomeração de correligionários e lideranças do PSDB. Além de Doria, faziam parte do séquito o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, o presidente estadual, Marco Vinholi, o presidente municipal do PSDB, Fernando Alfredo, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), e até a deputada Joice Hasselmann, que disputou a prefeitura pelo PSL.

"Bruno venceu a discriminação de uma doença e soube conduzir sua campanha sem fazer uso de fake news", disse Doria. "Essa foi a vitória do bom senso e da capacidade de gestão. Essa é a terceira eleição majoritária que conquistamos em 4 anos. O nosso compromisso é a prioridade para a saúde. O foco é a vacinação, a saúde e a ciência. Não fomos negacionistas", disse o governador Doria.

Pela manhã, Covas acompanhou aliados na votação: Marta Suplicy, Fernando Henrique e Doria. Em outro ataque indireto a Bolsonaro, o prefeito questionou falas do presidente contra a urna eletrônica. "O voto eletrônico elegeu FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. Não dá para colocar em dúvida um sistema que elegeu pessoas e partidos tão diferentes. Confio na Justiça Eleitoral", disse. Quando questionado questionado sobre seu futuro político, o tucano afirmou, mais uma vez, que ficará até o fim do mandato. "Quero ser eleito para entregar o cargo em 1° de janeiro de 2025."

Com 64% dos votos válidos, Eduardo Paes (DEM) voltará à prefeitura do Rio. Ele derrotou o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), que tentava a reeleição com o apoio do presidente Jair Bolsonaro e ficou com 36%. Paes ganhou em todas as zonas eleitorais e teve o melhor resultado de um candidato em segundo turno desde a redemocratização. A abstenção de 35%, no entanto, superou até o número de votos do vencedor: 1,7 milhão de cariocas deixaram de ir às urnas, enquanto Paes recebeu 1,6 milhão de votos.

Favorito desde o início da campanha, Eduardo Paes conseguiu manter a dianteira tanto no primeiro quanto no segundo turnos, e em nenhum momento se viu ameaçado. Durante a primeira etapa, ele priorizou as comparações entre seus mandatos anteriores e o de Crivella, que é altamente rejeitado pela população.

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"Nós passamos os últimos anos radicalizando a política brasileira e contestando aqueles que exercem a atividade política, e os resultados desse quadro de extremos não fizeram bem aos cariocas nem aos brasileiros. Essa eleição manifestou uma força muito grande daqueles que exercem a atividade política, a gestão pública", disse, na noite de ontem, no discurso de vitória. "O governo reacionário que tomou conta da cidade nos últimos quatro anos foi ruim na gestão, piorou a vida das pessoas e olhou a cidade com muito preconceito."

Maior derrota

Sem uma marca clara, o atual prefeito apelou para a aproximação com o bolsonarismo e, no segundo turno, partiu para o ataque contra Paes, propagando fake news requentadas de 2018, como o suposto "kit gay". Ele foi denunciado pela Procuradoria Regional Eleitoral por difamação e propaganda falsa.

A derrota do atual prefeito é a maior de um candidato em segundo turno no Rio desde a redemocratização. Antes, o recorde havia sido em 1996, quando Luiz Paulo Conde (PFL, hoje DEM) venceu Sérgio Cabral (PSDB) com 62% contra 38%. Crivella fez um pronunciamento à noite para agradecer o engajamento de seus eleitores, sobretudo os evangélicos. Sem citar o nome do adversário, falou por dez minutos e não respondeu se havia ligado para cumprimentar o prefeito eleito.

"Quero agradecer a votação que fizemos. Os institutos de pesquisa falavam com convicção que não iríamos nem ao segundo turno", disse e agradeceu o apoio recebido de Bolsonaro. "O presidente é um homem de convicções. Ele contrariou a maré por suas convicções", afirmou Crivella, acrescentando que vai batalhar pela reeleição do presidente.

Vínculo

Eleito agora pelo DEM, Paes ocupou a prefeitura pelo MDB entre 2009 e 2016. Com o esfacelamento do partido no Estado - motivado por escândalos de corrupção -, migrou para a atual legenda. Na eleição para vereador na capital, o DEM fez sete vereadores. Trata-se da maior bancada, empatada com PSOL e o Republicanos de Crivella.

Apesar de ser a maior vitória do DEM nas capitais, Paes não tem um vínculo partidário tão forte e se recusa a se apresentar como cabo eleitoral de qualquer projeto da legenda para o País em 2022. Diz sempre que só é "palanque" para o Rio, e que a cidade está abandonada demais para ele pensar em cenários nacionais. Um dos partidos que o apoiaram na eleição foi o PSDB, do governador e possível presidenciável João Doria.

Ao comentar a vitória do aliado, Rodrigo Maia (DEM) foi na mesma linha e tentou desvincular o resultado no Rio da disputa de 2022. "Não tem nada a ver com a eleição nacional. É uma vitória da política, e o Bolsonaro sempre fez política. É uma vitória daqueles que fazem política e administram com qualidade. É a vitória do Rio", disse.

Menos dinheiro

Prefeito na época do Rio dos grandes eventos, especialmente a Olimpíada, Paes receberá agora uma prefeitura com situação financeira desfavorável. A tendência é que seja feita uma gestão com menos obras e projetos de grande porte, que foram a marca de seus mandatos anteriores.

Durante a campanha, o prefeito eleito focou em retomar serviços básicos que, segundo ele, foram sucateados com Crivella.

Apesar dos sinais de recuperação da economia, a taxa de desemprego chegou a 14,6% no terceiro trimestre, uma alta de 1,3 ponto porcentual na comparação com o período anterior (13,3%). Foi o pior resultado na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo IBGE. O total de desempregados no País é estimado em 14,1 milhões de pessoas. Dos Estados pesquisados, a taxa subiu em dez, com destaque para o Nordeste.

Pelos dados do IBGE, foram fechadas 883 mil vagas no terceiro trimestre. Ao mesmo tempo, a flexibilização das medidas de distanciamento social para conter a covid-19 levou um número maior de pessoas a procurar por novo trabalho. A combinação desses dois movimentos fez com que o número de desempregados aumentasse em 1,302 milhão de pessoas na comparação com o final do segundo trimestre.

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Segundo economistas ouvidos pelo Broadcast/Estadão, houve melhora na passagem de agosto para setembro, mas o cenário do mercado de trabalho ainda é de "fragilidade". Os dados divulgados pelo IBGE confirmam o aumento da taxa de desemprego, já esperado por causa de peculiaridades da pandemia.

Uma delas é que muitos trabalhadores que perderam seus trabalhos, formais ou informais, haviam desistido de procurar uma atividade. Pela metodologia internacional, seguida pelo IBGE, só é considerada desocupada a pessoa que tomou alguma atitude para buscar trabalho. Com a redução do isolamento social, é natural que, mês a mês, cada vez mais trabalhadores voltem a procurar trabalho. Quem não encontra, é considerado desocupado.

O movimento se intensificará à medida que mais restrições ao contato social forem sendo retiradas. Com a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 por mês, e sua posterior retirada a partir de janeiro, mais pessoas serão impelidas a procurar trabalho. Economistas projetam que a taxa de desemprego deve subir para perto de 17% no ano que vem.

"No trimestre móvel até outubro, que captura mais ao menos a perspectiva de redução da parcela (do auxílio), o retorno deve ser maior e o desemprego deve subir com mais força", disse João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos.

O estrago da pandemia já era captado na taxa composta de subutilização, espécie de indicador ampliado de desemprego, que considera também os trabalhadores que não procuraram uma vaga, mas gostariam de trabalhar. No terceiro trimestre, essa taxa ficou em 30,3% - também recorde. Na prática, 33,179 milhões de brasileiros estão sem trabalho, o equivalente à população de Angola, um salto de 20,9% sobre o terceiro trimestre de 2019.

Por isso, alguns economistas dizem que, na prática, o desemprego já está aí. O crescimento da taxa se dará apenas por uma questão metodológica.

Para reverter o quadro, seria preciso recuperar as vagas, formais e informais, perdidas na crise, mas, conforme os dados do IBGE, o terceiro trimestre ainda foi de perdas. Na passagem do primeiro trimestre para o segundo, a pandemia abateu 8,876 milhões de postos, entre formais e informais, como sinaliza a variação da população ocupada total, que tombou 9,6%. Já no terceiro trimestre, o total de ocupados ficou em 82,464 milhões, 1,1% abaixo do segundo trimestre, indicando o corte de mais 883 mil vagas.

Economistas especializados fazem contas para chegar a dados "mensalizados", que mostram criação de vagas em agosto e setembro, ainda que em escala insuficiente para recuperar as perdas, ressaltou Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Só que, com os dados de julho, isso não aparece no trimestre como um todo.

Mesmo assim, para Adriana Beringuy, gerente da Pnad Contínua, a redução no ritmo trimestral de fechamento de vagas já pode ser considerada um processo de melhora. Na passagem do segundo para o terceiro trimestre, são 870 mil trabalhadores informais a mais ocupados, indicando que a flexibilização do isolamento social permitiu que uma parte dos informais voltasse às ruas.

Sem essa alta, o número total de fechamento de vagas no terceiro trimestre seria ainda maior. A variação da população ocupada aponta para o fechamento de 788 mil postos formais ante o segundo trimestre. (Colaborou Cícero Cotrim)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) no Rio de Janeiro denunciou o prefeito e candidato à reeleição Marcelo Crivella e sua candidata a vice-prefeita Andréa Firmo por difamação eleitoral e propaganda falsa em campanha. A campanha do candidato diz que, mesmo ainda não tendo sido notificada pelo MPE, as denúncias tratam-se de lamentáveis 'empreitadas que visam cercear a liberdade de expressão e mascarar a verdade'.

A peça enviada ao Tribunal Regional Eleitoral aborda declarações públicas e materiais de campanha, 'com procedência confirmada', em que Crivella e Andréa atribuem ao adversário da chapa no segundo turno, Eduardo Paes (DEM), fatos ofensivos à sua reputação (difamação eleitoral) e fatos que sabem inverídicos para influenciar o eleitorado (propaganda falsa).

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"O primeiro denunciado, eventualmente com auxílio da segunda denunciada, praticou, na propaganda da campanha eleitoral de 2020, uma sequência de atos de desinformação, divulgando fatos inverídicos e imputando fatos ofensivos à reputação de candidatos e partidos adversários, com a finalidade de ofender sua honra objetiva e influir na formação da vontade do eleitorado e, assim tentar angariar votos, em plena violação à regularidade e legitimidade do processo eleitoral", registra a denúncia assinada a procuradora regional eleitoral Silvana Batini e a procuradora regional eleitoral substituta Neide Cardoso de Oliveira.

A peça foi ajuizada nesta quinta, 26, às vésperas do segundo turno, mas não tem impacto direto no pleito. A denúncia não tem pedido liminar e, caso seja aceita, os possíveis réus terão 15 dias para apresentar suas defesas preliminares.

A acusação foi apresentada no âmbito de um procedimento inicialmente aberto para apurar se Crivella cometeu crime contra a honra contra a candidata Renata Souza (PSOL) durante debate no primeiro turno. Segundo a PRE, Crivella frisou que as falas do atual prefeito sobre 'kit gay' e 'liberação de drogas' são fake news.

No entanto, a investigação acabou abrangendo ainda novas declarações de Crivella, essas proferidas em uma 'live' realizada pelo candidato à reeleição no dia 19 de novembro com o deputado federal Otoni de Paula.

"Neste evento, veiculado por meio dos canais oficiais do Parlamentar, no Instagram e ao Facebook, o Prefeito Marcelo Crivella, mais uma vez divulgou desinformação eleitoral ofensiva, ao referir-se a uma suposta aliança que estaria sendo formada entre o PSOL e seu adversário no segundo turno, Eduardo Paes, a qual teria como consequência a "pedofilia" nas escolas municipais", explicou a Procuradoria Eleitoral na denúncia.

Além disso, a PRE aponta que no final de semana dos dias 21 e 22 de novembro de 2020, Eduardo Paes e o deputado federal Marcelo Freixo foram alvos de desinformação eleitoral, através de panfletos de publicidade distribuídos por cabos eleitorais de Crivella e de Andréa. O material teve tiragem de 1,5 milhão de cópias e associava Paes e Freixo à 'defesa do inverídico kit gay'.

As procuradoras apontam ainda que entre os apoiadores que entregavam os panfletos nos arredores da Igreja Universal do Reino de Deus no Jardim Guanabara, Ilha do Governador estava Marcio Gligio Pimenta, ocupante do cargo em comissão de Administrador da Ilha do Governador, nomeado pelo Prefeito.

Em razão de tais eventos, a PRE imputa a Crivella e Andréa os crimes de difamação eleitoral, que tem pena entre três meses e dois anos de prisão e multa, e de propaganda falsa, que tem pena de dois meses até um ano de prisão, podendo ser elevada quando sua prática envolver o uso da imprensa, rádio ou televisão.

A Procuradoria diz ainda que os crimes foram praticados com dolo, pois foram divulgados fatos em eventos de campanha que depois o prefeito veio a reconhecer em entrevista que não correspondiam à verdade.

Em cota apresentada junto com a denúncia, as procuradoras apontaram ainda: "A denúncia relata emprego de grave e reiterada desinformação (fake news) levada a efeito por Marcelo Crivella, no pleito de 2020, conduta esta que vem sendo apontada pela comunidade acadêmica e pelas instituições, como atividade extremamente nociva ao processo democrático, apta a radicalizar de forma desleal o debate político e influenciar de forma deletéria o pleito"

"Os efeitos da desinformação e sua veiculação massiva, especialmente por meio da internet, é fenômeno que vem desafiando a reação precisa e rigorosa do sistema de justiça eleitoral."

COM A PALAVRA, MARCELO CRIVELLA

A campanha de Marcelo Crivella não foi notificada sobre qualquer denúncia do MPE. Caso existente, desmentirá e desqualificará supostas ilações no prazo e na forma legal.

Lamentáveis as empreitadas que visam cercear a liberdade de expressão e mascarar a verdade, seja por candidato adversário seja por representante de órgão fiscalizador da ordem pública, que levantam suas bandeiras político-partidárias, que não atingirão a campanha e os valores que defendemos da família e do povo. Sobre isso, denúncias já foram encaminhadas e seguem em apuração junto à Corregedoria Nacional do Ministério Público Federal.

A campanha aproveita para informar que apresentou notícia-crime em Zona Eleitoral Criminal Especializada contra Eduardo Paes, seu vice, Nilton Caldeira, a empresa Rio2020 Publicidade e outros, por suposto uso indevido de dinheiro público, no montante de aproximadamente R$ 5 milhões pagos pela campanha de Eduardo Paes à empresa que foi criada em 5/10/20, mas somente em 17/10/20 obteve seu alvará de funcionamento, e mais, em tese, seu endereço não confere com o informado à Justiça Eleitoral e ao que consta da Receita Federal do Brasil.

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Um grave acidente entre um ônibus e uma carreta deixou ao menos 41 mortos e 15 feridos na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho (Rodovia SP 249), entre os municípios de Taguaí e Taquarituba, no interior do Estado de São Paulo, a cerca de 350 quilômetros da capital, na manhã desta quarta-feira, 25. O número de vítimas foi confirmado pela porta-voz da Polícia Militar de São Paulo, capitã Aline Camargo. Segundo ela, 37 pessoas morreram no local e quatro em hospitais para onde foram levadas em estado grave.

De acordo com o tenente Alexandre Guedes, também porta-voz da Polícia Militar de São Paulo, o ônibus transportava funcionários de uma fábrica de jeans na região e colidiu com uma carreta que levava esterco.

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"Foram resgatadas 15 pessoas com vida, mas algumas faleceram. O motorista da carreta foi socorrido, mas não temos o estado de saúde dele. A ocorrência foi atendida pelo policiamento rodoviário e a gente mobilizou reforços de Avaré, Ourinhos e Itapetininga."

Segundo o tenente Guedes, com o impacto, os dois veículos ficaram destruídos e muitas vítimas ficaram presas nas ferragens. O ônibus levava o motorista e 51 trabalhadores. A carga da carreta também foi lançada sobre as vítimas. A carreta teve a cabine totalmente destruída e foi parar a 20 metros da estrada.

A tragédia aconteceu por volta das 6h30, na altura do km 172 da rodovia, que liga a cidade a Taquarituba. A ocorrência foi atendida inicialmente pela Polícia Rodoviária Estadual e por equipes do Corpo de Bombeiros de cidades próximas, que divulgaram, mais cedo, números diferentes de mortos - entre 22 e 25.

O coordenador da Defesa Civil do Estado, Coronel Walter Nyakas Júnior, e os secretários de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, e de Saúde, Jean Gorinchteyn, estão a caminho do local a pedido do governador João Doria (PSDB). Eles vão coordenar os resgates, visitar os hospitais que receberam as vítimas e agilizar o processo de liberação dos corpos.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), as unidades do Instituto Médico Legal (IML) de Avaré, Botucatu e Itapetininga foram acionadas, tendo em vista o grande número de óbitos.

Ainda segundo informações do Corpo de Bombeiros de São Paulo, cinco viaturas e 19 homens da corporação estão no local. Mais cedo, o Corpo de Bombeiros de Piraju, enviou outras quatro viaturas da cidade vizinha para atendimento às vítimas. Equipes do Corpo de Bombeiros de Taquarituba e Avaré também foram mobilizadas para ajudar nos trabalhos de resgate.

Os feridos em estado grave foram transportados por ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para as Santas Casas de Taguaí, Fartura e Taquarituba. Um helicóptero da PM foi usado no resgate de feridos.

A Secretaria de Estado da Saúde informou que está dando suporte no direcionamento dos feridos para hospitais de referência da região. "Os 11 sobreviventes foram levados inicialmente a hospitais de Fartura, Taguaí e Taquarituba. Já foi viabilizada transferência de outros cinco pacientes para serviços mais complexos, sendo dois para o Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu e outros três para a Santa Casa de Avaré."

A pasta disse ainda que o Hospital de Clínicas de Botucatu recebeu um homem de 26 anos e uma mulher que ainda não foi identificada. Eles estão em estado grave e com intubação.

A maioria das vítimas é de Itaí, cidade da região. Elas seguiam no fretado, da empresa Star Turismo, para trabalhar em uma confecção de Taguaí, um polo têxtil com pequenas confecções. Os corpos das vítimas estavam sendo levados para o IML de Avaré.

Conforme a assessora de gabinete da prefeitura de Itaí, Camila de Almeida Tristão, até as 11h30 horas, tinham sido confirmadas 30 mortes de moradores da cidade, mas ainda havia vítimas sendo socorridas no local.

"É uma tragédia, a população está chocada", disse. Segundo ela, a prefeitura montou um ponto de apoio às famílias na secretaria de assistência social do município. "Estamos com equipe para dar apoio psicológico e também o transporte para quem tem familiares em hospitais da região". O prefeito Thiago Michelin (Republicanos) decretou luto oficial de três dias.

Em nota nas redes sociais, a Prefeitura de Taguaí lamentou a tragédia e também decretou luto oficial de três dias na cidade. "Externamos nossos sinceros sentimentos às famílias, amigos, à empresa e colegas de trabalho destes que se foram."

De acordo com o tenente Guedes, o acidente aconteceu em uma curva da rodovia, de pista simples, e é possível que um dos veículos tenha invadido a pista contrária, mas apenas a investigação e a perícia podem apontar as causas da colisão.

Já segundo a capitã Aline, as informações preliminares dão conta de que o ônibus teria saído da sua faixa de rolamento e invadido a pista contrária, provavelmente tentando ultrapassar um veículo parado sobre a pista, o que será investigado.

O acidente causou a interdição total da pista pelo menos até as 12 horas. O proprietário da empresa Star Turismo informou que, no momento, se dedica a dar atendimento às vítimas da tragédia e se pronunciará oportunamente.

Vítimas necessitam de doação de sangue

No Dia Nacional do Doador de Sangue, o Governo de São Paulo convoca os cidadãos da região a colaborarem com doações o mais rápido possível. Muitas das vítimas do acidente em estado grave dependem de doação de sangue. Basta procurar o Hemocentro de Botucatu e agendar a doação pelo telefone (14) 3811-6041 (ramal 240) ou pelo WhatsApp (14) 99624-7055 / (14) 99631-5650.

Considerado uma prévia da inflação oficial no País, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,81% agora em novembro, maior variação para o mês desde 2015, informou ontem o IBGE. O indicador, que já tinha avançado 0,94% em outubro, mais uma vez foi puxado principalmente pelos preços de alimentos.

Com o novo resultado, a taxa acumulada em 12 meses passou de 3,52%, em outubro, para 4,22% neste mês, acima do centro da meta de 4% perseguida pelo Banco Central em 2020, embora ainda dentro do intervalo de tolerância. Pela regra vigente, a inflação pode oscilar de 2,5% a 5,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

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As famílias voltaram a gastar mais com alimentação e bebidas em novembro. O grupo alimentação e bebidas passou de um aumento de 2,24%, em outubro, para um avanço de 2,16% agora em novembro - maior elevação e contribuição de grupo sobre o IPCA-15 no mês, com 0,44 ponto porcentual.

Os alimentos para consumo no domicílio subiram 2,69%. Houve aumentos nos preços das carnes (4,89%), arroz (8,29%), batata-inglesa (33,37%), tomate (19,89%) e óleo de soja (14,85%). Por outro lado, o leite longa vida ficou 3,81% mais barato. Já a alimentação fora do domicílio teve elevação de 0,87%, puxada pela alta do lanche (1,92%). A refeição fora de casa subiu 0,49%.

