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Crianças desnutridas no Malauí estão em grave risco devido ao pior pico de cólera no país africano, alertou a ONU nesta terça-feira (7), pedindo mais de US$ 50 milhões (cerca de R$ 259 milhões) para combater a doença.

Cerca de 4,8 milhões de crianças - uma em cada duas - precisam de ajuda alimentar, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Entre agora e o final de março, o estado de desnutrição de mais de 213.000 crianças menores de cinco anos vai piorar, e mais de 62.000 delas sofrerá de desnutrição aguda, disse Rudolf Schwenk, representante do Unicef no Malawi.

"Uma criança gravemente desnutrida corre 11 vezes mais risco de morrer de cólera do que uma criança bem alimentada. Um surto de cólera pode resultar em sentença de morte para milhares de crianças no Malauí", disse ele a repórteres em Genebra, em coletiva de imprensa online.

O Malauí vive a epidemia de cólera mais mortal de sua história, com 1.500 mortes, 197 delas de crianças, desde março de 2022. Mais de 50.000 pessoas, incluindo mais de 12.000 crianças, foram afetadas, segundo os últimos dados disponíveis.

Mas o Unicef, que forneceu remédios, água potável e informações sobre prevenção e tratamento do cólera, está ficando sem recursos e, por isso, pede doações no valor de 52,4 milhões de dólares.

"Para prevenir novas epidemias de cólera, temos que apoiar o país com investimentos significativos em infraestruturas sanitária, de água e saneamento", acrescentou Schwenk.

Uma recém-nascida com apenas um mês e outras três crianças foram resgatadas de avião do território Yanomami, no extremo Norte de Roraima, nessa sexta-feira (27). A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) investigam indícios de genocídio e omissão de socorro aos povos da região na gestão passada.

A recém-nascida contraiu malária, pneumonia e gripe. Ela precisou de oxigênio para o translado até a capital Boa Vista, onde deu entrada no Hospital da Criança Santo Antônio, o único hospital infantil de Roraima. 

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A unidade acomodava 59 indígenas nessa sexta (27), sendo 45 crianças Yanomami. Oito estavam internadas na UTI, duas intubadas com quadro de desnutrição grave, diarreia aguda, pneumonia e malária. Parte dos sintomas pode estar relacionada à contaminação por mercúrio decorrente do garimpo ilegal no território.

A única empresa de aviação que participa da operação de resgate indicou a média de 16 voos diários ao local, de acordo com o G1.

O atual governo federal estima que ao menos 99 crianças morreram na região só em 2022. Além do estado de emergência, um hospital de campanha foi montado na capital para suportar os atendimentos.

No ano passado, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 2.754 internações de bebês com menos de 1 ano por desnutrição. O levantamento é do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), com dados do Sistema de Informações Hospitalares (SHI) do Ministério da Saúde, e equivale a sete internações por dia, em todo o país.

  “Enquanto o Nordeste registrou 1.175 hospitalizações em 2022, o Norte realizou 328 internações pelas mesmas causas no ano passado. Olhando para as capitais, temos Salvador com 159 hospitalizações e Cuiabá com apenas uma”.

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O pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) pondera que os dados coletados no SIH ainda podem sofrer alterações, devido ao tempo necessário para finalizar os registros no sistema.

“No cenário atual, embora o sistema registre uma pequena redução no número de internações de bebês menores de 1 ano por desnutrição no país de 2021 para 2022, de 2.946 para 2.754 hospitalizações, podemos considerar que a tendência se mantém - o que é preocupante”.

Sobre a iniciativa

O Observa Infância é uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto a sistemas de informação nacionais. Trata-se de uma iniciativa conjunta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase).

As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia Boccolini e Cristiano Boccolini, no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, classificou como “desoladora” a situação do povo ianomâmi, que enfrenta uma grave crise sanitária e nutricional. Na última sexta-feira (20), o Poder Executivo declarou emergência em saúde pública de importância nacional por conta da calamidade enfrentada pelos povos indígenas. Em uma rede social, Pacheco disse que a Casa deve trabalhar para assegurar proteção aos ianomâmis.

“A desoladora situação vista na Terra Ianomâmi, em Roraima, onde centenas de indígenas, boa parte composta por crianças, morreram nos últimos anos em razão da falta de assistência, por doenças, por desnutrição e pelo avanço do garimpo ilegal, exige a união das instituições. Registro o comprometimento do Senado para, no que couber ao Legislativo, assegurar medidas contra essa tragédia que atinge o povo Ianomâmi”, afirmou Pacheco.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Roraima no sábado (21) e prometeu agir no combate aos garimpos ilegais, apontados como causa da tragédia humanitária. Ele editou um decreto que cria o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das populações em território Ianomâmi.

De acordo com o Palácio do Planalto, 99 crianças ianomâmis morreram em função do avanço do garimpo ilegal na região, segundo dados de 2022. As vítimas tinham menos de 4 anos de idade e foram acometidas de desnutrição, pneumonia e diarreia. Equipes do Ministério da Saúde identificaram crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição acentuada, além de muitos casos de malária e infecção respiratória aguda. 

Repercussão

A situação dos ianomâmis repercutiu nas redes sociais e mobilizou parlamentares. O senador Renan Calheiros (MDB-AL), que foi relator da CPI da Pandemia, lembrou que a comissão parlamentar de inquérito denunciou o tratamento dispensado aos povos indígenas pela gestão do então presidente Jair Bolsonaro. “O relatório da CPI qualificou Bolsonaro como genocida e enviou a denúncia ao Tribunal Penal Internacional. O governo dele negou água potável aos indígenas e, agora, o morticínio dos ianomâmi é a prova irrefutável do genocídio continuado”, afirmou.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também apontou a responsabilidade de Jair Bolsonaro pelas mortes na Terra Ianomâmi. Segundo o parlamentar, o ex-presidente incentivou o garimpo ilegal e foi negligente diante dos alertas de crise sanitária e nutricional na região. 

