O dia 23 de abril, celebrado por católicos e adeptos das religiões de matriz africana que comemoram São Jorge, também se tornou especial para uma das legiões mais fanáticas do esporte mundial. Desde 2007, pela lei sancionada pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), a torcida do Corinthians tem o seu lugar reservado no calendário: o Dia do Torcedor Corintiano.
A relação que envolve o Santo Guerreiro e o Corinthians vem desde a fundação do clube, em 1910. No tempo em que os ingleses do Corinthian Foot-Ball Club excursionavam pelo Brasil e inspiraram o nome do alvinegro, São Jorge já era padroeiro de quem nascia na Grã-Bretanha e em toda a Europa.
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O terreno cedido pela prefeitura paulistana para sediar a agremiação, em 1926, era no bairro do Parque São Jorge, subdistrito do Tatuapé. Não pode ser só coincidência. Bem como não é por acaso que a fé da Fiel Torcida no padroeiro acompanha diversas histórias dos representantes da insanidade corinthiana.
Frequentadora assídua dos estádios desde 2008, a servidora pública Rita de Cássia Franco, 45 anos, foi uma das testemunhas no primeiro jogo da final da Copa Libertadores da América, em 2012, na Argentina. "Fui para Buenos Aires na terça à noite, voltei na quinta pela manhã e ter participado desse momento é inesquecível", conta. Na segunda e decisiva partida, o Corinthians sagrou-se campeão invicto da competição internacional.
A servidora pública Rita de Cássia | Foto: Arquivo Pessoal
Além de acompanhar o Timão em diversas oportunidades, Rita também faz da paixão um degrau para a inclusão de mulheres no ambiente futebolístico. A servidora é uma das colaboradoras do Movimento Toda Poderosa Corinthiana. "É uma luta diária contra os preconceitos arraigados em nossa sociedade como o machismo, o sexismo e o racismo. É também um aprendizado pois sempre buscamos a conscientização para tornar o mundo do futebol mais justo e igualitário", completa.
Falta no trabalho em troca de um mundial
Há três décadas nas arquibancadas em defesa das cores corinthianas, o administrador de empresas Wendel de Oliveira, 45 anos, é outro fanático pelo Timão. Ligado nas jogadas de craques como Sócrates e Zenon, no início da década de 1980, pelo radinho de pilha, foi no término dela que Oliveira começou sua saga. Seguiu o Corinthians nas fases decisivas dos campeonatos nacionais em 1989 e 1990, ano do primeiro título brasileiro do clube.
O administrador de empresas Wendel de Oliveira | Foto: Arquivo Pessoal
Mas uma das campanhas mais marcantes foi o 1º Mundial Interclubes da Fifa, em 2000, vencido pelo Coringão. "Corinthians x Vasco fariam a final no Maracanã numa sexta-feira e fiquei pensando como falar para o meu patrão que iria faltar para ir ver o jogo", lembra Oliveira. "Comprei a passagem da caravana, o ingresso e na quarta-feira tomei coragem e fui à sala dele, mas nem precisei falar nada, ele disse: 'Já sei, você vai nesse jogo no Rio, deixe as tarefas organizadas e vai ver seu Corinthians'".
Mesmo com o desmaio de um dos amigos na arquibancada após o camisa 7 e ídolo do Corinthians, Marcelinho Carioca, ter perdido um pênalti na decisão, a euforia foi absoluta. Em meio ao socorro do parceiro, Oliveira conseguiu ver que Edmundo, jogador adversário, também errou e deu o título mundial ao Timão. "Veio uma sensação que não consigo definir até hoje. Lembrei do meu pai, do meu filho, que completava um mês de vida nesse dia, e de todas as loucuras que fiz nesses dez anos que tinha de arquibancada para ver o Corinthians jogar e a certeza de que faria tudo novamente", destaca Oliveira, que também é proprietário de uma coleção com 250 exemplares de camisas corintianas.
A coleção de camisas de Wendel | Foto: Arquivo Pessoal
Timão até o outro lado do mundo
O gestor de tecnologia da informação em saúde Felipe Colucci, 41 anos, atravessou o mundo para ver o Corinthians bicampeão. No ano de 2012, ele foi um dos mais de 40 mil torcedores em Yokohama, no Japão, que empurraram o Time do Povo nas vitórias contra o egípcio Al-Ahly e os ingleses do Chelsea.
A saga começou no dia seguinte ao título inédito da Libertadores, em julho. Com menos de um mês de empresa, Colucci pediu férias para dezembro e contou com a sorte do superior também ser corintiano. "O chefe negou, então pedi demissão dizendo: 'Em dezembro vou viajar para o Japão, ou me dá férias ou arruma outro para o meu lugar'. E ele deu [as férias], graças a Deus!", diverte-se.
Era só a primeira de várias barreiras ultrapassadas rumo ao continente asiático. Fora a parte burocrática e a distribuição de cheques para custear a viagem, a escola da filha de Colucci marcou a formatura para o mesmo dia da viagem. "Arrumei confusão na festa, aí anteciparam a dança da minha filha para eu não perder o voo. Ainda bem que ela entende o pai", lembra.
O torcedor Felipe Colucci viajou ao Japão para torcer pelo Corinthians | Foto: Arquivo Pessoal
Do outro lado do mundo, um frio congelante que só era aliviado com algumas doses de tequila. Com um gol do centroavante peruano Paolo Guerrero em cada partida, o Corinthians garantiria o mundial pela segunda vez. Colucci viu tudo de perto, mas a viagem não acabaria ali. O calote de um dos companheiros de aventura o deixou com restrições nos órgãos de proteção de crédito, mas arrependimento é algo que passa longe de quem é louco pelo Timão. "Tem uma porrada de cheque pra pagar, três anos com o nome sujo, mas sou bicampeão do mundo. Cada carta de cobrança que chegava, eu abria e via o gol do Guerrero, valeu cada minuto, cada centavo" relata emocionado.
Colucci completa: "ser Corinthians significa acreditar em algo que ninguém acredita, sentir algo que ninguém jamais vai sentir. Não importa o resultado do jogo, sou feliz por ser corintiano".