Líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado Silvio Costa Filho (PTB) concedeu entrevista exclusiva ao Portal LeiaJá e enumerou as expectativas da bancada para a próxima legislatura que inicia no dia 1° de fevereiro. Durante a conversa, o parlamentar afirmou que o colegiado oposicionista não dará trégua a gestão do governador Paulo Câmara (PSB) e citou a economia estadual como um dos principais assuntos de fiscalização legislativa.
Observando que “não estamos indo para um novo governo, mas para o nono ano da gestão do PSB”, Costa Filho não poupou críticas às novas lideranças que vem surgindo na legenda socialista e avaliou os primeiros 15 dias do governo de Câmara. Além disso, fez cobranças ao prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), e questionou a legitimidade das propostas de governo da gestão estadual e municipal.
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Preparando-se para iniciar o terceiro mandato na Casa, esta é a primeira vez que Silvio Costa Filho ocupa uma vaga opositora ao governo. Desde 2006, quando foi eleito pela primeira vez, até 2013 o petebista esteve alinhado ao PSB. Nos próximos quatro anos, segundo ele, a “oposição estará vigilante”.
Confira a entrevista na íntegra:
LeiaJá (LJ): A partir do dia 1° de fevereiro o senhor assume a liderança da oposição na Alepe, como vocês pretendem atuar?
Silvio Costa Filho (SCF): Nós queremos fazer uma oposição dinâmica, para dialogar com a sociedade civil organizada e buscar a participação popular. Nós tivemos praticamente oito anos sem oposição no estado, pois a maioria dos partidos estava aliado ao governo. Hoje a gente percebe um ambiente novo na Assembleia Legislativa. Essa nova oposição terá o papel de cobrar melhoria na qualidade da gestão pública, o acompanhamento destas obras que estão praticamente paradas e inoperantes. A oposição está muito animada em poder cumprir seu papel de legislar.
LJ: A oposição vai cobrar letra a letra do programa de governo apresentado na campanha?
SCF: Já estamos com a equipe técnica que está se debruçando sobre o programa de governo apresentado por Paulo Câmara na campanha e, a partir daí, vamos poder acompanhar permanentemente. Além de cobrar as propostas feitas pelo governador eleito, também queremos cobrar o passivo que ficou. Tenho dito que nós não estamos indo para um novo governo, mas para o nono ano da gestão do PSB. É mais do mesmo, seu secretariado representa quase 80% da gestão Eduardo/João Lyra e, por isso, ele (Paulo Câmara) também tem a responsabilidade de assumir o que ficou. A obra do presídio de Itaquitinga precisa ser finalizada, os corredores norte-sul e leste-oeste estão paralisados, o túnel da Madalena com mais de um ano e meio de atraso, o aumento da criminalidade em Pernambuco, a falta de remédios nos hospitais, à dificuldade do cidadão ter acesso a exames. A oposição estará vigilante a estas cobranças na Assembleia.
LJ: O senhor citou que este é um governo de continuidade. Como será sua postura a partir de agora, já que participou de sete dos oito anos de gestão do PSB integrando a base governista na Alepe e o secretariado do ex-governador Eduardo Campos?
SCF: Primeiro devo deixar claro que nós não mudamos de caminho, quem fez isso foi o PSB. Sempre estivemos ao lado do ex-presidente Lula (PT) e da presidenta Dilma Rousseff (PT). Em 2006 o PTB, sob a liderança de Armando Monteiro, apoiou a eleição de Humberto Costa então candidato a governador. Já em 2010, apoiamos a reeleição do governador (Eduardo Campos) e Armando foi eleito senador, mas quando chegou em 2014 o PSB mudou de direção. Lançou candidato a presidente e votou em Aécio Neves, ou seja, houve uma transição do PSB para a oposição no Brasil e nós não, continuamos alinhados na mesma direção. Fizemos parte sim do governo do PSB, Eduardo Campos deu uma grande contribuição para o estado e contou com o apoio do Governo Federal. Quase 80% das obras feitas durante esse período foi em parceria com Lula e Dilma. Vou permanecer legislando com sempre fiz.
LJ: Como o senhor avalia os primeiros dias do governo de Paulo Câmara?
SCF: Com esses quase 15 dias de gestão, é verdade que é muito pouco tempo de gestão, não vejo nada de novo. O governo pega um grande passivo e as ações que já foram feitas até agora são da gestão passada. Confesso eu não vi uma ordem de serviço de um novo hospital, tá aí o prefeito Geraldo Julio (PSB) fez isso. O primeiro ato praticamente, quando foi assumir a gestão do Recife, foi o Hospital da Mulher que deveria ter sido entregue em outubro do ano passado, mas até agora nada. E pelas informações que recebi este ano a obra ainda não será concluída. Então mesmo a época o prefeito apresentando um conjunto de ações, agora está tudo parado. Então eu pergunto, qual é a nova grande obra que foi apresentada aos pernambucanos? Estou preocupado com o que estamos vendo aí deste modelo de gestão do PSB, que tem de fato muito faz de conta.
LJ: Então vocês não vão dar aquela trégua dos 100 dias?
SCF: Nós também não vamos bater muito, fazer a crítica pela crítica, oposição por oposição. Não é claramente o meu perfil, vamos tratar disso com muita serenidade, responsabilidade. Mas nós não iremos nos furtar de fazer um bom debate e um enfrentamento que queremos fazer. A partir de fevereiro vamos fazer um conjunto de debates e audiências públicas sobre diversos assuntos. Como é um governo de continuidade não tem sentido esta trégua de 100 dias.