“Morrer por desnutrição é inaceitável, é desumano! Os povos indígenas são vítimas de um grupo criminoso que só se importava com a violência e o negacionismo, nunca com a vida da nossa população. Em 2021, acionamos o Supremo Tribunal Federal para que o então governo tomasse as medidas necessárias para proteger a vida, a saúde e a segurança das populações em terras ianomâmis. E o que a antiga gestão fez para resolver? Nada. Nunca foi falta de aviso, sempre foi negligência, violência, genocídio. Bolsonaro e seus cúmplices serão responsabilizados pelas vidas perdidas”, escreveu.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) rebateu as acusações. Em uma sequencia de publicações, o parlamentar disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro “colocou a saúde indígena como prioridade durante a pandemia”.

“O governo Bolsonaro ampliou em 1,7 mil postos o quadro de profissionais em saúde indígena. Medidas do governo Bolsonaro beneficiaram 449 mil indígenas. Quase 1 milhão de medicamentos foram encaminhamos para essa população. Foram realizados quase 54 milhões de atendimentos de saúde indígena em quatro anos. Quer saber mais? É só procurar no site do Ministério da Saúde. Mas corre, porque eles não querem que você saiba e esses balanços serão apagados em breve”, publicou.  Bancada de Roraima Parlamentares de Roraima também comentaram a situação dos ianomâmis. Para o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), a situação de calamidade entre os povos indígenas do estado ocorre há mais de 30 anos e não pode ser atribuída apenas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A verdade precisa ser dita! O sofrimento nos distritos indígenas de Roraima acontece há mais de três décadas, principalmente nas comunidades ianomâmis, devido a dificuldade de acesso e até por resistência à entrada de auxílio de brancos. A ajuda de fato aos ianomâmis nunca existiu! É injusto e inaceitável imputar a culpa apenas ao Bolsonaro e criar uma narrativa, enquanto os governos Lula e Dilma em 14 anos não mudaram essa realidade. Obviamente, precisamos socorrer o povo ianomâmi, mas sem criar esse discurso político com teor sensacionalista e falso para fazer cena mundo afora e se esquivar de uma culpa que eles também carregam”, afirmou.

Para o senador Telmário Mota (Pros-RR), responsabilizar os garimpeiros pela tragédia do povo ianomâmi é “uma grande injustiça” e tentativa de “encobrir a verdade”. Segundo ele, o problema ocorre por “corrupção e falta de uma política indigenista eficiente”.

“Esse distrito sanitário especial indígena estava sendo coordenado por uma máfia. Esses ladrões devem ser responsabilizados por esse genocídio e pela morte dessas 570 crianças nos últimos quatro anos. Temos também que mudar a política indigenista do país. Os povos indígenas que ainda vivem de forma primitiva têm um modo de vida e costumes que deve ser preservado, mas a maioria dos povos indígenas já estão aculturados e querem políticas públicas, com inclusão social, econômica e política”, escreveu.

Genocídio

Nas redes sociais, parlamentares reforçaram críticas à gestão de Jair Bolsonaro. Para o senador Paulo Rocha (PT-PA), a crise humanitária enfrentada pelo povo ianomâmi foi “premeditada” pelo ex-presidente da República. 

“Bolsonaro facilitou a entrada de mais de 20 garimpeiros ilegais que destruíram a floresta e sua fauna, fonte de alimento e vida dos nossos irmãos ianomâmis. O desprezo dos povos indígenas foi criminoso! Centenas de indígenas, boa parte composta por crianças, morreram nos últimos anos em razão da falta de assistência, por doenças, desnutrição e pelo avanço do garimpo ilegal. Tudo isso foi perverso! O governo Bolsonaro usou métodos nazistas com os ianomâmis”, publicou. 

O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou a situação dos povos indígenas em Roraima como uma “tragédia humanitária”. Para ele, a crise é resultado de uma “política genocida implantada nos últimos anos”. 

“O território ianomâmi é a maior reserva indígena do país e tem sofrido com o avanço do garimpo ilegal, desnutrição e falta de assistência pública. O que aconteceu na gestão de Bolsonaro não tem outro nome: foi genocídio. Os indígenas foram abandonados à própria sorte pelo desgoverno. As imagens do que está acontecendo em território ianomâmi são estarrecedoras. Elas nos revelam a face mais cruel de um governo genocida que durante os quatro anos que esteve no poder se acostumou a deixar morrer os brasileiros que deveria proteger”, afirmou.

Segundo a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro ignorou pelo menos 21 ofícios com pedidos de ajuda aos povos ianomâmi. Para ela, “a omissão e a prevaricação matam”.  “Precisamos encontrar e punir os responsáveis por esse crime contra a vida dos povos originários. O desprezo dos povos indígenas pelo governo Bolsonaro é criminoso. As fotos que nos chegam das aldeias ianomâmis são estarrecedoras. Crianças e adultos, esqueléticos, em condições sub-humanas. A gestão derrotada nas urnas tinha compromisso com a morte de seus semelhantes e era destituída de qualquer espírito cristão verdadeiro”, escreveu.

Para o senador Jaques Wagner (PT-BA), a situação precisa de “respostas firmes e ações imediatas”. Ele elogiou a iniciativa do Poder Executivo, que decretou situação de emergência em saúde pública na região.

“Minha solidariedade e todo apoio aos ianomâmis, que estão vivendo em condições precárias e desumanas no Norte do país. Um cenário de completo descaso, fruto da total falta de sensibilidade e responsabilidade do governo anterior. O decreto de emergência de saúde pública e o envio imediato de cestas básicas para enfrentar esta tragédia humanitária é apenas um primeiro passo”, publicou.

'Falta de humanidade'

O senador Flávio Arns (Podemos-PR) também usou as redes sociais para denunciar a situação dos povos indígenas em Roraima. “É inaceitável ver a falta de humanidade com os povos ianomâmis. A desassistência sanitária e a desnutrição revelam uma irresponsabilidade criminosa. A omissão de direitos é clara e viola o princípio máximo de que todas as vidas importam”, afirmou. 

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) disse que, em dezembro passado, enviou representação à Procuradoria-Geral da República pedindo providências sobre denúncias de violência contra indígenas na Terra Ianomâmi. Ele questiona: “O que a PGR fez? É chocante e pavoroso! Meu sentimento de pesar se soma à minha total aliança com o governo Lula para socorrer o povo ianomâmi e punir a Bolsonaro e a quem mais tenha concorrido para este crime de genocídio”, afirmou.

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o ex-presidente Jair Bolsonaro “não agiu sozinho contra os ianomâmis”. Ele lembrou que, no ano passado, parlamentares aprovaram requerimento de urgência para votação de um projeto de lei (PL 191/2020) que autoriza a mineração em terras indígenas.

O senador Paulo Paim (PT-RS) classificou a situação em Roraima como “tragédia, genocídio, crime, descaso e desumanidade”. Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), a tragédia ianomâmi “é reflexo do criminoso governo que tivemos nos últimos quatro anos”. O senador Eduardo Braga (MDB-AM) classificou como “estarrecedora a situação de penúria e abandono” na terra indígena.

Para Leila Barros (PDT-DF), é “impossível não sentir um aperto no coração” ao ler as notícias e ver as fotografias sobre a tragédia humanitária. O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) disse que o cuidado com os povos originários é obrigação do Estado brasileiro. “Os responsáveis por tamanho abandono e crueldade devem ser identificados, processados e duramente condenados. É um verdadeiro genocídio acontecendo em nosso país”, escreveu.  Para o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), “não é de hoje que as crianças ianomâmis sofrem com o abandono estatal”. “Em 2007, a Fundação Nacional de Saúde já apontava a situação crítica. Se ainda hoje as crianças sofrem, é por causa do histórico abandono governamental. O momento exige atenção e precisamos investigar e punir os culpados”, afirmou.

O senador Fernando Collor (PTB-AL) disse que, durante a gestão dele como presidente da República, implantou “uma permanente agenda em defesa dos povos originários e de repressão aos garimpos ilegais”. “A saúde dos indígenas também era prioridade, ao manter os invasores fora dos limites da área. O governo atuava de forma proativa, garantindo uma rede de proteção com a onipresença do Estado. Um exemplo disso foi, em 1992, quando demarcamos o território ianomâmi”, publicou. 

*Da Agência Senado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta sexta-feira (20) que viajará a Roraima para ver de perto a situação dos Yanomami, povo que vive uma crise sanitária que já resultou na morte de 570 crianças por desnutrição e causas evitáveis, nos últimos anos. A terra indígena Yanomami é a maior do país, em extensão territorial, e sofre com a invasão de garimpeiros. Os detalhes da viagem estão sendo fechados, mas o presidente deve chegar ao estado na manhã deste sábado (21).    "Recebemos informações sobre a absurda situação de desnutrição de crianças Yanomami em Roraima. Amanhã [sábado] viajarei ao Estado para oferecer o suporte do governo federal e, junto com nossos ministros, atuaremos pela garantia da vida de crianças Yanomami", afirmou Lula em uma postagem nas redes sociais.

A família de Lariya Abdulkareem cultivava soja em sua cidade no estado de Katsina, no noroeste da Nigéria, antes que ameaças de ataques de bandidos os obrigassem a deixar suas terras para trabalhar em outro lugar.

Alimentar sua família está se tornando mais difícil, diz sua avó, com a insegurança nas estradas complicando as entregas de milho e soja.

Sua família é uma das milhares com crianças que sofrem de desnutrição crescente no noroeste da Nigéria, enfrentando uma combinação de insegurança, aumento dos preços dos combustíveis e alimentos e um flagelo de doenças como o sarampo, segundo autoridades médicas e agências humanitárias.

"Não podemos acessar os lugares que costumávamos ir antes", conta Abdulkareem com sua neta de sete meses nos braços, em uma clínica criada um ano antes pelas autoridades de saúde e Médicos Sem Fronteiras (MSF).

O noroeste da Nigéria tem sido devastado por gangues de milícias que invadem cidades, roubam gado e sequestram pessoas em troca de resgate.

Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas nas regiões central e noroeste, e milhares morreram na violência, bem como no conflito jihadista de 13 anos que deixou mais de 40.000 mortos.

A maioria das agências de ajuda opera no nordeste da Nigéria, onde dois milhões de pessoas foram deslocadas, mas poucas operam no noroeste.

O aumento da desnutrição grave é um resultado da complexa crise no noroeste da Nigéria, que ameaça dezenas de milhares de crianças, segundo MSF, com quase 44.500 menores admitidos em programas nutricionais em Katsina de janeiro a junho deste ano.

Somente em Katsina, MSF e as autoridades locais de saúde se preparam para atender 100 mil crianças desnutridas este ano.

Nafisa Sani, uma autoridade de saúde de Katsina, diz que o estado tem números "altos" de desnutrição, mesmo para uma região acostumada a lidar com esse fenômeno.

Dentro das clínicas em tendas, crianças menores de cinco anos, algumas em atendimento de emergência, são pesadas, medidas e diagnosticadas com desnutrição, de acordo com a equipe médica.

"Temos casos de sarampo, fome e com a bandidagem temos muitos deslocados. Isso afeta as crianças", lamenta o pediatra Yakub Abubakar, que trabalha em uma clínica da MSF na cidade de Katsina. "E isso é apenas em um estado."

Bandidos e inflação

O escritório de MSF em Gummi, no estado vizinho de Zamfara, disse que suas equipes examinaram mais de 36 mil crianças com menos de cinco anos em junho, após um alerta nutricional.

Mais da metade das crianças estava desnutrida e uma em cada quatro sofria de desnutrição grave e precisava de atenção médica urgente.

De acordo com o Unicef, a Nigéria ocupa o primeiro lugar na África e o segundo no mundo em desnutrição infantil. Cerca de 8 milhões de crianças no noroeste estão desnutridas, de acordo com a agência. A insegurança aprofunda cada vez mais o fenômeno.

O medo de ataques de milícias de bandidos sediados nas florestas vizinhas de Rugu, nas áreas de Katsina, perto da fronteira com o Níger, afastou muitas famílias de suas terras agrícolas.

Somente este ano, cerca de 1.000 pessoas foram deslocadas por violência ou ameaças em três áreas da região de Jibiya, segundo moradores e uma fonte do governo local.

Muitos cruzaram a fronteira para ficar com suas famílias no Níger, outros estão com parentes na cidade de Katsina e outros estão em dois acampamentos próximos à cidade.

"As pessoas têm medo de serem sequestradas, mortas ou deslocadas", afirma Nuhu Iliya, funcionário de saúde do governo local em Jibia.

O noroeste da Nigéria muitas vezes enfrenta insegurança alimentar, especialmente nos meses pós-colheita, quando os estoques ficam baixos.

Enquanto isso, a invasão russa da Ucrânia atinge o abastecimento de trigo e aumenta os preços dos combustíveis e dos alimentos.

Randa tem três anos, mas pesa apenas quatro quilos. A menina sofre de desnutrição aguda e corre risco de morte como milhões de outras pessoas no Iêmen, um país devastado por sete anos de guerra.

Em Al Khadich, um campo para deslocados na província de Hajjah, no norte do Iêmen, Randa chora, deitada em uma cama de ferro dentro de uma barraca.

No país mais pobre da Península Arábica, milhões de crianças como Randa sofrem as consequências de uma guerra brutal entre o governo, apoiado desde 2015 pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, e os rebeldes houthis, apoiados pelo Irã e no controle do norte e oeste do país, incluindo a capital Sanaa.

“Toda vez que o estado dela piora, eles nos mandam levá-la ao hospital, mas não temos dinheiro para pagar o transporte”, explica a mãe de Randa, Saleha Nasser.

Em Al Khadich, mais de 2.600 famílias vivem em barracas em terras áridas, sob extrema pobreza, fome e dificuldade de acesso à ajuda humanitária.

A ONU não para de alertar a comunidade internacional contra o risco de fome em grande escala que considera uma das piores catástrofes humanitárias do mundo.

Dirigindo-se ao Conselho de Segurança, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, alertou que a falta de financiamento para ajuda humanitária no Iêmen é "sem precedentes".

"As agências de ajuda rapidamente ficam sem dinheiro. No final de janeiro, quase dois terços dos principais programas de ajuda da ONU foram reduzidos ou encerrados", lamentou o diplomata.

No final de dezembro, o Programa Mundial de Alimentos foi "forçado" a reduzir a ajuda ao Iêmen "enquanto a fome aumenta".

"Em dezembro, o PAM cortou as rações de alimentos para oito milhões de pessoas", disse Griffiths. E a partir de março, eles podem “não conseguir comida alguma”, alertou.

- Impossível dormir -

No hospital de Abs, a principal cidade da província de Hajjah, os funcionários se movimentam em meio aos gritos de crianças que são impedidas de adormecer pela fome. A enfermaria para crianças desnutridas tem apenas vinte leitos, todos ocupados.

De acordo com Ahmed Al-Achoual, diretor do hospital, centenas de crianças sofrem de desnutrição aguda nos campos para deslocados nesta região que faz fronteira com a rica monarquia saudita.

"Chegamos a receber mais de 300 casos por mês. E estes são apenas os que podem vir ao hospital, porque muitos não têm meios", explica o médico à AFP.

De acordo com o PMA, mais da metade da população do Iêmen sofre de fome aguda e metade das crianças menores de 5 anos (2,3 milhões) correm o risco de desnutrição.

Além disso, 3,6 milhões de pessoas não têm acesso à água potável, aumentando o risco de doenças fatais, segundo a ONU. As crianças são especialmente afetadas por este risco.

A guerra que devasta o Iêmen já deixou 377.000 mortos, a maioria devido às consequências indiretas dos combates, como fome, doenças ou falta de água potável.

O número de desnutridos na África aumentou cerca de 50% entre 2014 e 2020, afetando 281,6 milhões de pessoas, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e outras duas instituições internacionais.

"Depois de um longo período de melhora entre 2000 e 2013, a fome se agravou consideravelmente e a maior parte dessa deterioração ocorreu entre 2019 e 2020", aponta este relatório da FAO, da Comissão Econômica Africana (CEA) e da Comissão da União Africana (CUA).

"Em 2020, 281,6 milhões de africanos estavam desnutridos, 89,1 milhões a mais que em 2014", acrescentaram, o que representa um aumento de 46,2%.

Desses 281,6 milhões, 44,4% vive no leste da África, 26,7% no oeste, 20,3% no centro do continente, 6,2% no norte e 2,4% no sul.

O continente africano representa 55% do aumento mundial de pessoas desnutridas nesse período.

As três instituições consideram que "a situação deve continuar piorando este ano".

Entre as causas recorrentes da desnutrição estão "conflitos, variabilidade e extremos climáticos", assim como "pobreza e desigualdade" nos dois últimos anos, junto à pandemia de coronavírus "que prejudicou ainda mais os esforços para reduzir a fome e a desnutrição na região".

Segundo a FAO, a desnutrição se define como "o estado de um indivíduo em que a ingestão de alimentos é insuficiente para satisfazer, em média, as necessidades de energia alimentar para ter uma vida normal, ativa e saudável".

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nesta segunda-feira (12), que houve um agravamento dramático da fome mundial em 2020 e que, muito provavelmente, isso esteja relacionado às consequências da Covid-19.

A ONU aponta que, embora o impacto não tenha sido totalmente mapeado, um relatório de várias agências estima que cerca de 811 milhões de pessoas no mundo todo enfrentaram a fome em 2020. A edição deste ano de O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo. é a primeira avaliação global desse tipo na era da pandemia. 

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Em 2020, a fome disparou em termos absolutos e proporcionais, ultrapassando o crescimento populacional: estima-se que cerca de 9,9% de todas as pessoas tenham sido afetadas no ano passado, ante 8,4% em 2019.

Mais da metade de todas as pessoas enfrentando a fome (418 milhões) vive na Ásia; mais de um terço (282 milhões) na África; e uma proporção menor (60 milhões) na América Latina e no Caribe. Mas o aumento mais acentuado da fome foi na África, onde a prevalência estimada – em 21% da população – é mais do que o dobro de qualquer outra região.

No geral, mais de 2,3 bilhões de pessoas não tiveram acesso à alimentação adequada durante todo  2020. A desigualdade de gênero se aprofundou: para cada 10 homens com insegurança alimentar, havia 11 mulheres com insegurança alimentar.

Crianças menores de cinco anos sofriam de desnutrição crônica, ou eram muito baixa para a sua idade - mais de 45 milhões tinham desnutrição aguda ou eram muito magras para a sua altura.

Torturado pela própria família, que o prendeu dentro de um barril com pés e mãos acorrentados, o menino de 11 anos resgatado por policiais militares em Campinas, no Interior de São Paulo, deverá ser encaminhado a um abrigo. Desde que foi salvo no sábado (30), ele está internado no Hospital Municipal Ouro Verde.

Após denúncias da vizinhança, os policiais o encontraram nu e com sinais de desnutrição dentro de um tonel de metal de tinta, fechado com o peso de uma pia de mármore. De acordo com a PM, ele estava muito suado e mal conseguia se mexer após passar cinco dias sem comer. O garoto pesa cerca de 25 kg e ficava exposto ao sol por longos períodos.

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Ele contou que comia as próprias fezes quando sentia fome e durante o resgate chorou ao implorar para ser adotado. O pai, a madrasta e a irmã mais velha foram presos em flagrante e afirmaram que o menino era muito agressivo e costumava fugir de casa. O pai alega que a tortura foi a opção de educá-lo. Caso condenado, ele pode ficar preso de 2 a 8 anos. Já as envolvidas podem receber penas entre 1 e 4 anos de reclusão.

O Conselho Tutelar informou que já monitorava o caso e chegou a visitar a casa da família, mas verificou apenas 'fatores de média vulnerabilidade'. O caso foi registrado na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher.

Quase uma em cada nove pessoas sofreu de desnutrição crônica em 2019, uma proporção que deve se agravar com a pandemia de Covid-19 - aponta um relatório anual da ONU divulgado nesta segunda-feira (13).

De acordo com as últimas estimativas, no ano passado, a fome afetava quase 690 milhões de pessoas, ou seja, 8,9% da população mundial, relata o documento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), redigido com a colaboração do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa Mundial de Alimentos e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Isso representa 10 milhões de pessoas a mais que em 2018 e 60 milhões a mais que em 2014.

"Se a tendência continuar, estimamos que, até 2030, esse número excederá 840 milhões de pessoas. Isso significa claramente que o objetivo (erradicar a fome até 2030, estabelecido pela ONU em 2015) não está no caminho certo", declarou à AFP Thibault Meilland, analista de políticas da FAO.

E isso sem contar o choque econômico e de saúde provocado pela pandemia de COVID-19, que causou perda de renda, aumento dos preços dos alimentos, interrupção das cadeias de suprimentos, etc.

Segundo o relatório, é provável que a recessão global causada pelo novo coronavírus leve à fome entre 83 e 132 milhões de pessoas a mais.

"Ainda são hipóteses relativamente conservadoras, a situação está evoluindo", observa Meilland.

A estimativa de subnutrição no mundo é muito menor do que nas edições anteriores: o relatório do ano passado mencionou mais de 820 milhões de pessoas com fome. Mas os números não podem ser comparados: a integração de dados recentemente acessíveis - em particular de pesquisas realizadas pela China em residências no país - levou à revisão de todas as estimativas desde 2000.

"Isso não é uma queda (no número de pessoas que sofrem de desnutrição), é uma revisão. Tudo foi recalculado com base nesses novos números", insiste Meilland.

"Como a China representa um quinto da população mundial, esta atualização tem consequências importantes para os números globais", aponta o analista da FAO.

"Mesmo que o número global seja inferior, a constatação de um aumento da desnutrição desde 2014 se confirma", acrescenta.

- Custo da má alimentação -

Entre os pontos de melhoria, a prevalência de atraso de crescimento entre crianças de cinco anos caiu um terço entre 2000 e 2019, com cerca de 21% das crianças afetadas em todo o mundo. Mais de 90% delas vivem na Ásia ou na África.

Além da desnutrição, o relatório aponta que um número crescente de pessoas "teve que reduzir a quantidade e a qualidade dos alimentos que consome".

Assim, dois bilhões de pessoas sofrem de "insegurança alimentar", ou seja, não têm acesso regular a alimentos nutritivos em qualidade e quantidade suficientes, indica.

São ainda mais numerosos (3 bilhões) aqueles que não têm meios para manter uma dieta considerada equilibrada, com, em particular, ingestão suficiente de frutas e legumes.

"Em média, uma dieta saudável custa cinco vezes mais do que uma dieta que só atende às necessidades de energia com alimentos ricos em amido", diz Meilland.

Desta forma, a obesidade está aumentando tanto em adultos quanto em crianças.

As agências especializadas da ONU estimam que, se os padrões de consumo de alimentos não mudarem, seu impacto nos custos diretos de assistência médica e na perda de produtividade econômica deve atingir 1,3 trilhão de dólares por ano até 2030.

Grupo de 27 pesquisadores do Brasil, Reino Unido, Argentina e Estados Unidos descobriu correlação entre a desnutrição das mães e a síndrome congênita do vírus Zika nos bebês, que tem na microcefalia uma de suas manifestações. A conclusão do trabalho foi publicada nesta sexta-feira (10) no periódico norte-americano Science Advances.

O trabalho foi dividido em duas partes disse a professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Patrícia Garcez, integrante do grupo de estudo. O trabalho foi iniciado em 2016 e envolveu, na primeira fase, estudos em laboratório com animais de experimentação. Foi usado um grupo que não era suscetível ao vírus Zika, “que não causava microcefalia”, e um grupo dos mesmos animais que eram submetidos a uma dieta com restrição de proteína durante a gravidez.

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“Na verdade, o que a gente mudou foi só a dieta de um grupo para outro. E quando a gente mudou a dieta, isso foi suficiente para fazer com que esse animal fosse mais suscetível a transmitir o vírus que tinha no ambiente materno para o feto”, disse Patricia. Os pesquisadores procuraram então entender se isso acontecia também com mães que tiveram filhos com a síndrome congênita. Ou seja, se as mães estavam com alimentação com restrição de proteína .

Confirmação

Foram entrevistadas 83 mães no Nordeste. “A gente descobriu que 40% dessas mães apresentavam desnutrição proteica”. Isso pode ter favorecido que os filhos dessas mães nascessem com microcefalia, por exemplo. Patricia explicou que a prevalência de mulheres que, quando infectadas no primeiro trimestre são capazes de transmitir o vírus para os fetos, varia muito, dependendo da região. Essa variação da transmissão vertical pode ser de 1% em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, chegando a 43% no Brasil.

Os pesquisadores decidiram investigar por que havia mais prevalência da síndrome congênita do Zika em algumas regiões e por que algumas mães eram mais suscetíveis do que outras. “É uma série de cofatores que pode estar facilitando essa diferença de prevalência na população e a gente mostrou, graças a esse estudo, que a dieta, certamente, é um desses cofatores”. A Região Nordeste foi escolhida para a pesquisa porque concentra 75% dos casos associados ao vírus Zika.

Os pesquisadores querem entender melhor, a partir de agora, como a dieta influi no sistema imune e como ela atua para facilitar o aumento da suscetibilidade ao vírus Zika. Outra meta é testar se algum tipo de dieta é capaz de reverter essa situação. “[Vamos verificar] se a gente consegue proteger os animais da infecção do vírus, sem transmitir aos bebês, por meio de uma dieta rica em proteína”. Outra diretriz é estender o estudo para outras regiões para ver se essa porcentagem de desnutrição proteica tem uma correlação positiva nas mães que tiveram filhos com microcefalia. “Essa pesquisa abre muitas avenidas”, disse Patricia Garcez.

Ministério da Saúde

A pesquisa é focada em 24 dos 27 estados brasileiros porque, segundo a pesquisadora da UFRJ, nos estados da Região Sul quase não houve síndrome congênita. O foco é a área tropical, que mostra presença acentuada do vetor, que é o mosquito Aedes aegypti.

Os pesquisadores haviam explorado, anteriormente, a relação potencial entre desnutrição e malformações associada ao vírus Zika por meio da análise do banco de dados integrado do Ministério da Saúde. Para isso, consideraram o número de casos de microcefalia confirmados e aqueles ainda sob investigação nos estados selecionados, entre 2015 e 2018, quantificando o número de pacientes desnutridos admitidos em hospitais nos mesmos estados e no mesmo período.

Eles apuraram, então, a existência de uma correlação significativa entre casos de microcefalia e desnutrição, o que aponta que estados onde se identificou um número maior de casos com desnutrição, na última década, também contavam com mais crianças com malformações desde o surgimento da síndrome do vírus Zika no Brasil.

Assimetria

Segundo a professora Patricia Garcez, a parceria com o Ministério da Saúde está sendo essencial para entender melhor a microcefalia e a distribuição no Brasil, que é assimétrica, e os cofatores que atuam. “A dieta é um cofator relevante, como estamos mostrando, mas, certamente, há outros fatores”, disse. Patricia acredita que a publicação do artigo científico na revista Science Advances será importante para a obtenção de novos financiamentos que garantam a continuidade dos estudos.

A pesquisa foi financiada pelo Zika Rapid Response do Medical Research Council do Reino Unido; pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj); pelo Ministério da Saúde do Brasil e pela American Association of Physical Anthropologists (AAPA). A segunda etapa do projeto, para testar se uma dieta rica produz o mesmo efeito nos embriões, deverá ser iniciada ainda este ano.

 

Os pais de uma criança de 3 anos foram condenados por submeter a filha a uma dieta vegana severa que deixou a menina gravemente desnutrida. A condenação foi de 18 meses de prisão, convertida em 300 horas de prestação de serviços à comunidade. 

A criança precisou ser internada no ano passado depois que a própria mãe ligou para a emergência alegando que sua filha estava tendo convulsões. A situação da bebê, que na época tinha 2 anos e 7 meses, era tão preocupante que ela não tinha desenvolvido dentes, não conseguia sentar, rolar, brincar ou falar. Sua dieta era à base de aveia, batatas, pão e arroz.

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De acordo com a BBC, ao anunciar a sentença na corte de Downing, Centre, em Sydney, a juíza Sarah Huggett disse que os pais ofereceram uma dieta "completamente inadequada" à filha. A bebê foi socorrida com os lábios azuis, os pés e as mãos frios, baixo nível de açúcar no sangue e pouco tônus muscular. Por todos esses problemas, os pais perderam a guarda da criança, mas devem manter um contato intermitente.

Hoje, a menor vive com os irmãos sob os cuidados de outros membros da família em Queensland, estado da Austrália. A menor precisa agora passar por sessões de fonoaudiologia e fisioterapia. Para estimular o crescimento, precisa tomar remédios e suplementos. 

O relatório anual de várias organizações da ONU publicado nesta segunda-feira alerta que cerca de 821,6 milhões de pessoas passaram fome em 2018 em todo o mundo, um aumento de 10,6 milhões em relação ao registrado no ano anterior, o que representa o terceiro aumento consecutivo.

Depois de décadas de declínio, a desnutrição vem aumentando desde 2015. Contra um dos objetivos de desenvolvimento sustentável de 2030, a perspectiva de um mundo sem pessoas subnutridas neste período é um "imenso desafio", diz o relatório.

Intitulado "O estado da segurança alimentar e nutricional no mundo", o relatório pede ação: "Para garantir a segurança alimentar e nutricional, é fundamental ter políticas econômicas e sociais para neutralizar os efeitos de ciclos econômicos adversos quando eles chegam, evitando a redução de serviços essenciais como assistência médica, saúde e educação", diz o texto.

Apelando para uma "transformação estrutural", que inclua os mais pobres, o documento pede para "integrar a segurança alimentar e nutricional nos esforços de redução da pobreza", ao mesmo tempo em que se combate as desigualdades de gênero e a exclusão de grupos sociais.

Aumento na América Latina

A desnutrição continua a prevalecer em continentes específicos: África (quase 20% da população afetada), América Latina e Caribe (menos de 7%) e Ásia (mais de 12%).

A deterioração da segurança alimentar na América Latina e no Caribe levou 42,5 milhões de pessoas a passarem fome no ano passado, um flagelo que atinge a Venezuela com força especial.

"Na América Latina e no Caribe, as taxas de subnutrição aumentaram nos últimos anos, em grande parte como resultado da situação na América do Sul, onde a porcentagem de pessoas com fome aumentou de 4,6% em 2013 para 5,5% em 2018", informa a FAO, que tem sua sede regional no Chile.

A América do Sul é afetada pela extensa e profunda crise econômica pela qual a Venezuela está passando. Nos últimos anos, a prevalência de desnutrição no país caribenho multiplicou-se quase quatro vezes, de 6,4% em 2012-2014 para 21,2% em 2016-2018, aponta o documento.

"Durante os primeiros 15 anos deste século, a América Latina e o Caribe reduziram a desnutrição pela metade, mas desde 2014 a fome vem aumentando", alertou Julio Berdegué, representante regional da FAO.

Na América Central e no Caribe, o percentual de pessoas afetadas pela fome continua a diminuir, com 6,1% e 18,4%, respectivamente, mas ainda acima da América do Sul, com 5,5%.

Com esses números, "temos que resgatar, em média, mais de 3,5 milhões de pessoas da fome todos os anos até 2030, se quisermos alcançar a meta de fome zero do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável", disse Berdegué.

A ONU destaca que o aumento da fome reflete a desaceleração econômica na região, afetada nos últimos anos pela queda nos preços de commodities, que são motores do Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países latino-americanos.

A queda do PIB e o aumento do desemprego em muitos países causaram um declínio na renda familiar, levando a uma recaída no combate à pobreza. Após vários anos de queda dos índices de pobreza, "o número de pobres aumentou de 166 milhões para 175 milhões entre 2013 e 2015, aumentando de 28,1% para 29,2% da população", afirma a FAO.

Paradoxo da obesidade

Apesar dos dados alarmantes sobre o aumento da fome no mundo, paradoxalmente este relatório destaca que o sobrepeso e a obesidade continuam a aumentar em todas as regiões, especialmente entre crianças em idade escolar e adultos.

Em 2018, cerca de 40 milhões de crianças com menos de cinco anos no mundo tinham excesso de peso. Em 2016, os números chegavam a 131 milhões de crianças de cinco a nove anos, 207 milhões de adolescentes e 2 bilhões de adultos com sobrepeso, de acordo com o relatório.

O documento foi preparado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), com a assistência do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O Lar de Idosos Filhos de Asaff, na zona rural de Itapissuma, Região Metropolitana do Recife (RMR) está sendo fechado na manhã desta quinta-feira (17). Ao todo, 17 idosos estão sendo removidos do local devido às condições precárias. O local despertou a curiosidade dos órgãos após o registro de quatro mortes em curto período de tempo.

A Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), como é oficialmente tratada, havia sido fechada em 2016. Na ocasião, houve a interdição por problemas como produtos vencidos e falta de higiene. Entretanto, o abrigo voltou a funcionar em novo endereço sem conhecimento da prefeitura.

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Do fechamento em 2016 até o final de 2018, houve quatro mortes de pessoas oriundas da ILPI. Segundo uma técnica do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), nos quatro casos as mortes eram de idosos com desnutrição. O fato da Vigilância Sanitária que fez uma primeira visita e acionou o Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa (Ciappi).

Em outubro de 2018, uma ‘força-tarefa’ visitou o novo local e encontrou irregularidades estruturais, com a alimentação, remédios, higiene e documentação. Foi dado um prazo para que o abrigo se regularizasse.

Nesta quinta-feira (17), participam da fiscalização o Ciappi, Procon, Delegacia do Idoso, Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária, Guarda Municipal, CRAS, entre outros órgãos. Novamente, a casa não estava de acordo com as exigências, com escassez de comida e remédio. Um idoso estava com desnutrição, desidratação e feridas no corpo, saindo do local direto para uma unidade de saúde. Os outros 16 idosos serão levados para uma ILPI em Abreu e Lima.

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A fome na América Latina aumentou pelo terceiro ano seguido em 2017 e atingiu 39,3 milhões de pessoas, 6,1% da população, de acordo com a estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O relatório divulgado pela organização nesta quarta-feira (7) aponta que o número de latino-americanos desnutridos teve um aumento de 200 mil entre 2015 e 2016 e de 400 mil entre 2016 e 2017.

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Na Argentina, Bolívia e Venezuela, o número de pessoas desnutridas cresce ano a ano desde 2014. A situação é especialmente mais grave na Venezuela, onde existem 3,7 milhões de habitantes subalimentados.

O Haiti, no entanto, continua sendo o país latino-americano com a maior incidência da fome, com 5 milhões de pessoas desnutridas, pouco menos que a metade de seus habitantes (45,7%). Seguido do México que possui 4,8 milhões, ou seja, 3,8% da população.

Apesar disso, Haiti e México, junto à Colômbia e República Dominicana, são os únicos países latino-americanos nos quais a desnutrição diminuiu desde 2014. Já o Brasil, Cuba e Uruguai são os únicos com índices de desnutrição inferiores a 2,5% de seus habitantes.

O documento da FAO destaca ainda que a obesidade se tornou a maior ameaça nutricional da América Latina, pois a cada ano há 3,6 milhões de obesos a mais e o sobrepeso afeta 250 milhões de pessoas, o que representa 60% da população. Além disso, 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima da média mundial de sobrepeso, que é de 5,6%.

Milhares de mães amamentaram seus filhos em público nesta sexta-feira (3) em praças e parques da Colômbia, em uma campanha a favor da lactância materna e contra a desnutrição crônica que afeta 40.000 crianças no país.

As mães se reuniram em 18 municípios e cidades do país em "La Lactatón", uma iniciativa anual impulsada por autoridades locais e nacionais para quebrar o tabu de amamentar em público.

A mobilização coincide com a Semana Mundial do Aleitamento Materno, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

"É uma doença silenciosa, assintomática. A desnutrição aguda é iminente e leva à morte", disse Cristina Vélez, secretária de Integração da prefeitura de Bogotá.

A campanha busca reduzir a zero as mortes de crianças por desnutrição crônica até 2030.

A mobilização coincidiu também com o debate na OMS sobre a importância da lactância materna, após a defesa do presidente americano, Donald Trump, do leite em pó infantil.

"Os nutrientes do leite em pó não são comparáveis aos do leite materno, além disso o contato fortalece a relação e dá segurança", explicou Jimena Melo, uma mãe de 23 anos que estava com seu companheiro e seu filho Iker Santiago, de três meses.

Leydi Palacios, que trabalha como professora de um jardim de infância para pessoas de baixos recursos no sul da capital, coincide com a funcionária na importância de amamentar.

"Lactar gera um vínculo que vai além do nutritivo", afirmou esta mãe de 32 anos que alimentava seu filho Jaroslav, de cinco meses.

Que "as pessoas tirem os mitos da cabeça. Que não coíbam as mães que precisam alimentar seus filhos em público, porque não é um ato de desrespeito, é o alimento natural", acrescentou.

A OMS recomenda a lactância materna exclusiva nos primeiros seis meses de vida e sua manutenção até os dois anos de idade.

A fome aumentou 6% na América Latina em 2016, o primeiro recuo em uma década, como consequência da desaceleração das economias da região, alertou a agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) nesta terça-feira (10).

Depois de uma década celebrando avanços no recuo da desnutrição, a região somou 2,4 milhões de novas pessoas sem acesso à quantidade suficiente de alimentos para atender às suas necessidades calóricas básicas, o que elevou o total de desnutridos na América Latina a 42,5 milhões de pessoas, o equivalente a 6,6% de sua população total.

"Estamos em um mau caminho. A região deu um passo atrás importante em uma luta que vinha ganhando", disse o representante regional da FAO, Julio Berdegué, ao apresentar, durante coletiva de imprensa, em Santiago, o relatório "Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e no Caribe".

A América do Sul, uma das regiões mais ricas na produção de alimentos, sofreu o maior aumento de desnutrição com um aumento da fome de 5% para 5,6%. Mas, apesar de não ter aumentado no Caribe, a fome continuava tendo a maior prevalência nesta região, afetando 17,7% de sua população.

No que diz respeito a países, a pior situação em termos de prevalência está no Haiti, onde quase 47% de sua população passa fome.

Enquanto isso, a Venezuela - mergulhada em uma profunda crise política e econômica - foi o país que registrou o maior aumento no número de subnutridos, passando de 2,8 milhões de pessoas em 2015 para 4,1 milhões no ano passado, com uma prevalência de 13% de sua população.

Mas não só o número de subnutridos aumentou. Na América Latina, a obesidade está "descontrolada" e se tornou um problema de saúde pública em todos os países da região, alertaram especialistas da FAO.

A obesidade em adultos situou-se acima dos 20% de sua população em 24 dos 33 países sul-americanos.

Na América do Sul, 7,4% das crianças menores de cinco anos sofrem de sobrepeso e obesidade, assim como 6% das crianças da América Central e 6,9% das do Caribe.

Depois de mais de dez anos de retrocesso constante, a fome avançou novamente no mundo em 2016, afetando 815 milhões de pessoas, 11% da população mundial, revelou nesta sexta-feira um relatório da ONU.

O aumento no ano passado de 38 milhões de pessoas que sofrem fome é devido em "grande parte à proliferação" de conflitos e os fenômenos climáticos, indica o relatório sobre segurança alimentar mundial. No total, 155 milhões de crianças menores de 5 anos sofrem um déficit de crescimento por causa da fome e 52 milhões de crianças sofrem uma insuficiência de peso em relação a sua altura.

Os índices mais elevados de crianças que passam fome ou estão desnutridas são registrados nas zonas de conflito. O estudo destaca ao mesmo tempo que 41 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem sobrepeso, o que aumenta o risco de sofrer obesidade e doenças durante a idade adulta.

"A anemia entre as mulheres e a obesidade entre os adultos também são preocupantes", afirma o relatório publicado por várias agências da ONU: a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o FIDA (Fundo Internacional da ONU para o Desenvolvimento Agrícola), o PAM (Programa Mundial de Alimentos), além do Unicef e da OMS (Organização Mundial da Saúde).

"Estas tendências não são apenas consequência dos conflitos e da mudança climática, mas também de mudanças profundas nos hábitos alimentares e da pobreza ligada às desacelerações econômicas".

De acordo com as agências da ONU, 520 milhões de pessoas sofrem fome na Ásia (11,7% da população do continente), 243 milhões na África (20%) e 42 milhões (6,6%) na América Latina e Caribe. Das 815 milhões de pessoas afetadas em 2016 no mundo, 489 milhões vivem em países afetados pelos conflitos.

Uma criança morre a cada 10 minutos no Iêmen, onde quase 2,2 milhões de menores de idade sofrem de desnutrição aguda e precisam de tratamento médico urgente, informou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

"A desnutrição no Iêmen alcançou um nível recorde, que continua aumentando", afirmou Meritxell Relano, representante do Unicef no país, o mais pobre da península arábica, com 26 milhões de habitantes. "O estado de saúde das crianças nunca foi tão catastrófico como agora", completou.

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"Ao menos uma criança morre a cada 10 minutos no Iêmen em consequência de diarreias, desnutrição e infecção das vias respiratórias", informou o Unicef. Ao menos 462.000 crianças sofrem de "desnutrição aguda severa", o que representa um aumento de 200% na comparação com 2014, informa um comunicado do Unicef.

A guerra civil entre rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, e as forças governamentais, respaldadas pela Arábia Saudita, agravou a situação humanitária no Iêmen em 2015. Os grandes prejudicados são os menores de idade.

A província de Saada, reduto huthi na região norte do Iêmen, tem o índice de atraso de crescimento na infância mais elevado do mundo. Oito em cada 10 crianças sofrem desnutrição crônica nesta região do Iêmen, afirma o Unicef.

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