Conviver com outras pessoas no ambiente corporativo requer muito mais do que simplesmente possuir habilidades técnicas. Também é fundamental saber como compreender as diferenças e evitar conflitos que possam prejudicar o andamento das empresas, porém, é comum encontrarmos casos de brigas, discussões, entre outros desentendimentos que acontecem com colaboradores em pleno trabalho.
A pressão exercida pelas empresas em busca de resultados, por si só, já pode estressar os profissionais. Imagine o quanto o ambiente tende a piorar com a disseminação de atritos. Como de costume, as corporações são marcadas por confraternizações no período de fim de ano, contudo, também é indicado que o profissional aproveite o “espírito natalino” para fazer uma reflexão própria e principalmente para deixar o orgulho de lado; é momento de procurar o companheiro com o qual você brigou e tentar estabelecer o mínimo de respeito para que o ambiente torne-se mais agradável.
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Mas, antes de partir para uma conversa, pode ser construtivo entender as origens das indiferenças no ambiente de trabalho. Para a psicóloga Patricia Amazonas, os conflitos no meio corporativo são comuns, muitas vezes resultados das dificuldades que as pessoas têm de separar questões pessoais das profissionais. Além disso, comportamentos inadequados para a convivência social fomentam relacionamentos conflituosos. “As pessoas têm estado no limite da tolerância nas relações interpessoais. O culto ao individualismo tem contribuído para essa piora. Um dos exercícios mais difíceis ao humano é separar o pessoal do profissional. Uma separação 100% é difícil quando se trata de um ser único, mas é um exercício necessário para a saúde mental do sujeito/trabalhador. Então, uma das possíveis razões de conflitos em ambientes de trabalho são os problemas pessoais levados. Cada sujeito é um universo, com sua personalidade, suas emoções e angústias, e essas sendo mal administradas, reverberam na rotina das empresas e podem até gerar indiferenças”, opina a psicóloga.
Os resquícios de um desentendimento podem interferir na rotina das empresas e até afetar a saúde dos envolvidos. “As consequências podem ser desastrosas. Tanto para o sujeito, como para a organização. O sujeito pode ter desde uma síndrome de Burnout até depressão. Sua saúde mental é abalada e o seu rendimento no trabalho também. Portanto, criar um espaço dialógico para trabalhar brigas e intrigas pode ser essencial a todos”, alerta Patricia.
“Acabar toda e qualquer briga seria utópico. Mas minimizar é possível. Uma forma seria criar espaço dialógico e de exercício da criticidade construtiva. As pessoas devem trabalhar a condição de ouvir dos colegas aquilo que as faria crescer e melhorar, além de trabalhar a capacidade de falar sem ofender. Daí o exercício da criticidade, pois a crítica construtiva ajuda no crescimento”, acrescenta a psicóloga.
Identificando conflitos
Expressões desanimadas, ausência de diálogo, escassez de sorrisos e respostas grosseiras. Esses são alguns exemplos que ilustram um ambiente de trabalho marcado por funcionários brigados entre si. Os gestores, no papel de líderes, são peças fundamentais no processo de identificação e resolução desses conflitos. Quanto mais cedo os problemas forem identificados, maiores serão as chances de tornar o ambiente de trabalho mais atrativo e leve.
De acordo com o coordenador do curso superior de tecnologia em gestão de recursos humanos da UNINABUCO – Centro Universitário Joaquim Nabuco, Edson Brígido, as empresas não podem ignorar suspeitas de indiferenças entre seus colaboradores, mesmo que pareçam pequenas. Os líderes possuem um papel fundamental em qualquer processo de administração de conflitos. A primeira orientação é que nada pode ser ignorado. Por mais difícil que seja para um líder, que muitas vezes entende sem importância ou com um menor valor um conflito entre integrantes de sua equipe, ele deve se abrir para compreender que aquele motivo pode ser sem valor para ele, mas não para os subordinados”, orienta.
Cabe também aos subordinados o entendimento de que, para as empresas, é mais apropriado trabalhar com profissionais que propaguem união e não desentendimentos. É preferível usar energia para vislumbrar melhorias para a corporação e não para resolver brigas e desentendimentos sistemáticos.