LJ: A economia estadual tem sido uma das teclas mais batidas pelo senhor desde que assumiu a liderança da oposição. Como avalia a gestão econômica de Pernambuco?
SCF: Com muita preocupação. Pernambuco cresceu além da sua capacidade de investimentos, hoje para se manter o custeio do estado vai ser preciso buscar empréstimos e recursos do Governo Federal ou de operações de crédito do BNDES e via BIRD. Nós já estamos profundamente preocupados com os números que nos chegam. Não é uma avaliação só pessoal ou de técnicos que tem lido e estudado sobre a economia de Pernambuco. A tendência é de que a marca do governo de Paulo Câmara seja o endividamento. Em 2010, Pernambuco era superavitário em R$ 220 milhões e terminou 2014 com um déficit primário em quase R$ 1 bilhão. Nós vamos convidar o secretário da Fazenda, Márcio Stefani, para prestar esclarecimentos na Alepe e nos mostrar um diagnóstico da saúde financeira do estado.
LJ: Porque pedir a senha do E-Fisco?
SCF: O Portal da Transparência precisa ser melhor apurado, mais transparente mesmo. Com o E-Fisco nós conseguimos ter o acompanhamento diário dos restos a pagar, os empenhos que foram feitos, o que foi pago, o andamento das obras. Ou seja, através do E-Fisco você pode se debruçar sobre a execução fiscal. Através do Portal de Transparência, e isso não sou só eu que digo, há muita dificuldade em se obter as informações. Mais do que natural é legítimo que o deputado estadual possa ter a senha do E-Fisco, independente de governo ou oposição. É importante para o parlamento.
LJ: Com a ausência do ex-governador Eduardo Campos (PSB), o senhor acredita que será fácil para Paulo Câmara gerir o estado?
SCF: Tenho dito que Eduardo Campos fará muita falta ao PSB. O governador tinha trajetória, liderança e articulação política. E agora não, a gente percebe muita artificialidade nas lideranças que surgem no PSB. Tenho observado algumas ações e movimentos que eu tenho certeza, não seriam aprovadas por Eduardo em vida. Ele teria a capacidade de liderar.
LJ: Por ter sido aliado do PSB vários anos, como vê o protagonismo de Paulo Câmara e Geraldo Julio na gestão estadual e municipal, respectivamente?
SCF: É natural que pelo papel que eles cumprem, tendo a caneta de governador e prefeito, tenham a força do mandato. Agora liderança você não aprende dentro de um escritório, laboratório de gestão pública ou dentro de um partido apenas. Liderança política você acumula disputando mandatos e conversando com as pessoas, passando bons e maus momentos. Pernambuco sempre teve grandes quadros, sobretudo, porque acumularam trajetórias. Tivemos Marcos Freire, Roberto Magalhães, Marco Maciel, o próprio ex-governador Jarbas Vasconcelos, Miguel Arraes e Eduardo Campos, todos eles foram forjados na militância política e na vida pública. Isso ajuda você a ter mais sensibilidade social, conhecer mais Pernambuco e ter mais compreensão do papel que se cumpre. Digo o que o próprio irmão do Eduardo, Antônio Campos, disse esses dias: “são lideranças em construção”.
LJ: A oposição é composta por partidos de essências e defesas diferenciadas. De que forma pretende liderar o grupo para obter um bom trabalho?
SCF: A oposição está muito unida na Assembleia Legislativa. É composta por gente do PT, PTB, PSOL, PSL. Estamos com um foco. Naturalmente vamos ter divergências ao longo do caminho, mas quero tentar ser o arquiteto da construção do entendimento, esse é o nosso papel na bancada, poder dialogar sempre e exercitar o máximo do entretenimento das matérias que nós conseguirmos estar unidos. Já estamos certos de fazer audiências públicas, visitas a obras inacabadas, envolver os sindicatos, fazer um trabalho com os servidores públicos do estado e discutir a previdência do estado.
LJ: O que vai fazer para conquistar alguns deputados que fazem integram partidos da base governista, mas não são do governo?
SCF: Não tenho dúvida que Priscila (Krause), por exemplo, vai se integrar a bancada de oposição. Ela já é oposição e vai se integrar com o decorrer do processo. Ela se elegeu combatendo o projeto do PSB de Geraldo Julio, não compreendo como ela é oposição no Recife e governo no estado, perante o mesmo partido. Será muito bem-vinda. Nosso sentimento é que outros parlamentares, ao longo deste ano, possam se integrar a bancada de oposição. É uma questão de tempo, vamos aguardar a cena dos próximos capítulos.
LJ: Como o senhor avalia o cenário nacional do PTB, que tem questionado a indicação do senador Armando Monteiro Neto (PTB) para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio?
SCF: É inegável que o ministro foi convidado pela cota pessoal da presidenta Dilma. Naturalmente ele pode ter, e vai ter, um papel estratégico para o país neste momento. Entretanto o PTB nacional votou em Aécio Neves, quem votou em Dilma foram alguns deputados federais. Mas não tenho dúvida que o PTB vai ter espaço no 2° escalão. Armando é um nome de consenso do partido e não deixa de prestigiar o PTB nacional.