Além do choque de alimentos, o economista-chefe do Haitong Banco de Investimento, Flávio Serrano, lembra que o IPCA-15 está mostrando recomposição de preços após a deflação em meados do ano em vários itens por causa do isolamento social. A inflação também está mais pressionada devido às transferências de renda do governo e ao repasse de custos com o câmbio mais depreciado, além da entressafra do etanol.

O etanol aumentou 4,02%. A gasolina avançou 1,17%, um impacto individual de 0,06 ponto porcentual sobre a inflação. O óleo diesel ficou 0,53% mais caro, enquanto o gás veicular subiu 0,55%. O gasto com transportes teve elevação de 1% este mês, a segunda maior contribuição para a taxa do IPCA-15 de novembro, o equivalente a 0,20 ponto porcentual.

Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram aumentos de preços em novembro. A alta de 1,40% nos artigos de residência foi puxada por mobiliário (2,40%) e eletrodomésticos e equipamentos (2,23%), com destaque para o aumento de 11,23% nos preços de aparelhos de ar-condicionado. Os artigos de TV, som e informática desaceleraram o ritmo de alta - de 1,68%, em outubro, para 0,10% em novembro.

No grupo vestuário, as roupas femininas tiveram elevação de 0,97%. Também aumentaram as roupas masculinas (1,49%), infantis (0,74%) e os calçados e acessórios (0,33%). As joias e bijuterias subiram 2,27%, acumulando avanço de 13,19% no ano.

Fatores

"Se não houvesse preocupação com o fiscal, as revisões não seriam tão fortes. Acho que tem muito do ambiente. As coisas estão acontecendo em conjunto, a persistência de choque de alimentos e piora fiscal, então é difícil separar os efeitos. Está sendo mais duradouro, mas ainda continua sendo choque de alimentos, para outros itens têm menor repasse. Temos de observar", disse Serrano.

A economista-chefe do Banco Bocom BBM, Fernanda Guardado, pretende revisar a projeção de inflação de 2020 de 3,60% para perto de 3,70%. "Esse número de hoje (do IPCA-15) reforça as pressões que temos observado na inflação mais recentemente", afirmou. "São surpresas que vêm da alimentação, vêm da gasolina, mas começam a aparecer nos serviços e não se limitam apenas a pressões tão temporárias." Por ora, ela mantém a expectativa de inflação de 3,50% para o ano que vem, e não vê risco de antecipação de alta da Selic (a taxa básica de juros).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto em um supermercado Carrefour de Porto Alegre, está inserida em um contexto em que a população negra é a principal vítima de homicídios no País. Os dois homens flagrados em vídeos durante o espancamento estão presos e devem responder por homicídio culposo.

Segundo o Atlas da Violência 2020, as taxas de morte da população negra apresenta crescimento nacional nos últimos anos. Em 2018, o último que tem os dados compilados no documento, 75,7% das vítimas de homicídios são pretas e pardas.

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Ainda segundo o atlas, entre 2008 e 2018, as taxas de homicídio apresentaram um aumento de 11,5% para os negros, enquanto para os não negros houve uma diminuição de 12,9%. Além disso, uma pessoa negra tem mais chances de ser morta do que um não negro em todos os Estados brasileiros, com exceção do Paraná.

"Esse caso, na véspera do Dia da Consciência Negra, uma data tão importante de luta e toda a população negra, demonstra algo que está encravado na história brasileira", aponta Amanda Pimentel, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Como ela explica, historicamente, a violência e o racismo sempre estiveram muito próximos na história do País e que, nesse cenário, a população negra e pobre continua sendo a principal vítima de ações de forças de segurança, seja privadas ou públicas. "Os dados mostram que não são casos isolados", comenta.

Para a pesquisadora, se a ação for individualizada para a conduta dos agressores, sem haver uma discussão ampla sobre a preparação dos profissionais que trabalham na área de segurança, esse tipo de situação continuará a se repetir frequentemente. Isso passa, por exemplo, por estereótipos racistas que interpretam como suspeitas a partir da cor da pele, de roupas e do território em que vive. "Todas essas características estigmatizam apenas uma parcela da população, em geral negra e pobre."

Amanda ainda destaca que o uso excessivo da força diante de situações que não demandam essa reação são comuns no País, tanto na polícia quanto na segurança privada - a qual, por vezes, é exercida também por policiais, que, pela precarização da função, procuram outra fonte de renda. "Existe uma desproporcionalidade muito grande entre as forças que se aplicam diante de uma situação concreta que não precisaria daquela reação."

A Anistia Internacional classificou como "inadmissível" a atuação violenta dos agentes. "Mais um corpo negro tombou. João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte nas dependências de uma loja do Carrefour, em Passo D'Areia, Porto Alegre, e é mais uma vítima do racismo estrutural no país."

Autoridades definem caso como exemplo de racismo

A morte de João Alberto Silveira Freitas foi lamentada por autoridades nas redes sociais, como mais um exemplo de violência racial no País. O caso também ganhou repercussão internacional, em que foi destacado que ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra No Brasil, a hashtag #VidasNegrasImportam foi uma das mais utilizadas desde o início da manhã de ontem, assim como a #JusticaporBeto.

No Twitter, o Instituto Marielle Franco, criado pela família da vereadora morta no Rio, lamentou o caso. "Mais uma pessoa negra que é assassinada em um supermercado, um dia antes do dia da consciência negra. Até quando nossas vidas serão descartáveis assim? O Carrefour tem que responder por racismo e assassinato!", diz a postagem.

O presidente do Congresso Nacional e do Senado, Davi Alcolumbre disse que "no Dia da Consciência Negra, o assassinato brutal de João Alberto Freitas, espancado até a morte por seguranças de um supermercado, em Porto Alegre, estarrece e escancara a necessidade de lutar contra o terrível racismo estrutural que corrói nossa sociedade".

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), publicou a hashtag #VidasNegrasImportam e escreveu: "O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbarie está longe de acabar. Racismo é crime!"

O presidente Jair Bolsonaro não havia comentado sobre o caso até o fim da tarde desta sexta-feira (20).

Candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos disse, nesta quarta-feira (18), durante sabatina do Estadão, que a contratação de servidores por meio de concurso público pode ajudar a reduzir o rombo da Previdência municipal. Ao responder a uma pergunta sobre como contrataria mais servidores em um cenário de déficit nas aposentadorias dos funcionários públicos do município, o candidato afirmou que "para a Previdência se equilibrar, tem que ter gente contribuindo, não só gente recebendo."

Segundo dados apresentados pela Prefeitura no fim do ano passado, a capital paulista tem 112 mil aposentados e pensionistas, além de 126 mil trabalhadores na ativa. Em 2018, o município teve, com a Previdência, despesa de R$ 9 bilhões e receita de R$ 1,4 bilhão. Assim, o déficit alcançou R$ 7,6 bilhões.

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Boulos começou a resposta sobre os novos concursos dizendo que valoriza os servidores públicos, que, em sua opinião, são tratados como "inimigos" por governos do PSDB, como o do seu adversário, o prefeito Bruno Covas, e o do governador João Doria. "Sabe por que a Previdência é deficitária? Porque não se faz concursos. Para a Previdência se equilibrar, tem que ter gente contribuindo, não só gente recebendo. E como não se faz concurso, tem menos gente contribuindo para a Previdência pública. Fazer concurso é uma forma de arrecadar mais para a Previdência e equilibrar a conta com os inativos. É isso que vou fazer", afirmou.

Na sequência, Boulos disse que as áreas da saúde, assistência social e educação seriam as primeiras a ter concursos públicos, caso ele seja eleito. No decorrer da sabatina, ele também prometeu a contratação de mais guardas civis municipais. A declaração de Boulos gerou repercussão nas redes sociais, principalmente entre economistas, que criticaram a proposta. No fim do dia, ele gravou um esclarecimento.

Hoje, a partir das 13h, Covas será sabatinado pelo Estadão, com transmissão ao vivo pelas redes sociais e no portal estadao.com.br.

TRANSPORTES

Boulos prometeu construir 120 km de corredores de ônibus e revisar os contratos assinados no ano passado com as empresas que prestam o serviço para a Prefeitura. Seu objetivo é que as companhias não sejam pagas por número de pessoas transportadas, o que poderia reduzir a lotação. "Um dos pontos é melhorar a velocidade (dos ônibus), por meio dos corredores. A nossa previsão é fazer 120 km de corredores, terminando, inclusive, os que não foram terminados. Existe um bônus de superlotação. As empresas recebem mais pelo número de passageiros. O contrato atual abre essa possibilidade (de rever esse ponto do contrato)." Ele citou, como exemplo, o corredor da Avenida Belmira Marin, na zona sul.

HABITAÇÃO

Integrante do Movimento Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos foi questionado sobre como agiria em caso de ocupação de prédios públicos por manifestantes. Ele respondeu que iria tentar dialogar. Ele afirmou que pretende fazer valer instrumento do Estatuto da Cidade, que garante desapropriação de imóveis para uso social caso fiquem abandonados por mais de dez anos. "Essa lei é sistematicamente descumprida, muitas vezes, porque os interessados em manter o abandono, a especulação imobiliária, grandes empreiteiras, financiam campanhas eleitorais", disse Boulos, referindo-se a seu oponente. Ainda a área da moradia, o candidato prometeu construir 100 mil casas populares.

GUARDA CIVIL

Aa responder sobre a Guarda Civil Metropolitana (GCM), Boulos falou em requalificação e ampliação do efetivo da instituição. Segundo ele, guardas devem passar por cursos que falem sobre o racismo estrutural. Para ele, a guarda deveria assumir um papel de segurança comunitária, atuar no entorno de escolas e contribuir com a Patrulha Maria da Penha, voltada a prevenir crimes contra mulheres. "Não é papel da GCM arrancar colchão e cobertor de morador de rua e muito menos correr atrás no rapa de gente que está atrás de sobreviver." Segundo ele, uma eventual gestão sua teria um programa de organização e regularização de camelôs.

CUSTOS

Frequentemente questionado sobre a falta de custos de suas propostas, o candidato do PSOL disse ontem que seu programa de governo custaria R$ 29 bilhões ao longo dos quatro anos. Ao ser perguntado sobre a fonte do dinheiro para executar o plano, o candidato afirmou que vai usar o caixa da Prefeitura, que tem R$ 11,2 bilhões livres para investimento, e aumentar a cobrança da dívida ativa do município. Segundo ele, procuradores municipais estimaram em mais R$ 10 bilhões o incremento possível na cobrança de grandes empresas que devem à Prefeitura se o número de procuradores for aumentado e os processos, digitalizados. Uma terceira fonte de recursos são os fundos, como o Fundeb e o Fundurb, do governo federal.

APOIOS POLÍTICOS

Boulos afirmou que Covas reedita a campanha pelo voto "BolsoDoria", pois recebeu o apoio de Celso Russomanno (Republicanos), candidato do presidente Jair Bolsonaro no primeiro turno da disputa. Boulos chamou o embate público entre Doria e Bolsonaro, que romperam no ano passado, de "briga de compadre". O candidato disse que usará figuras da esquerda como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), em sua propaganda.

CORONAVÍRUS

Diante do aumento de internações por covid-19 no Estado de São Paulo, o candidato à Prefeitura Guilherme Boulos (PSOL) propôs testagem em massa da população. Com isso, segundo ele, seria possível identificar regiões onde há mais contágio e isolar os moradores. Nos bairros mais pobres, ele sugere até a construção de equipamentos públicos para abrigar quem divida a casa com muitas pessoas.

A média diária de internações causadas pelo novo coronavírus em São Paulo subiu 18% na última semana, segundo dados divulgados segunda-feira pelo governo estadual. A estatística leva em conta a entrada de pacientes tanto na rede pública quanto na rede privada. Na semana passada, foram 1.009 internações, ante 859 nos 7 dias anteriores. O número é o maior registrado desde o início de outubro.

"São Paulo tem uma rede de 8 mil agentes comunitários de saúde. No meu governo, eles vão fazer testagem em massa", disse Boulos, ao citar o exemplo de enfrentamento da doença adotado pela Coreia do Sul. Com uma população de 51 milhões de habitantes, o país asiático registrou até ontem 29,3 mil casos e 496 mortes.

Ao falar sobre a dificuldade de fazer isolamento nas periferias, onde há um número alto de pessoas vivendo em espaço pequeno, o candidato do PSOL propôs a construção de equipamentos públicos que poderiam abrigar esses moradores. "Pessoas que vivem em habitações superlotadas, não tem condições de se isolar. Se tem doente na família, tem que oferecer equipamentos públicos, enquanto eles estiverem vazios", disse o candidato na sabatina.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pouco mais de um milhão de paulistanos moram em locais com mais de três pessoas por dormitório.

Boulos criticou o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria (PSDB) pela atuação de ambos na pandemia. "Decisões dessa natureza não podem ser tratadas como jogadas políticas, como foi feito por Bolsonaro e Doria, em relação à vacina e ao isolamento. Decisão sobre pandemia tem que ser tomada com epidemiologistas, infectologistas. Não sou médico, por isso vou ouvi-los", afirmou.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o governo vai prorrogar o auxílio emergencial caso haja uma segunda onda da pandemia do coronavírus no Brasil. "Prorrogação do auxílio emergencial, se houver segunda onda, não é possibilidade, é certeza. Se houver segunda onda da pandemia, o Brasil reagirá como da primeira vez. Vamos decretar estado de calamidade pública e vamos recriar (o auxílio emergencial)", afirmou.

Segundo o ministro, essa não é a expectativa atual, mas está prevista pela equipe econômica como uma contingência. "O plano 'A' para o auxílio emergencial é acabar em 31 de dezembro e voltar para o Bolsa Família. A pandemia descendo, o auxílio emergencial vai descendo junto. A renovação de auxílio emergencial não é nossa hipótese de trabalho, é contingência", completou.

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A declaração de Guedes vem em meio a uma grande discussão dentro do governo, que já dura meses, sobre o que fazer a partir de dezembro, data marcada para o fim do auxílio emergencial.

A ideia original era a criação de um novo programa, batizado de Renda Brasil, ou Renda Cidadã, que substituiria o Bolsa Família, com mais recursos. A criação desse programa, porém, esbarra exatamente na falta de recursos para engordar os repasses às famílias.

Sem definição

Apesar de Guedes falar em segunda onda da Covid-19, a realidade é que não há, dentro do governo, entendimento claro e técnico sobre que momento seria esse, nem quais os critérios seriam usados para embasar a decisão de prorrogar o auxilio emergencial. Reflexo disso é que, na prática, a equipe econômica não começou a trabalhar com essa possibilidade.

Para o vice-diretor da Opas, braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) na América, Jarbas Barbosa, o cenário de "segunda onda" visto na Europa é incomparável ao possível recrudescimento da doença em algumas regiões do Brasil. Ele afirma que países como Itália e Espanha viram altíssimo número de casos numa primeira onda, que depois teve forte desaceleração, resultado de medidas restritivas eficientes. Agora, estas e outras regiões da Europa têm novamente grande número de casos.

Já no Brasil e em outros países da América Latina, a primeira onda é lenta e mostra queda, mas mantém números altos de casos e mortes diárias. Para ele, apesar da queda nos números nacionais, é possível que algumas regiões do Brasil estejam vivendo recrudescimento da pandemia. "Debate não é sobre segunda onda ou não, mas se tem crescimento, tem de tomar a medida correspondente", disse Barbosa.

Microcrédito

Uma outra proposta para substituir o auxílio emergencial, como mostrou o Estadão, é criar um programa de microcrédito para os trabalhadores informais que vão deixar de receber o auxílio emergencial. Esse plano teria recursos de R$ 10 bilhões da Caixa, e poderia chegar a até R$ 25 bilhões, com a implementação de outras medidas. O valor do empréstimo ficaria entre R$ 1,5 mil e R$ 5 mil.

Em evento virtual organizado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Guedes disse que, se for necessária a prorrogação, a ideia é que o País gaste menos do que no primeiro enfrentamento da pandemia. "Em vez de gastar 10% do PIB, talvez gastemos 4%", completou. "O Brasil vai furar as duas ondas, estamos saindo do lado de lá."

O ministro voltou a dizer que o plano da equipe econômica era que o auxílio emergencial "aterrissasse" no Bolsa Família ou no seu substituto, o Renda Brasil, que ainda está em estudo. "Politicamente, o programa (Renda Brasil) não foi considerado satisfatório pelo presidente. No meio da eleição, não era hora de ter essa discussão."

Ele afirmou que o valor do auxílio emergencial, que foi inicialmente de R$ 600, ficou acima do que ele esperava, que era de até R$ 400. Para Guedes, os R$ 600 podem ter sido um "exagero", mas disse não se arrepender porque o benefício foi importante para a reação da economia. Em setembro, o benefício foi reduzido para R$ 300.

A relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão vive mais um desgaste. Após a divulgação de um documento do Conselho Nacional da Amazônia Legal, comandado por Mourão, para expropriar propriedades com registros de queimadas e desmatamentos ilegais, nesta quinta-feira (12), Bolsonaro deu uma bronca pública no general e chegou a chamar de "delírio" a proposta, revelada pelo Estadão. "Eu me penitencio", afirmou o vice, logo após o pito.

Bolsonaro está incomodado com o comportamento de Mourão, que voltou a dar declarações diárias à imprensa. A avaliação no Palácio do Planalto é a de que o vice está usando o cargo e o conselho para se projetar na disputa eleitoral de 2022. Os relatos sobre as desconfianças foram feitos ao Estadão por quatro auxiliares do presidente.

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A aliados, Bolsonaro já deu sinais de que não pretende ter o general como vice na disputa pela reeleição. Para interlocutores da Presidência, Mourão passou a se posicionar quando percebeu que ficaria fora da chapa. O vice já admitiu que pode se candidatar a senador.

O mal-estar aumentou após o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro citar o general como uma opção de candidatura de centro nas próximas eleições ao Planalto. A declaração, ao jornal O Globo", foi vista por integrantes do governo como uma evidência de que o vice e o ex-ministro continuam se falando. Mourão disse, por meio de sua assessoria, que isso não tem sentido e que, portanto, não iria se manifestar. Moro também não quis falar sobre o assunto.

A medida classificada por Bolsonaro como "delírio" consta de documento do Conselho da Amazônia. "Mais uma mentira do Estadão ou delírio de alguém do governo. Para mim a propriedade privada é sagrada. O Brasil não é um país socialista/comunista", escreveu o presidente nas redes sociais.

Pouco depois, em conversa com apoiadores, Bolsonaro negou a proposta e disse que "ou é mais uma mentira ou alguém deslumbrado do governo resolveu plantar essa notícia aí". "Não existe nenhuma hipótese nesse sentido. E, se alguém levantar isso aí, eu simplesmente demito do governo. A não ser que essa pessoa seja indemissível", afirmou o presidente.

No início da tarde desta quinta, após a reprimenda, Mourão disse que o documento era apenas um estudo. "Se eu fosse o presidente, também estaria extremamente irritado, porque isso é um estudo, é um trabalho que tem que ser ainda finalizado e só depois poderia ser submetido à decisão dele", disse o vice. "Eu me penitencio por não ter colocado grau de sigilo nesse documento porque, se eu tivesse colocado grau de sigilo, a pessoa que vazou o documento estaria incorrendo em crime previsto na nossa legislação."

Mourão afirmou que "alguém mal-intencionado pegou e entregou o documento completo para um órgão de imprensa". O vice observou, ainda, que ali havia ideias para planejamento estratégico.

Divergências

Na segunda-feira (9), Bolsonaro já tinha dado sinais de seu incômodo e desautorizou Mourão, ao afirmar que não conversa com ele sobre Estados Unidos nem sobre qualquer outro assunto. O vice havia dito que, "na hora certa", o presidente falaria sobre o resultado das eleições americanas.

Embora encerre suas declarações dizendo que a palavra final é do presidente, Mourão costuma expor opiniões divergentes de Bolsonaro. O vice, por exemplo, se coloca a favor da tecnologia 5G da chinesa Huawei. O general também confrontou Bolsonaro ao dizer que o governo brasileiro vai comprar a vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Um minuto e trinta e dois segundos. Foi esse o tempo que durou o primeiro voto do ministro Kassio Marques como integrante do Supremo Tribunal Federal (STF). Sua estreia ocorreu no julgamento do habeas corpus de um promotor acusado de receber propina de empresas de transportes no Rio. Em seu voto, o magistrado acompanhou o relator, ministro Gilmar Mendes, um dos fiadores de sua indicação para a Corte.

Com o voto de Marques, a Segunda Turma do Supremo confirmou, por 4 a 1, a soltura de um promotor denunciado por corrupção em um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio. O julgamento também definiu, por 3 votos a 2, que a acusação de pagamento de propina por empresários do setor de ônibus deve tramitar na Justiça Estadual, e não na 7.ª Vara da Justiça Federal, que tem como titular o juiz Marcelo Bretas.

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O "voto relâmpago" de Marques também se alinhou ao entendimento do ministro Ricardo Lewandowski e divergiu do relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin. Gilmar e Lewandowski são considerados os principais críticos aos métodos da operação no STF, e a Segunda Turma já impôs uma série de derrotas à Lava Jato.

Gilmar havia mandado soltar o promotor Flavio Bonazza de Assis em março e determinado a retirada do caso das mãos de Bretas. Na ocasião, o ministro disse que a prisão estava fundamentada em "suposições e ilações". Como a Procuradoria-Geral da República (PGR) recorreu da decisão, o caso foi julgado pela Segunda Turma.

Um alinhamento de Marques à ala crítica à Lava Jato nas pautas relacionadas à área penal já era esperado. O novo ministro se apresentou como "garantista" na sabatina no Senado que confirmou sua indicação para a Corte. Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro, Marques substituiu Celso de Mello, que se aposentou do tribunal.

"Não ficou devidamente comprovada nos autos a existência de conexão derivada do interesse probatório entre os fatos imputados ao paciente e aqueles apurados na operação final cuja tramitação ocorre 7.ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, sendo, portanto, a Justiça Estadual a competente para julgar caso em questão", disse Marques durante o voto.

"Esse entendimento, exposto pelo eminente relator, reflete a própria jurisprudência da Suprema Corte e principalmente reafirma o fato de que a colaboração premiada como meio de obtenção de prova não constitui critério de determinação, de modificação ou de concentração de competência", completou o novo ministro.

Em conversas reservadas que antecederam a sua posse, Marques afirmou que era adepto de votos rápidos, em um contraponto ao seu antecessor, o decano Celso de Mello, conhecido por seus votos longos.

Cumprimentos

Na semana passada, ao tomar posse, o novo integrante do STF foi elogiado pelo presidente da Corte. Luiz Fux afirmou que Marques tem "notório saber jurídico, reputação ilibada e independência olímpica". Foi uma manifestação de defesa do colega, criticado após terem sido reveladas inconsistências no currículo.

Ontem, houve mais elogios. Lewandowski disse que já o admirava pelo "elevado espírito público e saber jurídico", e também pela gentileza. Os ministros Fachin e Cármen Lúcia também saudaram o novo colega. Gilmar disse que a história de vida de Marques demonstra a "sacralização da educação como chave da transformação social", ao citar a origem humilde do ministro piauiense.

Marques agradeceu. "Vossas Excelências vão perceber que falo muito pouco", comentou, antes de dar o "voto relâmpago".

Posição crítica à operação

O desembargador federal Kassio Marques chegou à mais alta Corte do País demonstrando alinhamento total com o presidente Jair Bolsonaro e marcando posição crítica sobre os rumos de um dos temas mais sensíveis ao Planalto: o futuro da Lava Jato.

Nas conversas informais que manteve com parlamentares antes de ser sabatinado no Senado, Marques deu sinais de que iria se aliar à ala da Corte que questiona a operação. Essa postura contou a seu favor no Congresso. O Senado o aprovou por 57 votos favoráveis e 10 contrários.

Na ocasião, Marques disse que a Lava Jato precisa de "correções" e se definiu como "garantista". "O garantismo judicial nada mais é do que aquele perfil de julgador que garante as prerrogativas e os direitos estabelecidos na Constituição", declarou.

O democrata Joe Biden ampliou as chances de se tornar o próximo presidente americano ao conquistar, nessa quarta (4), os Estados de Michigan e Wisconsin. Donald Trump contra-atacou, ameaçando judicializar o processo e interromper a apuração. Biden respondeu. "Ninguém vai tirar de nós a nossa democracia. Nem agora. Nem nunca", afirmou, em pronunciamento em Wilmington, cidade onde vive no Estado de Delaware.

Na madrugada de quarta-feira, Trump reivindicou a vitória antes do final da apuração e disse que a oposição tenta fraudar a eleição, sem apresentar provas. Após seus primeiros bons resultados, Biden afirmou que está confiante. "Eu não estou aqui para declarar que ganhei. Eu estou aqui para relatar que, quando a contagem tiver terminado, acredito que serei o vencedor."

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Segundo projeções, Biden tem 264 delegados no colégio eleitoral e Trump, 214. O candidato que conseguir 270 vence a eleição. A força do presidente na disputa passada esteve justamente no chamado Cinturão da Ferrugem, o Meio-Oeste, onde Biden conseguiu as duas vitórias de ontem.

No mesmo dia, Biden também tirou de Trump o Arizona, um reduto conservador que só havia votado em democratas uma vez desde 1948, o que aumenta a esperança do ex-vice-presidente de conquistar a Geórgia ou a Carolina do Norte, todos parte do chamado Cinturão do Sol. "Ganhamos com a maioria do povo americano. E todos os indicadores são de que a maioria crescerá", afirmou Biden, que já ultrapassou a marca de 70,1 milhões de votos, superando o recorde de Barack Obama.

O discurso conciliador do democrata contrasta com as ameaças de Trump. Ontem, ele protocolou medidas junto a tribunais de Michigan e Pensilvânia para suspender a apuração. A campanha republicana também anunciou que pedirá a recontagem em Wisconsin, onde Biden tem 20 mil votos de vantagem.

Segundo a Associated Press, recontagens em Wisconsin historicamente mudaram apenas "algumas centenas" de votos. Para ir em frente com o pedido, os advogados de Trump terão de pagar US$ 3 milhões. Ontem, a campanha de Trump disparou e-mails aos eleitores pedindo doações para financiar a batalha jurídica.

O presidente já deixou claro que prevê que a disputa seja levada à Suprema Corte. Trump é o presidente que mais nomeou juízes para os tribunais federais nos últimos 40 anos. Para a Suprema Corte, ele indicou 3 dos 9 integrantes e garantiu a supermaioria conservadora, com 6 membros nomeados por republicanos.

Virada

No início da apuração, Trump largou na frente, vencendo em Estados importantes e assumindo a liderança em outros. O cenário, no entanto, só ficaria claro, segundo analistas, quando os votos pelo correio fossem contabilizados ao longo dos dias. Foi o que aconteceu em Michigan e Wisconsin.

Restam no tabuleiro mais quatro Estados em disputa: Nevada, Pensilvânia, Carolina do Norte e Geórgia - descartando o Alasca, onde Trump deve vencer. Biden aguarda apenas Nevada começar a contar os votos enviados antes da eleição, principalmente da região de Las Vegas, onde os democratas são maioria - seria o bastante para selar a disputa.

O democrata também tem chances de virar o jogo na Pensilvânia e na Geórgia. Na Carolina do Norte, que aceita cédulas até o dia 12 - desde que postadas até o dia da eleição -, a situação é mais complicada. Mesmo assim, seu caminho é mais claro do que o de Trump, que teria de vencer em todos eles.

Nesta quarta, 4, o presidente voltou a dizer que ganhou nos Estados onde a apuração está em andamento. No Twitter, ele reivindicou vitórias na Geórgia, Carolina do Norte, Pensilvânia e Michigan. Sem apresentar evidências, ele usa a demora na apuração para lançar dúvidas sobre o processo eleitoral e diz que os Estados estão "encontrando cédulas" fraudadas. Trump teve uma postagem classificada como "contestável" pelo Twitter, ao colocar em questão a apuração.

É comum que a contagem dos votos continue por dias após a eleição americana, já que muitos Estados contabilizam as cédulas despachadas pelo correio. Como neste ano o voto antecipado ocorreu em escala recorde, os votos apurados após o dia da eleição serão determinantes. As ações judiciais seriam uma tentativa de deslegitimar o processo.

Os republicanos mobilizaram o advogado pessoal do presidente para dar cara à batalha nos tribunais. Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York, participou de uma coletiva de imprensa na Filadélfia. "(A fraude) está acontecendo no país inteiro", disse Giuliani, ao lado de Eric Trump, um dos filhos do presidente. A campanha argumenta que os observadores do partido não têm acesso às cédulas e não podem verificar os dados registrados.

Caminhos da Judicialização

1. Com base em qual artigo Trump pode entrar com ação na Justiça?

Ele pode entrar com base na Lei Eleitoral e levar o caso direto para a Suprema Corte. Entretanto, a tradição e tendência é que os tribunais estaduais decidam.

2. Quais são os caminhos possíveis de contestação e em quais condições?

Depende da legislação estadual. Há locais com recontagem automática caso não haja a distância de 1% entre os candidatos. Em outros, o pedido de recontagem precisa ser feito em até uma semana.

3. Qual o papel da Suprema Corte no processo?

Antes de chegar à Suprema Corte americana, o processo deve seguir todas as instâncias: passar pela primeira instância estadual, pela segunda, chegar à Suprema Corte do Estado e só então pararia na Suprema Corte dos EUA. Existe a possibilidade de a Justiça dos EUA avocar o processo para si e não esperar a tramitação regular. Ou de Trump ajuizar ação na Justiça federal.

4. Quem compõe a maioria na Suprema Corte?

A Corte é formada por nove juízes. Atualmente, são seis indicados por republicanos e três por democratas.

5. Isso significaria uma vantagem para Trump?

Sim. Entretanto, há o precedente do caso Al Gore. Se o objetivo do presidente for a recontagem de votos, o precedente é desfavorável a ele. Não existe prazo, mas a Constituição americana diz que o novo presidente deve assumir em 20 de janeiro. (FONTES: GABRIEL ADAM, PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA ESPM, E RODRIGO BECKER, ADVOGADO DA UNIÃO)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que autorizou o Instituto Butantã a importar em caráter excepcional a matéria-prima para a produção de 40 milhões de doses da Coronavac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o instituto brasileiro. Foi autorizada a importação de 120 bulks (ou bolsas) de 200 litros cada contendo "formulado em granel" da vacina.

O Butantan reclamava de demora da agência na avaliação do pedido. Em coletiva de imprensa nesta quarta, o diretor do instituto, Dimas Covas, afirmou que o atraso na resposta poderia ter impacto na produção nacional da Coronavac. Segundo ele, a solicitação aguardava aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há mais de um mês, desde 23 de setembro - e a expectativa inicial era de uma resposta da agência em até duas semanas.

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"Desde quando nós iniciamos todo esse processo da vacina, obviamente que cada dia conta. E a nossa previsão era para iniciar a produção da vacina na segunda quinzena de outubro. Esse atraso na emissão dessa autorização pode ter, sim, efeito na produção da vacina. Cada dia que nós aguardamos essa autorização significa um dia a menos de vacina."

O Butantan disse ter entrado com o pedido de importação no fim de setembro. A Anvisa liberou, no dia 23 de outubro, a importação de 6 milhões de doses da Coronavac já prontas, mas afirmou que precisava de informações complementares para liberar também a importação da matéria-prima necessária para a fabricação das demais unidades.

De acordo com a Anvisa, o tema foi discutido entre terça e quarta-feira em Circuito Deliberativo, instância de votação on-line dos diretores da Agência. Eles determinaram algumas condições para a importação excepcional, como a obrigação do Butantã em "garantir a adequabilidade do transporte, armazenamento e guarda do produto, se responsabilizando pelas instalações, equipamentos, pessoal, medidas e procedimentos necessários para a contenção, ou seja, para a segurança do meio ambiente e do operador, bem como a integridade dos recipientes usados para armazenar produtos intermediários".

A Anvisa destacou ainda que a utilização da vacina ficará condicionada à obtenção de seu registro sanitário da agência. "Caso a vacina não obtenha o registro sanitário pleiteado, o Butantan se compromete a destruir o produto, respeitando as normas de destinação de resíduos em vigor", destacou o órgão, no documento em que autoriza a importação. A Coronavac está na fase 3 de estudos clínicos, a última antes da aprovação. Análises preliminares demonstraram que o imunizante é seguro, mas os resultados de eficácia devem sair somente no fim do ano.

Envio

O Instituto Butantan confirmou o recebimento da autorização e disse que o insumo a granel será formulado e envasado no instituto, "que já conta com toda a estrutura necessária para o processamento do imunizante". O Butantan afirma que, após esta aprovação, continua em tratativas com a Sinovac para a liberação da matéria-prima e posterior envio ao Brasil.

O governador João Doria comemorou a decisão em suas redes sociais. "Agradeço a Anvisa pela aprovação da importação da matéria-prima para a produção nacional da vacina contra a Covid-19", declarou ele, no Twitter. "Desta forma, poderemos produzir a Coronavac aqui em SP, no Instituto Butantã, que há 120 anos presta serviços ao País e produz vacinas para os brasileiros."

Ontem, João Doria (PSDB) voltou a declarar que defende uma campanha nacional de imunização, mas disse que, se isso não ocorrer, o Butantan pode ofertar o imunizante a outros Estados que tiverem interesse.

Além disso, afirmou que São Paulo poderá bancar as demais doses para atingir o número de 100 milhões, mesmo sem verba do Ministério da Saúde. "Infelizmente, se houver uma negativa por ações de ordem política ou ideológica, São Paulo, mediante a aprovação da Anvisa, comprará a vacina, distribuirá a vacina e dará para todos os governos estaduais que desejarem", disse.

Governadores vão se reunir com Maia e Alcolumbre

Apreensivos com o imbróglio envolvendo o desenvolvimento das vacinas, governadores vão se reunir com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), na próxima semana, para tratar do assunto. Os chefes dos Executivos estaduais e secretários de Saúde já chegaram a cogitar a possibilidade de se unir em um consórcio para financiar e distribuir a Coronavac. "Nós teremos uma reunião, se não me engano no dia 3", disse ontem o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), ao falar sobre a necessidade de encontrar uma solução para o assunto. Há expectativas de que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que contraiu covid, também participe da conversa, mas a presença dele não está confirmada.

Nos últimos cinco meses, os europeus comemoraram aliviados o fim do confinamento para conter a disseminação do coronavírus, que levou milhares à morte no continente no primeiro semestre. Praias lotadas, encontros em cafés e restaurantes e a volta do turismo deram sensação de normalidade na primavera e no verão. Até agora. Nessa quarta-feira (28), Alemanha e França radicalizaram as restrições para tentar controlar a média de 220 mil contaminações diárias nos últimos sete dias no continente, um recorde.

"O vírus circula a uma velocidade não esperadas nem pelas previsões mais pessimistas. Como todos os nossos vizinhos, estamos afundados pela súbita aceleração do vírus", disse o presidente da França, Emmanuel Macron, ao anunciar um novo confinamento nacional. Segundo as autoridades de saúde francesas, entre 40 mil e 50 mil novas infecções têm sido identificadas todos os dias. "Estamos no meio de uma segunda onda, que será sem dúvidas mais dura e mortal do que a primeira."

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As medidas de confinamento e distanciamento social na França serão aplicadas a partir de amanhã e incluirão exceções, como a continuação do funcionamento da maioria das escolas e a permissão para a realização de funerais.

Os serviços públicos também continuarão funcionando. As medidas permitirão ainda a saída de casa para uma hora diária de exercício, para a compra de bens essenciais e para fazer uma consulta médica. As pessoas ainda terão permissão para trabalhar fora de casa, se o seu empregador considerar impossível o trabalho remoto.

Com os relógios atrasados em uma hora e as noites mais longas em razão do outono, os hospitais estão enchendo de pessoas com problemas respiratórios e ameaçam não aguentar novamente a carga de milhares de casos de Covid-19. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou no começo da semana para o perigo do aumento das infecções sem nem ao menos ter começado a "temporada de gripe".

Na terça-feira (28), a França relatou 523 novas mortes por coronavírus em 24 horas, o maior número diário desde abril. Os médicos alertaram que as unidades de terapia intensiva correm o risco de ficarem sobrecarregadas.

Nessa quarta (29), a Alemanha também decidiu impor as restrições mais duras desde do lockdown do começo do ano. O acordo para impor uma paralisação parcial de um mês foi acertado pela chanceler, Angela Merkel, com os governadores alemães. "Nós temos de agir e precisamos agir agora para evitar uma emergência de saúde nacional", disse a Merkel, ao anunciar as medidas.

Cinemas, teatros, academias e piscinas serão fechados na Alemanha, mas o governo permitiu que as lojas permaneçam abertas desde que mantenham um limite de atendimento de uma pessoa a cada 10 metros quadrados nos estabelecimentos. Eventos esportivos profissionais só serão permitidos sem espectadores.

Antes, o governo alemão já tinha tornado obrigatório o uso de máscaras em mercados, ruas movimentadas e zonas da capital, além de ter aumentado o policiamento para garantir o cumprimento das regras.

Ontem, o país bateu o recorde de casos diários, com 14.964 novas infecções em 24 horas, elevando o número total para 464.239, de acordo com dados do instituto de saúde pública da Alemanha. No sábado passado, o país havia ultrapassado a marca de 10 mil mortes pela Covid-19.

A Espanha também cogita um novo lockdown nacional, com o País Basco fechando as fronteiras da região e as autoridades regionais em Madri considerando uma medida semelhante. No Reino Unido, que relatou 367 mortes na terça-feira, o primeiro-ministro, Boris Johnson, tem ouvido apelos por um confinamento mais severo, com o órgão consultivo do governo para lidar com a pandemia alertando que a segunda onda poderia ser mais mortal do que a primeira.

O cansaço com as medidas de restrição e distanciamento impostas até agora tem sido apontado como o principal fator para a disparada das contaminações e o consequente aumento no número de casos na Europa. "Os cidadãos fizeram enormes sacrifícios", disse Hans Kluge, diretor regional da OMS para a Europa. "Teve um custo extraordinário, que esgotou a todos nós, independentemente de onde vivemos ou do que fazemos. A fadiga da pandemia é real."

Dessa vez, as pessoas não estão mais tão dispostas a se refugiar em seus apartamentos, saindo à noite para aplaudir enfermeiros corajosos. Ninguém mais canta árias de suas sacadas. Os europeus continuam com medo da Covid-19, mas também têm medo de perder seus empregos.

Caterina Gramaglia, de 42 anos, atriz de teatro em Roma, disse ao jornal Washington Post que, em comparação com a primavera, ela se sente mais desamparada, menos segura sobre o que fazer. A primeira vez que os teatros fecharam na Itália foi para ela uma chance de quietude, de reflexão. Agora que os cinemas fecharam novamente, ela disse "a época é de grande pavor e medo".

Nos últimos dias, em vários países da Europa, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra medidas de restrição e confinamento. A polícia da Itália disparou gás lacrimogêneo para dispersar multidões no fim de semana em Turim e Milão. Na Alemanha, as ruas encheram-se de manifestantes da indústria hoteleira.

Em Liverpool, que está lidando com restrições regionais, os proprietários de academias desafiaram as ordens da polícia para fechar, dizendo que as instalações precisavam permanecer abertas.

Percebendo o clima generalizado contra as medidas restritivas, Tedros Ghebreyesus, chefe da OMS, disse no começo da semana que a "fadiga com a pandemia que as pessoas estão sentindo é compreensível", mas ele insistiu: "Não devemos desistir".

Ontem, na França, os líderes empresariais expressaram temor de que um novo lockdown seja fatal para muitas empresas, mas médicos e especialistas dizem que um novo isolamento é necessário.

A União Europeia pediu ontem que os países realizem mais testes e adotem uma política mais coordenada, para desfazer o que tem sido uma colcha de retalhos de medidas díspares em seus países-membros. "Estamos na segunda onda agora", disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, braço executivo do bloco, em entrevista coletiva. "Nossas expectativas são de que esses números aumentem nas próximas semanas e aumentem rapidamente."

UE defende transferência de pacientes entre países do bloco

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu ontem aos líderes da União Europeia que ajudassem a mapear a capacidade de leitos de UTI nos países do bloco para permitir a transferência de pacientes com coronavírus de hospitais lotados em toda a Europa.

A Bélgica deve ficar sem leitos de UTI em duas semanas, em razão da taxa crescente de infecções, enquanto a Holanda já começou a transportar pacientes de pontos críticos para a Alemanha. Quase metade da capacidade das unidades de terapia intensiva da França foi ocupada por novos casos.

Von der Leyen disse ontem que não se envolveria em um "jogo de culpados", mas que a situação "séria" mostrou que "as estratégias de reabertura foram rápidas e as medidas foram relaxadas cedo demais". Ela disse que controlar taxa de infecção e manter baixa a taxa de mortalidade exigirá uma coordenação mais próxima entre os governos, incluindo compartilhamento de dados para ajudar na movimentação de pacientes e equipes médicas entre os países do bloco. "É importante termos dados em nível europeu para que, se houver pressão sobre os leitos de UTI, possamos melhorar a coordenação entre os países e agilizar a transferência de pacientes de um lugar para o outro." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Em sabatina virtual realizada pelo Estadão nessa quinta-feira (15), o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição, nacionalizou a campanha ao criticar o presidente Jair Bolsonaro por reduzir repasses federais à capital paulista. Segundo Covas, Bolsonaro "virou as costas à cidade" e o candidato apoiado pelo presidente, Celso Russomanno (Republicanos), que é deputado federal, não ajudou a cidade a buscar recursos.

"O presidente podia aproveitar então, já que está dedicado e focado na campanha do Celso Russomanno, (para explicar) por que ele diminuiu as transferências voluntárias à cidade de São Paulo em 97%, quando comparado o último ano da gestão (Michel) Temer com o ano de 2020", disse Covas. Transferência voluntária é o nome que se dá ao repasse de recursos da União. A conta exclui transferências obrigatórias, como repasse de dinheiro para o Sistema Único de Saúde (SUS).

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Procurado para comentar o assunto, o Planalto não respondeu.

DORIA E PSDB

Questionado sobre a ausência do governador João Doria (PSDB) na campanha, Covas garantiu que seu colega de chapa em 2016 deve aparecer nas peças da propaganda eleitoral. "Não tenho nenhum problema em mostrar pessoas que me apoiam. Não escondo meus apoiadores", disse o prefeito.

OBRAS

Covas negou que tenha deixado obras para este ano com intenção de angariar apoio eleitoral. Reportagem do Estadão mostrou que a previsão de gastos para obras e compras de equipamentos neste ano, R$ 10,6 bilhões, é 30% maior do que a média dos três anos anteriores - R$ 8,1 bilhões. "Não dá para governar a cidade apenas por três anos, sou prefeito até o dia 31 de dezembro e não vou ter receio de continuar a governar a cidade de São Paulo só porque vão levantar a possibilidade de que as ações são eleitoreiras.".

Entre as obras, há a reforma de 627 mil metros quadrados de calçadas. Segundo o prefeito, essas intervenções são resultado de um plano municipal que teve início há três anos e identificou os trechos mais utilizados e que estavam em piores condições.

RENDA MÍNIMA

O prefeito afirmou que há recursos em caixa para pagar uma complementação do auxílio emergencial federal para um milhão de pessoas até o fim do ano. Ele reiterou seu apoio a um projeto de lei do vereador Eduardo Suplicy (PT) que trata da transferência de renda. O Estadão mostrou ontem que Covas fez uma articulação nas redes sociais para que o projeto seja votado até dia 22.

Programas de transferência de renda são propostos por outros cinco candidatos à Prefeitura. Questionado se falar disso agora era uma reação a seus concorrentes, o prefeito disse que o assunto não havia discutido antes pois havia incerteza sobre a situação orçamentária. "Fomos tratando a cada semana com uma nova avaliação das contas públicas."

VOLTA ÀS AULAS

O prefeito reiterou sua decisão de reabrir escolas municipais apenas para atividades extracurriculares, sem o retorno de aulas com conteúdo curricular. Ele disse que a gestão municipal aguarda o resultado de pesquisas que devem mostrar quantos alunos e professores estão imunizados contra a covid-19.

"Estamos seguindo o recomendado pela área da Saúde. Não tenho satisfação em determinar fechamento de escola, mas sou responsável pela saúde dos alunos na rede municipal."

VALE DO ANHANGABAÚ

Alvo de críticas, a reforma do Anhangabaú foi defendida pelo prefeito como um investimento na retomada econômica da cidade. Os concorrentes de Covas têm questionado o valor da obra, calculado em torno de R$ 100 milhões. O tucano diz que o valor foi orçado durante a gestão de Fernando Haddad (PT) e apenas executado agora. "Levantamentos da Prefeitura mostram que, entre revalorização da região e geração de emprego e renda, nós temos um ganho na cidade de R$ 250 milhões por ano."

PERIFERIA

Covas refutou reclamações de que não fez obras na periferia e disse que a marca de sua gestão foi o investimento social. Ele diz que destinou R$ 900 milhões para construção de moradia, urbanização de favelas e regularização fundiária no orçamento municipal de 2021, que ainda deve ser aprovado pela Câmara.

"Só em Paraisópolis ampliamos os cinco equipamentos que a Prefeitura tem na área da saúde. Os 12 CEUs que nós inauguramos são na periferia da cidade", disse Covas. "Toda ação de ampliação de leitos hospitalares é para poder atender a população da periferia."

MORADOR DE RUA

Covas também foi questionado sobre proposta do seu plano de governo que prevê um hospital exclusivo para morador de rua e que, como o Estadão mostrou ontem, é considerado excludente por especialistas. "Eu disse que seria um hospital de referência e que ajudaria a rede a atender a população de rua." A campanha disse que vai corrigir o plano entregue à Justiça.

REPRESENTATIVIDADE

Ao responder uma pergunta sobre representatividade em seu secretariado, o prefeito afirmou que não está satisfeito com a falta de diversidade na gestão e que pretende aumentar o número de negros em cargos de gestão. "Não há nenhum secretário negro. Secretárias mulheres há cinco. E há a comandante da GCM, uma mulher negra".

TRATAMENTO

Desde 2019, Covas faz tratamento de um câncer metastático no sistema digestivo. Ele disse ontem que seus últimos exames foram "bastante otimistas" e que o tratamento de imunoterapia tem surtido efeito. "Os médicos estão animados, estou liberado para qualquer atividade e trabalho, sem restrições. Estou confiante."

A Educafro deve lançar, nesta segunda-feira (12), um site para monitorar a disponibilidade de candidaturas negras pelo Brasil e a quantidade de verba recebida por elas. A entidade, que foi responsável pela elaboração do texto da consulta ao TSE sobre a utilização do critério racial na divisão de recursos eleitorais, busca agora condensar informações sobre o tema de maneira acessível, para que seja possível fiscalizar a aplicação da regra.

"Vamos lançar a primeira versão (do site) no dia de Nossa Senhora Aparecida, mãe negra do Brasil", afirma o diretor executivo da associação, Frei David Santos. As informações serão publicadas em etapas, e posteriormente também será lançado um aplicativo.

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Na primeira etapa, o site organizado pela Educafro permitirá que o eleitor selecione seu município e consulte o perfil de todos os candidatos negros às eleições de 2020, encontrando informações como o cargo pleiteado, o partido, a coligação (se houver) e o número da candidatura.

Já num segundo momento, a Educafro pretende publicar gráficos com a quantidade de verba do Fundo Eleitoral destinada a candidaturas negras por legenda. As informações terão como fonte os dados oficiais do TSE.

Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os partidos deverão adotar proporcionalidade de recursos entre candidaturas negras e brancas no pleito de novembro. A medida já havia sido determinada pelo TSE, em resposta a uma consulta apresentada pela deputada Benedita da Silva (PT) e elaborada pelo advogado Irapuã Santana, da Educafro. Mas, a princípio, o critério valeria apenas a partir de 2022. Agora, decisão do STF garantiu a aplicação imediata do critério racial para a divisão de recursos.

A antecipação da regra para as eleições de 2020 foi alvo de críticas de dirigentes partidários. Somando isso ao fato de que esta será a primeira vez que o critério será colocado em prática, pesquisadores e ativistas apontam para o risco de burla da divisão proporcional dos recursos. "Os partido estão acostumados a concentrar (poder), então vamos ter todos os escândalos da concentração e do racismo estrutural vindo à tona nessas eleições", afirma Frei David.

Segundo ele, para amparar candidatos negros nos casos em que a regra eventualmente não seja cumprida, o site que será lançado pela Educafro contará também com um modelo de petição para que cada candidato possa "denunciar a má distribuição de verbas direto na justiça". Por meio de publicações e seminários virtuais, a entidade também pretende orientar candidatos e eleitores sobre a distribuição e as regras de proporcionalidade de recursos, assim como debater eventuais irregularidades cometidas por partidos.

"Nós entendemos que, se a comunidade afro-brasileira fizer um trabalho bem feito, e iremos fornecer ferramentas para isso, essa eleição, chamada por nós de 'eleição da aprendizagem e da reconquista da cidadania', será um tremendo laboratório para a comunidade negra e para o Brasil", afirma David.

Para o advogado Irapuã Santana, a possibilidade de a sociedade civil observar se os partidos estão cumprindo as decisões da Justiça também "gera um aumento de qualidade democrática muito grande". "Mais participação popular é sempre benéfico para o país", diz ele.

A Educafro tem reuniões agendadas com ministros do TSE para depois das eleições, para que façam um balanço da implementação das novas regras nas eleições de 2020.

Ao representar pela deflagração da segunda fase da Operação Sangria, na manhã dessa quinta (8), a Procuradoria-Geral da República afirmou ter encontrado mensagens que indicam 'participação direta' do vice-governador do Amazonas, Carlos Alberto Almeida, no processo de compra de respiradores para o Estado que está sob suspeita de superfaturamento - 'inclusive no tocante à possibilidade de realização de pagamento de forma antecipada'.

Além disso, a PGR relatou ao ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça, que Carlos Alberto Almeida, utilizou salas em um prédio comercial, vinculadas a um escritório de advocacia, para realizar, em maio, reuniões com diversos servidores públicos, inclusive a deputada estadual Alessandra Campelo, relatora de comissão de impeachment na Assembleia Legislativa.

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Segundo a decisão que deflagrou a Sangria 2, um dos sócios do escritório usado para os encontros é o filho do empresário Julio Cezar Furtado de Queiroz, sócio proprietário de empresas que possuem diversos contratos, na área da Saúde, com o Governo do Estado.

As indicações levaram o ministro a considerar 'pertinente e razoável' a realização de buscas em endereços vinculados a Carlos Alberto de Almeida, inclusive na sede do governo do Estado e também nas salas comerciais no Edifício Fórum Business. "Não se pode afastar a possibilidade de que existam nesses locais elementos necessários à comprovação dos crimes praticados", registrou Falcão em sua decisão.

As medidas são realizadas na manhã desta quinta, 8, sendo que a Polícia Federal cumpre ao todo 11 mandados de busca e apreensão contra seis investigados na 'Sangria 2'.

Os agentes cumprem ainda cinco ordens de prisão temporária contra o ex-secretário de Saúde Rodrigo Tobias; a ex-subsecretária de Atenção à Saúde em Manaus, Dayana Priscila Mejia de Sousa; o engenheiro clínico Ronald Gonçalo de Caldas Santos; o médico Luiz Carlos Avelino Junior, marido da ex-secretária de Comunicação Social do Amazonas, Daniela Assayag; e o empresário Gutemberg Leão Alencar, apontado como 'homem de confiança' indicado pelo governador Wilson Lima (PSC) para intermediar a compra dos respiradores.

Carlos Alberto foi Secretário da Saúde do Amazonas por três meses no início do governo de Wilson Lima, sendo o responsável por indicar seu sucessor, Rodrigo Tobias de Souza Lima e também o Secretário executivo da pasta, João Paulo Marques dos Santos. O primeiro é alvo de mandado de prisão da segunda etapa da Sangria e o segundo foi preso na primeira fase da operação.

Segundo a PGR, mensagens extraídas do celular de João Paulo 'denotam que a cúpula da Secretaria de Saúde se reportava frequentemente ao vice-governador para tratar de contratos na área da saúde, inclusive no tocante à efetivação de pagamentos, demonstrando que Carlos Alberto Almeida tinha ascendência sobre os assuntos da pasta'.

Com relação aos encontros no escritório de advocacia, a Procuradoria considerou que 'causa estranheza' o vice-governador não se valer de edifícios oficiais para as reuniões. "Esse aspecto, levanta suspeitas sobre os propósitos das mesmas, sugerindo que a intenção do investigado era esconder a ocorrência dos mesmos", escreveu a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo no parecer enviado ao STJ.

A PGR ainda chegou a citar outros nomes que teriam comparecido às reuniões no prédio comercial em Manaus - o ex-secretário executivo da Susam, João Paulo Marques dos Santos, preso na primeira etapa da 'Sangria'; o ex-chefe da Casa Civil Lourenço dos Santos Pereira Braga; e a chefe de gabinete do governador Wilson Lima; Lúcia Carla da Gama Rodrigues.

Já a reunião com a deputada Alessandra Campelo ocorreu no dia 20 de maio, segundo a PGR, sendo que posteriomente a deputada foi nomeada presidente da Comissão Especial de impeachment do governador e do vice do Amazonas. A Procuradoria diz ainda que em agosto, o processo foi arquivado pela Assembleia Legislativa, sendo que Alessandra foi uma das que votou pelo arquivamento.

"Vale destacar, por oportuno, que, no mesmo mês do encontro, Marcellus Campêllo, primo da deputada estadual Alessandra Campelo, foi nomeado para a Secretaria-Executiva da pasta da Saúde do Amazonas", registrou ainda a Procuradoria.

A PGR indicou ainda que os encontros registrados pelas câmera do circuito interno do edifício comercial na capital amazonense têm 'circunstâncias peculiares'. De acordo com a Procuradoria, as gravações mostram os participantes 'portando bolsas, maletas, mochilas, e até mesmo lancheiras ou vasilhames' - "algo deveras inusual".

"Essa questão foi objeto de divulgação, em rede social, de informação no sentido de que o vice-governador estaria utilizando uma bolsa para transportar dinheiro em espécie", registrou o relator da Operação Sangria em sua decisão.

Na peça representação da operação enviada ao STJ, a subprocuradora-geral da República indica que o inquérito em curso investiga o direcionamento na contratação da empresa, sobrepreço e superfaturamento na aquisição dos respiradores, organização criminosa, lavagem de dinheiro e montagem de processos e adulteração de documentos, com a finalidade de encobrir os crimes praticados.

"Há uma verdadeira organização criminosa que se instalou na estrutura do governo do estado do Amazonas, com o objetivo de desviar recursos públicos destinados a atender às necessidades da pandemia de covid-19", defendeu a Procuradoria no parecer.

COM A PALAVRA, O GOVERNO DO AMAZONAS

O Governo do Amazonas informa que está contribuindo com a apuração dos fatos pela Polícia Federal e órgãos de controle e que a ação de busca e apreensão, desencadeada nesta quinta-feira (08/10), envolve, em grande parte, pessoas que já não fazem mais parte da estrutura de Governo, bem como servidores que não atuam como ordenadores de despesas ou tenham poder de decisão na estrutura do Estado ou da investigação em questão. O Governo do Estado reitera que tem atuado de forma transparente e que confia na Justiça.

COM A PALAVRA, A DEPUTADA ALESSANDRA CAMPELO

Como deputada estadual e vice-presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, é normal que eu tenha relação e conversas políticas e institucionais com governador e vice-governador, secretários, autoridades e outros agentes políticos do estado.

Minhas conversas sempre são republicanas e no sentido de tratar de questões políticas ou de gestão pública. No auge da pandemia da Covid-19 e nos últimos meses, além de legislar, passei parte do meu mandato, fazendo visitas e fiscalizações em hospitais, em Manaus e interior do estado, atendendo a população e de alguma forma tentando minimizar os problemas decorrentes da pandemia.

Esclareço que não fui indicada para presidir a Comissão Especial do Impeachment: eu fui eleita no dia 14 de julho pelos meus pares, portanto, trata-se de um processo democrático dentro dos parlamentos.

Importante destacar que o secretário Marcellus Campêlo já fazia parte do Governo do Amazonas. Era coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) e secretário executivo da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra), portanto, já fazia parte da administração estadual, aliás, já atuou em vários governos, além de já ter ocupado cargos de gestão no município de Manaus. Nunca foi indicação minha na Seinfra e muito menos na Secretaria Estadual de Saúde, onde ele foi secretário executivo e agora secretário, por méritos próprios.

Alessandra Campêlo

Dep. Estadual (MDB-AM)

Vice-presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas

COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS

Até a publicação desta matéria, a reportagem ainda buscava contato com os investigados, mas sem sucesso. O espaço permanece aberto a manifestações.

O Prêmio Nobel de Medicina concedido aos descobridores do vírus da hepatite C revela os grandes avanços feitos no diagnóstico e tratamento da infecção nos últimos 30 anos, mas também os obstáculos que ainda existem para a erradicação da doença até 2030, de acordo com a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS).

São pelo menos 70 milhões de casos hoje no mundo, com mais de 400 mil mortes por ano, segundo a OMS. No Brasil, cerca de 700 mil pessoas vivem com hepatite C. De acordo com o último boletim, foram 27.773 mil novos casos e 1.574 mortes em 2018. As regiões mais atingidas do planeta são as da Europa Oriental, Egito, Índia e algumas partes da Ásia. A hepatite C ainda é a principal responsável pelos casos de cirrose e câncer de fígado - que podem levar à necessidade de um transplante.

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Os pesquisadores americanos Harvey J. Alter e Charles M. Rice e o britânico Michael Houghton foram os laureados com o Nobel de Medicina por suas descobertas que levaram ao desenvolvimento de drogas capazes de curar a doença em 99% dos casos. "Pela primeira vez na história, a doença pode ser curada, aumentando as chances de erradicação do vírus da hepatite C no mundo", justificou o comitê do Nobel, no anúncio em Estocolmo.

O grande desafio agora é fazer com que os remédios se tornem disponíveis para todos a um custo mais baixo do que o atual, evitando a disseminação viral que ainda ocorre sobretudo entre usuários de drogas injetáveis. No Brasil, o remédio é distribuído gratuitamente pelo SUS. "O que precisamos agora é da vontade política de erradicar a doença", afirmou Alter, depois de ser informado sobr e a premiação.

Outro grande desafio é a subnotificação. Muitas vezes, a infecção no fígado leva até 30 anos para manifestar os primeiros sintomas (por isso é chamada de doença silenciosa) e as pessoas não sabem que estão infectadas. Não diagnosticada e não tratada, a doença evolui perigosamente para a cirrose e o câncer de fígado.

Os cientistas já conheciam os vírus da hepatite A e B, mas apenas em 1989 o grupo de Alter conseguiu identificar o vírus da hepatite C. "Hoje, tomamos como certo que, se recebermos uma transfusão de sangue, não vamos ficar doentes", afirmou Rice. "Mas não era assim antes de podermos testar todos os estoques de sangue."

Atualmente trata-se da única doença viral crônica que pode ser curada em praticamente todos os casos com apenas poucos meses de tratamento. "Esse é um dos maiores casos de sucesso da medicina moderna", resume o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do setor de infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Em pouco mais de 30 anos, identificamos um agente não conhecido, isolamos o vírus, chegamos a um diagnóstico preciso e desenvolvemos um tratamento capaz de curar a doença em 99% dos casos."

Biografia

Alter, de 85 anos, trabalhou durante décadas no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e continua em atividade até hoje. Houghton, de 69 anos, trabalhou na farmacêutica Chiron, na Califórnia, antes de ir para a Universidade de Alberta, no Canadá. Rice, de 68, trabalhou com hepatite na Universidade de Washington, em St. Louis e, atualmente, está na Universidade Rockefeller, em Nova York, nos EUA.

Alter foi o primeiro a descobrir que muitos pacientes que não apresentavam o vírus da hepatite A ou B também desenvolviam a inflamação no fígado. Por anos, no entanto, inferia-se que haveria um outro vírus, que eles chamavam de não-A e não-B, mas não se conseguia isolá-lo. Somente em 1989, o grupo de Houghton conseguiu isolar o vírus.

"Trabalho com hepatite desde os anos 1980 e te digo que a gente apanhou, ela deu um baile na gente", afirmou o infectologista Celso Granato, da Escola Paulista de Medicina, referindo-se à dificuldade de isolar o vírus da hepatite. "Vi muita gente querendo rasgar o diploma."

Posteriormente, o grupo de Rice constatou que o vírus, de fato, era o responsável pela infecção e o desenvolvimento da doença em humanos, levando ao desenvolvimento de testes e tratamentos. "Não vemos casos de transmissão de hepatite C pelo sangue desde 1997", disse Alter. "Atualmente, podemos curar virtualmente todo mundo que é diagnosticado. Com isso, é possível que consigamos erradicar a doença ainda na próxima década, como espera a OMS."

Coronavírus

Alter e Rice estão trabalhando atualmente na pesquisa do coronavírus. Houghton tenta desenvolver uma vacina contra a hepatite C e espera começar os testes clínicos já no ano que vem, nos EUA, na Alemanha e na Itália.

Pela primeira vez desde 1944, a cerimônia de premiação física do Prêmio Nobel, em 10 de dezembro, foi cancelada, por causa da pandemia de covid-19. Será substituída por um evento online, no qual os laureados receberão os prêmios em seu país de residência. Uma cerimônia ainda está marcada em Oslo para o Prêmio Nobel da Paz, mas reduzida ao mínimo.

O tradicional banquete dos premiados, celebrado todo ano em dezembro em Estocolmo, na Suécia, também foi cancelado. O banquete havia sido cancelado anteriormente durante as duas Guerras Mundiais. Também não ocorreu em 1907, 1924 e 1956.

Os três cientistas vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões). O prêmio de Medicina anunciado ontem é o primeiro de seis que serão revelados ao longo desta semana. Os demais são Física, Química, Literatura, Paz e Economia. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Identificação do vírus já havia levado à premiação em 1976

A inflamação do fígado, ou hepatite, a combinação das palavras gregas para fígado e inflamação, é causada primariamente por infecções virais, embora o abuso de álcool, toxinas ambientais e doenças autoimunes sejam também causas importantes. Nos anos 40, ficou claro que havia pelo menos dois tipos principais de hepatite infecciosa.

O primeiro, hepatite A, é transmitido por água poluída ou alimentos e geralmente tem pouco impacto a longo prazo no paciente.

O segundo tipo, a hepatite B é transmitido pelo sangue e fluidos corporais e representa uma ameaça muito mais séria, pois pode levar a uma condição crônica, com o posterior desenvolvimento de cirrose e câncer de fígado. Esta forma de hepatite é insidiosa, porque indivíduos saudáveis podem estar infectados por muitos anos antes de apresentarem complicações sérias. Hepatites transmitidas pelo sangue são associadas a uma significativa morbidade e mortalidade, e causam mais de 1 milhão de mortes por ano - tornando-a uma ameaça à saúde comparável à da infecção pelo HIV e à tuberculose.

Laureado

A chave para uma intervenção bem-sucedida contra doenças infecciosas é identificar o agente causador. Nos anos 1960, Baruch Blumberg determinou que uma forma de hepatite de transmissão sanguínea era causada por um vírus que ficou conhecido como vírus da hepatite B. A descoberta levou ao desenvolvimento de testes de diagnóstico e a uma vacina eficaz. Blumberg recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1976 por essa descoberta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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