“Hoje em dia, as organizações valorizam profissionais que tenham um quociente emocional elevado. As cobranças são muitas, e a pressão no ambiente de trabalho se tornou algo normal. A gestão moderna entende que o perfil apropriado é do profissional que compreende e que no realizar das suas atividades seja leve e que trate todas as pessoas com cordialidade e educação, mesmo nesse tipo de ambiente. Daí então, quem alimenta a reclamação, argumentos injustificados e preciosismo individual vai contra a premissa que é necessária. Os tempos mudaram, as empresas também e quem compreende que precisa se tornar um suporte para os demais alcança um status meritocrático com as lideranças por tornar leve as demandas que lhe são cobradas”, opina o especialista.
“Não se vence destruindo ninguém”. É preciso refletir, identificar erros e praticar perdão
Ainda em sua análise sobre conflitos no ambiente empresarial, a psicóloga Patricia Amazonas reconhece que é “impossível” gostar de todas as pessoas do trabalho. No entanto, para o bom convívio profissional, torna-se indispensável manter a ordem e principalmente o respeito a todos que nos rodeiam.
“De fato gostar de todos é impossível. Mas o mundo do trabalho é isso. Diferenças, competitividade, esforço, crescimento... Algumas pessoas conseguem construir laços de amizade significativos, mas até nisso é bom ter cuidado. As relações pessoais não devem interferir nas de trabalho. Saber separar vínculos é maduro para o dia a dia. A palavra de ordem é respeito, seja no afeto ou desafeto. As pessoas no trabalho mexem com conteúdos subjetivos construídos ao longo da vida. É liderar ou ser liderado. É ganhar ou perder. É aprender ou ensinar. É construir ou desconstruir. Mundo do trabalho é gerúndio... se faz fazendo! Aqueles que tiverem vínculos muito comprometidos devem estar atentos, pois boicotar alguém da empresa é boicotar a empresa e até a si mesmo.
A psicóloga crava que o sucesso de um profissional não pode ser atrelado ao fato de ele ter “derrubado” um colega de trabalho. O sucesso, segundo ela, precisa ser natural e não fruto de intrigas. “Não se vence destruindo ninguém, se vence crescendo em si e por si. E contando com os demais sempre que possível, afinal, ninguém é onipotente. Portanto, manter um clima agradável é ser cooperativo e proativo e não perder tempo falando mal ou destruindo os colegas”, frisa.
O perdão, no exercício prático de contensão das indiferenças, é um ato louvável e fundamental nesse processo. “Perdoar é um exercício de doação valoroso. De grande valia nas relações. Mais que desculpar, perdoar é abrir-se para as possibilidades do crescimento numa via de mão dupla. É ser cooperativo! Portanto, perdoar o outro é entender que em algum momento você poderá ser perdoado. Não há uma receita para a melhor forma de acabar com as brigas no trabalho, mas uma alternativa é olhar o outro como companheiro e não como adversário, pois em uma empresa existem objetivos comuns a todos. É olhar para o motivo da irritação não como um fim em si mesmo, mas como possibilidade de superação”, reflete a psicóloga.
Edson Brígido acredita que uma boa conversa no ambiente profissional pode ajudar a diminuir os conflitos. A isso pode ser atrelado um pedido de desculpas. “Pedir desculpas no ambiente corporativo? Não existe lugar melhor. Vamos em primeiro lugar alinhar a verdade: quem reconhece o erro e pede desculpas é mais forte e mais evoluído do que quem não pede ou ignora. É um comportamento de pessoas evoluídas que compreendem a relação entre ação e resultados, pessoas que se preocupam com o que falam e sobre como os outros vão ficar com o que foi falado, pessoas que comunicam o que é preciso ao mesmo tempo em que se preocupam sobre como vão falar. Essas pessoas tornam-se admiradas por demonstrar respeito e compreender a singularidade de cada um”, analisa.
Segundo a especialista em gestão da capacidade humana nas organizações, Irenilda Barbosa, este fim de ano é um momento propício a reflexões. É nessa época que os profissionais podem realizar uma auto análise e identificar erros cometidos contra os colegas de trabalho. No vídeo a seguir, a especialista traz mais detalhes: